Scars Of Life escrita por Monochrome Rin


Capítulo 2
DOIS - O inimigo das mulheres




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"O problema não é comigo, Liesel." Mellanie levantou-se aproximando-se de Liesel. "É com sua mãe." dizendo isso, apontou seu dedo indicador para ela, parando há três passos dela, Liesel se inclinou para trás. "É com você." Mellanie sussurrou.

"Por que? Nós só estamos querendo te ajudar, Mell... e olha como você nos recompensa!" Liesel não segurou o que estava entalado em sua garganta, embora estivesse falando baixo e com insegurança.

"Não me chame de Mell." ela murmurou e cerrou os punhos, fechando os olhos e segurando-se para não perder o controle mais uma vez.

Liesel suspirou profundamente, depois abaixou sua cabeça um pouco, virando-se e se afastando lentamente, ao ouvir os passos dela distanciando-se, abriu os olhos novamente, permanecendo imóvel por um momento, sua primeira ação foi socar a parede com força, esquecendo dos cortes profundos em seus braços, gemeu um pouco e se afastou, sentou-se no chão novamente, encostada na parede tentando pensar um pouco no que iria fazer, não tinha para onde ir, se ficasse naquela casa com todos a odiando seria arriscado, suas outras tias moravam em cidades diferentes, complicaria seus estudos, não tinha mais sua mãe... ou talvez...Ela parou por um segundo, franzindo as sobrancelhas e levantando seu rosto para o céu, já havia anoitecido, as poucas estrelas e a lua minguante tomavam o céu negro, havia parado de chover, estava uma noite bonita. Ela se levantou e olhou para os dois lados, certificando-se de que ninguém estava observando-a, deu passos lentos e cuidadosos para não produzir nenhum barulho conforme se afastava da casa, então começou a correr, corria o máximo que podia, a rua estava pouco movimentada embora fosse cedo. Uma lágrima escorreu de seu olho direito e ela o limpou imediatamente, recompondo-se e continuando a correr, por sorte, o lugar onde queria chegar não era muito longe dali. Ela fechou os olhos por um momento, não queria chorar mais uma vez, não queria deixar a fraqueza vencê-la, mal pensou que poderia tropeçar e cair se não prestasse atenção no caminho, já estava praticamente na porta do lugar onde ela queria chegar, então abriu seus olhos, chocando seu corpo contra o portão do mesmo cemitério que sua mãe havia sido enterrada, suas mãos se fecharam segurando as grades, ela empurrou o portão com um pouco mais de força e ele se abriu, produzindo um estalo alto naquele momento, ela abaixou suas mãos e levantou o rosto, olhando para o lugar, já estava acostumada, cinquenta por cento de suas noites de sono haviam sido ali nos últimos dias, sem hesitar mais começou a andar um pouco acelerada até o túmulo de sua mãe, olhava para os lados, perdida, eram tantos túmulos por ali que seria um pouco difícil achar o de sua mãe, mas ela se lembrava um pouco de onde havia sido, seguia em linha reta, aquele lugar tão vazio, um depósito de almas que foram libertadas desse mundo, seus passos ficaram mais lentos, ela havia esquecido de como esse lugar calmo era aconchegante para ela, um vento forte bateu em seu rosto, fazendo seus longos cabelos esvoaçarem mais uma vez, ela franziu as sobrancelhas, semicerrando os olhos, sem parar de caminhar.

Depois de pouco tempo a mais caminhando, encontrou o túmulo de sua mãe, correu um pouco até ele e se ajoelhou, passando sua mão direita sobre o nome gravado ali, "Elizabeth Hale", sua mãe.

"M-Mamãe..." sussurrou, abaixando sua cabeça.

"Oi?" ouviu uma voz atrás dela e sobressaltou, por um minuto achou que fosse sua mãe, mas era uma voz masculina, ficou um pouco insegura de se virar, mas cerrou seus punhos e virou seu rosto para trás sem dizer nada.Era um homem. Não. Homem não. Um garoto. Alto, o olhar de Mellanie foi primeiramente em seus lábios, que eram levemente corados e estavam semiabertos, depois notou seu rosto, era pálido, mas não de natureza, haviam traços de maquiagem ali, inclusive em seus olhos, olhou mais para baixo, ele trajava um sobretudo preto e botas da mesma cor, ele se vestia praticamente como ela, ele era como ela, por um minuto ela não se sentiu sozinha, olhou nos olhos dele, olhos negros como a noite.

"Quem é você? O que faz aqui?" disparou de imediato, tornando seu olhar para baixo, corando um pouco por ser encontrada daquela maneira.

"Meu nome é Ryan. Eu acho que deveria fazer a mesma pergunta a você." ele riu de leve do espanto dela, abaixando-se.

"Minha mãe..." foi só o que ela disse, tornando a olhar para o túmulo á sua frente.

"Ah! Eu lamento muito... também perdi meus pais... na verdade, perdi todo mundo, não restou ninguém." ele disse no mesmo tom de voz.

"Como assim?" perguntou Mellanie, franzindo as sobrancelhas, olhando para o lado.

"Foi um incêndio, enquanto eu estava no colégio, mas já faz um bom tempo... hã... não perguntei seu nome." Ryan foi para o campo de visão dela, sentando-se no túmulo ao lado do da mãe de Mellanie.

"Mellanie... Mellanie Hale... você mora sozinho então?" ela disse, olhando-o, sem medo.

"É... basicamente, sim. Moro com uns amigos." ele cruzou seus braços.

"Legal..." ela tentou sorrir, sem sucesso.

"Mas... então veio visitar sua mãe essa hora da noite?" descruzou os braços, colocando uma de suas mãos em seu bolso, procurando algo.

"Não só visitá-la... na verdade eu gosto desse lugar, traz uma boa energia pra mim, diferente da energia carregada que há na casa de minha tia, que é com quem eu moro... atualmente." ela falou baixo, sentando-se também.

"Certo," ele disse, tirando de seu bolso um maço de cigarros, um isqueiro e olhando para ela. "somos iguais nisso então, Mellanie. Você quer um?" estendeu para ela um cigarro que havia removido do maço.

"Eu não fumo." Mellanie levantou as sobrancelhas, encolhendo suas pernas e abraçando as mesmas.

"Tudo bem." ele disse, colocando o cigarro entre seus lábios e acendendo-o com o isqueiro.

"Quantos anos você tem? Pra estar fumando assim..." ela balançou a cabeça negativamente, olhando-o.

"Eu?" ele removeu o cigarro da boca, soltando a fumaça, olhou-a em seguida. "Tenho dezoito, senhorita, algum problema?"

"Dezoito... eu achei que você tivesse menos. Eu tenho dezesseis." ela balançava sua mão esquerda, tentando empurrar a fumaça para longe.

"Dezesseis... é só uma garotinha do ensino médio, virgem, eu aposto." ele riu um pouco malicioso, olhando-a, tornando a colocar o cigarro entre seus lábios.

"Garotinha do ensino médio virgem? Como ousa referir-se assim á mim? Nós só temos dois anos de diferença! E me respeite!" Mellanie parecia um pouco irritada agora, virando o rosto para o lado, tentando não respirar fazendo o mesmo gesto com a mão, evitando a fumaça.

"A fumaça te incomoda, Mellanie?" ele notou os gestos dela, mantendo um sorriso maroto em seus lábios.

"Nem um pouco." mentiu, não queria ganhar outro apelido esquisito.

"Pode dizer, garotinha... eu não vou mais encher o saco." ele riu alto, sem preocupações em parar de fumar o seu cigarro.

"Não me chame de garotinha, pra você é senhorita Hale! Você é muito esquisito, sabia? E eu me achando a única estranha no mundo!" exclamou, cruzando seus braços.

"Senhorita Hale... nossa... te chamar assim é tão... excitante." ele levantou as sobrancelhas, o sorrisinho irônico irritante não desaparecia de seus lábios.

"Você é esquisito. Eu vou embora." Mellanie se levantou e virou as costas, preparada para sair de perto daquele cara.

"Não sabe aceitar brincadeiras é? Mas é mesmo uma pobre garotinha..." ele disse para provocá-la, sem se mover dali.

Mellanie cerrou seus punhos e se virou para ele novamente, sentiu raiva naquele momento por ser chamada naquela maneira, não conseguiu se controlar e partiu pra cima dele, segurando em seu pescoço e batendo diversas vezes sua cabeça no túmulo de cimento, ele parecia não sentir dor, pois ria, sem soltar seu cigarro, que estava em sua mão direita.

"EU VOU MATAR VOCÊ, SEU MALDITO!" Mellanie gritava, sem parar, irritada.

"Ui, como você fica sexy irritada assim, ainda mais nessa posição!" com sua mão esquerda, ele levou até as costas de Mellanie, deslizando-a cada vez mais para baixo.

"TIRA A MÃO DE MIM!" ela gritou mais alto ainda, saindo de cima dele, caindo do outro lado.

Ele se manteve deitado, olhando para cima, rindo sem parar. Ela se levantou, sentando-se e semicerrando os olhos.

"Tá vendo só? Você é aquilo mesmo que eu disse!" Ryan se recompos, sentando-se e voltando a fumar, olhava-a.

"NÃO SOU!" Mellanie continuava gritando, com ódio.

"Não precisa gritar, eu não sou surdo! Não perturbe as pobres almas que aqui descançam. Vai dizer que não é virgem então? Que feio, tsc, tsc!" ele exclamou, balançando a cabeça negativamente.

"Não lhe diz respeito se eu sou o não sou. Isso é pessoal!" cruzou os braços."Então tá... vou tentar te perturbar menos... sei lá, é engraçado fazer isso" ele parou de rir, cruzando suas pernas.

"Dá pra ficar em silêncio? Eu vim aqui pra ficar sozinha!" ela fechou os olhos, virando-se para a frente, falando entredentes.

"Tudo bem." ele deu a última tragada em seu cigarro, apagando-o no túmulo em que estava sentado.

"De preferência saia daqui." ela se deitou, abrindo os olhos e olhando para o céu estrelado, pretendia passar a noite ali, se Ryan a permitisse, e estava com sono.

"Não estou afim" ele disse.

Ela fechou os olhos, trincando os dentes e tentando ignorá-lo. Era um pouco difícil, pois só a presença dele a perturbava, aquele cara era extremamente intolerante, mas era melhor ter que aturá-lo do que ter que falar com sua tia, levantou suas mãos e as pousou em seu abdômem, os olhos permaneciam fechados, ela estava com tanto sono que naquele momento já havia esquecido da presença de Ryan, ele estava tão calado que nem parecia mais estar ali, mas não arriscaria abrir seus olhos novamente, já estava completamente consumida pelo sono, seus lábios se separaram um pouco enquanto ela respirava. Enquanto ela dormia, Ryan permanecia sentado, flexionou seus joelhos, apoiando os braços nos mesmos, seu olhar estava fixo á sua frente, no chão, ao ouvir o respirar alto de Mellanie, virou seu rosto, olhando-a perguntando-se como havia dormido tão rápido e como uma garotinha virgem do colegial poderia ser tão... tão atraente... tão perfeita... enquanto dormia, a lua refletia em seu rosto pálido, fazendo-a ficar mais bonita ainda, seu olhar abaixou-se para o corpo, ela não era mais nenhuma garotinha, sabia disso, mas continuava irritando-a com aquele apelido, sentia vontade de tocá-la, embora não fosse fazer isso, ele corou um pouco envergonhado e virou seu rosto novamente para o chão. Era um cenário estranho para algumas pessoas, bonito aos olhos de outras, um cemitério, um depósito de almas, onde naquele momento só haviam duas pessoas vivas que, pela cor escura de seus trajes, seriam dificilmente notadas na escuridão daquela noite, elas pertenciam á noite. Uma delas dormia tranquilamente, sem se preocupar com nada, não tinha sonhos, a outra, estava sentada sobre um túmulo olhando para o nada com pensamentos inúteis. O céu estava completamente nublado e escuro, raramente se podiam ver estrelas, a única iluminação ali era a lua, que estava bem em cima dos dois.

"Ei, Mellanie." Ryan, por exceção, quebrou o silêncio, quando estava sozinho, o silêncio era sua fonte de inspiração, até mesmo acompanhado, mas não conseguira ficar calado como sempre com aquela bela garota ao seu lado, seu olhar percorreu os túmulos até chegar nela, ainda dormia. Ele se levantou, aproximando-se dela, em seguida se ajoelhou de novo. "Devia mesmo estar com sono..." ele sorriu de leve, não conseguindo mais conter a vontade de tocá-la e afagando seu rosto, afastando seu cabelo para que pudesse vê-la melhor. "Mellanie... você... se parece tanto com ela..." ele franziu as sobrancelhas, não sabia por que estava falando sozinho e riu de si mesmo em seguida, porém continuou. "Ver você dormir assim... me dá um sono também..." Ryan colocou seus joelhos no chão, deitando seu corpo próximo ao dela, mas sem muito contato, Mellanie grunhiu um pouco e se virou para o lado dele, ainda dormindo, ele estava com os braços cruzados no chão e a cabeça deitada virada para o lado sobre os braços, seu olhar foi para seus lábios. Ryan era uma pessoa fria e o inimigo das mulheres, não era de se apaixonar, apenas uma garota no mundo havia derretido seu coração, Lucy, há muitos anos atrás, quando ele ainda era um colegial mais novo do que Mellanie, possuía quinze invernos e a garota quatorze, os dois namoravam escondido pois os pais de Lucy a julgavam muito nova para ter um namorado, encontravam-se todos os dias na escola e depois iam para a casa de Ryan, quando Lucy mentia para seus pais que iria estudar na casa de uma amiga. A cada dia que passava, os dois jovens ficavam cada vez mais apaixonados naquela perigosa paixão, isso durou apenas um ano. Lucy era uma garota depressiva e problemática, recusava-se a comer quase todos os dias, não dormia, tinha crises incontroláveis de choro e vivia tentando esconder cortes profundos em seus pulsos de anteriores tentativas de suicídio, as quais uma vez seus pais tiveram que correr para o hospital, não tinha amigos, além de sofrer bullying na escola por todos esses fatos, Ryan a encontrava diversas vezes escondida nos cantos da escola e ele era o único que sempre a confortava, essa convivência fez com que ele se apaixonasse por ela. Todos os dias ela chorava e ele a confortava, a abraçava e dizia palavras cujo efeito era o mesmo dos remédios que ela tomava, mas era uma forma saudável de acalmá-la, Ryan gostava disso, de tê-la ali em seus braços, abraçá-la, beijá-la. Isso durou pouco, pois, um dia Ryan havia se decidido, conversaria com os pais dela para que tivessem uma relação saudável e sem ter que esconder de ninguém, mas Lucy começou a faltar excessivamente á escola e ele não conseguia falar com ela, resolveu ir até sua casa sem avisar, já estava preocupado, não a via há uma semana. Mas ao chegar na casa, recebeu a pior notícia de sua vida, Lucy havia cometido suicídio após ficar longos e intermináveis dias que faltara do colégio dentro confinada em seu quarto escuro encontraram-a morta com o corpo cheio de cortes, principalmente em seus pulsos, que estavam dilacerados, o sangue tomava o piso e as paredes do quarto, em meio ao sangue, encontraram apenas uma carta, qual algumas palavras estavam manchadas de vermelho no papel branco. Deram a notícia juntamente com a carta, que era destinada especialmente á Ryan, o rapaz, tomado por lágrimas, seguiu o caminho, parando em um campo qualquer e recostando-se em uma árvore, não queria que sua família o visse naquele estado, ele então abriu a carta, começando a ler.

"Ryan, meu amor, deve ter se perguntado como esta carta chegou até você. Eu contei á eles, sabia que estava chegando o meu fim, eu já não aguentava mais viver e estava afundada no sofrimento, você sabe disso! Eles discutiram comigo, isso fez com que eu me trancasse nesse quarto, eu não queria falar com eles, eu só queria me isolar. Acima de tudo, eu espero que você me entenda, eu era um peso na vida de todos, inclusive na sua, mas o meu amor por você nunca vai mudar, e um dia a gente vai se rever, eu vou estar te esperando. É que neste momento, não tenho mais nenhuma opção, a minha vida é monótona, eu me sinto... realmente... morta. Tenho certeza que quando estiver lendo essa carta, vai ter ciência de que estou em um lugar melhor, curada, não vou sofrer mais. Não sou muito boa com despedidas... mas eu não gostaria que você parasse a sua vida por isso, quero que você seja feliz, assim como era antes, desde que não se esqueça de que eu, mesmo parecendo um pesadelo, fui real e te amei mais do que tudo nesta minha vida. Não gostaria de ser enterrada com tamanho sofrimento de meus familiares, portanto, poderia fazer uma última coisa por mim, meu amor? Você se lembra da minha paixão por flores? Despeje as minhas cinzas no mais belo e florido jardim que você encontrar. Você poderia fazer isso por mim? Acho que não tenho mais nada a dizer... além de agradecer por tudo o que você fez para me deixar melhor, mesmo que por segundos. Eu não teria sido nada sem você, eu não teria chegado até aqui. Eu sempre vou amá-lo, sempre! Adeus, meu amor."

Ao ler a carta, ele a guardou, mas permaneceu ali. Nunca havia chorado tanto em sua vida, Lucy era sua única virtude e o mundo não fazia sentido sem ela, ele guarda as cinzas dela até hoje, ainda procurando o melhor jardim, ou talvez ainda esteja criando coragem para mandá-la para longe dele, a partir desse dia, a sua vida mudou, Ryan começou a ser frio, não queria mais ter sentimentos por garota alguma, não queria sofrer novamente, isso até chegar em Mellanie que, naquele mesmo momento, abriu os olhos, parecendo assustada. Ele a olhou.


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