Lágrimas por Amor escrita por Aki Nara
Notas iniciais do capítulo
Este é um especial de Dia dos Namorados! O.o Apesar dô capítulo não ter absolutamente nada de romântico. xD
_ Agora sei! – ele piscou.
_ Você é muito convencido, cuidado para não cair de muito alto – ela colocou o palmo de língua antes de fechar a porta.
Yuji riu a valer, aquela garota não tinha papas na língua. Há tempos não se divertia tanto na companhia de uma mulher. Natsuko era uma linda garota e não era o tipo de mulher a que estava acostumado. Mulheres adultas que o atiçavam e entediavam com a mesma rapidez. E agora, ele via-se disposto a namorar como um garoto novamente. Ele se espreguiçou antes de se decidir por acordar.
***
Kenzo tomava uma ducha fria para espantar a noite mal dormida. Não conseguira pregar o olho pensando no que Umi lhe dissera “Jamais faça promessas que não possa cumprir”. A razão lutava contra o sentimento. Embora ela lhe despertasse seu lado egoísta, de tê-la sempre para si. Ontem, a mente venceu seu ímpeto de segui-la e carregá-la escada acima até seu quarto.
Ele se vestiu e finalmente desceu para o café da manhã. O final de semana acabaria, mas as pessoas que ali se encontravam nem tinham a noção de que talvez fosse o último domingo, antes do próximo por um longo tempo. Ele apareceu sentando-se à mesa e serviu-se de um gole generoso de café antes de chamar a atenção para si.
_ Bom dia! Eu preciso dar uma notícia a todos.
Aquela era a imagem que guardaria para sempre de sua família. O pai e seu irmão mais velho, Daichi em sincronia perfeita ao baixarem os jornais. Kenzo não pode deixar de sorrir. A mãe brincando com o neto que ria de suas graças enquanto a cunhada, Érika servia-se de bacon com ovos. Ele olhou para Yuji, Asuka e Natusko que conversavam animadamente sobre o que fariam naquela manhã. Sentia falta de sua “pequena rosa do mar”. Ela não estava ali e a culpa ameaçou sufocá-lo.
Ela era jovem, brilhante e cheia de vida. Sua mente racional sabia que o melhor para ela era lhe dar espaço para encontrar uma carreira, um futuro e alguém melhor. Não queria manchar o nome dela com um escândalo banal entre um médico e sua paciente. Era a primeira vez que sentia vontade de jogar tudo para o alto e mandar sua racionalidade às favas. E ele se odiou por reprimir os sentimentos que nutria por Umi.
_ Ontem fui chamado por Takizawa-san, o diretor me comunicou que nosso hospital quer se especializar em transplantes... – ele quebrou a expectativa que pairava sob o silêncio – Esta oportunidade surgiu e fui indicado para aprender as novas técnicas cirúrgicas para transplante de órgãos. Eu decidi aceitar. De modo que me ausentarei por dois anos e partirei dentro de um mês para os Estados Unidos.
_ O que podemos dizer... – o senhor Kaneshiro se levantou para cumprimentá-lo. – Parabéns, meu filho!
_ Você sempre terá nosso apoio – a mãe o abraçou ainda com o neto no colo.
Os outros apenas o cumprimentaram, mas foi o comentário sussurrado de Yuji que ouviu.
_ Dois anos é tempo suficiente para esquecer uma paixão... A fila anda e ainda mais rapidamente – ele apontou para Asuka que o cumprimentou e seguiu em direção a praia.
_ Este não é momento para nenhum de nós - aproximou-se do irmão para se fazer ouvir somente por ele.
_ Nem todos os momentos são planejáveis ou controláveis, meu irmão. Às vezes é mais sábio aceitar quando eles lhe batem á porta.
O olhar entristecido que Kenzo lançou momentaneamente disse muito mais que as palavras não ditas, Yuji sabia que o irmão tinha a necessidade de controlar sua vida. Mas o amor jamais seria algo planejado e esperava que ele descobrisse isso antes que fosse tarde demais.
_ Nem todos podem se dar ao luxo de serem ousados como você, Yuji.
_ Você é quem sabe! – apertou o ombro do irmão antes de voltar-se para Natusko. – Um banho de piscina ou uma partida de tênis?
Kenzo ouviu o irmão dizer antes de seguir o caminho da praia.
***
Asuka encontrou Umi sentada numa pedra, olhando o mar.
_ Mil ienes por seus pensamentos.
_ Nossa! – ela riu. – Eu estaria rica.
_ Vai me contar ou eu realmente terei que pagar?
_ Nada demais. Só que daqui a um mês estarei na França por um ano e depois mais um ano na Itália.
_ Será uma experiência e tanto. Eu pretendo fazer meu mestrado na Itália daqui a um ano. Seria bom encontrar um rosto amigo.
_ Sim, será – suspirou antes de continuar. – A minha vida mudou muito desde que saí do orfanato.
_ Você ainda vai lá?
_ Sim. Estou pensando em ir depois que voltarmos pra capital.
_ Uma vez estive lá.
_ No meu orfanato?? – a surpresa estampava-se em seu rosto.
_ Eu te segui... Você sabia que Maya foi sua doadora?
_ Verdade? – o coração dela disparou.
_ O único órgão intacto que ela pode doar foram as córneas.
_ Que coincidência... – o ar escapava de seus pulmões.
_ Você recebeu as córneas de Maya.
_ Não pode ser... – estava chocada.
_ Eu não sabia que seu nome era Umi Obara, para mim você era apenas Mona.
_ Preciso falar com Kenzo – ela se levantou de súbito.
_ Ele pode ser denunciado por falta de ética... – ele foi mais rápido e segurou seu pulso.
_ Do que está falando? - franziu a testa.
_ Do porque ele mantém contato com uma paciente que foi transplantada, ainda mais sua irmã sendo a doadora.
_ Você seria capaz disso? – disse abalada.
_ Pra quem chamava ele de doutor... Vocês ficaram muito próximos, não?
_ Não suponha sobre o que você não sabe! – ela tentou se soltar.
_ Ele não te quer, Umi.
_ Como? – ela tentou se libertar, mas ele era duas vezes mais teimoso.
_ Ele nem te disse que viajaria para os Estados Unidos, não é mesmo? – Ela estava de costa para ele e deixou de resistir ao ouvir Asuka sussurrar bem próximo de seu ouvido, seu coração latejava dolorido e as lágrimas da noite anterior despertaram novamente trazendo amargura.
_ Por favor... Deixe-me ir...
_ Não até ouvir tudo que tenho a dizer – encaixou-a num abraço carinhoso e ajoelhou-se segurando sua cintura. – Deixe-me amá-la, Umi.
Surpresa, ela se voltou para Asuka. Seus olhos não conseguiam se desviar daqueles olhos diretos. O coração disparava novamente, causando-lhe uma pressão sufocante, seu peito arfou, suas pernas enfraqueceram e ela se viu sentada diante dele, pálida e sem forças.
_ Oh, Asuka! Posso ter as córneas de Maya, mas isso nunca me fará ser como ela...
_ Eu sei. Minha mente é capaz de entender isso... Mas aqui – colocou a mão no peito, onde fica seu coração. – Ele não aceita. Ajude-me a fazê-lo compreender que Maya não existe mais.
_ Eu... – Umi sentia-se confusa e perdida num coquetel de emoções embaralhadas.
Os lábios dela foram invadidos, mas não por paixão. Havia uma carência, uma súplica muda e um desespero. Eram sentimentos tão idênticos aos dela, que não conseguiu se desviar daquele apelo. O beijo tinha o gosto salgado das lágrimas misturadas ao doce sabor de esperança. Ela acabou por corresponder mesmo sabendo que não deveria dar falsas esperanças.
Kenzo deparou-se com os dois abraçados. A vontade que ele tinha era de ir até ali, esmurrar Asuka e levar Umi para bem longe, onde pudesse tê-la para si. Sentia-se em desvantagem por ser racional demais. Serrou os punhos, sem que pudesse dar vazão a sua ira. Ouvia claramente a voz de Yuji dito a pouco: “Dois anos é tempo suficiente para esquecer uma paixão... A fila anda e ainda mais rapidamente.”
_ Dois anos... A fila anda em um dia, caro irmão – a ironia se estampou num sorriso amargo levando-o para bem longe dali ao lembrar que naquela mesma pedra, eles haviam se amado na noite anterior.
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