Umi realmente estava intrigada com o que Asuka havia lhe dito. Então, Maya havia sido doadora de córneas. Ele parecia querer lhe dizer algo mais... Algo que lhe fugiu da mente ao ouvir a voz de Kenzo, seu coração pulou de alegria e sentia o calor conhecido nas maçãs de seu rosto.

_ Kenzo! – os olhos brilhantes se voltaram para recebê-lo. – Parece que o dia está reservado para surpresas, hoje.

_ Sou uma surpresa boa ou ruim? – estranhamente ele puxou-a de supetão para abraçá-la.

_ Boa – não era mais tão inexperiente a ponto de fugir, mas ele ainda lhe causava aquela sensação de ser uma menininha diante de um homem adulto.

_ E que outra surpresa teve além da minha? – os olhos de Kenzo a avaliavam.

_ Asuka acabou de sair daqui. Se tivesse chegado há alguns minutos mais cedo, o teria encontrado.

_ E como ele está? – soltou-a um tanto relutante.

_ Ele está muito melhor. Pelo menos já não sinto mais raiva, zanga, ira... nele. Ele está fazendo medicina.

_ Então... – Kenzo realmente estava surpreso. – Ele deve ter perdido um ano.

_ Não conversamos muito, mas ele pretende ser paramédico. Acho que ele virá nos visitar na praia.

_ Visitar? – ele disse descrente. – É mais provável que ele fique conosco. Onde está sua amiga?

_ Céus! Você veio nos buscar?

_ Eu tive que desmarcar algumas consultas, mas... Se você preferir outra pessoa... – fez menção de dar meia-volta.

_ Claro que não! – agarrou a manga do paletó. – Não se atreva a ir embora.

Umi subiu as escadas apressadas chamando a amiga a plenos pulmões. Kenzo sorriu. Ela acabaria acordando todo o dormitório. Ele ouviu risos no andar de cima quando uma janela abriu e inadvertidamente olhou para uma moça debruçada, que entrou novamente. Após alguns minutos de espera, as duas desciam com suas mochilas. A amiga parecia ansiosa e a cutucava Umi.

_ Kenzo, está é minha melhor amiga, Natsuko Miyagawa.

_ Muito prazer – desta vez a amiga parecia tímida.

_ Prazer, Natsuko. Espero que se divirta. Podemos ir?

_ Sim! – ambas responderam em uníssono.

Ele acondicionou as mochilas fechando o porta-malas. Natsuko entrou primeiro para se sentar na traseira do carro.

_ Umi... – Kenzo pegou-a pelo braço impedindo-a de seguir a amiga ao fechar a porta. – Venha na frente. Preciso de sua companhia.

Kenzo abriu a porta dianteira fazendo-a se acomodar no assento.

_ Você vai me contar essa história direitinho quando chegarmos, Umi Obara. – a amiga cochichou-lhe no ouvido antes dele entrar.

_ Desculpe, Natsuko. Peço a companhia de Umi emprestada durante a viagem. Até a pouco estava de plantão e se alguém não conversar comigo... Sou capaz de dormir no volante.

_ Ah! Claro. – parecia uma desculpa esfarrapada razoável – conversaremos as duas, não é Umi?

E assim, eles haviam partido iniciando uma longa viagem, porém alguns quilômetros de estrada linear no escuro fizeram Natsuko cair no sono, deixando apenas Kenzo e Umi acordados.

_ Não está cansada? Se quiser dormir... – ele tocou no rosto dela suavemente.

_ Tudo bem... Posso dormir quando chegar.

_ Quando vai ser a formatura?

_ No semestre que vem – os olhos dela brilharam como diamantes – lembra de quando fomos para passar o dia em Sunshine?

_ O hotel de Daichi em Yokohama? – ele se virou brevemente antes de concentrar novamente na estrada.

_ Uhum! – ela concordou afirmativamente. – E ele não estava satisfeito porque queria um lugar onde os turistas pudessem ir com a família?

_ Sim, claro - agora foi a vez de Kenzo concordar acenando a cabeça.

_ Eu enviei alguns projetos para o seu pai. E ele os enviou para o setor de treinamento e seleção porque se fosse aprovado... Eu teria como ir concluir meu mestrado.

_ Papai lhe disse isso? – ergueu a sobrancelha.

_ Ele me orientou.

_ Gostaria de ouvir a opinião de Daichi sobre isto.

_ Daichi-san me chamou para uma entrevista. Ele foi bem claro. Jamais me aceitaria em sua equipe apenas por ser a protegida de seu pai ou de sua mãe. Mas... Eu fui aprovada pela equipe de arquitetura. Eles gostaram dos meus projetos – Umi estava eufórica por poder contar seu progresso para ele. – Daichi me disse que desembolsa meu mestrado... Adivinhe para onde...

_ Não faço a mínima idéia, Umi.

_ Paris! Um ano inteiro antes de trabalhar com Daichi-san.

_ Parabéns! – ele sorriu pelo entusiasmo. – Não é fácil passar pelo crivo de Daichi.

_ Obrigada – corou ao sentir o olhar de aprovação sobre si.

_ Teremos mais novidades esse ano.

_ Erika-san vai ter mais um bebê?

_ Não! – riu da ideia improvável de Erika consentir em ter mais um filho. - Yuji se juntará a nós.

_ Oh! Então...Finalmente, conhecerei o mais misterioso dos irmãos Kaneshiro?

_ É quase como se já o conhecesse, Umi.

_ Como assim?

_ Nunca lhe disseram? – ele disse surpreso. - Nós somos gêmeos.

_ Ge-gêmeos? Seria horrível chamá-lo de Yuji ou vice-versa.

_ Realmente seria horrível ouvir isso, mas... – ele tocou novamente seu rosto. – Não se preocupe. Não há como confundir. Você vai ver... É melhor pararmos um pouco estou precisando de um café puro.

_ Espero que sim. Eu acordo, Natsuko.