-- Então, Camila, o que está achando daqui?— perguntou ele olhando em meus olhos.

-- Estou achando maravilhoso.— respondi tentando não rir. Quando fico nervosa, rio muito.

-- Bem, confesso que estou decepcionado. Esperava que você se declarasse pra outra pessoa enquanto estivesse aqui.—

-- Meu senhor?— perguntei MUITO confusa.

-- Will me disse que você se declarou pra ele quando eles a acharam.—

Ri nervosa.

-- Não precisa se preocupar, foi uma piada.— disse ele.

--Eu sei, meu senhor. É só que... estou um pouco assustada. Lá em casa não era assim.— é verdade. Quando estou num ambiente novo, não me sinto bem. Por isso vou pra todos os lugares.

-- Bem, espero que passe logo.— falou ele preocupado.

Aaaaaahhhhhh que fofo, ele ta procupado comigo. Viu, sou importante. Hehe, o médico me deixou cair de cabaça quando eu nasci.

-- Muito bem, preciso saber algumas coisas a seu respeito. – falou ele beeeem sério.

Ai ai ai, que foi que eu fiz?

-- Certo, meu senhor.— respondi, assustada. Mas olhei no espelho atrás dele quando ele abaixou os olhos pros papéis. Calma como águas paradas, pensei, é assim que eu devo parecer. Eu posso estar sofrendo as piores frustrações, dores e medos. Mas você nunca vai saber.

-- Muito bem, de onde você é?— perguntou ele sério.

-- Meu senhor, eu nasci em Araluen, mas meus pais foram pra Gálica. É de lá que eu venho.—

-- Você não parece ser de Gálica, nem de Araluen. Não tem o sotaque de Gálica.—

-- Vivíamos isolados numa clareira. Criávamos ovelhas, galinhas e cabras.— ovelhas para lã, galinhas para ovos e carne e cabras para leite e couro.

-- É um pouco estranho. Não posso deixar de pensar que você esteja mentindo.— disse esconfiado.

Cerrei os punhos e me levantei de supetão.

-- Se vai me insultar me chamando de mentirosa, vou-me embora daqui!—falei num tom alto, claro e irritado.

-- Por favor, sente-se. Acredito em você. Mas me diga, como veio para cá?—perguntou ele arrependido.

Me sinto a pior pessoa do mundo. Como assim, ele ñ reparou?

-- Meus pais morreram quando bandidos descobriram nossa casa e a criação de animais que tínhamos. Roubaram tudo e mataram eles. Só estou viva porque saí pra pegar flores silvestres.— respondi chorando. Foi fácil, é só pensar que a história é verdadeira e pensar que meus pais morreram mesmo.

Eu sou uma péssima pessoa. Mas a melhor mentirosa do mundo.

-- É uma pena que tenha passado por isso tão nova.— falou ele.

Tive vontade de desdenhar. ah, fala sério, você ainda não percebeu?

-- Agora, você poderia me fazer o favor de começar a falar a verdade?— disse ele sério.

Sorri. Finalmente, né?

-- Muito bom, meu senhor. Mas o que foi que me entregou?— perguntei sorrindo.

-- Sou bom em perceber quando as pessoas estão mentindo— deu de ombros.

-- Eu não podia contar assim tão fácil, mas tem que me jurar que não vai contar pra ninguém— perguntei temerosa.

-- O que quer que seja, eu juro que não vou contar pra ninguém.—disse ele com uma mão no coração e outra ao lado da cabeça. Cômico.

-- Certo, eu preciso pegar minha mochila pro senhor ver.— falei fazendo referencia.

-- Muito bem pegue sua mochila, e amanha falaremos sobre isso.— ele disse olhando bem fundo nos meus olhos.

Saí dali pensando que ele era esperto e muito ocupado, já que eu estou no castelo.

-- Ah, e Camila?—perguntou como quem não quer nada.

--Sim, meu senhor?— perguntei sorridente.

-- Onde aprendeu a mentir desse jeito?— nossa, ele tava mesmo curioso.

-- Simplesmente sou boa em mentir.— respondi com um piscadela.

Rimos e eu fui buscar minha mochila.