Mitsue acordou com os gritos que vinham do lado de fora de quarto, ela não conseguia identificar as vozes. Não seria possível ter uma boa noite de sono naquele lugar? A garota enfiou cabeça por baixo do travesseiro. Era irritante.

                Quando percebeu que não iria mais conseguir dormir, embora estivesse com sono, decidiu levantar. Não adiantaria nada ficar ali por mais tempo. Olhou em volta procurando suas roupas do dia anterior, que ela deixara em cima da mesinha, mas viu que no lugar havia roupas limpas dobradas caprichosamente, e um bilhete em cima.

                “Olá, Mit!

                Escolhi algumas roupas para você, espero que não fiquem grandes demais. As que usou ontem estão para lavar, logo daremos um jeito de comprar roupas novas ou pegar as suas de volta. Tem shampoo e condicionador na prateleira do banheiro e um sabonete em cima da pia. Aa toalhas estão aqui embaixo. Quando acordar, estarei na cozinha.

                K.”

                A garota viu que havia grandes toalhas grandes por baixo das roupas e andou para o banheiro com o pequeno montinho. Pelo menos teria roupas limpas para vestir, embora tivesse certeza que ficariam folgadas.

                Ela se despiu e entrou no chuveiro, deixando com que a água escorresse por seu corpo. Até que a ideia de ficar ali não parecia tão ruim agora. Era o que ela achava. Tudo parecia mais simples embaixo d’água. Mitsue lavou os cabelos vermelhos, que estavam sujos e embaraçados pela recente batalha, mas isso não era nenhuma novidade.

                Há algum tempo atrás, ela podia ter sido vaidosa, gostava de deixar o cabelo impecável, como ondas em brasa. Mas depois que ele se fora, nada disso tinha importância. Era como se um pedaço dela tivesse ido embora junto.                 Desde aquele dia suas roupas viviam amassadas e seu cabelo, quando não estava preso, jogado de qualquer jeito. As pessoas a viam e achavam esse comportamento estranho para Ishikawa Mitsue, mas depois pararam de se importar. Ela realmente não dava a mínima, mas era irritante o modo como a olhavam.

                Aquele era um bom lugar para refletir, pensou. Mas não poderia ficar no banho o dia inteiro. Logo Mitsue terminou de se lavar e se enrolou numa toalha, percebendo que deixara as roupas em cima da cama.

                Ela prendeu a toalha no corpo e abriu a porta, indo pegar as roupas. Mas a ruiva foi impedida por alguém parado ali, trombando e metendo a cara em suas costas.

                Mitsue: Aaaai! – e esfregou a testa, olhando para ver quem era e em seguida se agarra à toalha. – O que está fazendo aqui?

                Deidara: Como assim o que estou fazendo aqui? É o meu quarto!

                Mitsue: Mesmo assim, por que não bateu? – gritou com raiva.

                Deidara: Eu bati! Você que não ouviu, un! – grita de volta, olhando para a ruiva.

                Mitsue: Eu podia estar pelada!

                Deidara: Mas você não está!

                Mitsue: Mas podia!

                Deidara: Mas não está!

                Mitsue: Saia daqui!

                Deidara: Eu preciso pegar uma roupa, caramba! – só então Mitsue repara que ele estava apenas com uma calça de moletom, o abdômen impecável à mostra.

                Mitsue: Ah tá. Então pegue logo e saia daqui! – grita novamente, virando-se de costas.

                Deidara: Por que? Está incomodada?

                Mitsue: Não é da sua conta!

                Deidara: Pronto, un. Já acabei.

                Mitsue: Então saia daqui! – e chuta ele para fora do quarto, encostando-se na porta.

                O que acontecera? Depois de todo esse tempo e só o que conseguiam fazer era brigar? Mitsue balançou a cabeça. Não queria pensar nisso. Nem no seu abdômen sarado. Nem em seus olhos azuis. Nem no cabelo loiro. Deu um beliscão em seu braço. Não pensaria nisso e pronto.

                Mas por mais que tentasse impedir, os pensamentos simplesmente vinham com tudo. Ela não queria estar ali, não quando teria que passar todos os dias junto a ele. Era complicado, ela mesma não entendia o que sentia.

                Mitsue se vestiu calmamente e saiu para fora do quarto, indo para cozinha onde Konan lavava alguns pratos.

                Konan: Ohayo, Mitsue.

                Mitsue: Ohayo.

                Konan: O que aconteceu?

                Mitsue: Nada.

                Konan: Tem certeza?

                Mitsue: Sim.

                Konan: Tudo bem, então. Quer comer o que?

                Mitsue: O que tiver. – murmurou distraída.

                Konan: Fala sério, Mit! O que aconteceu para ficar desse jeito? – se sentou na cadeira à frente dela, entregando-lhe um copo de leite.

                Mitsue: Obrigada. Não aconteceu nada, de verdade.

                Konan: Sabe que pode confiar em mim. Finalmente chegou outra garota aqui, e bem, quero que sejamos amigas.

                Mitsue: Isso é bom. – disse, olhando para o chão.

                Konan: Alguma coisa aconteceu e eu tenho quase certeza que o Deidara teve algo a ver com isso. – falou e Mitsue enrubesceu.

                Mitsue: É claro que não, por que acharia isso?

                Konan: Dá para ver na sua cara.

                Mitsue: Eu sou tão óbvia assim?

                Konan: Mais do que imagina.

                Mitsue: Tudo bem, aconteceu uma coisa.

                Konan: E você está triste por causa disso?

                Mitsue: Não sei o que estou sentindo, não sei de mais nada agora. Estou confusa. – botou as mãos na cabeça, como se isso de alguma forma pudesse ajudar a colocar os pensamentos em ordem.

                Konan: Acho que entendo você. Sua vida mudou completamente há menos de 72 horas.

                Mitsue: Não é só isso. Não sei se vou aguentar ficar aqui com o Deidara, mas sei que me arrependeria se fosse embora.

                Konan: O que aconteceu entre vocês foi tão sério assim?

                Mitsue: Acho que sim. Tudo bem, você merece saber a verdade. Mas por favor, não diga a ele que eu te contei isso.

                Konan: Pode deixar. Mas não precisa me contar se não se sentir confortável, querida.

                Mitsue: Não, não tem problema. Acho que já guardei isso só para mim por tempo demais. Está na hora de contar para alguém. Bem, tudo começou na Vila da Pedra, quando ainda éramos bem pequenos. Quer dizer, isso não é muito importante. A parte que interessa começa um pouco depois.