26º Capítulo – Ignorando a Megan

Último dia de férias nessa casa de praia. Sinceramente, não estava aguentando mais, ainda mais tendo que suportar Megan com o meu namorado, a minha família e os meus amigos.

Arrumamos nossas mochilas e esvaziamos a casa, colocando tudo de volta no carro. Nos posicionamos na mesma ordem da vinda. Estava louca para chegar em casa. Me sentei ao lado de Kevin, que percebia sem fazer nenhum esforço minha insatisfação.

– Vai tudo voltar ao normal assim que chegarmos, ok? – ele disse.

– Duvido – disse evitando olhá-lo.

Ele suspirou, sem saber o que falar. Não tinha mesmo o que falar. Apenas nos ajeitamos e seguimos viagem.

Megan sempre chamava Louise para comentar sobre tudo que via ou ouvia. Até mesmo Tom, que nem ao lado de Megan estava, estava ficando sem paciência. Não via a hora que ele levantaria e gritaria para a Megan: “Cale a boca sua coisa ambulante e me deixe sozinho com a minha namorada!”. Seria impagável vê-lo falando isso.

Tirando o fato de Megan não parar de falar, o carro estava em silêncio. Estávamos todos cansados e estressados. Olhei para Kevin. Ele estava quase dormindo, mas abriu os olhos quando o olhei.

– Oi – ele disse.

– Oi – disse.

– O que houve? – ele perguntou.

– Nada... É que... Não, não é nada – disse.

– Fala – ele insistiu.

– Eu te amo, tá? – disse baixinho.

– Eu te amo muito mais – ele me abraçou, mas o afastei.

– A Megan – sussurrei.

Ele se afastou, frustrado.

– Sinto muito – disse.

– Tudo bem, quando voltarmos teremos mais tempo para nós dois – ele disse.

– Quem sabe... – disse.

– Quem sabe... – ele repetiu.

Depois de mais ou menos uma hora e meia, chegamos à casa de Megan, para deixá-la. Pegamos sua "pequena" – irônicamente falando – mochila e lhe entregamos. Antes de entrar em casa, Megan segurou Kevin pelo braço e lhe deu um beijo no canto da sua boca. Me segurei, com a ajuda de Tom. Queria voar em cima de Megan, mas apenas respirei fundo. Kevin entrou no carro, limpando sua boca.

– Ela merece um belo de um soco naquele narizinho plastificado – disse.

– E eu de um desinfetante – disse Kevin.

Sorri.

– Precisamos impor um limite para a Megan – disse Louise – Ela está achando que pode demais.

– Concordo – disse Tom.

– Temos que fazer algo logo – Louise continuou – Ou ela vai acabar vencendo esse jogo.

– Quando chegarmos, – disse – vamos planejar isso diretinho.

Não demorou muito. Cerca de vinte minutos e estávamos em casa. Kevin e Tom apenas colocaram suas mochilas em suas casas e logo voltaram para a minha. Todos nos sentamos na minha cama.

– Certo, vamos pensar – disse Louise.

Silêncio. Estávamos todos completamente dedicados a bolar um plano. Tom foi o primeiro a se manifestar.

– Acho que tive uma ideia.

– Qual? – Kevin perguntou.

– Kevin, você tem que rejeitá-la em público – ele disse – Quando ela começar a “dar mole” para você, apenas a empurre e diga: “Megan, não”.

– Boa ideia – disse.

– Mas o Kevin não é o único que está sofrendo com isso – disse Louise – Carter também está, ela quer tirar tudo dela.

– Pois é – disse.

– Vamos todos ignorá-la, é simples – disse Tom.

– Certo – disse – Não importa o que ela falar com vocês, ignorem, finjam que ela não existe.

– Feito – disse Louise.

Decidido. Hoje era domingo, amanhã teríamos aula. Kevin e Tom foram para as suas casas.

– Louise – a chamei – Temos que esclarecer algumas coisas.

– Que coisas? – ela perguntou.

– Tom e Luke – disse.

– Ótimo... – ela murmurou.

– É sério, temos que entender isso – disse.

– Eu sei – ela disse – Eu sei e não sei, sabe como é?

– Na verdade não, mas a gente tenta – ri.

– Para de rir! Não tem graça – ela protestou.

– Ok, desculpa – pedi.

– Tudo bem – ela abaixou a cabeça – Eu amo o Tom, de verdade. Mas o Luke... O Luke me deixa nervosa. Talvez porque ele tenha sido minha “primeira paixão” e eu ainda não tenha superado. E eu tenho medo dessa coisa de “não ter superado”, porque eu não sei o que pode acontecer, eu não controlo isso.

– Entendo – disse – Então temos que esperar. Só o tempo vai esclarecer isso. Enquanto isso, continua com o Tom, e evite o Luke. Se você vir que não está dando mais, vai ser a hora de se abrir com o Tom, e aí só Deus sabe o que pode acontecer.

– Ok – ela disse triste – Eu só não quero ter que perder o Tom.

– Você não vai perder, o Tom te ama – disse – Se for o caso, eu converso com ele.

– Obrigada – ela disse.

– Vem cá – a abracei – Vai ficar tudo bem, vai dar tudo certo, apenas espere e confie.

Ela assentiu.

Segunda-feira. Dia em que todos resolveram ignorar Megan. Estava tudo dando certo, agora ela estava indo na direção de Kevin.

– Kevin, meu lindo – ela disse sorrindo.

Meu lindo? Ok, respira, Carter. Vai dar tudo certo.

– Oi – ele disse com frieza, abrindo seu armário.

– Não vai me dar um abraço? – ela perguntou.

– Por que daria? – ele se negava a olhá-la.

– Porque nós somos amigos, não é? – ela o olhou, mesmo sem ele a olhar.

– Somos? – ele disse.

– Somos! – ela quase gritou.

– Eu? Eu não sou seu amigo, Megan – ele disse – Agora eu tenho que ir.

Quando ele saiu, todos olhavam para Megan. Ela, com raiva, correu atrás de Kevin.

– Olha aqui, Kevin Stone! – ela gritou – Converse comigo direito, agora!

– Você não pode me obrigar a fazer isso, Megan, não mais – ele disse – Se afaste de mim ou eu vou ter que conversar com pessoas que você não gostaria nem um pouco que eu conversasse.

– Você não seria capaz – ela gritou.

– Tente, vamos ver se eu não seria – ele saiu andando, deixando-a lá.

Olhei para Louise, queria gritar de felicidade. Kevin foi um ótimo ator, apesar de não ter sido nada mentira. Ele sempre foi bom nisso.

Já fora da vista de Megan, fomos atrás de Kevin.

– Você foi ótimo – disse.

– Obrigado, eu sei – ele riu.

– Convencido – disse Louise rindo – Ah, vocês viram o Tom?

– Ele está no pátio – disse.

– Ok, vou lá – ela disse, sorrindo.

– Já pensou o que você quer fazer na faculdade? – perguntou Kevin – Esse é o nosso último ano no colégio.

– Pensei... Pensei em arquitetura, sempre gostei de geometria, essas coisas – comentei – Já até imagino o que você vai ser no futuro.

– O quê? – ele me olhou.

– Um ator famoso, no tapete vermelho, rodeado de pessoas também famosas – sorri.

– Adivinhou – ele sorriu.

– Viu? – eu ri – Presto atenção em você.

– Percebi – ele disse, seguido do sinal do colégio – Vamos para a sala?

– Vamos – entrelacei nossas mãos, seguindo para a sala de aula.