Snuff - Dramione escrita por Lívia Black


Capítulo 6
Capítulo 6.


Notas iniciais do capítulo

Snuff entrou em hiatus.
Um longo hiatus.
Um período de trevas e silêncio, marcado pela minha irresponsabilidade, agenda de provas, falta de inspiração, falta de tempo, e mais uma lista de fatores suficientemente grande para preencher uma folha de pergaminho que cobriria mais da metade da Terra. É.
O que posso dizer agora?
Sim, voltei. Estou em férias e creio que isso ajudará muito em meu desempenho. Se é que alguém lê uma fic que demora tantos éons para ser atualizada.
Não peço nem desculpas, pois desculpas está longe de ser o suficiente.
Agradeço muito cada review recebido, porém. O hiatus não me fez desapegar da fic, e quero muito continuar escrevendo-a. Será que alguém ainda me apoia? ~cruza os dedos~
Julgo não ser necessário reler os anteriores para compreender. Esse capítulo -que nem possui a letra da música- é mais como uma nova introdução, para mais uma rodada de acontecimentos em Snuff. Mais felizes? Mais tristes?
Isso é o que vamos ver.
Espero que gostem, se houver alguém aí...E uma ótima leitura!
Beijitos no coração,
Lívia Black.



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Capítulo 6.

-Você está bem, meu amor?

As palavras de Rony Weasley eram totalmente audíveis a Hermione Granger, mas ainda assim parecia que haviam sido ditas há quilômetros de distância, em uma dimensão desconhecida.

Era simplesmente impossível desviar sua atenção para qualquer outra coisa que estivesse além das labaredas amarelo-alaranjandas. Havia uma beleza tão incomensurável nelas... Uma beleza tão sublime que Granger só podia permanecer extasiada. Observando.

O fogo.

Como se ele fosse o responsável por seu mundo continuar girando ou o combustível para que seu coração continuasse batendo.

Estava agachada ao lado da lareira, com os braços abraçando os joelhos protetoramente. Os orbes amendoados percorrendo cada chama com ansiedade. Cada estalo do fogo, para ela, era como sentir suas feridas sendo cicatrizadas.

Hermione Granger teve uma súbita e irônica vontade rir, aos últimos vestígios do papel refinado de seda daquele convite de casamento sendo assolados sob as brasas incandescentes. Mas apenas sorriu, satisfeita por ter a certeza de que não havia mais nenhum resquício daquela dor e humilhação presentes no mundo.

-Hermione? 

Só agora Granger conseguia abandonar sua hipnose pelo fogo, para notar que Ron havia se sentado ao seu lado, discretamente.

Há quanto tempo ele devia estar ali?

Ela perdera completamente as noções de tempo e espaço nos últimos segundos.

-Ron?

A expressão dele era confusa. O azul de seus olhos sendo substituído lentamente por algo como temor. Ele parecia assustado, como se não a reconhecesse, fanática, do jeito que provavelmente estivera segundos atrás, olhando para o fogo.

Ela sempre se odiava em instantes como esses.

Ele era tão, tão bom para ter como noiva uma criatura tão dissimulada, neurótica e incompreensível como ela.

Alguém que fora capaz de relevar seu amor, traí-lo com uma...serpente desgraçada.

E que continuara insistindo por tanto tempo nesse erro...

Argh.

Mas só até aquele momento.

Hermione Granger fez uma promessa silenciosa à si mesma, sobre a vigilância dos olhos de Rony Weasley, e diante do fogo, de que ela fora aquela mulher dissimulada só até aquele momento.

Agora não haveria mais lágrimas escondidas.

Palavras e sentimentos trancados. 

Não haveria mais omissões, nem traições, nem qualquer outra coisa que Ron não merecesse ter.

Da sua parte, só haveria amor e felicidade para ele.

Uma nova Hermione Granger nascera das cinzas daquelas cartas e daquele convite, e essa Hermione Granger não tinha mais nenhum passado do qual se envergonhar.

Ela iria aprender a olhar Ron com os olhos de uma esposa.

Não com os olhos de uma perjura.

Certo?

-Você está bem, Hermione?

Provavelmente se sentiria culpada em outras situações.

Se o fogo não estivesse ali, sentiria culpa por ele se importar tanto com alguém como ela. Mas o fogo estava, e ela era apenas uma noiva feliz por ter o carinho de seu noivo...  Não era?

O fogo aquecia a face que outrora havia chorado tantas lágrimas amargas por um tal Draco Malfoy, e embutia um brilho –uma farsa- em seu semblante.

-Agora estou bem, Ron. –Lançou um último olhar para as cinzas, antes de se desencolher, e ir engatinhando para mais perto do ruivo. Elas nem pareciam existir mais.  Assim como você, Malfoy. Você não existe. É menos do que essas cinzas para a nova Hermione Granger. Weasley ficou atônito quando Hermione simplesmente aninhou-se em seu colo e roçou os lábios nos seus. Se havia qualquer mínima chance para você... Foi pulverizada junto com esse convite idiota. Normalmente, era o ruivo quem tinha de tomar iniciativas como aquela. Ela sempre parecia estar atarefada demais, ou cansada demais e... às vezes ele concluía que ela simplesmente não queria ser tocada. Era tão estranho esse novo comportamento que tudo que ele pode fazer foi permanecer estático. –Em duas semanas, nós vamos ser marido e mulher... Nada poderia estar melhor. Absolutamente nada.

O sabor do ‘nada’ trazia algumas lembranças indesejáveis que a castanha não conseguia de imediato reprimir em sua mente. Imagens de lençóis, sussurros, corpos se entrelaçando, calor... Mas... Ela não continuava uma sendo perjura por pensar naquilo, não é? Ela teria de volta. Talvez não da mesma maneira de antes...Mas já havia prometido que não se importaria mais com esses detalhes sórdidos.  

-Tem certeza? –Ron ainda parecia um pouco cético. E ela só sabia que tinha de fazer alguma coisa para remover aquela incredulidade dele. Bagunçou seus cabelos. Sorriu como uma boneca.

-Eu sou Hermione Granger. Eu sempre tenho certeza.

Mas declarar aquilo foi quase como inflamar as próprias cinzas mortas... As palavras das cartas voltavam a dançar entre seu rosto e o de Ron, e  sussurravam, infinitas vezes dentro de sua mente, que era mentira.

Ela não tinha certeza de nada. Era apenas um vulto se afogando num mar de incertezas... E continuar negando, era o mesmo que continuar mentindo. Era Pior.

Mas foi exatamente o que fez.

Não havia promessa que retirasse as algemas da fidelidade de seu coração com o que era errado. Mesmo com tanto anseio de fazer o certo. E talvez, essas algemas só existissem porque ela nunca fora capaz de abrir os olhos, e enxergar, que naquele Universo em que havia se intrometido, o certo só podia ser o errado...

E o errado só podia ser o certo.

x-x

~Duas semanas depois~

-Cinco doses de Vodka. Da mais forte. Por favor. Ah, e mais um maço desses cirrag...Cigarros... Qualquer marca. –Se havia algo que Draco Malfoy havia facilmente aprendido a apreciar nos trouxas, depois que fora obrigado no pós-guerra a se nivelar com eles, era seu gosto -muito bem qualificado, aliás- por bebidas e drogas do gênero. Havia aprendido a manuseá-las muito bem, e bastava entregar uma miserável nota de dinheiro trouxa para obtê-las.

Agora, por exemplo, estava sentado num balcão de um bar trouxa qualquer, há dois quarteirões de . O sujeito gordo e feio que era o atendente, não questionara o horário –eram apenas seis horas da tarde-, nem a quantidade, apenas lhe entregou e ficou feliz em receber seu pequeno ‘prêmio’ em forma de papel.

Tsc, tsc...Trouxas eram tão...Trouxas. E depois, os ‘nascidos trouxas’ não gostavam de ser chamados de escória. Se descendiam daquilo, como é que poderiam ser algo diferente de ralé?

Mas não, não era como se devesse ponderar em nada relativo a sangues-ruins, agora. O mais seguro manter seu pensamento bem longe deles.

O que mais precisava, naquele dia, era esquecê-los. 

Desceu uma das doses que o gordo lhe entregara, em dois goles rápidos e ficou satisfeito por sua visão instantaneamente turvar ao conflagrar de sua garganta. Depois, abriu o maço de cigarros, acendeu um com aquele objeto estranho, e colocou entre os lábios, inalando tudo.

Se existia isso no Mundo Bruxo? Sim, com certeza. Se conseguia ser tão autodestrutivo e útil como no Mundo dos Trouxas? Hm, não chegava nem perto. Uma singela dose de Vodka lhe fazia mergulhar de cabeça num mar irresistível de esquecimentos... E aqueles gacirros  (cigarros!) e sua fumaça deixavam sua cabeça girando, seus olhos vidrados apenas no vício de inalá-la, que se tornava cada vez mais doentio, conforme crescia a ideia de que aquilo conseguia lhe prejudicar. Perfeito.

Afinal, o que era um pouco de prejuízo numa vida patética como a que Malfoy tinha? Era quase como um bônus, um benefício para se desfrutar a bel-prazer...

Patético. Não havia um adjetivo que descrevesse melhor o que ele era, ali, debruçado sobre aquele balcão de bar trouxa, apenas a dois quarteirões do lugar. Tão patético. Era incrível que não tivesse nem tido a decência de ser da conta do que era antes. E apesar de tudo, ainda não conseguia admiti-lo em voz alta. Patético. Seu orgulho era o que mais o tornava patético. Mas ainda assim, era apenas um item de uma lista que poderia preencher metade da superfície da Terra. Até sua própria noiva, que dissera amá-lo tanto, havia esfregado a palavra em sua cara, alguns dias atrás, quando havia decidido que era necessário que dessem um tempo... Por um motivo tão anódino. Ele apenas trocara o nome de Astoria por o de.... Uma outra mulher... Fora apenas um deslize, um acidente, poderia acontecer com qualquer um. Certo?

Errado.

Ele sabia muito bem porque trocara os nomes enquanto Astoria estava em seus braços. Alegar que não sabia era apenas ser mais Patético.

E Draco Malfoy já estava cansado de ser patético.

Esquecer era patético também... Porém necessário.

Mais uma dose de Vodka. Mais um cigarro. Que os prejuízos viessem.

Negar que não sabia o motivo, porém, não era necessário. E se não queria mais ser patético era bom que o fizesse logo. Mesmo que influenciasse em seu esquecimento – e Draco tinha de se esquecer, antes que cometesse alguma loucura incorrigível. Estava o consumindo, lentamente, vagarosamente.

Precisava dizer porquê.  

Quando abraçava Astoria... Não era o aroma dos cabelos dela que queria aspirar. Não era a rigidez do corpo dela que queria sentir.  Não era os batimentos cardíacos dela que queria ouvir. Não era o hálito dela que queria apreciar. Não era os olhos dela que queria observar. Não era a pele dela que queria acariciar. Não era. Tudo nela simplesmente não era.

Porque Astoria Greengrass, e era tão claro quanto o amanhecer, não era, não fora, e nunca seria a mulher que ele amava.

Nunca.

Amor. Aquele sentimento inescrupuloso, tão patético quanto ele. Mas necessário, se se quer sentir a verdadeira felicidade, algum dia.

Não se pode escolher quem ama. Não se pode escolher para quem nossos corações vão acelerar, para quem a felicidade de nossos sorrisos vai se direcionar ou ao lado de quem vamos querer estar para o resto de nossas existências. Simplesmente acontece.

E com Malfoy acontecera.

Mas não foi fácil para ele conseguir admitir aquilo para si mesmo. Já sabia. É claro que já sabia. Sempre soube, desde aquela primeira noite....Mas para admitir, precisou passar anos se escondendo. Anos se revestindo no próprio orgulho –uma armadura que já deveria ter se deixado perder a muito tempo, mas simplesmente não conseguia. Precisou enfrentar o sabor amargo das palavras. Das letras, das cartas. Dos porres. Do silêncio –somente ele sabia o quão grande era o desapontamento quando uma coruja chegava, e a mensagem que trazia não era a que esperava. Poderia ter sido uma afronta, insultos, qualquer coisa. A redoma de seu orgulho estava aos poucos desabando... Mas nada vinha. Nada além do silêncio. Precisou também ter sonhos embaralhados. Pronunciar nomes errados. Levar um pé na bunda. Precisou que aquele dia chegasse, e que o gosto da Vodka queimasse sua garganta.

Tudo isso apenas para poder dizer que a palavra sangue-ruim era um termo vazio em seu dicionário. Que o aroma que queria nos sentir nos cabelos era o de cereja. A cor que queria observar na íris era avelã. O hálito que queria apreciar próximo ao seu era de menta. A pele que queria sentir sob seus dedos era macia como veludo. Os batimentos que queria ouvir eram frenéticos e descompassados.  

Tudo isso apenas para admitir, finalmente, que a mulher que ele amava, que ele queria ter em seus braços, em sua vida e em seu coração, para o resto de seus dias, não chamava-se Astoria Grengrass.

E sim Hermione Jean Granger.

É.

Lembrar-se do nome dela fez Malfoy sentir um arrepio. Sorriu, e depois bebeu e fumou. Mais. Lá se iam todos os seus planos de esquecer.

Estava errado. Tudo que ele sabia fazer era errar. Dentro de apenas algumas horas este não seria mais o nome dela. Ela se chamaria – e com certeza abriria um de seus sorrisos mais petulantes por isso – Hermione Jean Granger Weasley. Com W maiúsculo.

E não havia nada que ele, Draco Malfoy, poderia fazer para evitá-lo.

Quer dizer... Talvez até houvesse...Mas era o que se chamava loucura incorrigível, e também o que ele queria evitar a todo custo. Não por conta de seu orgulho. Não...Ali, naquele balcão de bar trouxa, há dois quarteirões da Igreja em que ela iria marcar seu compromisso perpétuo com o outro, todos os resquícios fragmentados de seu orgulho eram desprezíveis. O motivo de não querer impedir, e apenas ficar ali se embebedando estava mais para algo como... Resignação.

É. Draco se sentia resignado. Era como se achasse que sua chance havia sido perdida –total e irrevogavelmente- naquela noite, tempos atrás, em que tudo que fizera fora denomina-la de vadia. E duplamente perdida, depois de enviar os convites de seu próprio casamento –que não tinham valor algum, agora que ele e Astoria haviam rompido- como resposta àquela coruja.

 O mais provável era que Granger tivesse encontrado a paz que precisava em seu meloso Ron Weasley, e que selasse satisfeita sua história de amor perfeito de conto de fadas naquela noite.

Draco bebia. Sua cabeça girava. Sua visão turvava.

Contos de fadas suspostamente não deveriam constar com a presença do ex-amante da princesa na festa de casamento. Certamente que não. Se ousasse dizer qualquer coisa para estragar, além de incitar o desprezo dela –algo que já possuía em demasia, muito obrigado-, a faria mentir, negando tudo. E então voltaria a estaca zero. Humilhado.

E o sabor da humilhação seria ainda pior do que de agora.

Se já mal podia olhá-la nos olhos, como seria no futuro, se tivesse feito alguma tentativa  de estragar seu perfeito casamento? Não, ele não podia.

Mas queria.

Ah, e como queria. Seu coração queria. Era algo diferente, desconhecido, daquela vez.  

Talvez o correto não fosse interromper o casamento...Talvez, se falasse com Granger antes... Se se declarasse para ela...Se conseguisse expressar, em um mínimo diálogo, toda imensidão do amor que sentia por ela...Houvesse uma chance. Uma mínima chance. Daquele conto de fadas não ser ter um final infeliz, apenas para ele.

Uma chance de 1%.

Mas mesmo que fosse de 0,00000000000000000000000000000001%, por que não deveria investir?

Por Merlin! Tratava-se de Granger. Granger, Hermione Granger. A mulher que Malfoy amava! E finalmente conseguia dizer que amava.

Se não mesmo queria ser mais Patético... Precisava deixá-la saber desse amor.

Antes. Antes que ela escolhesse se queria mesmo se casar.

Mesmo que não merecesse receber nada em troca. Mesmo que não fosse recíproco...  Pelo menos sua consciência estaria limpa. Poderia viver sua vida de arrependimentos e dor, sem se perguntar se não teria sido diferente se tivesse tentado. E talvez até feliz, se ela estivesse realmente feliz com a sua escolha.

Afinal, ele a amava, não amava?

Sempre amou. Sempre. Desde a primeira vez.

O cigarro caiu de sua boca quando se levantou do balcão, e o copo da última dose de Vodka estilhaçou-se quando subitamente se ergueu, e saiu correndo, com mais pressa do que alguém julgaria ser possível, para longe do estabelecimento, um lugar qualquer onde pudesse aparatar. O dono do bar reclamaria por isso, muito provavelmente, mas esta era última das preocupações de Draco Malfoy, naquele instante.

Ele tinha de pegá-la a tempo.

Simplesmente tinha.

Tinha um casamento para tentar impedir de acontecer.


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Notas finais do capítulo

Reviews ajudam. É, sempre ajudam :3