Quase Sem Querer escrita por Loly Vieira


Capítulo 27
Capítulo 27 - Abra a porta mariquinha!


Notas iniciais do capítulo

"Eu não abro não... Você vem da pagodeira vai curar suas canseiras bem longe do meu colchão".
Pensamento filosófico do dia.



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Eu estava tremendo. Não só tremendo de medo, mas também do frio que fazia naquele carro. Eu já tinha pedido 3 vezes para abaixar o ar-condicionado mas agora eu já estava com vergonha do rapazinho que estava tão entretido com um CD do Barão Vermelho.

Então eu aproveitei para ficar quieta em meu canto. O sol de fim de tarde já não servia tanto para aquecer o estado pinguim que eu me encontrava e a única coisa que me restava era me agarrar a minha camisa de manga curta com a imagem de um Panda gravada e um short jeans azul que ia até o meio das coxas.

Tô arrasando no modelito, podem dizer ai.

-Deu R$ 22, 50. – Ele cutucou algo no taxímetro. Entreguei a nota de 50, meio pesarosa por estar devendo muito mais que 22 reais e 50 centavos a minha melhor amiga.

Ele me devolveu o troco meio que me encarando torto por não ter uma nota mais “fácil”. Acenou com a cabeça e imaginei que ele estava me desejando boa sorte quando eu fechei a porta do carro.

Peguei mais uma vez o endereço e conferi que era aquele apartamento. Era simples, mas bem localizado. Para mim, o importante era estar perto de uma padaria.

Eu limpei a garganta e o porteiro tirou os fones de ouvido e sorriu amarelo.

-Boa tarde... hã... ou boa noite – falei meio confusa.

-Boa – ele sorriu. Alguém simpático, oh yeah. Vem pra mim sorte.

-Acho que minha amiga já falou com o senhor eu vim...  – eu ia continuar quando ele me interrompeu com um aceno exagerado, conferi só mais uma vez o papel antes de colocá-lo no bolso.

-Ah sim, eu lembro da sua amiga – ele exibiu um sorrisinho em minha direção.

Abri a boca. Ok, isso não tava no roteiro. PRODUÇÃO! Eu esperava que ele me parasse no meio do caminho. Mas não, ele estava quase dizendo “Não gostaria de entrar para tomar uma xícara de café?”. Pff dona Florinda em formato de porteiro.

-E além do mais você não é uma seqüestradora profissional é?

-Descobriu meu disfarce – Ergui as duas mãos pra cima.

Ele riu alto e liberou a entrada para o apartamento.

-Amiga do Daniel? – perguntou por fim.

-Do amigo do Daniel.

-O menino Diego?

Nossa como Diego era famosinho por essas bandas.

-Ao menos eu acho. – Eu sorri e acenei com a mão trêmula.

Peguei o elevador e enquanto tamborilava os dedos no painel de metal esperando chegar no 6º  andar.

Procurei pelo corredor mais extenso que o normal (eu tinha conhecimento sobre corredores, certo?) e finalmente parando na frente da porta com os números cor de cobre. 608.

Acho eu, que as campainhas deveriam ser em lugares fáceis de achar, tipo no meio da porta, mas ao contrário disso, elas ficavam escondidas como camaleão ao lado da mesma. Então quando eu cutuquei-a, com um pouco mais de força do que o devido, ela finalmente apareceu ficar nítida. Nítida demais. E foi ai que ela enganchou e o som irritante começou a ficar repetidamente irritante.

-Pelo amo de Deus, para – eu murmurei para ela. Cutucando-a mais uma centena de vezes para tentar desenganchá-la.

-JÁ VAI, PORRA!

Ai meu Deus. Ai meu Deus. Minha aparecida triunfal não era para ser assim.

A porta estava sendo destrancada, quando finalmente eu consegui fazer parar aquele som irritante. Eu me ajeitei, com as mãos atrás das costas e totalmente encabulada quando a porta abriu.

-Oi? – ergueu uma sobrancelha e meu rosto estava em chamas.

-O-oi, eu...

-DIEGO! – O menino gritou pelos ombros e em segundos um moreno alto (bonito e sensual) apareceu atrás dele, sem camisa e com os cabelos negros bagunçados.

-Marina?

-Pois é – falei com a garganta apertada. – Hã... Oi. Diego eu...

-Tu que é a Marina? – o menino perguntou.

-Costumam dizer que sim.

Imaginei que Diego tinha passado a noite com uma garrafa de vodka na mão confessando a seu amigo todo seu drama romântico. E o quanto amava sua mãe e me adorava totalmente.

O garoto loiro virou um pouco a cabeça na direção do moreno, murmurando:

-Bem que você disse que ela é meio sarcástica.

-Ele disse isso? – ergui uma sobrancelha, totalmente desconfortável. – Ele está sendo caridoso, um amor de pessoa.

Ele gargalhou escandalosamente e me empurrou com um ombro balbuciando algo de “você é engraçada, garota” o que me fez me sentir a vontade, quase em casa (talvez a personalidade infantil do meu irmão).

-Sou Daniel. – Eu estendi a mão ao mesmo tempo que ele abria os braços então o que se seguiu foi um abraço desajeitado com risos nervosos, da minha parte.

-Sou Você-sabe-quem.

Então Diego riu nervoso, aquele repuxar de lábios. E imaginei que nem tudo seria flores como eu estava pensando.

-Posso falar com você rapidinho? – Perguntei esperando um “entra, quer bolo, café, chazinho...?”.

-Hm, ok – ele olhou rapidamente para o Daniel. O loiro assentiu e quando Diego deu alguns passos para frente ele fechou um pouco a porta se despedindo de mim com um sorriso, deixando-a entreaberta.

-Super legal esse seu amigo – tentei suavizar o ambiente mas Diego apenas grunhiu um “é”. – Então...

-O que você está fazendo aqui?

-Eu não deveria vir? – brinquei, devolvendo a pergunta.

-Marina sem brincadeiras, ok? Não estou com paciência para seus joguinhos. – Respondeu impaciente.

-Eu sei eu sei. – balancei a cabeça – Desculpe, eu sou meio assim.

-Você veio aqui por algum motivo certo?

-Certo... – tentei adiar. A verdade é que meu discurso parecia terrível agora. Juntamente com o motivo de estar ali.

-E qual é?

Então eu respirei fundo. Seria agora, era a minha fala. Só mais alguns minutos e então a peça toda estaria no fim. E talvez viesse a melhor parte.

-Eu gosto de você. Eu realmente gosto de você. Eu nunca gostei de uma pessoa assim antes. Eu falei com a Gabi e bem, ela me disse que nunca tinha te visto assim também... E eu sei que apesar de você ser impaciente, confuso ou até distraído. – Interrompi para recuperar uma lufada de ar. – Eu ouvi dizer que você anda até tranquilo ou sei lá, meio feliz. Eu não quero que as coisas acabem assim, nós nem demos uma chance para nós mesmos.

Ele não falou nada durante os dois segundos seguintes então eu continuei.

-Eu adoro você pelo o que você é, eu até gosto de seus defeitos ou da forma que você sorri debochado. É, esse sorriso ai. Eu gosto dele. E apesar de ser um grande idiota, um grande cretino que consegue me deixar assim... Eu realmente gosto desse cretino.

Minhas mãos tremiam, minhas pernas tremiam e eu daqui a pouco ia parar no chão por convulsão. Um pouco aliviada mas ainda tensa com medo de ouvir a resposta dele, eu me calei.

-Então? – tentei o incentivar. Ele ia abrir a boca para falar quando dois braços finos o agarram por trás, enlaçando seu pescoço.

-Diih porque tá demorando tanto? Você disse que era rapidinho.

E meu maxilar saiu do lugar. Na minha frente estava uma garota com a pele bronze os cabelos ruivos.

Ruivos, sim. Vermelhos chamas. Familiar para vocês? Porque era bastante familiar pra mim.

Sabrina (vulgo: vaquinha que não faz muh constantemente).

Alô, mãe? Você pode vir me buscar?

-Você está falando com essa baranga?

- Melhor do que receber pra ser... – apontei o dedo para ela ao mesmo tempo que subia e descia – Isso ai.

Eu não podia ficar calada, ok? Eu não iria deixar pagar de palhaça ali. Eu estava com ódio, um ódio transbordante. E se fosse para ser a palhaça, eu iria enfiar umas tortas nas caras de alguém.

-Como é que é? – ela tentou empurrar Diego da sua frente mas ele enlaçou sua cintura.  – Você viu como ela tá me tratando, ursinho?

-Ursinho? – Repeti pasma. – Vei... Ursinho, Diego? – Olhei pra ele agora. Ele deu de ombros. Qual homem que se preste gosta de ser chamado de Ursinho? Não espera, tenho uma boa sugestão: Mamãe ursa. Palmas e risos, plateia. Vai lá pra não deixar a Oprah aqui sem graça.

-Que é que é baranga?

-Vou te falar uma vez só, Leitão – puxei no sarcasmo. Apontando meu dedo no seu nariz – Você não tem nada haver com isso.

-Vai lá lixar seus chifres – ela riu. – Deve ser mania de família né. Diego me contou que seu pai fez com sua mãe. – Então ela gargalhou, gargalhou mesmo. Tipo aquelas gargalhadas de vilão de desenho. Ok, exagerei, mas tava mesmo parecidinho, viu?

Eu mordi o lábio inferior. Falar da minha família era demais. Que pegassem a porcaria do meu homem, que me xingasse de baranga, mas NUNCA fale mal da minha família OU de chocolate. Diego ainda a segurava pela cintura fina quando eu agarrei seus cabelos de farmácia com força, chacoalhando sua cabeça para todos os lados.

-DANIEL! ME AJUDA AQUI!

Então o loiro apareceu, tentou me segurar pelos ombros, mas eu não largava o cabelo daquela kenga por nada.

-Me deixa que eu vou chacoalhar a cabeça dela até o cérebro sair pelo ouvido!

-Marina – Daniel chamava, me puxando pela cintura agora. Ele tava tentando prender o riso, eu sabia disso. – Solta ela vai.

-ME LARGA DANIEL QUE EU VOU ALIMENTAR A VACA E FAZER ELA COMER GRAMA!

-Ursiiinho! – A recalcada gritava, Diego estava meio sem ação, mas tentava afastar a garota de mim e isso só fazia com que ela sentisse uma dor pior.

Eu tinha soltado um pouco a mão para bater naquele nariz a lá Michael Jackson dela quando Daniel me puxou de maneira certeira e fez nós dois cambalearmos pelo corredor. Eu já estava recuperando o equilíbrio quando ele me puxou mais para ele.

- O síndico realmente não gosta de confusões – ele resmungou, mais para se mesmo.

E então eu parei de tentar fugir.

-Tudo bem, não vou bater nela.

-Deixa ela vim! – gritou a projetinho de gente. – Deixa – Os cabelos estavam estilo ‘black power’ e tanto eu quanto Daniel rimos disso.

-Daniel... – Diego arfou e em dois segundos o garoto já levava a... coisa pra dentro do apartamento ao som de gritinhos histéricos.

Diego limpou o suor que escorria da testa e me olhou sem uma forma definida. Acho que medo. Então veio até mim, meio hesitante.

-Eu posso expli...                                    

E sem pensar duas vezes meu punho voou até seu maxilar e nós dois gememos de dor.

-Marina mas que...

-Isso foi por ter falado da minha família seu imbecil. – E quando ele ainda estava surpreso eu o acertei no meio das pernas com um chute. – E isso foi por ter feito o que fez comigo. Cretino.

-Vo-vo... - ele gemia baixinho fazendo caras e bocas, estava meio inclinado.

-Você está usando desculpas clichês, Diego – Murmurei, apertando loucamente o botão do elevador esperando que ele não tivesse forças para me seguir até que o mesmo chegasse. – E se algum dia na vida você for capaz de gostar de alguém de verdade, só se lembre de alertá-la antes, vai ver ela não se arrepende tanto quanto eu me arrependi.

E eu iria tagarelar coisas mais tocantes até que o elevador chegou e eu corri para dentro dele e quando as portas fecharam, eu pude ouvir meu coração nitidamente acelerado.

. Eu só tinha raiva, uma raiva enorme daquele garoto de olhos azuis e de mim... Por ser “a garota do cachorro”.


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Notas finais do capítulo

Desculpa mas eu não resisti e o nome do capítulo não podia ser outro.
BAMBAM! Quem ai quer matar a Loly aqui, hun?
Antes que vocês achem que a fic vai ficar nesse lenga lenga: EU JÁ ACABEI A FIC.
O próximo capítulo é decisivo pra história e pá. Calei minha boca agora :X
CHEGAMOS A META DE ONZE COMENTÁRIOS NO ÚLTIMO CAPÍTULO *dança maluca* graças a: Adriana Morais, JessicaMoraes, Leti Mathias, ameblifls_smart, allison, Nessie Fontoura, BelleDiniz, Sonhadora00, Luu Amorim, Mandy Face e Nathalia.
Todas na espera de Santo Antônio virado pra parede ter piedade das vossas almas.
Brincadeira. Quem tem namorado aproveita muito ao lado dele, só não chama de Ursinho, faz favor.
E quem não tem... Bora que a reza amanhã começa as 6 da matina hein?
Desafio de hoje: Música que fez parte da sua infância.
Vamo lá que eu to nostálgica AUSHAAUSHAU
P.s.: não pode ser Ragatanga.