Quase Sem Querer escrita por Loly Vieira


Capítulo 26
Capítulo 26 - "Eu sei que você sabe..."




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-Alô? – Minha voz parecia engasgada.

-Alô?

-Eu... – Engoli em seco, tinha treinado minha fala minutos antes no meu quarto, mas agora nada me vinha à cabeça. Pensei em desligar o telefone, mas imaginei que só estaria fugindo dos problemas de novo e eu tinha que enfrentá-los, se não fosse por mim, seria pela surra que eu poderia levar de minha mãe. Então disse a única frase que me veio à mente. – Amizade acima de tudo.

-Marina?                                       

-Se não for, é.

-SUA VACA, DESGRAÇADA! – Eu gargalhei baixinho – Não ria! Estou indo pra sua casa.

-Como você sabe que eu to em casa?

-Tirando o número gravado no celular?

-Ah é...

-E sua mãe disse que iria conversar com você.

-Mas...

-Foi o primeiro lugar que eu fui procurar você, sua anta.

-Minha mãe não ligou para mim hora nenhuma desde que eu cheguei.

-Talvez ela soubesse que você precisava de um tempo. Foi isso que ela me disse.

-Continua sendo estranho.

-Estou chegando ai daqui a pouco. Se você fugir, te procuro pra pendurar tuas tripas no poste.

Como é uma pessoa doce essa menina.

-Acho que eu vou continuar aqui.

Eu poderia dar mil e uma justificativas para não ligar para aquela filha de uma mãe. E eu listaria todas elas em forma alfabética. Mas eu não conseguia. Porque parando para pensar... Ela era a única que eu tinha. A única amiga que esteve ao meu lado para todos os momentos. Foi a única que continuou ao meu lado quando poderia ter me jogado fora de seu Camaro nem usado ainda e guardado na garagem.

Eu a apoiei muitas vezes, mas ela também me ergueu dezenas. Foi ela que me ajudou a sair de meu mundo o qual eu vivia confinada como prisioneira. Foi ela que quando descobriu meus hematomas nos braços apontou o dedo miúdo para meu tio paterno e mandou-o ficar bem longe de mim, porque sabia muito bem quem procurar se ele me batesse mais alguma vez. E esse era um segredo meu, dela e da minha mãe.

Era uma espécie de pacto que nós tínhamos, sem palavras em latim ou galinha morta na tigela de barro. Era estar ali. Continuar ali. Permanecer ali.

A primeira coisa que ela fez quando eu abri a porta foi me encher de tapas fracos.

-Sua... – Ela soluçava. – Marina... Sua... – E tentava me bater.

Ela estava descabelada. Os olhos estavam vermelhos, a roupa estranhamente amassada (e não perfeita, como de costume). E, como se não fosse o bastante todos esses itens, algo mais pesado cobriu minha visão. Ou devo dizer alguém?

Quem chutou um elefante branco... Parabé... O que é que você tá pensando, hein?

-Eu tinha que trazer o Dougie – ela desculpou-se – Ele estava uivando muito e você sabe como são meus vizinhos...

Ricos, completei mentalmente. Balançando a cabeça ainda tentando proteger meu rosto de lambidas.

-Ele sentiu sua falta.

-E eu também senti falta dele. – E por um momento eu achei que não estivéssemos falando mais do Golden apoiado na minha cintura.

-Eu tenho quase total certeza que ele gosta de você, Mah - falou um pouco mais baixo agora. Amarrando o cabelo com um fio solto.

-Eu também gosto dele, tirando das vezes que me arrasta pela rua.

-Você sabe que eu não to falando do Dougie, apesar dele também gostar de você.

Dei de ombros. Não estava pronta para entrar nesse assunto. Mas pelo visto, minha melhor amiga estava. Puxou-me pelo punho.

-Porque não vamos dar uma volta?

Eu não concordei nem discordei, ela já me puxava pelas ruas, com a leve ajuda de Dougie.

-Eu... - ela começou, pausou - Eu sabia que você iria odiar quando soubesse. Eu sabia muito bem.

-E é? – perguntei entre sarcástica e cínica.

-Não use seu sarcasmo para mim, nem pense nisso Marina – Ergui as duas mãos. – Bem, vou ser sincera, tudo bem? Não reclame disso.

Continuamos andando. Ela não olhava em meus olhos, mas sim para seu esmalte um pouco descascado.

-Mina – ela brincou com o apelido carinhoso que minha mãe me chamava quando era mais nova. Respirou fundo e finalmente ajeitou-se no lugar, olhando em meus olhos. – Eu nunca o vi assim. Além de maduro, Diego parece ter se tornado outro cara – ela balançou a cabeça tirando-a dos devaneios. –Mas uma parte de mim tinha certeza que vocês não iriam durar.

Eu sorri como se compreendesse cada palavra mas na verdade eu me senti pequena, tão pequena quanto sonhadora e infantil. Eu nunca tinha parado para pensar nessas coisas. Eu não parei para pensar se nós teríamos alguma coisa depois daquela semana ou nada do tipo. Eu não esperava que ele mudasse para minha cidade pelo simples fato que eu morava ali. Eu não saia beijando sapo nenhum, ok?

Ele nunca estava interessado em algo sério. E isso praticamente me levou a pergunta de antes. Diego não se apegava, o único “eu te amo” verdadeiro que ele deveria ter dado na vida toda era para sua mãe, se é que ele era capaz disso.

-Mas a outra parte de mim... – ela brincou com as orelhas peludas do cachorro que estava sentado entre nós duas. – Bem, essa era muito mais sensata. Eu não tinha certeza de nada. Vocês ficavam... quase perfeitos juntos.

Eu soltei um quase sorriso.

-E eu tinha medo de acabar com essa sua felicidade – ela confessou bem mais baixo – Eu sei que pareço egoísta, mas eu realmente estava feliz também por ver o tamanho do seu sorriso ou o modo como seus olhos ficavam ao lado dele.

Eu fiquei encabulada e para disfarçar comecei a brincar com a outra orelha do canino também. Que estendeu a língua para fora e fechou os olhos, aproveitando a atenção.

-E eu o conheço – ela deu de ombros, corrigindo-se logo depois. – Pelo menos um pouco. E eu tinha certeza que ele estava com você porque queria estar.

-Você tinha dito que não podia ter certeza de nada.

-Nada em relação às duas pessoas mais confusas do planeta, principalmente quando você está no meio. Mas acredite, dá pra notar.

-E é? – Ela odiava quando eu fazia isso e por isso franziu o cenho e falou mais convicta, como se estivesse pronta para me mostrar que estava certa e Gabriela sempre sabia como convencer alguém.

-Eu não tenho culpa se você capota na cama e não dorme, sua pedra.

-Do que está falando?

-Você realmente não escutava? – Fiz uma careta confusa e ela sibilou “pedra”  baixinho. – Algumas noites o Diego cantava no quarto dele, você realmente nunca notou o violão ou então ele cantarolando por aí?

-Não.

-A melhor pessoa para o ditado ‘só não perde a cabeça porque está presa no pescoço’ com certeza é você.

-Dormiu com o Bozo?

-Ai quem me dera – franziu os lábios e eu soltei uma risadinha baixa.

-Quais músicas ele cantava? – Minhas bochechas deveriam estar coradas, mas elas já eram por si só.

-Não sei bem, você sabe que eu não sei dessas coisas – eu assenti firmemente e ela me acertou com um tapa na cabeça. – Não mangue de mim.

-A letra ou o ritmo?

-E...– ela mordeu os lábios – Eu sei que você sabe quase!

-A música?

-Não... Também! É uma parte dela “eu sei que você sabe quase...”.

-Nossa que ajuda Angélica, não da para facilitar no joguinho do vídeo game não?

Ela ignorou meu comentário.

-Ah! É daquele cara morto que você gosta.

-Renato Russo?

-Esse mesmo.

-Não fale assim dele.

-Ele não tá morto?

-Tá, mas...

-Então eu chamarei de defunto se preferir.

-Deixa para lá.

-Conhece a música?

Eu sabia de cor, sapateado, de trás pra frente, e ainda a cantaria com a boca cheia de farinha e assobiando o ritmo chupando cana... ou é manga? Enfim, era lógico que eu sabia a música. Era umas das minhas músicas prediletas. Vivia a cantarolando por ai ou cantando no chuveiro.

-Vagamente.

-Mahzita meu bem – ela vasculhou algo em sua bolsa da Bety Boop  que tinha em ombros, puxou de lá um papel surrado e extremamente amassado, tirou das minhas mãos a guia do cachorro e me entregou aquele pedaço de papel rasgado –Toma.  Eu peguei o endereço com a minha tia, da casa do amigo de Diego, onde ele estar.

Eu o peguei meio em dúvida. “e se...”.

Olhei para o endereço nas mãos trêmulas.

-E, hm, isso – ela me entregou uma nota de 50 reias, eu arregalei os olhos. – É só uma forcinha.

-Eu não vou aceitar isso.

-Deixa disso.

-Sem chance, Gabriela.

-ACEITA LOGO E VAI!

-Mas minha mãe...

-Eu já falei com ela.

-Mas o quê...?

-E já chamei um taxi também.

-Como você adivinhou que eu iria aceitar?

-Então você aceita?

Gaguejei para responder então ela sorriu debochadamente. Empurrou-me pelos ombros até o táxi parado a uns 4 metros de nós.

-Eu não vou ter coragem de bater na porta.

-Ah vai sim – ela falava enquanto me arrastava. – Sabe por quê? Porque ele está aqui por causa de você, eu sei que você é sedentária mas está na hora de correr atrás de alguém, né? E eu já falei com o porteiro e ele libera a sua entrada, mais um caminho ultrapassado, hein? Sem precisar pedir autorização pra entrar.  

Não tive chance de responder. Abriu a porta do taxi, estendeu o bilhete que antes eu tinha em mãos para o taxista.

-E sabe do que mais? Você ama ele – eu arregalei os olhos – É, pode ficar assustadinha por pronunciar o verbo “amar”.  Você ama aquele garoto Marina. Tá entendendo isso? A-M-A!

-Tá, tá! - Eu ergui os braços para cima. - Eu gosto dele sim. Gosto muito.

-Que tipo de rixa estranha você tem.

-Pois esteja feliz. Isso já é muito. Talvez daqui a alguns anos vai rolar aquela farofada de domingo com direito aos nossos filhos correndo pelo quintal e o Dougie latindo.

-Se ele tiver vivo né.                                  

-Sua insensível, logo que esse idiota vai ta vivo - espalmei a cabeçorra do cachorro, seus olhos se fecharam e eu jurava que ele estaria sorrindo. - Meu menino vai ta com um monte de filhotinho e...

-Marina foco! - ela me empurrou para o banco de trás e antes de fechar a porta, sorriu vitoriosa e jogou a ultima carta na manga, a triunfal. – Já está fazendo planos para o futuro, está vendo? Isso tem uma palavra, meu bem. E ela tem 4 letras. 


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Notas finais do capítulo

Hola ^~^
Donas do gatinho do A era do Gelo, também chamado de Diego: Sonhadora00, BelleDiniz, ameblifls_smart, Nathalia, JessicaMoraes, allison, Adriana Morais, iMitch e Mandii.
Eu quero que vocês me respondam, por favor, e não esqueçam, por favor². Eu tô escrevendo o final da fic, e quero a opinião de vocês para duas coisas: como vocês ACHAM que vai acabar e como vocês GOSTARIAM que acabassem?
Desafio de hoje: Se você fosse um personagem de desenho animado você seria...
Um comentário vale para uma macumbinha para tu arranjar um namorado(a). VAMO LÁ QUE O DIA DOS NAMORADOS TÁ CHEGANDO (quem não tem... (feito eu) só lamento).
EU QUERO UM C... QUERO UM O... QUERO UM... COMENTA VAI.