Pov. Edward

         No segundo período Isabella entrou na sala. Eu não devia me sentir feliz por isso. Mas me senti. Feliz por pelo menos ela não estar tão mal, nem chorando. E nem muito machucada. Nem olhei pra ela, fiz força pra não olhá-la. Aquela garota já estava começando a me causar problemas.

        Quando o intervalo chegou, eu e meus amigos fomos pro refeitório. Comprei qualquer coisa pra comer e sentei numa mesa. Logo dei de cara com Swan sentada no chão, em minha frente. Era perseguição? Aquela garota parecia pedir para que eu a xingasse. Sempre tão perto de mim! Virei o rosto pro outro lado e fingi que nem a tinha visto. Mas é claro que eu esqueci dos meus amigos idiotas. Eles viram Swan.

        -Edward a Travesti não para de te encarar. Acho que ela ainda não aprendeu nada. Dê uma lição nela – Emmett falou alto. Quem ele pensa que é pra me me dar ordens? Olhei pra Bella, ela parecia assustada e depois pro Emmett que ria malicioso.

         -Já fiz o que devia hoje. Se quer que algo aconteça faça você mesmo – respondi tentando parecer indiferente. Logo ouvi uma risadinha de James. Eu nunca gostei muito desse cara.

         -Acho que o Edward amoleceu. – Senti o sangue me subir e uma vontade de socá-lo, mas ignorei o comentário. Essa Swan me causava cada vez mais problemas. Mais uma dessas e eu não teria outra escolha senão humilhá-la de alguma maneira. Mas e daí? Por que eu estava hesitando tanto? Sacudi a cabeça com raiva. Nem estou me reconhecendo mais, essa garota está me deixando maluco.

         Quando bateu o sinal, Bella estava indo pra aula de física e eu logo atrás com a lata de doce de leite que comprei no almoço. Foi então que me veio a idéia. Era a melhor maneira de provar para os meus amigos que eu não tinha amolecido coisa nenhuma. Chamei-os e passei doce de leite nos cabelos dela, sem que ela percebesse. Rimos muito. Me perguntei quando ela perceberia.

         Chegamos à aula e o professor chegou. Eu odiava aquele cara, sempre pegava no meu pé. Eu não estudava para as provas dele nunca, e então rodava. Mas isso era problema meu e não dele.

        O professor pegou um pacote e começou a entregar os testes da semana passada dando seu discurso irritante e que me dava nos nervos:

         -A maioria de vocês foi mal. Admito que estou decepcionado com a turma. Só uma aluna passou e foi com a nota máxima. Parabéns Srta. Swan – o professor elogiou-a. Isabella sorriu radiante. Eu não conseguia entender como ela conseguia ficar tão feliz com tão pouco. Passava por tantos problemas e mesmo assim uma simples nota alta a deixava toda sorridente. Isso me irritava.

         -Obrigada professor.

          -Você merece querida. É a melhor aluna que já tive.

         Aquilo era demais! Era minha função impedir que imundos como ela ficassem felizes nessa escola. Então me meti, debochando dela:

         -Parece que a Etê só sabe tirar notas boas, mas no resto só faz porcaria. Olhem pros cabelos dela – falei rindo. Todos os alunos olharam e começaram a rir debochando. Vi ela passar as mãos nos cabelos e começar a ficar vermelha e constrangida. Ri mais alto por pura maldade. Depois vi os olhos dela se encherem de lágrimas e congelei. Isso não. Eu detestava choro. Só faltava a Swan começar a fazer eu me sentir culpado! Nem tive muito tempo para pensar, pois logo o professor se intrometeu. Que cara chato!

        -Ora Sr. Cullen. Acho que não é só a Sra. Swan que precisa cuidar melhor dos cabelos – disse o professor apontando para o meu cabelo todo bagunçado. Novamente senti raiva desse professor chato e depois ele acrescentou: – E diferente dela você precisa melhorar as notas, e muito. Tirou zero no teste. Mais uma dessas e vou ter que ligar para os seus pais. Eles precisam saber de suas péssimas notas.

        De repente uma raiva e uma dor tão grande me invadiram que eu não consegui me controlar. Eu odiava esse assunto de pais. Eu sentia raiva, pois sabia que no fundo o que eu queria é que eles ralhassem comigo e me deixassem de castigo. Que se importassem comigo e com minhas notas. Mas eu sabia que nada disso aconteceria. Eles nem davam bola pros meus problemas, só se importavam com eles mesmos. Senti ainda mais ódio ao perceber que eu também era que nem eles. Só me importava comigo mesmo e descontava todos os meus problemas na Swan.

         Levantei-me com raiva e dei um soco com toda a minha força na mesa.

         -Foda-se! Eles nem estão aqui! Não faz diferença o máximo que eu recebo é uma ligação hostil e um desconto de dinheiro. Pode ligar pra eles!

          Peguei minha mochila e saí da sala de aula tremendo de raiva. Eu odiava toda essa porcaria de coisa chamada família. Isso não significava nada. Era só um grupo de pessoas que vivia à custa uma da outra. E o pior é que eu sabia que no fundo era o que eu mais queria. Uma família pra amar.

       Saí da escola e comecei a socar a parede com força. Eu sei que isso não adiantava nada, mas eu tinha que descontar minha raiva em algo. Para que não fosse em alguém! Comecei a chorar e soluçar alto.

        De repente senti uma mão macia na minha e carícias leves e doces nos meus cabelos. Senti-me calmo por um momento e queria esse sentimento para sempre. Mas depois me virei e dei de cara com a Swan. Só podia ser ela! Me perseguia!

       -Você está bem, Edward? – Pelo amor de deus! A garota parecia preocupada comigo! Como isso era possível? Ela devia ser a pessoa que mais me odiava no mundo. Eu nunca fiz nada bom pra ela. Senti o remorso me consumir. Como alguém podia ser tão bom? Isso não era real. Senti raiva dela por ser tão boa.

       -Me deixe em paz! Vá embora, Swan! – Gritei com ela e me desvencilhei dela, afastando-me.

       -Edward eu sei que você sente falta dos seus pais. Mas se você só arranjar problemas eles nunca vão querer te ver. E se eles nunca quiseram te ver não merecem o seu amor. Então, não estrague a sua vida, seja bondoso com as pessoas. Só assim receberá amor de alguém – eu sabia que tudo o que ela dizia era verdade, mas isso não mudava nada. Ela só estava piorando a minha situação. Eu não podia sentir remorso e nem pena dela. Isso era errado. Eu devia odiá-la assim como ela devia me odiar também. Estava tudo errado!

      -Cale a boca, Swan. Você não sabe de nada. Não vê que eu estou descontrolado? Sai daqui. Senão vou te machucar! – Ameacei com raiva, mas a verdade é que eu nunca tive menos vontade de bater em alguém do que nesse momento. Eu não iria agredi-la. Isso estava fora de questão, não era nem uma hipótese.

        Eu pensei que ela ficaria com medo de mim, mas para minha surpresa seus braços quentes envolveram meus ombros. Eu não podia me deixar ser abraçado por ELA. A Swan imunda. Eu a empurrava, mas como parte de mim ansiava por um abraço sincero como esse, eu não consegui resistir e deixei minha cabeça cair nos ombros dela. O abraço dela era tão quente e caloroso. Era verdadeiro. Nunca tinha recebido um abraço assim. Nunca tinha me sentido tão bem. Se eu pudesse eu ficaria assim pra sempre. Mas como não posso e isso vai contra meus princípios eu me desvencilhei dela e olhei nos seus olhos cor de chocolate derretido e me senti derreter. Depois voltei à realidade.

        Eu tinha abraçado a Swan. Chorado nos braços dela. Isso me deixava numa péssima situação. Agora ela me tinha em suas mãos se quisesse. Nenhum dos meus amigos podia sonhar que isso tinha acontecido. Senti raiva dessa garota por me causar tantos sentimentos conturbados.

             -Vá embora Swan, agora! – berrei autoritário. Queria que ela sentisse medo de mim e fugisse. E foi isso o que aconteceu.

            -T-tudo bem.  

         E ela se foi. Alguma parte de mim se sentiu triste por perceber que ela ainda tinha medo de mim. Mas por que não teria? Eu merecia que ela me odiasse. Mas essa parte de mim estava bem enterrada no fundo do meu peito. Grande parte de mim estava satisfeita por tê-la amedrontado e bravo por tê-la abraçado. Se ela quisesse me chantagear poderia. Mas... Eu sabia que ela não faria. Bella, quer dizer, Isabella era boa demais. Boa de uma maneira que eu jamais seria. Eu não merecia tanta compaixão vindo dela, mas ainda assim ela foi a única que ficou do meu lado. Remorso e gratidão me invadiram. Sacudi a cabeça e afastei esses sentimentos inúteis. Fui pra casa com a cabeça fria.