Pov. Bella

      Era segunda feira e eu estava decidida a retirar a queixa contra Edward, mas não sem antes ter uma última conversa com ele. Eu sabia que eu estava insistindo demais em conversar com ele e que provavelmente ele seria grosseiro comigo e eu sofreria, mas eu não conseguia evitar, precisava conversar com ele, ficar perto dele. Pra mim era como se depois de tudo o que aconteceu nós tivéssemos alguma ligação especial. Algo mais forte que os xingamentos e popularidade de escola. Eram coisas mínimas comparadas aos sentimentos. Pelo menos era o que eu pensava.

      Eu e Ângela fomos pra escola e logo eu vi Edward e os amigos. Ele me olhou com indiferença. Parecia que a noite de sexta feira tinha sido um sonho, pois não haviam resquícios de que algo entre nós havia acontecido, ele nem sequer lembrava, mas as minhas lembranças eram bem reais.

       E a dor no meu pé também.

       Agora eu estava mancando. Que ótimo! Mais um motivo para implicarem comigo. Fomos direto para a aula e eu me sentei em meu lugar distante do de Edward. Ele logo entrou e eu pensei em sorrir pra ele, mas ele me ignorou. Nem lançou um sequer olhar pra mim. Eu não entendi porque, mas as ações dele estavam me machucando. Eu nunca tinha sentido isso antes. Magoada por ele me ignorar. Me desprezar. Me maltratar. Me odiar. De alguma maneira eu não podia suportar, acreditar no fato de ele não gostar de mim, eu sentia que eu gostava dele. Por algum motivo impossível e irracional, pois eu não tinha um motivo para gostar dele.

        Nem tive muito tempo para pensar, pois logo a professora de português chegou. Hoje teríamos teste oral. E eu me sentia mais do que preparada, tinha estudado durante todo o fim de semana.

         Passamos a ultima uma hora fazendo o teste. Eu havia ido perfeitamente bem. Respondi corretamente todas as perguntas feitas para mim, mas Edward tinha ido péssimo e eu tinha certeza que ele tinha reprovado. Quando o sinal para o recreio bateu, eu e Ângela estávamos indo para o refeitório até que eu ouvi a voz de Edward e as gargalhadas dos amigos dele às minhas costas.

         -Swan será que não dá pra deixar de ser Nerd? Bem que você podia errar pelo menos uma vez na vida!

          Eu geralmente ignorava os comentários dele, mas dessa vez me virei. Eu queria que ele entendesse que eu não estava querendo me exibir e me achar a melhor aluna.

        -Eu... eu só estudei. Não quis reprovar e...

        -Não me importa! Só sei que não passa de uma sabe-tudo irritante! – ele falou grosseiramente e eu senti lágrimas grossas virem aos meus olhos e meu rosto ficando vermelho! Por que ele era tão estúpido comigo sempre? Eu não queria que fosse assim! Mudei meu rumo e entrei no banheiro das meninas. Me tranquei em um boxe e comecei a chorar baixinho. Logo Ângela bateu na porta.

       -Bells abre a porta! Não liga pra ele não! Você sabe como o Edward é estúpido e insolente. Não entendo por que você agora se magoa com ele. Ele sempre foi assim!

       Eu não respondi.

       -Ah, Bella deixa de ser boba, ele não merece nenhuma de suas lágrimas. Vamos, amiga. Deixe pra lá.

        -Eu... eu sei é que... Eu só não entendo porque ele me trata assim – gaguejei com a voz embargada.

        -Por que ele é um imbecil! Bells, só me conta uma coisa. Aconteceu algo entre vocês? Você anda tão envolvida com ele. Nem denunciá-lo você quer mais.

         Lembrei-me do beijo doce dele em meu rosto no dia que fui atingida pela pedra. Do abraço que eu lhe dei quando ele chorou. E da noite de sexta feira... Ele foi tão carinhoso e delicado comigo quando eu chorei. Eu vi um lado de Edward que eu nunca tinha visto. Eu sabia que na verdade ele era um menino gentil e bondoso e que tinha um coração cheio de amor e carinho pra dar, só que era um coração machucado. Nunca tinha tido ninguém para dar carinho. Eu queria dizer pra ele que eu seria essa pessoa. Ansiando para dar e receber amor.

       -Eu e Edward temos muito em comum. Ele só parece não saber disso, ou fingir não saber. Mas você tem razão Ângela eu não devo ficar chorando aqui. Isso não vai resolver nada. Temos algo mais importante para fazer Ângela.

       Abri o boxe e saí. Ela me encarava interrogativamente.

      -Temos que retirar a queixa contra ele e vai ser agora. Eu vou ir à direção da escola para ir embora mais cedo e fazer isso. Vem comigo Ângela. Preciso que você vá à delegacia também e me ajude a confirmar o fato de que não foi o Edward.

      Ela me olhou brava.

      -Nada disso! Pra começar Bella eu vou ficar de mentirosa pra escola inteira e, além disso, a camisa dele foi encontrada na cena do crime, é claro que foi ele.

       -Ora Ângela, se não tiver mais denuncia não fará diferença se a camisa dele estiver na cena do crime! E deixe de bobagem. Eu sei que não foi ele. Acha certo que um inocente seja preso só para não ficar de mentirosa na frente da escola.

       Ela me olhou com o rosto vermelho de raiva.

       -Bella, Edward de inocente não tem nada! Mesmo que ele não tenha feito nada ele já fez coisas o bastante na vida para apodrecer na cadeia. Aposto que até com tráfico de drogas ele está envolvido. Anda com essa gangue, esse amigos animais dele! E...

       -Ângela, pare! Você está sendo injusta! Está acusando Edward de coisas que você não tem provas!

       -Ah Bella quer saber? Fiquei aí sonhando com esse imbecil! Se iluda e sofra se é isso o que quer. Fica se apaixonando pelo moleque mais estúpido e grosseiro do mundo. Pois só pra te dar a real! Ele não te ama e nunca vai te amar!

       Ângela foi embora e me deixou sozinha no banheiro, chorando alto. Agora até a minha única amiga estava contra mim. Eu briguei com ela por causa do Edward. O Edward só fazia coisas ruins acontecerem comigo. O recreio acabou, mas eu fiquei chorando no banheiro.

        Depois que me acalmei eu resolvi ir à direção para pedir para ir embora. Enquanto eu caminhava esbarrei em alguém. Ouvi uma voz rouca e gentil falar:

        -Me desculpe! Sou aluno novo, sabe onde fica a sala 12?

         Levantei o olhar e vi um garoto lindo me olhando, ele parecia simpático. Tinha cabelos loiros e brilhosos e olhos castanhos e inteligentes. Me olhava sem um pingo de malícia ou maldade. Eu não estava acostumada a ter olhares tão amigáveis lançados para mim. Ele sorria, mas ao ver meu rosto vermelho e minhas lágrimas que ainda escorriam lentamente, pareceu preocupado.

       -Você está bem? O que aconteceu?

       -Nada – respondi abaixando o rosto. Logo senti as mãos dele em meu rosto, secando as lágrimas e levantando meu rosto para encará-lo.

       -Não chore. Não gosto de ver uma menina tão bonita triste – ele falou gentilmente. Corei e lhe lancei um sorriso triste.

      -Eu estou bem. A sala 12 é a primeira à esquerda. É a minha sala também, parece que seremos colegas.

     -Então por que não vamos juntos para a aula? – ele perguntou e eu quase aceitei o convite, mas no último segundo me lembrei de Edward. Eu tinha que inocentá-lo.

      -Me desculpe, mas eu estou indo embora. Não estou me sentindo muito bem – falei. Ele logo sorriu pra mim.

      -Quê isso não tem problema! Então... Amanhã a gente se vê?

      -Claro – respondi, ele me deu um beijo carinhoso no rosto e saiu.

      Fiquei alguns segundos parada, estonteada por aquele rapaz lindo e gentil. Nunca tinha visto alguém tão simpático. Qual seria seu nome? Eu nem perguntei. Depois fui até a direção e então pude ir embora. Peguei um ônibus até a delegacia.

      Eu pensei que seria algo difícil retirar a queixa, mas foi mais fácil do que eu pensei. Os policiais pareciam ansiosos para se livrar de mais um caso a ser investigado. Como eu era a vítima eles nem precisariam falar com a Ângela. Fui pra casa satisfeita e com a consciência leve. Fiquei pensando no garoto simpático e logo me desanimei. Provavelmente os rumores sobre a Swan imbecil chegariam aos ouvidos dele e ele me desprezaria como todos os outros. Deitei-me na cama e fiquei me agarrando ao último fio de esperança de que talvez ele fosse diferente. Talvez cuidasse de mim. Me protegesse. Eu sabia que era um delírio e uma falsa esperança. Mas era tudo o que eu tinha.