Amanhã será Valentine’s Day e todo o colégio está agitado por duas razões: garotas ansiosas para presentear seus amados, muitos inclusive usando a data para se declarar e aquelas que fizeram chocolates também para os “amigos”, algo que pode ser comum em colégios normais, mas que é essencial no Ouran, onde as famílias poderosas esperam que seus filhos tenham relações estáveis e amigáveis com herdeiras de seu nível. De fato, para os pais dos garotos, mais vale vários chocolates de amizade de grandes herdeiras do que de meninas apaixonadas; ou seja, mais chances de parcerias e contratos bilionários a vista.

Essa política não se aplicava aos membros do Host Club – naturalmente mais ricos e poderosos que qualquer um ali, eles diariamente recebiam demonstrações de “amizade” por parte dos colegas e num todo eram charmosos e atraentes o suficiente para as garotas nem cogitarem serem lembradas apenas como pessoas de sua convivência.

Havia uma disputa nos bastidores sobre a quantidade de chocolates que cada um receberia; não só os próprios rapazes queriam tirar vantagem como suas fãs mais fervorosas assumiam para si mesmas o compromisso de torna seu favorito o vencedor, o que fazia com que o movimento nessa época subisse vertiginosamente, até mais que no Natal e em outras épocas similares.

No geral os gêmeos contavam todos os seus chocolates juntos, o que era de certa forma injusto e uma desvantagem considerável – mas como eles estavam sempre atendendo juntos, não deixava de fazer sentido. Tamaki na teoria deveria ser o grande vencedor pois possuía a maioria absoluta de clientes, mas era de conhecimento geral o amor de Hani-sempai, Haruhi e Allen por doces, o que tornava a disputa desleal pois certas clientes presenteavam mais de um Host, ou todos eles.

Misteriosamente, Kyouya e Mori-sempai sempre ganhavam uma quantidade enorme de maneiras completamente obscuras.

Lenalee tinha feito bolo de chocolate para Kyouya e Tamaki, pois eram seus colegas de sala; mas depois da perturbadora visita a sala do Diretor, ela resolveu dar o segundo para Hani-sempai. Nunca tinha efetivamente falado com Haruhi e sabia que Allen não conseguia comer coisas que tivessem rum, conhaque ou licor.

Aquilo não fazia o menor sentido; os primeiros finders relataram não só uma ausência total de qualquer sinal da Ordem como de atividades do Conde também; eles chegam e, além de dar de cara com vários akumas, ainda via um sinal de que Innocences existiam... e agora, os clãs que controlavam a organização.

Considerando a taxa de mortalidade deles, ela realmente não esperava que algum tivesse deixando herdeiros tanto tempo depois e contou o que tinha visto para Kanda; não confiava em ninguém mais para tocar nesse assunto, no mínimo delicado para a jovem. Ele invadiu o colégio durante a noite e foi analisar a sala... de fato, era um brasão Leverrier, mas não havia mais nada de suspeito ou relevante naquele lugar. Segundo ele, o Diretor provavelmente era um homem tão idiota quanto seu filho.

O que vários akumas faziam usando a pele de empregados nas propriedades e mansões de alguém que possuía um brasão daqueles, era um mistério maior ainda. Assim como em cada unidade e no QG da Ordem, espera-se que eles tenham suas próprias formas de verificar se cada um é humano ou não.

Mais um fato que perturbava a todos ali era a localização da Arca que deveria ser comandada apenas por Allen. Não estava no mesmo local onde fica no passado deles, nem em Edo (atualmente, uma cidade enorme chamada Tóquio) ou em qualquer um dos lugares preparados para servirem de central caso o Quartel General caia como aconteceu com o antigo, invadido por akumas e destruído por Noahs e o primeiro Nível 4.

-Não podemos simplesmente ficar sem tomar uma atitude. – disse Kanda, em uma das conversas feitas apenas com sussurros que os dois andavam tendo desde que Allen fora pra viagem.

-E o que quer que façamos?

-Você é a pessoa mais próxima do imbecil do Suou; estuda na mesma classe, se tornou cliente regular e supostamente pertence a uma família que ainda não têm relações comerciais ou parcerias com a dele.

-Allen seria mais próximo do que eu.

-Moyashi não é confiável.

-Como pode dizer uma coisas dessas?! – começou ela chocada – Entendo que não se dão muito bem mas...

-Escute Lena, se as nossas Innocences continuarem falhando, o que acontecerá conosco?

-Eu sei, não gosto nem de pensar.

-Mas tem que pensar! Nós ficaríamos vulneráveis e já estamos com elas falhando, mas ele... seus problemas com as trevas vão além de akumas. Eles são internos.

E então a ficha dela caiu: com o 14º na jogada, Allen definitivamente não era confiável, pois sua Innocence provavelmente também falhava em protege-lo das trevas do Noah e eles não saberiam por quanto tempo ele ainda seria ele.

Para Kanda, era muito mais fácil lidar com a situação daquele modo. Lenalee podia ter muitas qualidades, mas era doce demais e sem confiança, o que fazia dela a pior pessoa em situações de crise. Se dependesse dele, o albino continuaria por hora sendo apenas “alguém que pode virar um Noah”. Pelo menos até ele descobrir o que o monstro que assumiu o corpo do exorcista pretende.

Determinados, eles bolaram um plano: o momento ideal seria no dia seguinte, quando tanto Allen quanto Tamaki e seus empregados estivessem ocupados demais com centenas de chocolates. Eles iriam fuçar cada canto daquela mansão, para depois passar pra residência principal, bem maior e melhor vigiada.

...

O dia estava fresco, com um Sol fraco, mas sem nenhum vento. Perfeito para comemorações. Pensando nessa possibilidade, Kyouya já tinha deixado pronta toda uma estrutura para o Valentine’s Day ao ar livre, nos jardins do colégio. Que contava com mesas decoradas, atendentes com trajes vermelhos e rosas, além de corações, cupidos e flores para todos os lados. Uma fonte especialmente instalada para a ocasião dava o charme final.

Casais de alunos podiam participar também, mediante um pagamento “simbólico” do cavalheiro, o que só trouxe um sorriso mais radiante ao vice-presidente do Host Club e vários números a mais em sua prancheta.

Sem querer chamar atenção ou causar brigas, Lenalee passou o resto da noite fazendo mais bolos e presenteou todos os membros, inclusive Allen embora o dele fosse uma versão sóbria da receita original.

Dificilmente as clientes se reuniam todas ao mesmo tempo e apenas em dias como esse era possível notar coisas como: a quantidade absurda de família bilionárias no Japão e arredores, a futilidade extrema daquelas garotas, a raiva que garotos como os atletas e membros das turmas A sentiam por serem deixados de canto e a capacidade invejável de Ootori Kyouya em lidar com as esquisitices e caprichos de seu melhor amigo.

Rindo de canto com essas coisas, os dois exorcistas não imaginavam que a maior ajuda viria justamente de Kyouya. Ou melhor, do gato dele.