-Uma campanha publicitária??!

-Sim, eu e o Haruhi-kun estávamos sendo modelos para uma marca de roupas inglesa – continuou ele – mas agora que tiraram fotos da seção escondidos, a campanha foi cancelada.

-Nãããão! – berraram todas as meninas, afundando em culpa.

-Fazer o quê? Acontece não é?

-Allen-kun, Haruhi-kun, sentimos muito. – disse Renge, com lágrimas nos olhos e balançando um lencinho dramaticamente.

-Tudo bem. – disse Haruhi de modo mecânico, pois era incapaz de mentir.

-Você estava tão lindo naquelas roupas femininas Haruhi-kun! – disse uma garota do terceiro ano.

-Concordo, ele ficou melhor do que eu.

-Você também usou roupas femininas Allen-kun??! – gritaram elas.

-Sim, nós nos revezamos – respondeu, com seu costumeiro sorrisinho angelical – uma pena que não vai ser lançado...

-Queremos ver! – berraram as meninas, agora sim num acesso de choro e histeria.

-Calma, calma, podemos conversar com Tamaki para pedirem um dia do cross dresser não é?

-Ah Allen-kun, que ideia maravilhosa! – disseram as meninas em coro.

-Incrível como ele deu uma desculpa perfeita não é Tama-chan?

-Hn.

-E ele ainda desviou o rumo da conversa quando as meninas apontaram as roupas da Haruhi. – comentou Kaoru.

-Hn.

-Mas ele é um desgraçado mesmo! Tá na cara que ninguém além dele, do Hani-sempai e da Haruhi que é uma garota vai ficar bem vestido de menina!

-Hn.

-E para de responder ‘Hn.’ pra tudo tono!

-Hikaru, deixa ele em paz, a ‘lição’ do Kyoya-sempai deixou sequelas graves.

-Estão falando de mim, caros Hitachiin?

-Nããão, de forma alguma!

-Ótimo, porque tenho um servicinho pra vocês.

...

-Ora Lenalee-san, porque não nos disse que era apenas uma campanha publicitária?

-Eu também não sabia. – disse ela.

-Não era proibido trabalhar fora do colégio? – palpitou um menino.

-Lhe asseguro que ambos explicaram a situação e pediram permissão ao Diretor, não é mesmo Tamaki? – disse Kyoya, se enfiando na história para evitar falatórios desnecessários.

-Hn. – respondeu o outro.

-Mas anteontem você parecia um tanto quanto... alterado lá em casa, Tamaki-san.

-É que não estávamos a par da situação, que nos foi explicada por Allen e confirmada pelo Diretor depois. – disse Kyoya.

-Certo... – Lenalee conhecia os pequenos desvios de caráter que Allen adquiriu com a sua convivência com Cross, mas ironicamente achava Ootori Kyoya confiável. Mas de qualquer forma, o próprio Allen disse que não tinha contado nada a eles o que a tranquilizou.

Kanda por outro lado, foi sutil mas determinado em arrancar respostas dos dois hosts que estudavam junto com ele, mas Hani-sempai permanecia irredutível e desviava do assunto e Mori-sempai... bem, agia como sempre, o que por si só não é um consolo muito grande.

Mas o que perturbou o samurai mesmo foi a atitude do líder deles, Tamaki. Porque o fato de ambos serem pegos posando o perturbou tanto? Era pelo fato de ser proibido aos estudantes do Ouran trabalhar? Não poderia ser, pois sendo filho do Diretor ele poderia facilmente contornar essa situação e além do mais o falatório que corria era de que eles pegaram permissão especial para as fotos.

Um dos gêmeos estava possesso e o outro calmo, porque será que só um deles parecia saber que não havia nada de mais ali? E Fujioka vestido de mulher... não se surpreendia com algo assim vindo de uma pessoa peculiar como Allen, mas essa não era bem uma atitude que combine com o estudante mais inteligente de um colégio de bilionários.

Se tinha uma coisa que irritava o exorcista, era ficar sem respostas, pois se ele aprendeu algo com a vida era o preço de viver entre mentiras.

Por isso, ele investigaria até desenterrar exatamente o que lhe parecia não se encaixar nessa história toda.

...

-Er... pousar como modelos? De verdade?

-É a saída mais prática, pois você atiçou todas as clientes do clube com sua desculpa.

-Mas Kyoya-sempai, não dá para simplesmente arranjarmos um contrato com uma grife...

-Quanto a isso – disseram os gêmeos juntos – nossa mãe é estilista e disse que adoraria ajudar colocando vocês em uma campanha.

-Que ótimo. – disse Allen, demonstrando todo o seu desânimo.

-Não acho ótimo, isso vai dar trabalho. – reclamou Haruhi, se lembrando da última vez em esteve nas mãos da bonita, perspicaz e peculiar mulher.

-Me desculpe, não entendi direito o que disse. – falou - Está dizendo que não se importa de ter sua dívida duplicada? Entendi.

-Eu faço a campanha. – disse ela derrotada.

-Kyoya-sempai, como pode tratar uma dama desse jeito??! – ralhou Allen.

-Guarde o cavalheirismo britânico para a seção de fotos – replicou ele – como será para o próximo inverno, acho que as roupas ficarão boas em vocês dois.

-Certo. – disse ele; era concordar ou ver a dívida da amiga aumentar de modo absurdo.

-Aliás, onde está o Tamaki-sempai? – perguntou Haruhi.

-O tono entrou em modo inoperante desde que aquelas fotos vazaram e ele enfrentou o Rei dos Demônios. – comentou Hikaru de modo divertido.

-Isso não tem graça – retrucou seu irmão – com ele desse jeito as decisões ficam todas por conta do Kyoya-sempai!

-Como se antes fosse muito diferente. – disse Allen, claramente insatisfeito.

-Pelo menos a palavra final era do Tama-chan – apontou Hani-sempai – o Kyo-chan tende a ser mais radical com as coisas. Mas funciona do mesmo jeito.

-Você diz isso porque se dá bem com ele Hani-sempai. – disse Kaoru.

-Maldito sangue AB. – comentou Hikaru.

-O que querem dizer? – perguntou Allen perdido.

-Kyoya-sempai e Hani-sempai têm o mesmo tipo sanguíneo, são ambos AB – explicou Haruhi – vai entender melhor no dia em que ‘conhecer’ o Black Hani-sempai.

-Conhecer... oi?

-Não sei do que eles estão falando Aaaal-chan! – disse Hani-sempai rodopiando com seu coelhinho enquanto falava, o que só deixava tudo mais suspeito; o exorcista não tinha esquecido do irmão dele, que o chamava de alien com toda a convicção do mundo.

-Tanto faz – disse Haruhi, causando expressões de choque nos outros – posso falar um minuto com você Allen?

-Claro. – respondeu ele, e foi com ela para um canto, ignorando as expressões de raiva contida dos gêmeos – Qual o problema?

-Provavelmente vamos tirar essas fotos na residência dos Hitachiin.

-Ok.

-Não é tão simples, tem que estar preparado para o que vai enfrentar.

-Eles não vão aprontar nada com a mãe deles por perto, mesmo sendo na casa deles.

-Allen...

E então para seu completo horror, ele soube que eles eram um cópia da mãe; que o pai era um ser sinistro que vivia apagado pelos cantos, embora fosse uma boa pessoa; que os empregados não cooperavam muito, deixando eles fazerem o que bem entendiam e que se a avó deles estivesse lá seria tudo bem pior.

Não foi exatamente animador.

...

-Tono! – berrou Hikaru, chacoalhando o loiro pelo ombro.

-Hn.

-Páre com isso! Enquanto você fica aí, a Haruhi vai tirar mais fotos coladinha no Trapaceiro!

-Hn?

-Kyoya-sempai vai levar essa história até onde puder, se Renge e as outras começarem a fantasiar um casal, aí sim você sabe o que acontece!

-Hn?!

-E agora – continuou ele, colocando o máximo de malícia na voz – ela fica chamando ele para conversas particulares pelos cantos.

-HHHHHHHHHHHHHNNNN??!

-Mas é claro que isso não é nada de mais – disse ele, dando o golpe final – afinal de contas você é pai deles... não há nada de errado em uma irmão e uma irmã tirarem fotos juntinhos certos? Ah, espera aí, acho que incestos começam assim....

-PAPAI NÃO VAI PERMITIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIR!!!! – berrou Tamaki, despertando com chamas nos olhos.

-Agora sim tono – sussurrou Hikaru – agora sim.