A Little Help escrita por giuguadagnini


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores, como estão?
Bom, acho que eu estou bem, e trago mais um capítulo de ALH para compartilhar com vocês :)
Neste aqui, tem um pouquinho de tudo.
Está grandinho, pelo tempo que fiquei sem postar. Duas semanas seguidas de provas destroem todo mundo, mas é preciso continuar, não é?
Bom, espero que gostem.
Vou começar a responder seus reviews agora, afinal, promessa é dívida! hahaha
Boa leitura!
P.S. Foi mal pela montagem mal feita. Preciso melhorar meus dons artísticos no photoshop :P



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[Hurricane - Bridgit Mendler]

- Estão dispensados – disse o professor Binns, assim que o sinal que indicava o final da aula soou pelos corredores.

Enfiei tudo dentro da mochila e escorreguei para fora daquela sala. Não que eu não gostasse do Binns, ele até que era um cara legal - com toda aquela barriga de gente sedentária, o cabelo meio ralo no alto da cabeça, o rosto já preenchido por algumas rugas devido à idade, principalmente em volta dos olhos encolhidos atrás dos óculos retangulares -, mas aquela voz meio rouca falando sobre os caras mais importantes da história durante dois períodos seguidos realmente me dava sono.

Segunda-feira é mesmo um saco. Geralmente é nesse dia que estão estipuladas as matérias mais maçantes e que exigem um maior raciocínio de você, que na maioria das vezes está com a pior cara de sono possível e com o humor que é uma beleza.

Chegar ao colégio durante a madrugada e ainda ir à aula no dia seguinte é mesmo uma proeza, e eu não sou um cara de proezas. Ainda não sei por que não fiquei dormindo, feito Draco e Blaise, que deviam estar recém acordando, enquanto eu já tinha feito um monte de outras coisas nas últimas quatro horas.

Gina também ficou dormindo, e eu não me surpreendo. Quando se trata de sono, ela leva tão a sério quanto um teste de matemática realmente importante. Fora que dormir é perfeito, então...

- Nott! – alguém gritou no corredor, e quando me virei para trás para procurar a origem da voz, encontrei Luna e Hermione andando de braços dados. – Espere aí, vamos almoçar juntos!

Esperei que elas chegassem ao meu lado para andarmos até o refeitório. As duas tinham bolsas penduradas em um dos ombros: a de Hermione era mais discreta, de um tom de azul que parecia jeans, enquanto a de Luna era toda estampada com mandalas coloridas, o que contrastava com seus cabelos loiros quase brancos.

Eu adorava reparar em como as duas eram diferentes, mas mesmo assim pareciam feitas para serem amigas. O que faltava de extravagante em Hermione, Luna preenchia com todos aqueles adereços e cores diferentes, e o que faltava de discreto em Luna, Hermione completava com a sua timidez e seu sorriso sutil.

- Pensei que você ia ficar dormindo, Nott – disse Hermione, já me pescando o braço para que eu andasse entrelaçado com elas.

- É bem mais a sua cara, Sr. Olheiras – disse Luna, agarrando meu outro braço.

- Poxa, não precisa esculachar comigo, também – eu me fiz de triste. – Vocês deviam estar me elogiando por ser um cara que vem à aula, diferente dos maridos de vocês, que dormem feito dois bichos-preguiça.

 - Ih, você viu só, Luna? – Hermione inclinou o rosto para a minha frente, para olhar a amiga que estava do outro lado. – Ele já quer nos deixar casadas...

Luna revirou os olhos e deu um beliscão no meu braço, o que doeu pra caramba.

Quando chegamos ao refeitório, Hermione foi falar alguma coisa com uma garota que estava na sua aula de cálculo avançado, enquanto eu e Luna fomos pegar nossas bandejas. As moças do lanche eram gorduchas e nos serviram com sorrisos. Eu sorri de volta, mesmo que minhas bochechas estivessem com uma preguiça desgraçada para subir e descer.

Fomos para uma mesa mais ao fundo, longe de toda a fuzarca que Cedrico e um grupinho de pessoas da Lufa-Lufa estavam fazendo com um prato de batatas fritas.

Luna sentou ao meu lado e ficou com aquela cara pensativa.

- O que foi? – eu a cutuquei com o cotovelo.

- Ah, não é nada – disse ela, tirando os seus talheres de dentro do saquinho plástico.

- Então é um nada bastante interessante – eu insisti.

Luna respirou fundo e largou a postura, se deixando cair no encosto da cadeira.

- Você acha mesmo que eu vou casar com o Blaise?

Quase engasguei com a garrafinha de Coca-Cola que estava tomando. Eu riria, aquilo era engraçado, mas o rosto de Luna parecia realmente angustiado.

- Eu estava brincando quando disse aquilo, Lu – eu segurei sua mão. – Não é como se eu...

- Eu sei, eu sei – ela fechou os olhos com força. -, mas é que está tudo tão embaralhado.

- Embaralhado? – eu quase podia ver minhas sobrancelhas se enrugando no meio da testa. - Por quê?

A loira empurrou a bandeja para o lado e deitou a cabeça sobre a mesa, escondendo o rosto entre os braços. Foi aí que eu ri.

- Luna... – tentei chamá-la. – Ei, saia do seu casulo e fale comigo, mocinha.

- Agora não dá, estou ocupada. Virar borboleta dá muito trabalho.

Ri mais.

- Mas eu gosto da Luna lagarta... – eu sacudi seus ombros. – Posso falar com ela?

Ela levantou o rosto devagarzinho e colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha.

- Ótimo – eu assenti com a cabeça. – Agora bota para fora.

Seus olhos foram para o lanche que fora deixado de lado.

- É difícil, sabe? A situação com o Blaise... Eu não estou sabendo... equilibrar.

- Ele é muito infantil para você? – perguntei.

- Não – Luna me olhou. -, nem é isso. O fato é que eu não estou sabendo o que está acontecendo comigo. Até aquele jogo da garrafa, eu só tinha olhos para o Neville, entende? E então...

- Você ainda gosta dele – eu disse mais como uma afirmação, o que a fez baixar os olhos de novo.

- Eu não sei – disse ela. – É que foi tudo tão rápido, sabe... Eu sinto que me perdi pelo caminho e não estou encontrando uma saída.

Parei de falar por um momento, dando a ela um tempo para ficar pensando. É mesmo muito esquisita essa coisa de dois dos seus amigos estarem em um tipo de situação, sendo que de um lado a coisa é totalmente correspondida, enquanto do outro não se tem tanta certeza do que se quer.

- Ahn, mas quanto ao Neville... – eu voltei ao assunto, o que chamou a atenção de Luna. – Vocês andam se falando?

- O pior é que não – disse ela, sorrindo de um jeito bobo. – A gente nunca teve muito papo, para falar a verdade. E é até um pouco entediante, sabe? Ele parece muito mais interessado em estudar um montão de plantas do que falar com os outros. Acho que não é só comigo.

- Ele é um cara tímido – eu disse. - Mas não foi isso que te chamou atenção nele?

Ela demorou a responder, mas acabou concordando:

- É, acho que sim. E talvez eu tenha até idealizado o garoto. Eu não falo com ele, não sei muita coisa sobre o que ele gosta ou não gosta, a não ser... botânica – ela deu uma leve revirada de olhos. - E é por isso que eu estou me sentindo idiota, porque não tem muito motivo para eu gostar do Neville, mas talvez eu goste, entende?

Levei alguns segundos para falar alguma coisa, e o que acabou saindo foi:

- Uh... na verdade não.

Luna sorriu, mas sua expressão era de total desgraça.

- Quero dizer – eu tentei consertar as coisas. – eu meio que entendo. Tipo, vocês garotas sabem lidar com essa coisa de sentimentos muito melhor do que nós, garotos, mas a gente sempre acha um jeitinho de compreender, mesmo que acabemos mentindo que sim para não desapontar vocês.

A loira assentiu com a cabeça, meio sorriso no rosto.

- E então – ela continuou, estalando os dedos de uma maneira inquieta. -, praticamente do nada, eu e Blaise somos vistos como um casal, e é como se eu tivesse que agir de acordo. Como se eu tivesse que interpretar um papel em uma peça de teatro, o que eu amo fazer, mas...

- Mas?... – eu dei coro à sua voz.

- Theo, é o Blaise... – Luna me olhou de um jeito óbvio. – Ele nunca está com uma menina só.

Ah, esse mas.

- Tudo bem, nisso você tem razão de desconfiar – eu sorri. -, mas eu posso te dizer que eu nunca vi o Blaise do jeito que ele está agora. Ele está sempre correndo atrás de você, e até disse, depois que você e Gina foram embora naquele dia da garrafa, que achava que estava apaixonado.

- Mas a gente só ficou uma vez! – Luna desacreditou.

- Exatamente! Agora imagine com mais tempo... O garoto vai comprar uma casa para morar junto contigo.

Luna arregalou os olhos.

- Caramba, isso é assustador.

Oh não, eu estava deixando a garota apavorada, precisava reverter isso.

- Calma, eu estou brincando – eu passei o braço em volta dos seus ombros. – E se você deixasse a coisa ir desenrolando? Vai podando quando ele exagerar, deixe que ele te conquiste aos pouquinhos. Quem sabe você até se apaixone por ele também.

- Será? – ela apertou minha mão, sua voz parecia incerta.

- Claro, Lu – eu a abracei mais forte. – Não é como se vocês tivessem que se casar agora. O Blaise é um cara legal, e se tem uma coisa que você nunca vai ficar é entediada junto com ele. Você sabe, ele está sempre fazendo umas idiotices para te ver rir. Então vá testando, e se não for legal, você pula fora. Simples assim.

- Não é “simples assim” – ela rebateu, e eu até ia dar uma resposta, mas achei melhor não.

Ficamos uns segundos em silêncio, ela apertada entre meus braços e eu tentando acalmá-la. Era uma coisa boba, essa do Blaise, mais coisas bobas também podem nos deixar desesperados.

- Sabe, às vezes certas coisas acontecem para dar um novo rumo para a gente – eu deitei minha cabeça sobre a sua. – E não, não estou dizendo que acredito em destino ou toda essa coisa de horóscopo de jornal, mas confio em momentos. E naquela noite da garrafa, quando vocês ficaram, não pareceu certo? Não pareceu uma coisa boa?

- É, pareceu uma coisa diferente, e eu gosto disso. Não foi uma coisa em que eu precisasse pensar muito, foi mais instinto de ter ele ali pertinho.

- Instinto?

- É, instinto. Tipo, é meio inevitável não beijar uma pessoa quando ela está encostando o nariz dela no seu. Talvez não seja o certo em algumas situações, mas no calor do momento, simplesmente... acontece.

Não tive como não pensar no que rolou com Astória naquele quarto de hotel. Aquilo foi instinto, e não atitude, certo? Certo?

- E então, o que vai fazer? – perguntei a ela.

- Acho que ainda é cedo para dizer, preciso pensar. O Blaise é um garoto legal, não quero parar de falar com ele.

- Você não precisa – eu a sacudi. – Não está maneiro assim, com ele correndo atrás de você? Com toda aquela cara de bobão e tudo o mais?

Luna riu.

- É, um pouco.

- Então! – eu sorri. – Deixa a coisa rolar, talvez seja até melhor do que você pensa que pode ser.

Luna concordou com a cabeça e eu continuei a abraçando.

- Ei, o que aconteceu? – Hermione apareceu. Ela colocou sua bandeja em cima da mesa e ficou nos olhando. – Luna, você está bem?

A loira assentiu, mas não se afastou de mim.

- Eu estou virando borboleta, e o Nott está me servindo de casulo – foi o que ela disse.

Hermione não entendeu nada, mas seu sorriso parecia dizer “então tudo bem, não vou tentar compreender as maluquices de vocês”.

- Vai dizer: eu não sou o casulo mais lindo que você já viu? – eu perguntei à castanha, que sorriu e ameaçou jogar uma almôndega na minha cara.

- - -

[Both Of Us – B.o.B feat. Taylor Swift]

Um pouco mais tarde, depois de deixarmos Luna no caminho para o auditório, eu e Hermione seguimos para a biblioteca.

- Mas eu podia muito bem pesquisar tudo isso na internet, Hermione.

Ela ficou visivelmente irritada.

- Internet? Que coisa absurda! Pra quê você precisaria de internet quando se têm todos aqueles livros com informações bem mais concretas e válidas?

- Ahn, para poupar tempo? Talvez um enorme esforço?...

 Pela cara que fez, acho que minha resposta não foi exatamente o que ela estava esperando ouvir.

- Vocês, homens, são tãããão preguiçosos.

E em menos de seis segundos, já estávamos dentro daquele recinto lotado de livros. Tenho de admitir uma coisa: em todo o ano letivo, eu não havia pisado uma vez sequer na biblioteca, e até me admirei de não ser um lugar tapado de pó e gente velha.

Fora as estantes abarrotadas de livros, aquele lugar dava os ares de uma sala de estudos bem atualizada, com várias mesas redondas dispostas aqui e ali.

- Não parece nada com o que eu tinha imaginado – eu acabei desabafando.

- Você estava esperando o quê? – Hermione olhou-me com ironia. – Uma caverna pré-histórica com alguns livrinhos à toa?

- Bem... mais ou menos isso.

Ela riu e foi até uma mesa mais ao canto, onde começou a tirar alguns cadernos da bolsa. Eu a segui, é claro. Larguei minha mochila em uma cadeira vaga ao meu lado e fiquei olhando para o teto, que por sinal era muito mais distante do chão do que qualquer teto que eu já tinha parado para reparar.

- O que você acha do Lockhart? – perguntou Hermione.

- O senhor “Eu-eu-eu” que acha que ensina Sociologia? – eu coloquei a mão no bolso da calça em busca do meu celular, mas estava vazio.

- Ahn, é – ela sorriu. – Este mesmo. Mas eu acho que você já respondeu, então...

- Por que o teto daqui fica tão lá no alto, hein? – eu tive de perguntar, agora mexendo no outro bolso, e isso meio que a interrompeu.

Hermione ficou confusa por um momento, olhando-me como se eu fosse algum tipo de interrogação ambulante.

- Eu não sei – ela deu de ombros levemente. – Acho que é por causa dessas estantes enormes, ou talvez pelo eco.

- Eco? – agora era eu que estava confuso (e conformado de que tinha esquecido o celular no quarto). – Por quê?

- Ah, de repente para incentivar as pessoas a falarem ainda mais baixo aqui, sei lá, Nott – ela deu de ombros e enrugou as sobrancelhas. - Mas afinal, você não ia procurar um livro pro seu trabalho de Química? O professor Snape não aceita atrasos, lembra?

- É só para terça-feira – eu fiz descaso.

- E hoje é segunda, bobão!

É óbvio que eu levei um soco de desespero, e Hermione só se concentrou em abafar o riso.

- Onde ficam os livros de química? – eu me pus de pé rapidinho.

- Lá no fundo, acho que é uma das últimas estantes – ela fez um sinal com a mão, o que deu mais ênfase na expressão “lá no fundo”. – Todas elas têm uma classificação na lateral, fica bem fácil de achar.

- Você passa muito tempo aqui, não é? – eu debochei, e ela jogou sua borracha em mim.

[Freedom - Anthony Hamilton and Elayna Boynton]

Rindo, eu fui procurar pela estante certa. A biblioteca era mesmo grande, então achar o fundo levou mais tempo do que eu esperava. Assim que vi um tipo de papel com a letra Q em uma delas, virei um corredor e dei de cara uma estante igualzinha às outras, o que me deixou ainda mais desanimado.

Demoraria um ano para achar o livro certo. Ugh.

Comecei a passar os olhos pelos títulos nas lombadas dos livros, mas nenhum chegava nem perto de ser parecido com o que eu procurava. Acho que li todos os títulos pelo menos umas três vezes, mas, adivinhe... Nada.

Legal, muito legal. Certamente alguém já devia ter pegado o livro, afinal, o trabalho era para amanhã.

Um toc toc toc irritante deixou meus ouvidos atentos, como se fossem o barulho de um salto batendo no chão do outro lado da estante.

- Por que precisamos nos esconder tanto assim? – reclamou uma voz feminina.

- Fale baixo, Lilá – outra voz sussurrou de volta. Com toda a certeza era Astória.

Encostei-me na estante com o máximo cuidado que consegui e tentei aguçar ainda mais minha audição. O que Astória e Lilá teriam em comum para falar às escondidas no fundo da biblioteca?

- Eu tenho uma coisa pra você – disse Astória, ainda mais baixo.

- Que tipo de coisa? – a voz de Lilá era desconfiada, mas totalmente curiosa.

- Você vai ver – disse ela. – Vou entregar no seu quarto depois, mas preciso que seja muito sigilosa com isso, pelo menos por enquanto.

Lilá ficou em silêncio, eu quase podia vê-la assentindo com a cabeça, bisbilhoteira ao extremo para saber do que se tratava.

Acho que as duas já haviam terminado a conversa, pois escutei seus passos irem embora, um depois do outro, dando um pequeno intervalo para que não fossem vistas saindo juntas da biblioteca.

Mas que tipo de coisa Astória teria para dar à Lilá? As duas não tinham a menor ligação possível de amizade, isso era muito absurdo.

Saí de perto da estante e fui andando até a mesa onde Hermione estava sentada, desta vez copiando alguma passagem de um livro para seu caderno. Peguei minha mochila em cima da cadeira e a coloquei sobre o ombro.

- Aonde você vai? – perguntou ela, notando minha presença. – Conseguiu achar o livro?

- Não encontrei – disse eu, já dando um beijo na testa dela. – Preciso ir agora, tenho que buscar umas coisas lá no quarto.

- Mas e o trabalho, Nott? – Hermione me olhou preocupada. – Tem certeza que consegue acabar para amanhã?

- Não se preocupe, eu me viro. O tio Google vai me ajudar bastante.

Ela revirou os olhos e me deixou ir, ainda que parecesse incerta se devia me seguir ou não.

A atmosfera no campus parecia ter ficado muito mais densa, quase pesada para se respirar. O céu estava ficando muito nublado, indicando que iria chover logo.

Apressei-me para chegar ao prédio 6, o coração palpitando forte no peito, a garganta resumida a nós. Subi as escadas de dois em dois degraus, sentindo a mochila bater nas costas a cada segundo. Passei pelo saguão e entrei no quarto, onde Blaise e Draco estavam se arrumando.

- Onde está minha camisa verde? – perguntou o Blaise, mais para si mesmo do que para qualquer um, atirando uma roupa atrás da outra do armário. – Eu tenho certeza que guardei aqui.

- Coloca qualquer coisa, viado – Draco estava passando desodorante. – Eu estou morrendo de fome. Vai ser sorte nossa se as moças da cozinha fizerem um sanduíche para a gente.

- Mas eu fico mais musculoso com aquela camisa – disse o Blaise, jogando mais roupas no que agora parecia uma pilha de tecidos coloridos no chão.

- Desculpe interromper a discussão muito importante sobre moda e sanduíches, mas alguém viu meu celular? – eu fechei a porta do quarto com um pontapé.

- Diga-me onde está minha camisa verde e eu falo onde está seu celular – Blaise chantageou, colocando as mãos na cintura de um jeito nada másculo.

Revirei os olhos e comecei a procurar sozinho pelo meu celular.

- Perdemos algo muito importante, hoje? – Draco perguntou, ajeitando o cabelo na frente do espelho.

- Na verdade, não – eu me agachei para olhar debaixo da cama, mas meu celular não estava lá. – Só o discurso do Binns e uma matéria nova da Vector.

- Aposto que algum de vocês roubou minha camisa – Blaise voltou a zumbir. – Se isso é coisa de amigo, vou te contar...

- Está jogada ali no canto, criatura – disse o Draco, impaciente.

Enquanto isso, eu já tinha tirado tudo da mochila, ido duas vezes no banheiro e até olhado entre as cobertas da cama, mas nada do meu celular.

- Nott, estamos saindo – disse o Draco.

- Anda logo, coisa loira! Eu estou com fome! – Blaise gritou do corredor.

- Agora você quer me apressar, é? Meio contraditório, isso! – Draco gritou de volta. – Mas é o seguinte – ele voltou a falar comigo, entregando-me o celular -, seu pai ligou.

Certo, isso era ridículo. Meu pai não falava comigo há meses.

- Meu pai? – eu peguei o celular.

- É, seu pai.

- E o que ele falou? – eu desconfiei, controlando a vontade de rir.

- Disse que queria falar com você – Draco falou sério, o que me deu uma fisgada forte no estômago. – Aí eu falei que você tinha esquecido o celular no quarto.

Draco sabia um pouco sobre meu pai, sabia que não tínhamos uma boa relação, mas não sabia sobre tudo, como os problemas com a bebida e tudo o mais.

- Draco, tem um buraco negro no meu estômago – Blaise colocou a cabeça para dentro da porta. – E se o mundo acabar sendo engolido por ele, a culpa vai ser toda sua!

Draco me olhou preocupado, ignorando o que Blaise havia falado.

- Andem logo – eu tentei sorrir. – Ou vocês vão acabar tendo de comer aqueles chocolates velhos da máquina de doces.

- Viu? – Blaise concordou comigo. – Não dá para fechar um buraco negro com chocolate mofado!

Draco me deu uma última olhada, certificando-se de que eu estava bem, e seguiu Blaise para fora.

Deitei na cama desarrumada, o celular preso entre meus dedos. Meu pai havia ligado? Ele queria falar comigo? Meu Deus, isso até parecia piada.

Alguns pingos de chuva começaram a bater contra a janela e aquele barulho me acalmou até certo ponto.

Olhei para o celular, depois para a janela, e depois para o quarto inteiro, como se esperasse que aquilo fosse me dar uma ideia do que fazer.

Levantei, deixando o celular sobre a cama. Algo em mim não permitia que eu ligasse de volta, era como um bloqueio, um campo de força que eu não podia atravessar.

Liguei o notebook e fiz o que todo garoto desesperado – do tipo que deixava um trabalho pedido pelo Seboso para a última hora - faria: abri o Google e me preparei para as próximas horas de pesquisas e mais pesquisas sobre um assunto que eu não tinha a menor ideia do que se tratava.

Enquanto lia sobre alguma coisa envolvendo “os elementos químicos mais perigosos do planeta”, não conseguia parar de pensar no que ouvi na biblioteca.

O que Astória tinha que poderia interessar tanto à Lilá? Seria alguma fofoca nova para o jornaleco da Brown?

Mas Astória nunca esteve envolvida com fofocas, então por que ela faria aquilo?

“Seu pai ligou” a voz de Draco me veio à mente. “Disse que queria falar com você.”.

Quando dei por mim, já estava lendo o mesmo parágrafo da pesquisa pela terceira vez seguida e, juro, se me perguntassem sobre o que abordava, com certeza eu não saberia dizer.

Tive um pouco de raiva de mim mesmo, minha cabeça estava dividida em três: uma parte em Astória, outra no meu pai e a última naquele trabalho desgraçado do Snape. Tive raiva por não conseguir resolver nem uma dessas situações.

Comecei a me sentir meio inútil.

Levei um susto quando meu celular começou a tocar, pois estava totalmente entorpecido dentro de mim mesmo. Será que era meu pai? Ele ligaria de novo, tipo, duas vezes no mesmo dia?

Com medo, saí da frente do notebook e fui até a cama, o que pareceu ter durado uma eternidade. O celular vibrava e tocava a música de um jeito cada vez mais alto sobre o edredom bagunçado.

Meu coração foi ficando apertado, quase como se alguém estivesse o esmagando com a mão.

Respirei, aliviado, quando vi o nome de quem estava ligando na tela.

- Oi – eu atendi.

- O que está fazendo? – perguntou Gina, do outro lado da linha.

- Além do trabalho do Seboso? Bem, eu estou me sentindo meio péssimo.

- Por quê? – ela perguntou.

- Ah – eu pensei um pouco -, muitas coisas misturadas.

- Quer que eu te ajude a separar e resolver? – perguntou ela, como se isso fosse tão simples quanto separar roupas sujas das limpas.

- Acho que não é tão fácil assim...

Gina respirou fundo do outro lado, e então disse:

- Sabe, nada é impossível de resolver. Às vezes, você só precisa de ajuda.

Sorri, fechando os olhos. Ela sabia dizer exatamente o que eu estava precisando ouvir.

- To com saudade de você, já... – eu admiti.

Gina riu.

- Então abra a porta.

Abri meus olhos, surpreso, minha boca se curvando em mais um sorriso. Dei alguns passos e girei a maçaneta, e de repente Gina estava na minha frente, com dois copos de isopor com o que eu supus que seria café dentro.

- Você é inacreditável – eu disse.

Ela adentrou o quarto, meio tímida, e me entregou um dos copos.

- Não exagere, Sr. “Estou Me Sentindo Péssimo” – ela brincou. – Vim te ajudar a fazer o trabalho.

Larguei meu copo na escrivaninha e parei na sua frente.

- E eu não ganho beijinho? – eu fiz um bico com a boca.

Aproximei-me mais, Gina sorria travessa.

- Não – ela respondeu, balançando a cabeça. – Só depois de terminar seu trabalho.

Encolhi os olhos, lançando um olhar fulminante para ela.

- Eu já devia saber como vocês, mulheres, são manipuladoras...

- Não mesmo – Gina fez um sinal negativo com o dedo indicador. – Somos inteligentes. É diferente.

- Então você chega aqui, trás café, me ajuda a fazer o trabalho, mas se recusa a me beijar? Isso não parece nada inteligente... – eu brinquei, o que a fez rir.

- Ok – ela cedeu -, talvez eu seja um pouquinho manipuladora.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Não foi tão love esse capítulo, mas eu queria mostrar um pouco mais dos conflitos do Nott em relação ao que está acontecendo.
Enfim, se vocês quiserem deixar sugestões do que gostariam de ver na fic, para que eu possa adaptar, ou sei lá, alguma música que lembre vocês de A Little Help, eu iria adorar usá-las nos capítulos seguintes.
Desculpem-me pela demora, mas quando se está no segundo ano do ensino médio, as coisas são meio corridas. Tipo, eu tenho uma vida também, sabe? hahaha.
Bom, acho que por enquanto é isso :)
Vejo vocês no próximo, galera.
Giu ♥