Bocejei, minha boca se abrindo num enorme “O”. Minhas pálpebras pesavam, os bocejos vinham cada vez mais fáceis e constantes. Seth dormia, babando levemente na blusa vermelha, atrás de nós, os quatros também estavam adormecidos e eu não podia brigar com eles. O zumbido do motor era baixo e agradável, eu liguei o aquecedor e tínhamos um clima morno lá dentro, um grande contraste com a noite fria lá fora.

Peguei uma barra de chocolate e mastiguei um tablete, estava tão cansada que mal podia sentir o gosto do chocolate dissolvendo na minha boca. Não podia ligar o rádio, isso os acordaria, e eu queria que eles dormissem um pouco. Estávamos todos tensos de mais, presos naquele carro há quase uma semana, recebendo notícias cada vez piores. A única notícia boa foi que o resto das crianças do esconderijo conseguiram ir para um lugar seguro um dia antes da casa ser invadida por soldados.

Um alerta de segurança máxima tinha sido dado, estavam a nossa procura, revirando cada pedra, procurando por todo o país. Nossa única vantagem é que, na verdade, eles não sabiam a quem procurar. Seth conseguira apagar todas as câmeras que nos mostravam com o rosto livre, eles sabiam que procuravam quatro pessoas, sabiam que um deles era ruivo e que havia uma garota no grupo, mas era só o que sabiam. Com um boné preto e os cabelos todos presos dentro, Edward não chamava atenção. E, quanto a mim, bem, havia muito mais do que uma garota no mundo para que eu chamasse atenção.

As luzes surgiram ao longe, vermelhas e azuis e eu suspirei. Era hora de encher o tanque.

Eu queria parar e dormir, mas estávamos perto de mais, amanhã já teríamos chegado a sede do Partido. Entrei no posto e parei perto de um dos tanques de gasolina. Eu sabia o nome certo daqueles tanques, mas estava com tanto sono que meu cérebro trabalhava com dificuldade, fazendo apenas as operações necessárias como manter os olhos abertos, respirar, manter o pé no acelerador…

Abri a janela só o necessário e bocejei. Seth se mexeu, incomodado com a luz. Abriu os olhos, confuso, olhou ao redor, depois para mim.

-Encher o tanque – expliquei num sussurro.

Ele concordou, incoerente, e voltou a dormir, virando o rosto para a janela.

-Boa noite – um funcionário disse.

-Boa noite – respondi com cansaço – Encha o tanque, por favor.

Entreguei a chave para ele e esperei, bocejando cada vez mais. Olhei para a loja de conveniência, ela estava aberta e com uma luz agradável e receptiva. Depois de um tempo longo e arrastado, o funcionário voltou com a chave e eu lhe dei o dinheiro, permitindo que ele ficasse com o troco. Dirigi até o estacionamento na frente da loja e parei ali.

-Seth – chamei empurrando seu ombro.

-Hum – ele reclamou cheio de sono.

-Eu vou sair, comprar alguma coisa para me manter acordada, vou trancar vocês. Volto logo.

-Tá – mas eu tinha quase certeza que ele não ouvira nada do que eu dissera.

O clima lá fora era muito frio, mais frio do que eu podia imaginar. O vento passou pelo meu rosto, cortante, deixou meu nariz irritado. Eu me abracei, procurando um pouco de calor e corri para dentro da loja quente.

Lá dentro havia muitas coisas, desde pilhas e pilhas de comida, até presentes e higiene pessoal. Caminhei pelos corredores, vez ou outra parando quando algo chamava minha atenção. Eu peguei três garrafas grandes de água, um pacote de pão de forma, geléia, maionese, uma garrafa de iogurte e uma garrafa com um dos mais fortes energéticos que eu conhecia.

Voltei para o carro com as compras e corri para ficar o menor tempo possível no frio. Entrei no veiculo e fechei a porta com um baque, fazendo um barulho alto. Seth se mexeu, reclamando, eu me virei para trás, a tempo de ver uma cena hilariante que ajudou a tirar minha tensão.

Alice se mexeu, caindo em cima de Jacob. Ele, um pouco acordado, muito dormindo, empurrou a menina para longe e seu corpo tombou de lado, a mão subindo pesadamente e caindo com tudo no rosto de Emmet, fazendo um barulho estridente quando pele se chocou com pele. Ela não acordou, apenas trouxe a mão para perto e deitou a cabeça nela, mas ele abriu os olhos, assustado, olhando para todos os lados. E eu não agüentei, tremi de tanto rir dele.

-O quê? – ele se indagou.

Entretanto, quando olhou para Alice e depois para mim, seu semblante ficou sombrio.

-Desculpa – eu pedi – Mas é que foi muito engraçado, não deu para segurar.

Virei para frente, tentando me controlar. Ele se aproximou de mim, furioso.

-Eu não provoquei nada – avisei de bom humor.

Mas ele parou o que ia falar para mim e olhou para o painel.

-Há quanto tempo está dirigindo? – ele perguntou.

-Desde a última vez que Edward assumiu, eu não parei.

Nós nos revezamos algumas vezes para que eu pudesse dormir um pouco. Mas a última troca tinha sido há dois dias atrás.

-Estamos rodando sem parar? – ele estava espantado.

-Tudo bem, eu consigo continuar. Comprei um energético e chocolate amargo, vai me manter acordada até amanhã. E amanhã nós chegamos.

-Esquece, eu já dormi o bastante, deixa que eu dirijo daqui pra frente.

-Vai dormir Emmet – eu mandei – Está tudo sob controle, se não estivesse eu já tinha pedido ajuda. Posso lidar com isso

-Você é louca – ele taxou.

-Obrigada – agradeci com frieza.

Tirei a gente do posto, abri o energético e o bebi, sem me importar com o gosto cítrico e gelado, Emmet continuou acordado, pensativo. Já fazia mais de meia hora que estávamos na estrada quando ele falou:

-Ele não sabe que você o ama.

Estranhei sua fala, do que ele estava falando?

-Edward – Emmet explicou, ao ver minha expressão confusa – Ele não sabe que você o ama.

-Ele sabe – respondi,lembrando que,noites atrás, eu havia dito a verdade.

-Não Bella – Emmet discordou, sério – Quem sabe é o Peter. Aliás,vocês cantam muito bem juntos.

Encarei Emmet pelo retrovisor, não sei se era pelo sono ou pela conversa estranha, mas eu não fazia noção do que ele estava falando. Como assim eu cantava bem com Peter? Eu nunca...

Como um golpe forte no estômago, a ficha finalmente caiu. Quase perdi o controledo carro, por pouco não saimos da pista.

-Presta atenção, garota – Emmet brigou baixinho, furioso comigo.

-Está medizendo que aquela noite… Não era o Edward que estava lá?

-Era para ser ele, mas no último minuto ele saiu e deixou Peter no lugar, ele precisava ficar sozinho para pensar em certas coisas, Peter entendeu e tomou o lugar dele.

Bem, aquilo explicava muitas coisas. O cheiro diferente, a voz diferente. Mas se aquilo era verdade, novas questões surgiam.

-Por que Peter não me disse que era ele? E comovocê sabe disso? – perguntei, ainda em choque. Céus, eu tinha me declarado para Peter! Que vergonhoso...

-Peter não soube o que fazer, todos da casa sabiam que Edward tinha te mandado embora e você tinha dito que ficaria, então ninguém queria se meter entre vocês. Quando você falou com ele, ele não soube o que fazer e pediu minha opinião...

-Maravilha – não pude deixar de interrompe-lo – Afinal, do jeito que você é imparcial, você julgaria a situação com toda a sobriedade.

-Eu estou te contando a verdade agora – Emmet reclamou – Será que dá para me ouvir?

Dessa vez tive que me calar. Apesar de tudo, Emmet estava falando a verdade para mim. O cara que tinha me maltratado estava sendo sincero. E eu iria ouví-lo. Percebendo que me calei,ele continuou.

-Peter pediu minha opinião e eu o orientei a permanecer calado a esse respeito.

-Por quê? – tive que interrompe-lo, meus olhos cheios de lágrimas – Por que você fez isso Emmet?

-Simples – dessa vez sua voz ficou séria – Eu zelo pelo bem dele. Edward é uma pessoa boa, um bom amigo, um bom líder, um bom soldado, mas você é a praga enviada para destruir a vida dele…

-Isso que você está dizendo é mentira – eu contestei acelerando ainda mais.

-Mentira? Sabe quantas vezes ele se arriscou cruzando a fronteira para te ver? – ele acusou maldosamente – Tem idéia de todas as coisas ruins que aconteceu com ele depois que você veio para o grupo? Deixe eu refrescar sua memória: ele foi baleado por que você quis bancar a heroína, ele foi preso em Concluán…

-Eu não tive culpa – interrompi lutando para manter o tom de voz baixo.

-Teve sim. Não tínhamos marcado nenhum encontro, ele quis reunir todos nós por que queria apresentar seu plano para o grupo. Se você não tivesse surgido, ele nunca teria que ter passado por aquele inferno!

Suas palavras me machucaram. Eu não sabia daquilo, não sabia que esse fora o motivo para ele convocar uma reunião.

-Você é a ruína dele, você é mil vezes pior do que o Partido, mil vezes pior do que Aro Volturi – ele grunhiu – Eu sempre soube que, cedo ou tarde, ele acabaria morrendo por sua causa. Acabou que eu estava certo, aqui estamos nós, caminhando para a morte.

-Eu o amo – falei pausadamente – Nunca o machucaria, só coloquei ele no plano por que sei que vai dar certo.

-Você é só uma patricinha que brincou com ele durante anos. Teve muito tempo para decidir ficar com ele, por que só agora tomou a decisão? Se você o ama, como diz que ama, não acha que demorou de mais para perceber isso? Edward é só um capricho para você, você não está realmente interessada nele, só o quer por que agora ele é interessante para você. Quando tudo isso acabar, quero ver se vai continuar com ele.

-Está errado!

-Estou? Então me prove. Fique longe dele, Bella, espere tudo isso acabar antes de falar com ele – ele propôs.

Eu podia muito bem dizer não, gritar com ele ali mesmo e dizer para todo mundo que eu amava aquele ruivo. Mas não o fiz. Ao invés disso concordei com um “Está bem, tem a minha palavra”. Eu ia provar a Emmet, e a quem mais fosse necessário, que Edward não era um capricho meu. Eu sabia muito bem o que eu queria, e eu o queria para sempre!

-Emmet. Por que resolveu me contar isso agora? – perguntei com frieza.

-Por que eu entendo elemasdo que você. E se estivesse no lugar dele, gostaria que ele fizesse o mesmo por mim.

E ele não me disse mais nada. Meus pensamentos confusos, me atordoaram. Havia tanto a ser pensado depois de tudo que ele tinha me dito…

Edward não estava me ignorando, nem fugindo de mim. Ele não me rejeitara, pelo contrário, não sabia o que eu tinha dito. Aquilo não mudava o fato que tinha me mandado embora, mas me dava esperança. Talvez, se ele soubesse a verdade, permitiria que eu ficasse com ele. Talvez…

Olhei para o mapa no colo de Seth, lembrando a loucura que estávamos dispostos a fazer… Se sobrevivéssemos, nada neste mundo me tiraria Edward Cullen.