Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Recordando...
O que você vai fazer? Me diga, por favor Alice pediu olhando para mim em súplica.
Com decisão e calma, eu expliquei o que ia fazer, minha voz sem tremer, sem emoção, vazia.
Eu sei que dizem que é impossível, que ninguém pode fazer, mas eu não ligo. Preciso fazer isso.
Fazer o quê? Seth perguntou confuso.
Pela expressão de Alice, eu percebi que ela entendera, sabia do que eu estava falando, o que eu havia planejado. E sabia que nada me demoveria.
Eu vou tirar Edward de Concluán respondi.



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-Você vai morrer se for para lá. Ninguém nunca invadiu Concluán e voltou para contar a história – Seth contestou meus planos.

-Eu sei, mas não me importo. Não vou ficar aqui de braços cruzados contando os dias…

-Seth, ela está decidida – Alice percebeu.

Estranho, sua voz não era o que eu esperava, soava mais como conformação, como se ela esperasse aquilo. Melhor, como se ela quisesse aquilo.

-Tudo bem, então nós vamos com você – Seth cedeu.

-Como? – eu perguntei confusa, mas ainda sim fria, vazia. Minha dúvida era rasa, nem se quer tocava a superfície dos meus sentimentos.

-Nós temos um plano, ainda não está pronto, mas é melhor do que nada – Seth contou olhando significativamente para mim. Era claro que eu era o “nada”.

-Quando soubemos da notícia – Alice explicou – Percebemos que das duas uma: ou você ficaria super triste, pediria um pacote de lenços e se lamentaria pelo resto da vida, o que eu sinceramente não acreditei, ou você faria a maior loucura do mundo: invadiria Concluán. Nos preparamos para os dois, temos uma pilha de lenços e um plano quase pronto para invadir Concluán.

-Vocês… Vocês fizeram isso… Por mim? – as palavras mal saíram da minha boca.

Naquele momento eles quebraram meu vazio. Eu nunca, jamais pensei que alguém faria aquilo por mim, que alguém me compreenderia tão bem a ponto de prever minhas reações e me ajudar, baseados em suas suposições. Alice e Seth eram verdadeiros presentes dos céus, eram mais do que simples amigos.

-Morrer tentando salvar o Edward é algo que vale a pena – Seth sussurrou – É melhor do que morrer aqui, se escondendo como ratos.

-Vocês podem morrer. Nós vamos morrer – eu afirmei sem hesitar.

Era verdade. Eu estava indo para uma missão suicida por que eu queria, não podia pedir que eles fizessem o mesmo por mim.

-Sabemos disso – Seth deu de ombros, como se eu falasse sobre a possibilidade de chover.

-Mas estamos juntos nessa – Alice falou com segurança – Não temos medo Bella.

-Mas… – eu comecei pronta para pedir que eles não fossem.

-Mas nada, não podemos ficar aqui discutindo – Seth me interrompeu – Temos pouco tempo, então teremos que agir rapidamente se quisermos salvar o Edward.

Foi o que bastou para calar meus protestos. Olhei para eles, do mesmo jeito que eu estava decidida eles também estavam. Nada iria nos demover, eu não mudaria os planos deles, eu não mandava neles, assim como eles não mandavam em mim. E nos últimos dias eu aprendi que podia contar com eles, eles eram valentes, corajosos, rápidos.

-Qual é o plano? – eu perguntei.

Alice e Seth suspiraram, aliviados.

-Alice, termine de arrumar as coisas – Seth comandou, pela primeira vez tomando o controle – Ajude Bella a se arrumar, eu vou me despedir de Laura – e sua voz ficou sombria.

Eu me dei conta de que, talvez, aquele fosse o último momento que ele teria com sua sobrinha, com o que restava de sua família.

-Me desculpe Seth – eu pedi sem emoção, voltando a estranha farsa de dama – Eu sei que é muito egoísmo o que eu estou fazendo.

-Eu estou indo por que quero – ele disse ainda sombrio – Não tem que pedir desculpas.

Alice me puxou pela mão, me levando para tomar um banho e arrumando uma roupa resistente e confortável para mim. Ela terminou de arrumar duas mochilas imensas enquanto eu tomava banho e nós comemos juntas. As pessoas da casa nos encaravam constantemente, baixando a cabeça quando eu os encarava de volta. Todos estavam de negro, o luto começando antes mesmo que houvesse um corpo para ser pranteado. Ninguém ria, ninguém conversava, a alegria que Esperança trouxera com seu nascimento não sobreviveu a notícia da prisão de Edward, Seth estava certo quando dissera que as pessoas não podiam viver sem esperança, pois ela era destruída quando a morte surgia. Não ter esperança era o mesmo que morrer.

-Vamos sair daqui – eu pedi cansada de mais dos olhares dos outros. Parecia que todo mundo esperava que fizesse um escândalo a qualquer momento; sem poder evitar, sorri.

-O que foi? – Alice perguntou surpresa.

-Todo mundo espera que eu faça um show, para eles, isso é o normal. Se eu estivesse na casa dos Black, se eu estivesse com meus pais, minha reação agora seria considerada normal – e eu ri de novo – É estranho ser capaz de notar uma diferença dessas quando tudo está tão confuso dentro de mim.

Alice balançou a cabeça, concordando. Estávamos já de pé, saindo do refeitório, quando Carlisle apareceu, o semblante lívido e preocupado de um pai com seu filho.

-Seth disse que vocês vão sair – ele começou pondo a mão no meu ombro – O que vocês pensam em fazer? Por favor, me digam que não vão fazer bobagem.

-Tudo bem, sabemos o que estamos fazendo Carlisle – Alice o acalmou tentando parecer tranqüila.

-Bella, não faça bobagem – ele me suplicou.

-Prepare as coisas, Carlisle – eu mandei – Preciso que os medicamentos estejam prontos para quando eu voltar, quero que consiga o maior número de remédios, principalmente germicidas e antiinflamatórios. E Também quero que consiga esses três remédios… – e disse os nomes grandes e complicados.

-Está bem – ele se rendeu – Só me prometa que vai voltar.

-Não posso – admiti com calma e serenidade.

Puxei Alice pela mão e fomos atrás de Seth. Quando o encontramos, ele estava abraçado a Laura, Peter estava de pé, olhando confuso para o tio e a sobrinha enquanto chaves de carro ficavam em suas mãos. Charlote estava perto do marido, olhando para o bebê com amor e dor, sofrendo por ter colocado algo tão lindo e puro num mundo tão mal, concluí.

-Charlote – Seth disse, a voz num pedido amargurado e doloroso.

-Pode ir, eu cuido dela – Charlote garantiu maternalmente.

Alice abaixou a cabeça, eu podia jurar que ela estava chorando por entender o que Seth pedira a Charlote; eu também tinha entendido, ele pedira a nova mamãe que cuidasse de Laura caso ele não voltasse, caso ele morresse tentando fazer aquela loucura, estava garantindo ao que restava de sua família uma família postiça. Eu abaixei a cabeça também, sabendo que jamais uma família postiça resolveria o buraco que a família verdadeira deixava.

Peter entregou as chaves para Seth, confuso. Certamente ele não sabia o que íamos fazer, ou tentava negar que sabia, Seth agradeceu, beijou a testa da sobrinha e se aproximou de nós com pressa, passando e indo em direção a escada sem olhar para trás. Alice o seguiu, mais lenta. Eu me aproximei de Charlote e da sua filha.

-Posso ver o rostinho dela? – perguntei, não colocando na minha frase o “pela última vez” que estava entalado na minha garganta.

Charlote tirou a manta que cobria o bebê e o apresentou para mim, corando de orgulho. Eu me inclinei com delicadeza e beijei a testa do bebê adormecido.

-Traga esperança a essa gente, Esperança – eu pedi baixinho – Não deixe que eles percam isso.

Sorri para Charlote com dificuldade e depois olhei para Peter. Era impossível não lembrar de Edward quando eu o olhava, era impossível não lembrar que ali estava um dos melhores amigos dele, o primeiro a me aceitar depois que Edward o fez.

-Cuide de sua família – eu pedi – É a coisa mais importante que alguém pode ter.

-Vou cuidar – ele garantiu.

E então ele me abraçou com força, meu corpo se perdendo em seu corpo enorme e duro.

-Traga ele de volta – Peter me pediu num sussurro.

-Vou tentar – era o máximo que poderia prometer.

Dei um último sorriso para eles e caminhei para a porta quando uma mãozinha puxou minha blusa e me voltei, olhando surpresa para Laura. Os olhos dela brilhavam pelas lágrimas que ela escondia a todo custo.

-O que foi meu amor? – perguntei me abaixando para ficar no mesmo nível.

-Tia, traz meu tio de volta?

Eu tremi. Era uma viagem sem volta, todos sabiam daquilo. Eu podia dizer que tentaria trazê-los de volta, por que eu realmente tentaria. Mas podia prometer a uma criança que traria seu tio de volta com certeza? Podia deixar que ela juntasse esperanças, que aguardasse todos os dias a chegada de um tio que morreria sem completar sua missão? Minha mente foi tomada pelas imagens daquela menininha se ajoelhando, como fazia todas as noites com Seth, e orando para que o tio estivesse lá quando ela acordasse, meu corpo se contraiu com a dor e o desapontamento que ela sentiria quando não visse Seth de manhã, a ansiedade que a tomaria durante o dia enquanto ela esperava em vão. E a menina na minha cabeça mudou, se tornando um garotinho com um sorriso singular. Não! Eu não gostaria que alguém mentisse para Erick, mais do que isso, eu não gostaria que alguém deixasse Erick órfão, e então eu decidi, decidi que os traria de volta, que Seth e Alice continuariam vivos, eu não deixaria que eles morressem.

Eles voltariam!

-Eu prometo que o Seth vai voltar – eu disse.

Não olhei para os adultos, não estava preparada para ver seus olhares de reprovação com a promessa que eu fiz. Saí do quarto e fui atrás dos meus amigos, me despedindo do que fora meu lar naqueles últimos dias. Alice e Seth voltariam. Eu não. Não poderia salvar Edward, uma parte racional dentro de mim sabia disso, mas eu tinha que tentar, não poderia conviver comigo mesma se não fizesse isso, se não tentasse. Viver sabendo que eu não fizera nada seria meu fim, minha ruína completa, um esforço nulo para proteger uma vida patética e estúpida. Por que minha vida, até ali, tinha sido exatamente isso: patética e estúpida. E com certeza sem nenhuma razão.

Agora, como que por milagre, aparecia a chance de me redimir, a chance de ter um propósito de vida, e eu não abandonaria isso. Eu morreria, não em nome da revolução, não em nome da minha família; eu morreria em nome dele, Edward.

Fui para fora e respirei o ar frio e seco, o carro popular que Edward dirigia já estava na frente da casa, Seth na frente, pronto para dirigir, e Alice atrás, a porta aberta, me esperando. Entrei no carro, fechei a porta, coloquei o cinto e olhei para frente. Nenhum de nós abriu a boca. Seth girou a chave e acelerou, deixando um rastro de poeira no nosso caminho.

Começava nossa corrida contra o tempo e a favor do suicídio.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Comentem!!! beijinhus e até breve



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