Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, só para lembar, as partes em Itálico representam as lembranças da Bella,ok?



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-Bella? Bella, você pode me ouvir?

-Ela ainda não acordou?

-Não, Seth, eu estou assustada, ninguém leva tanto tempo para acordar…

-Bella, precisa voltar, nós precisamos de você aqui…

-Bella…

“-Bella.

Eu me virei e corri na direção contrária a voz. Ele não conseguiria me pegar daquela vez. Fiz um caminho em ziguezague, Edward correndo atrás enquanto riamos e brincávamos de pega-pega com meus irmãos. Na verdade, os dois já tinham ido para casa e nós dois ficamos brincando no jardim.

Estava perto de uma árvore quando ele simplesmente se lançou sobre mim e nós dois caímos no chão, rolando na grama e rindo.

-Peguei – ele disse com presunção.

Edward me deu um beijo na testa e na ponta do nariz, depois saiu de cima de mim e começou a correr, gritando:

-Sua vez.”

-Ela se mexeu.

-O quê?

-Ela se mexeu Lice, eu vi.

-Bella? Por favor, acorde Bella, nós precisamos de você…

Nós dois olhamos a árvore imensa, ancestral, nossa boca ficando aberta enquanto nossos olhos buscavam a sua copa verdejante. Edward foi o primeiro a se recompor, tirando da bolsa um canivete e se aproximando da árvore com respeito. Eu o segui, ainda atordoada com aquele monumento vegetal. Ele fez o desenho irregular de uma cabeça de coelho, com direito a orelhas e bigodes. Na cabeça, ele escreveu meu nome com cuidado.

-Aqui está Bella, a partir de hoje essa é a sua árvore.

-Sério? – eu perguntei com um pouco de ironia – Não sabia que era tão fácil conseguir uma árvore assim.

Ele riu, passando um braço nos meus ombros.

-Foi só uma força de expressão, você entendeu o que eu quis dizer, não complique tudo garota.

Dessa vez fui eu que ri.

-Hei, sabia que Jacob nunca fez isso para mim?

-Claro que sabia, tá bom que aquele imbecil tem idéia de como usar um canivete – Edward provocou.

Eu dei um leve tapa na sua barriga, o que, ao invés de fazê-lo gemer, fez ele rir, com cócegas.

-Ataque de cócegas – eu anunciei dando ação as minhas palavras.

Ele caiu no chão, se contorcendo todo para se livrar de mim. Eu me ajoelhei, não deixando que ele tivesse tempo para se recuperar. Mas sua força venceu e ele se jogou contra mim, me derrubando e pousando seu corpo sobre o meu, seus braços segurando firmemente os meus.

-Hei, me solta, seu rebeldezinho – eu brinquei.

-Não – e beijou minha testa – Não vou te soltar, patricinha.

-Seu monstro malvado – eu o acusei rindo.

-Sua garoto linda.”

-Ele vai chegar amanhã em Concluán.

-Ela precisa acordar Seth…

-Bella…

“-Posso olhar? – perguntei com impaciência.

-Ainda não – Edward respondeu rindo.

-Deixa vai, só uma olhadinha.

-Espere um pouco, contenha essa curiosidade garota.

-Isso é muito, muito injusto Edward.

-Confia em mim, você vai gostar, agora fique caladinha.

Cruzei os braços tentando fazer uma postura irritada, o que só fez ele rir mais ainda. Ele se aproximou e tirou a venda dos meus olhos. Eu pisquei, a luz me cegando no inicio, até que vi o coelho branco e felpudo na minha frente, um lacinho rosa na ponta de sua orelha peluda.

-Coelhinho – eu gritei correndo para o bichinho assustado.

Sentei no chão e o coloquei no colo, o amassando num forte abraço. Edward riu e sentou do meu lado, brincando com meu cabelo, quando me virei para agradecer ele me surpreendeu beijando minha bochecha, seus lábios tocando um lugar perto de mais da minha boca.

-De nada – ele disse sorridente – E sim, eu também te amo.

Ri, surpresa por ele ler meus pensamentos com tanta facilidade.”

-Bella, eu não sei se consegue me ouvir, mas se conseguir, eu sinto muito.

-Verdade Bella, eu e a Lice sentimos muito mesmo, mas você pode voltar, não precisa ter medo, nós estamos aqui, vamos te ajudar a enfrentar isso.

-Acorda Bella, por favor…

Eu olhei para o prato com desânimo. Ele tremeu, rindo, pegou uma das cenouras cozidas em seu prato e mordeu.

-Não vai comer? – ele perguntou quando percebeu que eu continuava encarando o prato e ele já estava terminando o jantar.

-Estou sem fome – menti.

Mas meu estômago me entregou em seguida e eu corei, envergonhada. Ele riu ainda mais, tranqüilo, com o garfo tirou alguns dos legumes feios do meu prato e colocou no dele, parecendo muito concentrado e feliz em tal tarefa. Eu quis espiar o que ele estava fazendo, mas Edward pôs o braço na frente e inclinou o corpo, tampando o prato. Quando terminou, ele se ergueu e mostrou sua obra para mim: com os legumes, ele tinha feito o rosto de uma menina sorrindo, os cabelos vermelho beterraba com mechas verde ervilha, um nariz de cenoura e um sorriso de meio tomate, olhos amarelos de batata enquanto o caldo servia por pele.

-Acha mesmo que vai me convencer a comer com isso? – perguntei me fazendo de difícil.

-Abre a boca – ele mandou desfigurando o sorriso dela com o garfo.

-Eu não sou uma criancinha – respondi indignada.

Sua risada ecoou na cozinha fria.

-Quer que eu faço o barulho de um avião? – ele perguntou piscando para mim com gozação.

Eu ia dizer não, mas pensei melhor. Ele estava se divertindo muito com aquilo e eu realmente estava com fome, se eu tinha que comer legumes ele tinha que se esforçar para isso.

-Quero – sorri já imaginando sua reação.

Ele me encarou, a boca escancarando enquanto ele sacudia a cabeça, incrédulo e malicioso.

-Acha que vai me intimidar assim? – ele perguntou.

-Talvez – respondi presunçosa

Ele ficou sério, então, como se discutisse a falta de água no planeta, ele começou a imitar um avião, brincando com o garfo num caminho de ziguezague no vazio entre nós. Eu não agüentei e comecei a rir, meu corpo se encolhendo enquanto eu tremia, rindo como ele rira de mim antes.

-Vamos lá Bella, abra a boquinha – ele disse se desforrando.

Obedeci, tentando imitar Erick quando eu brincava com ele tentando fazer que ele comesse.

No fim, aquela foi uma das melhores sopas de legume que eu comi na vida, e, sempre que almoçávamos ou jantávamos juntos, criamos ali o hábito dele “brincar” com minha comida, fazendo rostos e desenhos no meu prato.

-Obrigada – agradeci ao terminar de comer.

Edward pegou um guardanapo de papel e limpou os cantos da minha boca, um sorriso terno descansando em seu rosto.

-Não há muita coisa que você não faria por mim, não é? – perguntei vendo ele ir até a lata de lixo.

Ele jogou o guardanapo sujo, foi até a pia e encostou ali, me encarando, seus olhos profundos cheios de mistérios

-E você? Teria algo que você não fizesse por mim Bella?

-Não sei, acho que não – respondi com sinceridade.

Ele sorriu. Se fosse outra pessoa, teria ficado magoada. Isso era o melhor de Edward, ele nunca ficava chateado quando eu era sincera, mesmo que minhas palavras o machucassem, com ele eu podia ser verdadeira, sem me importar em esconder ou atenuar as coisas. Não precisava ser uma dama quando estava com ele, a filha obediente, a namorada doce, a aluna exemplar, ou a garota educada, bastava ser apenas Bella, ele aceitava isso.”

-Bella?

Eu não queria abrir os olhos nunca mais.

Mas não tinha escolha.

-Seth?! Seth ela acordou!

Senti uma outra mão apertar com força a minha, um segundo rosto surgindo no meu campo de visão, o alívio inundando seus olhos cansados.

-Graças a Deus! – Seth exclamou suspirando.

Sentei, sem me dar conta se estava no chão ou numa cama. Meu corpo ainda estava com falta de sentidos.

-Está tudo bem Bella – Alice tentava me confortar – Vai ficar tudo bem, nós estamos aqui, vamos te ajudar.

-Pode contar com a gente – completou Seth – Vamos te ajudar a enfrentar isso.

Eu não respondi, tudo girava ao meu redor de um modo doentio. Eu tinha a lembrança do som da minha voz na cabeça, mas não sabia onde ela estava naquele momento. Eu mal sabia onde estava meu corpo, onde estavam minhas mãos, onde estavam minhas lágrimas.

-Bella? – Alice chamou.

Com esforço, eu olhei para sua direção, sentia meu rosto rígido, preso eternamente numa máscara sem expressão. O rosto de uma dama.

-Bella – Seth tentou, falando com doçura – Quer conversar? Nós sabemos o que está acontecendo, sabemos o que você está sentindo. Não quer conversar com a gente?

Eu balancei a cabeça num não, fechando os olhos.

-Quer chorar? – Alice perguntou tocando minha testa e jogando meu cabelo para trás.

-Não – eu sussurrei sem emoção.

-Não vai fazer nada? – ela me perguntou com angústia.

-O que você quer que eu faça? – perguntei no mesmo tom de voz.

-Chore, grite, jogue as coisas no chão, sei lá – ela disse numa voz alterada – Mas pelo menos faça alguma coisa. Sinta alguma coisa.

-Sentir? – minha voz ficou estranha, tenebrosa, má – Acredite, você ia preferir morrer a sentir o que eu estou sentindo agora. Não me venha falar de sentir, você não tem idéia do que eu estou sentindo.

Com cuidado eu me sentei, zonza. Havia um copo de água na mão de Alice e ela me deu para beber.

-Precisa comer – Seth disse quando eu recusei o prato de sopa rala que ele me oferecia.

-Me deixem sozinha – eu pedi pegando o prato e começando a tomar a sopa.

-Você vai ficar bem? – Seth perguntou.

Eu não respondi, Alice sussurrou algo para ele e o puxou pelo braço para fora do quarto. Eu terminei a sopa rala, deixando o prato ao meu lado e me encolhendo. De algum modo eu podia sentir meu corpo separado de minha alma, o que me dava duas dores imensas com as quais eu não podia lutar, apenas sentir. Estava encolhida quando alguém bateu na porta, entrando sem eu permitir ou não. Teria me espantado antes quando vi Tânia entrando, os olhos vermelhos e o rosto molhado, mas naquele momento eu não sentia nada mais além da dor.

-Preciso falar com você – ela disse sentando na minha frente.

Eu não respondi. Não me importava nada o que ela tinha para me dizer.

-Sabe por que eu te odeio? – ela disse sem esperar minha resposta – Eu te odeio por que eu nunca consegui ser você, nunca consegui que Edward olhasse para mim como ele olha para você. Desde que cheguei aqui, desde que eu o vi pela primeira vez, eu me apaixonei por ele, me apaixonei por sua coragem, por seu temperamento, por sua beleza. Mas o coração do Edward é um lugar fechado, trancafiado, ninguém entra lá. Só você. Todos os meses ele se arriscava, passava pela barreira, corria o risco de ser pego só para te ver. E ainda usando uma desculpa esfarrapada, dizendo para você que queria comida, remédio… Como se você realmente pudesse sustentar essa casa! Mas lá ia ele, uma vez por mês, arriscar a própria vida só para te ver por duas, três horas. Eu nunca entendi o que ele realmente sente por você, no inicio eu achei que era uma paixão adolescente, depois até considerei que era amor, mas na verdade é algo mais forte. Ele não enxerga as outras meninas, ele não enxerga mais nada, tudo o que ele vê é você, seus olhos brilham quando você está por perto, ele muda quando você está com ele. Cai sua expressão sombria, aparecendo uma expressão de esperança. É como se você fosse o ar, o sol, a água, como se fosse tudo para ele, e isso me deixava furiosa. E sabe o que é pior? O pior é que ele foi preso e eu nem pude colocar a culpa em você, ele vai morrer e eu não posso pôr a culpa em você.

-Cala a boca – eu mandei tremendo.

-O quê? – ela perguntou indignada.

-Cala a boca antes que eu a cale por você. O Edward não vai morrer! – gritei furiosa.

-Ele está em Concluán. Não há nada que você possa fazer para…

Eu não deixei ela continuar, virei a mão em seu rosto, lhe dando um enorme tapa que a desequilibrou e a fez cair na cama. Me levantei, minha alma se juntando ao meu corpo enquanto eu era tomada por uma mistura perigosa de ódio e decisão que me levou para o corredor. Alice e Seth estavam por perto, olhando com desconfiança para a porta do quarto.

-Bella? – Alice se assustou ao me ver – Tudo bem? Tânia disse que ia pegar leve, ia tentar te ajudar, mas nós não tínhamos tanta certeza. Está tudo bem?

Eu não respondi, tentando passar por eles, mas Seth e Alice cruzaram os braços e se colocaram no meu caminho, impedindo que eu prosseguisse.

-Saíam da minha frente – eu gritei furiosa.

-Não, você está alterada, não vamos deixar você sair assim! Para onde você vai? O que vai fazer? – Alice perguntou.

-Não interessa.

-Interessa sim, não vamos deixar você sair sozinha, não nesse momento! – Seth esbravejou.

-Vocês não mandam em mim – disse com frieza e sem emoção – Eu sei que querem apenas me ajudar, mas eu não preciso de ajuda agora, não da ajuda de vocês.

-O que você vai fazer? Me diga, por favor – Alice pediu olhando para mim em súplica.

Com decisão e calma, eu expliquei o que ia fazer, minha voz sem tremer, sem emoção, vazia.

-Eu sei que dizem que é impossível, que ninguém pode fazer, mas eu não ligo. Preciso fazer isso.

-Fazer o quê? – Seth perguntou confuso.

Pela expressão de Alice, eu percebi que ela entendera, sabia do que eu estava falando, o que eu havia planejado. E sabia que nada me demoveria.

-Eu vou tirar Edward de Concluán – respondi.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo serve como momento da virada, além de mostrar o passado da Bella com o Edward, representa lembranças que mudarão completamente o que se passa no coração dela.



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