Dust Angels escrita por Nancy Boy


Capítulo 6
Capítulo 6 - Remember Me


Notas iniciais do capítulo

Deu pra postar hoje :D
Ontem eu fui numa exposição de rock, bem legal. Não tinha nada do MCR ou do Placebo (¬¬), mas eu já imaginava. E inacreditavelmente não tinha The Cure também õ.o Mas fora isso, vi um pôster autografado pelo Kurt Cobain, um baixo em formato de machado do Kiss, David Bowie em todo canto... é, foi legal. Quem tiver em SP, é no Ibirapuera, se chama Let's Rock. ;)
Então, espero que gostem!



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 Os Dust Angels e Remote Heart foram no dia seguinte arrumar um lugar novo para viver. Existiam várias casas abandonadas nas zonas, e eles pensavam em ir para um lado mais afastado da Zona 6, mas Remote Heart com muito jeito os convenceu a ficar em um lugar por lá mesmo, perto de Dr. Death, na zona 5. Ele estava feliz por ter um propósito e poder ficar com o grupo, mas não estava muito a fim de se afastar de Show Pony.

A casa não era muito grande, mas não importava; tinha lugar para todos. Passaram a maior parte do dia a limpá-la e deixá-la razoável para se viver, e nesse tempo Remote Heart acabou se divertindo consideravelmente com os killjoys. Jet Star era bem engraçado, e Kobra Kid vez ou outra soltava tiradas sarcásticas que provocavam gargalhadas. Fun Ghoul continuava a ser o mais simpático, juntamente com Grace. Remote Heart teve mais algumas vezes a sensação de estranha familiaridade ao olhar para ela, mas decidiu guardar isso para si. Já Party Poison melhorou muito. Agora que já havia aceitado Remote Heart por perto, não o tratava mais com nenhuma arrogância ou reservas. Pelo menos não na maior parte do tempo.

Quando terminaram e foram jantar, Remote Heart já se sentia livre o bastante para começar a pressioná-los, mesmo que de leve.

— Então, o que eu deveria saber sobre vocês, pra início de conversa? — ele perguntou entre uma mordida e outra.

Party Poison fez um expressão confusa.

— Tipo o quê?

— Sei lá, coisas que definem vocês e que eu poderia saber pra entendê-los melhor.

Eles se entreolharam, procurando coisas para falar, mas foi Grace quem tomou a palavra.

— Party e Kobra são irmãos.

Os dois assentiram e murmuraram um “é”, como se só tivessem se lembrado disso agora.

— Interessante — Remote Heart comentou. — Mais algum parentesco?

— Não — Jet Star respondeu, muito rápido.

— Hmm... certo. E como vocês se conheceram?

Os quatro sorriram.

— Isso foi há muito tempo — Party Poison falou. — Antes da BL/ind tomar o poder. Tínhamos uma banda.

Eles suspiraram, sonhadores.

— Bons tempos — Fun Ghoul disse, baixinho.

— Imagino — Remote Heart continuou. — E como conheceram Grace?

O clima mudou com uma velocidade surpreendente. Jet Star tossiu, Kobra Kid franziu a testa e Fun Ghoul olhou para a menina, que observava seu prato, envergonhada. Party Poison tomou sua postura fria novamente.

— Não interessa.

— Não... não precisa ser grosso, Party — Fun Ghoul murmurou, o que pareceu surpreender bastante todos os outros.

— Eu não disse que vou ajudar a protegê-la? — Remote Heart perguntou, começando a ficar irritado. — Não acha que tenho o direito de saber pelo menos alguma coisa sobre ela?

Eles se entreolharam de novo, e Grace fitou Remote Heart com uma expressão de compaixão. Ela parecia querer falar, mas não sabia se podia.

— Eu acho que sim, você tem — Fun Ghoul falou de novo, dessa vez mais alto. Ele suspirou, tomando coragem, e prosseguiu. — Qual é, Party, ele já tá com a gente, ficar escondendo coisas não vai resolver nada.

Kobra Kid e Jet Star agora pareciam decididamente chocados. Se o que Remote Heart ouvira era verdade, Fun Ghoul nunca discordava de Party Poison. Ele não sabia se era bom ou não que isso estivesse acontecendo agora; mas, pelo jeito, Fun Ghoul era o único com quem Party Poison chegava a concordar. Eles se encararam por alguns segundos, e então o maior se voltou para Remote Heart.

— É, acho que o Fun tem razão — ele disse, e Jet Star deixou escapar um “caramba!” em sussurro. — Bom, foi há alguns meses, já deve ter quase um ano. Nós recebemos o pedido de ajuda de uma amiga, que estava fugindo com a filha. Ela escapou dos Dracs em Battery City, mas não conseguia sair de lá, estava encalhada em um dos pontos raros sem câmeras. Se ela tentasse fugir, eles a pegariam.

Grace agora voltou o olhar para o prato, e Remote Heart não precisou vê-la para saber que estava triste com as lembranças que eram narradas.

— Nós fomos — Party Poison continuou. — E conseguimos chegar até onde ela estava. Mas havíamos sido seguidos... Korse...

Ele precisou parar por um momento. Remote Heart também queria saber porque Korse e ele se odiavam tanto, mas deixaria essa pergunta para depois. Party Poison prosseguiu.

— Korse foi esperto e nos deixou achá-la para depois mandar alguém atrás de nós. Tivemos uma luta, mas eles estavam em quantidade muito grande, e ela só queria saber de salvar a filha. Não tínhamos mais o que fazer. Se ficássemos seríamos todos mortos, e precisávamos salvar Grace.

A menina agora derramava lágrimas silenciosas. Remote Heart sentiu também uma súbita vontade de chorar.

— Como vocês fizeram? — ele perguntou, sem se controlar. — Como vocês conseguiram deixá-la lá?

Não era uma acusação. Mas aquilo o lembrava demais do que ele mesmo tivera que fazer; matar a mulher que amava ao descobrir que ela era uma espiã da BLI. Se fora tão difícil para ele, como quatro pessoas conseguiram fazer isso?

— Tínhamos de fazer — dessa vez, Jet Star era quem falava. Seu rosto estava sério, como raras vezes se via. — Ela me disse algo... ela me mostrou que tínhamos que salvar Grace. E foi o que fizemos. E ela ficou para trás.

Remote Heart percebeu que já estava chorando. A expressão em Jet Star era uma que ele já conhecia; a dor de deixar a mãe da menina para trás com certeza foi como a dor de Remote Heart ao matar Black Flower.

— É isso — Party Poison falou. — Agora você já sabe tanto quanto nós sobre Grace.

— Vocês não têm ideia do porque a BLI a quer? — Remote Heart perguntou, enxugando as lágrimas.

— Eu sei de algo — Grace disse, atraindo a atenção de todos. — Eu sei de algo que eles querem saber.

— O quê?

— Não vou falar — ela respondeu suavemente. — Se vocês souberem, eles vão atrás de vocês também.

Remote Heart suspirou, entendendo que aquela era uma escolha até racional.

— Não sabemos o que é — Kobra Kid falou, sombriamente. — Mas seja lá o que for, é nossa última esperança contra a BLI. Grace é a única esperança. E se o segredo tem que ser mantido para que funcione, é assim que vai ser.

— É, nós só temos que esperar — Grace continuou, sorrindo um pouco.

— Eu não estou entendendo nada — Remote Heart exclamou.

— Acho que é melhor assim — disse Fun Ghoul. — Agora, que tal sairmos um pouco desse tédio? Ouvi falar que vão dar uma festa na zona 6.

Os olhos do killjoy brilharam de expectativa, mas ninguém correspondeu.

— Ah, Fun, não tô a fim — Kobra Kid reclamou, recostando-se mais na cadeira.

— Nem eu — disse Jet Star.

Fun Ghoul murchou um pouco, mas se virou imediatamente para Party Poison.

— Eu não... — o mais velho começou, mas parou. — Ah, isso não é justo, Fun, tira essa cara de cachorro perdido! Ah, droga. Tá, eu vou.

Fun Ghoul deu pulinhos na cadeira e se levantou, dizendo que iria se arrumar. Party Poison revirou os olhos, mas o acompanhou com um sorriso.

— Isso não vai prestar... — Kobra Kid comentou.

— Por que não? — Remote Heart perguntou.

— Vai ter bebida lá — respondeu Kobra Kid. — Álcool, Fun Ghoul e Party Poison, tudo junto? Tô falando, não vai prestar...

— Amanhã eles vão ficar se evitando o dia inteiro — Grace falou, alegre.

Remote Heart ainda não estava entendendo.

— Do que vocês estão falando?

— Você é devagar, hein? — Jet Star disse. — Não percebeu os olhares apaixonados do Fun, não?

Remote Heart parou para pensar por um momento e percebeu que realmente, Fun Ghoul sempre parecia muito interessado em Party Poison.

— É, é verdade... Mas por que eles não ficam juntos de uma vez?

— Porque o Fun não tem coragem de admitir, apesar de estar na cara. Mas quando ele fica bêbado a vergonha some que é uma beleza. Provavelmente vai agarrar o Party lá mesmo.

Todos eles riram rapidamente e se calaram quando Party Poison pareceu para pegar algo na geladeira. Ele estranhou o silêncio repentino, mas não disse nada.

Em pouco tempo, Fun Ghoul e Party Poison reapareceram na cozinha para se despedir e falar que voltariam em algumas horas.

— Juízo — Kobra Kid advertiu, e recebeu uma bagunçada nos cabelos do irmão.

— Você sabe que eu sou a pessoa mais ajuizada que você conhece.

— Claro, claro.

Fun Ghoul estava todo sorrisos, e Jet Star o cutucou repetidamente na barriga, brincando e dizendo baixo “Vai se dar bem hoje”.

Remote Heart ajudou Jet Star e Kobra Kid a limpar a cozinha enquanto Grace ia dormir.

— Olha — ele começou a falar, um pouco envergonhado. — Desculpa se eu estou sendo muito abusado, tá. Não quero forçar nada aqui, sei que vocês são como uma família e não quero atrapalhar.

— Não se preocupe — respondeu Kobra Kid. — Éramos uma família antes da Grace, mas isso não impediu que ela se tornasse parte da família também.

— É, mas é diferente... — Jet Star murmurou, o olhar fixo no prato que ele lavava, sem parecer ter consciência de que pensara alto.

— Por que é diferente? — Kobra Kid perguntou, curioso, e Jet Star virou o rosto assustado.

— Ah, nada, nada.

Remote Heart e Kobra Kid trocaram olhares, mas não falaram mais nada.

Depois de tudo pronto, Remote Heart decidiu pegar sua moto — Dr. Death a havia dado para ele, sabendo que teria de emprestá-la todo dia se não fizesse isso — e ir visitar Show Pony. Ele ainda estava confuso sobre os rebuliços estranhos que sentia no peito perto dele, mas não deixaria que isso atrapalhasse a amizade dos dois. E além do mais, não havia nada de anormal em querer conversar, ou em sentir uma vontade forte e súbita de vê-lo, certo?

Ele foi recebido com animação ao chegar, e hesitou sobre o que foi fazer. Party Poison finalmente confiara nele o bastante para contar a história de Grace, e a primeira coisa que ele faria era falar sobre isso com outra pessoa. Mas era Show Pony, não teria problema...

Por fim, Remote Heart decidiu abrir a boca, e percebeu que nada daquilo era realmente novidade para Show Pony. Mas assim eles puderam conversar sobre tudo abertamente e dar suas próprias teorias.

— Quem será que era aquela mulher? — Remote Heart perguntou. Estava sentado na cama de Show Pony, de pernas cruzadas e de frente para ele. — Ela era importante para eles, mas por quê? Jet Star parecia o mais abalado ao falar dela, além de Grace, claro.

— Nunca soube o nome dela... E concordo, acho que ela foi mais importante para Jet Star. Será que eles tiveram alguma coisa juntos?

— Talvez... Ou talvez fossem só amigos.

Show Pony deu de ombros, concordando.

— Mas o que mais me intriga é o que Grace está escondendo... — Remote Heart continuou. — Parece que é algum segredo que a BLI não pode descobrir. Ela só tem que ficar de boca fechada até algo acontecer... Ah, esses segredos estão me sufocando.

— Imagino. Mas já descobriu o “segredo” do Fun?

Remote Heart riu.

— Ah, já. Ele foi com Party pra uma festa hoje. Quem sabe não dá em algo?

Show Pony sorriu, feliz com a ideia. Remote Heart percebeu que, para quem já os conhecia, devia ser esperado há muito tempo que ficassem juntos.

— É, espero que sim, torço muito para eles... — Show Pony comentou, e fixou o olhar no cobertor sob eles. — E para outros, também.

Remote Heart arqueou as sobrancelhas.

— É? Quem?

Show Pony deu um sorrisinho de canto, um tanto sarcástico, que Remote Heart quase não pôde ver por culpa do capacete, apesar de este estar aberto.

— Só mais dois que estão enrolando — Show Pony respondeu, ainda sem olhar para cima.

Remote Heart sentiu seu rosto esquentar. Ele não era tão devagar a ponto de não perceber do que o amigo falava. Mas ele não sabia bem o que fazer. Na verdade, não imaginou nem por um momento que poderia encontrar.... amor?, depois de Black Flower. Quando foi até os Dust Angels, foi procurando companhia e amizade, mas, principalmente, motivação. Ele só queria algo em que se segurar, um motivo para continuar. Não pensou em encontrar mais do que isso. Mas ele seria idiota se recusasse o que o destino o oferecia, não é?

— Pony... — sussurrou, aproximando-se. — De quem você tá falando?

Show Pony olhou para cima e corou.

— Ninguém, esquece — ele tentou se levantar, mas Remote Heart segurou seu braço.

— Começou, tem que terminar.

Show Pony riu baixinho, e Remote Heart se aproximou mais. Deslizou a mão que estava sobre o braço do outro, lentamente, para cima, provocando-lhe alguns arrepios. Quando chegou ao pescoço, trouxe a mão para o capacete, fazendo menção de tirá-lo. Mas Show Pony subitamente se afastou.

— Descu... — começou, mas foi impedido de continuar por um barulho estrondoso que ressoou no quarto.

Dr. Death apareceu, depois de abrir a porta violentamente, com um de seus celulares na mão e um olhar preocupado. Não disse nada; a voz que saia do aparelho já era o suficiente.

— DR. D — Kobra Kid gritava. — MANDA O REMOTE VOLTAR AGORA! ESTAMOS SENDO ATACADOS!


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Notas finais do capítulo

Bom fim de sábado e domingo pra vocês, espero que estejam curiosos *-*
Sou mau? -q
Beijos o/