POV: Kyle.

- Vamos Kyle! - chamou minha mãe.

– JÁ VOU! - berrei.

Desci as escadas e entrei no carro.

Começei a pensar sobre tudo o que já passou. Cara, como o tempo passou rapidinho! Eu já estou com dezessete anos, já terminei o ensino médio, já posso tomar conta de mim mesmo e já estou na faculdade, hipoteticamente.

Treze anos se passaram muito rápido.

Meu irmãozinho, Ike, já está crescido, bem maduro, mesmo estando apenas na terceira série, creio.

Fizemos uma viagem até a escola em silêncio.

Só demos uma passadinha em casa para pegar uma bulsa para o Ike, que esqueceu de pegar.

Na festa, fiquei com Stan e Kenny, já que Cartman estava se esbaldando na comida da escola.

Ficamos em uma parte da pista de dança, ás vezes dançando ou só estando ali por estar.

De repente, Bebe Stevens, Alexia Jackson e Wendy Testaburger aparecem.

– Aí, querem dançar com a gente? - perguntou Wendy.

Topamos todos. Kenny foi dançar com Bebe em uma ponta, Stan, é claro, foi dançar com Wendy perto do DJ, e eu dancei com Alexia.

– E aí, Alexia, tudo bem? - disse começando a dançar com ela (tipo, dançar perto dela).

– Tá tudo bem sim. - respondeu.

Senti que não estava tudo bem.

– Qualé, Alex! Fala o que houve! - insisti.

– Bem eu... Eu tô com saudades da Katy. Eu sempre sonhei em estar nesse momento com a minha melhor amiga, sabe?

Puxa. Tinha me esquecido completamente dessazinha.

Faz seis anos que ela foi embora, e com certeza, Alex tinha ficado abalada, porque a Katy era a melhor amiga dela.

Alex é uma boa amiga. Ela tem todas as qualidades e defeitos de uma melhor amiga.

Mas Katy foi embora. Para sempre da vida dela, e ela ainda, depois de seis anos, estava tentando superar isso.

Alex ligava quase toda hora para Katy, e ficavam algumas horas ali conversando, mas para duas amigas inseparáveis, que infelizmente se separou, ainda não é o suficiente.

– Sinto muito.

– Não foi culpa sua.

– Na verdade, foi sim.

Demos alguns segundos de silêncio.

De repente, começou a tocar "We Are The Champions", e esse assunto foi esquecido por enquanto. Todos começavamos a cantar com as mãos para cima.


POV: Katy.

Lá estava eu, no meu baile de formatura do ensino médio, dançando com meu namorado, Derek O'Conner. Derek também havia estudado comigo todo esse tempo.

Ele era alto, com um corpo escultural, olhos castanho claro e loiro.

Era a coisa mais linda do mundo.

De repente, minha amiga Amy apareceu. Detalhe: ela não era a minha melhor amiga. Ela nunca vai substituir Alexia Jackson. Nunquinha mesmo.

Ela só era a minha amiga mais chegada daquela escola, mas eu não contava meus segredos, nada para ela.

– Oi Amy! - disse.

– Oi Katy! Oi Derek! - disse Amy.

– Oi. - disse Derek.

– Tá conseguindo pegar algum por aqui, Amy? -perguntei.

Ela havia me dito ontem que ia pegar algum garoto hoje, para dançar "a valsa dos alunos", como pedimos ao diretor.

– Não. Eu tô começando a achar que eu tô com cara de palhaça aqui.

– Já perguntou pro Maicon?

– Não.

– Então vai lá!

– Mas e se ele recusar?

Esse Maicon é o garoto mais bonito da escola. E, Amy está com medo dele recusar para não "abaixar o seu IBOPE", que eu acho a coisa mais RÍDICULA.

– Vai lá garota! - exclamei.

Ela foi.

– Você acha queo Maicon vai aceitar? - perguntei ao Derek.

– Com certeza. Amy não é feia.

– Mais e se ele estiver com a Jennifer? - Jennifer é uma garotinha mimadinha e a mais popular da escola.

– Ele não liga muito para ela, apesar dela ficar na cola dele.

– Já pensou se eles ficassem juntos depois dessa? - pensei.

– Já. Acho até quue dariam o casal perfeito. - confirmou.

Então, de repente, a música acabou e tudo ficou escuro. Me agarrei ainda mais no Derek.

– Atenção alunos, espero que todos estejam com seus pares, porque vamos ter a pedida "valsa dos alunos". - disse o DJ ou o diretor com uma voz disfarçada.

Vi Jennifer com Max (um nerdizinho feio da sala) e o principal: Amy e Maicon.

Quando Amy me viu, apontou para ele sorridente. Sorri como um "Parabéns!".

A música começou e começamos a dançar também.

Na verdade, não era só os alunos que estavam dançando, eram os adultos também.

Olhei fundo nos olhos de Derek. Senti que naquele momento eu estava infortunamente completa.


POV: Kyle.

Quando caí em mim, estava voltando para casa. É bom e ao mesmo tempo triste saber que você vai para a faculdade. Triste porque vou deixar o restante dos babacas, como o Butters, eles nunca mais vão fazer o que a gente quer, digo, eu, Stan, Kenny e Cartman. Bom porque vou estar com meus quatro melhores amigos (contando com Alex) na mesma faculdade e já vou estar, praticalmente, sozinho. Sem pais, sem parentes mais velhos, só você. Ninguém para você dar satisfações.

Na mesma hora que cheguei em casa, meus pais e meu irmão (já que eu não posso mais chamar de irmãozinho) me deram um abraço.

Minha mãe não conseguiu se controlar, repetia toda hora chorando pro meu pai: "Como o tempo passou, Gerald. Nosso pequeno Kyle já esta indo para a faculdade. Já virou um homem!".

Fui no meu quarto, arrumei minhas coisas nas minhas malas e fui no aeroporto, como eu e a galera tínhamos combinado, ás meia noite.

Eu sei que é meio tarde, mas era quando o baile da formatura acabou

Em pensar que logo eu serei um advogado, como meu pai.

Pedi pro meu pai me levar para o aeroporto, e assim ele fez.

No aeroporto encontrei a galera toda reunida.

Já compramos as passagens e assim fomos, para Nova Iorque.

POV: Katy.

O baile acabou rapidinho. Muito rápido mesmo.

Me despedi dos meus tios e fui embora para o meu apartamento com Derek.

Derek chamou um taxi para irmos embora.

Antes de eu sair do carro, nos beijamos e saí. Esperei o carro virar a esquina para ir até a recepção.

– É, bom dia, Sra. McPhill. - disse sorridente.

Aquela recepcionista era uma velha casada que se sentia na autoridade de se achar a minha babá. Ela era a minha melhor amiga do hotel, ela sabia de tudo sobre o meu passado.

– Bom dia, formanda! - disse saindo de trás do balcão e vindo me dar um abraço.

Seus cabelos pretos cacheados roçavam no meu nariz.

Quando ela me soltou, ela me segurou pelos dois ombros e ficou me olhando.

– Não pense só porque está na faculdade que eu não vou ficar no seu pé. - alertou.

– Tudo bem, mamãe. - disse sorridente, começando uma brincadeira.

– Agora vá dormir, filhinha. - disse ela soltando meus ombros e sorrindo para mim.

– Boa noite, Sra. McPhill. - a desejei.

Apenas vi ela continuar sorrindo para mim no elevador.

Apertei o botão para ir ao andar 15 e peguei meu celular.

Cara, agora que a ficha caiu. Quando é tarde demais.

Eu aguentei todo esse tempo sem meus pais, consegui prevalecer, aguentei ficar um tempo considerável sem ver minha melhor amiga, Alex Jackson, consegui arrumar um namorado perfeito e aqui estou eu, na faculdade.

Nunca mais duvidarei que o tempo passa rapidinho.

E o mais intrigante é que eu fui forte todo esse tempo com a ausência dos meus pais. Parece que cada dia que passa, a "ferida" (como Alex se retratou no meu último dia em South Park) vai parando de doer. Mas em alguns momentos, essa "ferida" arde muito, e é quase impossível não chorar.

Um dos maiores sonhos dos meus pais era me ver na faculdade, ganhando responsabilidade e independência. Espero que eles estejam orgulhosos de mim, mesmo estando mortos.

A porta do elevador se abre, e eu saio. Entro no meu apartamento 236 e apenas vou para o banho.

Depois do banho, apenas me jogo na cama.

Foi um dia e tanto. Não foi somente um dia cansativo, mas também reflexivo.

Encarar seu passado e apenas fingir que ele nunca existiu.