Serpentes e Leões escrita por Gaia Syrdm


Capítulo 18
Uma longa noite




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No Castelo de Era todos eram classificados pela força: Era e Nick no topo, as princesas e o príncipe abaixo, os professores, uma Elite criada pelos mais fortes bruxos, e estudantes abaixo. Mestiços e outras criaturas mágicas ficavam no mais baixo nível.

Neste lugar maldito, todos, com exceção da família real, estavam presos a Era por barreiras mágicas que, dentre outras coisas, não permitiam a livre saída do Castelo. Inexplicavelmente quatro mestiços tinham o poder de ir e vir quando bem entendiam, ignorando qualquer lei. E num lugar onde mestiços eram escravos ou pets (escravos pertencentes a um único dono, que deveria pertencer, no mínimo, a Elite), quatro deles despertavam ódio por possuírem o mesmo nível da Elite.

Mas quando se é tão poderoso, é possível se dar ao luxo de “não ligar a mínima”.

Cap 17 – Uma longa noite

Já passava da meia-noite e absolutamente nada havia acontecido ainda. Desde que Hagrid saíra que nem Harry, nem Malfoy tinha falado. Os amassos realmente não estavam dando trabalho e dormiam tranquilamente enquanto os rapazes, sentados em extremidades opostas e o mais distante possível que conseguiram na minúscula cabana, ignoravam-se mutualmente. O moreno parecia entretido em fingir interesse nos livros que tinha levado (ideia de Hermione, que acreditou que ter algo para fazer o distrairia e diminuiria as brigas), e em não pensar no que Malfoy fazia já que este estava sentado de costas para ele e parecia entretido em algo, mas nunca que cederia novamente a sua curiosidade em relação ao loiro. Definitivamente, ganharia muito mais estudando do que prestando atenção no sonserino.

Tentou continuar sua leitura, queria adiantar a lição de casa, contudo estava sonolento e isso prejudicava sua concentração. Como se isso não bastasse, a presença de Malfoy o deixava inquieto, incomodado e nervoso. A forma como também se percebia observando o loiro pelo canto do olho o tempo todo o deixava desconfortável. Sabia que o outro sempre atraíra sua atenção com suas provocações e maldades e, com isso, aprendera a prestar atenção nele, sempre em busca de algo que indicasse uma nova artimanha do sonserino para predicá-lo. De tanto se por em guarda, observá-lo havia virado um hábito comum, que se intensificara muito no último ano, desde que os sumiços repentinos do colega tinham alertado seu sexto sentido. Malfoy nunca precisara sumir para aprontar algo e prejudicar os outros, então, o que estaria fazendo agora? Seria algo realmente grande? Será que estava tramando algo com os outros Comensais da Morte? Claro que tinha que saber o que era, não queria ser pego de surpresa. Rony e Hermione não entendiam isso e achavam que Harry estava exagerando e ficando paranóico, e não importava quantas vezes tentasse explicar que seus pensamentos seguiam uma lógica malfoydiana, eles não o ouviam. Quando Chikage aparecera, num primeiro momento o moreno nem o notara, era só outro aluno, diferente, sim, inteligente demais?, sim, mas ainda assim só outro aluno. Ele nunca se preocupara em prestar atenção no japonês até o momento que percebeu que este andava cada vez mais com o monitor da Sonserina. Mais uma vez, seus amigos não perceberam porque o moreno achara isso tão preocupante. E dessa vez ele não perdera tempo tentando explicar que o oriental era esperto demais para que não se importasse com a possibilidade dele se tornar um Comensal. Contudo, não falar a respeito não o fez se preocupar menos com a possibilidade de ter que enfrentar o novo sonserino, ainda mais porque esse se mostrava cada vez mais talentoso em diversos tipos de magia (apesar de ultimamente não se destacar tanto quanto no início. Repentinamente, Chikage parecia ter se encaixado no nível de conhecimento dos colegas de turma e, isso poderia soar muito louco, mas Harry tinha certeza que o oriental estava fingindo. Que agora que o japonês sabia qual era o nível dos colegas, se moldava a isso e a cada dia chamava menos atenção com seus feitiços raros e/ou poderosos demais. E a cada vez que lembrava de como o vira destruir completamente o bicho papão que os surpreendera no fim do ano, mais certeza tinha que os poderes do oriental eram muito mais fortes do que este deixava transparecer). Harry não percebeu quando começou a ficar de olho também no japonês, mas foi muito ruim perceber que isso não exigiu trabalho nenhum porque Chikage estava sempre com Malfoy! Pareciam dois malditos irmãos-siameses! E até andar de mãos dadas os dois andavam!! Harry tinha certeza de ter visto as mãos de ambos entrelaçadas mais de uma vez! E aquilo o deixava profundamente irritado (apesar de não saber bem o porquê disso), como ninguém percebia que os dois andavam próximos demais e estavam agindo como um maldito casal apaixonado? Será que mais ninguém via o perigo disso?! Ele comentara isso com Lupin uma vez, só que o antigo professor também não vira o o problema que isso representava e disse que Harry estava vendo coisas e se preocupando demais! Revoltado, Harry passou a prestar ainda mais atenção nos dois e não foi difícil de perceber que o mês que Malfoy passou faltando nas aulas conjuntas com a Grifinória foi também o período em que Chikage mais “viajou” nas aulas, chegando até mesmo a errar algumas perguntas, além de que toda vez que Harry resolveu utilizar o Mapa do Maroto para descobrir onde Malfoy estava, ele estava sempre com o oriental, em todos os lugares ou momentos!! Parecia até que ambos só se separavam para ver as aulas ou quando o japonês ia estudar História com eles, na Biblioteca. E foi durante esses momentos juntos que Harry percebeu que Chikage era alegre e engraçado e educado e nada semelhante ao loiro, o que tornava o fato de serem tão próximos muito estranho! Como uma pessoa divertida e, aparentemente, gente boa como o japonês podia se envolver com o sonserino?

Encarou Malfoy novamente, pensando no que este estaria tramando e se o oriental sabia dos planos do loiro, se fazia parte deles, se estavam tramando algo juntos, no que tanto faziam juntos. Será que se perguntasse, Chikage responderia?

— Dormiu sentado, Potter? – Malfoy perguntou de repente, assustando Harry e retirando-o de seus pensamentos. O loiro havia se virado na cadeira e o encarava.

— O quê? Por que pergunta isso?

— Você está encarando essa mesma página há pelo menos 5 minutos. Só posso pressupor que ou você dormiu sentado ou que é burro demais para entender o que está lendo. – respondeu o sonserino com um dar de ombros, sem sequer erguer a cabeça para encará-lo.

— Não é da sua conta. – Harry respondeu rispidamente, sem saber exatamente porque estava tão irritado com o outro. Parecia um ato reflexo, só de ouvir a voz arrastada se irritava, só de lembrar que estava preso ao sonserino, algo dentro dele se remexia. Tentava entender o que era e julgava que era a péssima lembrança daquele maldito beijo surpresa (que nunca fora devidamente explicado).

— Ok, se prefere assim. Ia sugerir que revessássemos e dormíssemos um pouco em turnos, mas se não quer, por mim, tudo bem.

— E você acha que eu sou louco de dormir perto de você?

— E por que não iria?

— Não vem com essa de “e por que não iria?”. Nunca mais baixo minha guarda perto de você. Não depois do que você fez da última vez. – Harry disse, quase percebendo o brilho que passou pelos olhos tempestades.

— Nossa, você ainda lembra disso?

— Claro que lembro! Nunca vou esquecer aquele maldito dia.

— Ora, Potter, a menos que aquele tenha sido seu primeiro beijo – Draco disse, erguendo o queixo levemente e o encarando, com os olhos fixos no seu – Não acha que está dando importância demais a uma simples provocação?

— Você me beijou!! Como pode chamar isso de “simples provocação”?

— Por que é o que foi. Você estava exaltado demais, você tem essa mania, sabe? De se exaltar e ficar todo nervoso e ouriçado, igual a um porco espinho, por qualquer coisinha. É muito estresse para pouca coisa.

— Você chama um beijo de pouca coisa?! – Harry disse, quase gritando.

— Não grite. Vai acordar os amassos e eu não vou fazer nada para acalmá-los só porque você não consegue conversar em um tom baixo. – Draco sibilou, olhando de soslaio para a cesta onde os filhotes, felizmente, dormiam. – Tem que aprender a controlar seu temperamento, Potter, sair gritando cada vez que algo te incomoda não soluciona as coisas.

— Você é o maior culpado disso. Se não tivesse sido tão nojento...

— Mas a intenção era essa! – provocou o loiro, estufando o peito levemente para controlar a respiração, para não deixar que suas emoções aflorassem.

— Você é doente, sabia?

— E por quê?

— Pelo que você fez! Pelo que mais seria?

— O que eu fiz foi te dar um motivo para a sua raiva, que, aliás, foi bem injustificada. Na verdade, eu nem lembro qual foi o motivo que te levou a ficar tão irritado e a começar a brigar comigo do nada. Mas eu estava cansado e se você queria discutir, então te daria um bom motivo. Se quiser discutir agora, posso te dar de novo.

— Eu tenho vontade de quebrar a sua cara, sabia? – Harry disse, levantando-se.

— Então quebre – Draco provocou. – Anda, me bata de novo. Isso te faz bem, não é? Descontar suas frustrações em mim. Então, vem, pode bater. Bata como o trouxa que você parcialmente é.

E Harry chegou a cruzar o espaço entre eles e segurar o suéter do outro, pronto para bater e descontar toda a raiva e frustração que sentia quando algo que não sabia identificar o paralisou. Ficou ali, parado, o punho erguido no ar, encarando os olhos tempestade. E por um minuto, nenhum dos dois falou, olhando-se fixamente como nunca haviam feito antes.

— Eu não te entendo. – Harry confessou, sem nem perceber que estava sussurrando – Nunca entendi antes e entendo menos ainda agora.

— Você nunca tentou entender. Nunca quis nem me conhecer.

— Eu te conheci. Vi o que você era lá no trem, quando desprezou Rony na minha frente.

— Ah, sim, você viu um lado meu, um lado de uma criança de 11 anos que mal sabia o que estava fazendo e pressupôs que eu era o tipo de pessoa ruim que devia combater. E, olha só, eu cumpri o seu desejo. Quer se vingar agora? Quer me bater por ter sido idiota? Então bata. Quer me bater por tudo de errado que eu já fiz? Vá em frente. Aproveite a chance, não terá outra.

— Então você admite que era um idiota?

— Eu tinha 11 anos? É esperado que eu fosse idiota.

— E que continue sendo?

— E você não é? Nunca fez nada idiota ou impensado, Potter? Nunca errou antes? Ou o Santo-Potter nunca erra?

— Eu nunca desprezei os outros pelo que eles eram.

— Você desprezou a mim e a todos os sonserinos apenas por pertencermos a Sonserina.

— Vocês provocaram a fama.

— Claro, porque somos todos preconceituosos e traidores, mas foi um traidor grifinório que matou os seus pais.

— Cala a boca

— A verdade doí, não é? Mas é verdade, vocês são tão preconceituosos quanto a gente, só o que muda é o alvo do preconceito.

— Você...

— Vamos, negue. – Draco disse, aproximando-se do moreno, deixando seus rostos incrivelmente próximos, porém sem se levantar. – Diga que não nos julgou. Que antes mesmo de conhecer UM único sonserino você já desgostava da casa.

— Desgostava porque conheci você e você queria ir para a Sonserina.

— Claro, e eu represento todos os sonserinos. Igual você representa todos os grifinórios. Só que não, Potter. As pessoas não são tão classificáveis assim.

— Mas você odeia os grifinórios.

— Eu odeio você. Odeio sua mania de quebrar as regras e achar que pode salvar o mundo, odeio a forma como julga os outros por não terem a sua coragem, ou burrice, odeio a forma como se sente superior a todos, querendo salvar o mundo antes mesmo de terminar seu primeiro ano escolar. – “Odeio a forma como você me desprezou e o que me faz sentir”, Draco completou, em pensamento.

— Então, fique sabendo que é reciproco. Também odeio você.

E, céus, como doía ouvir isso.

— Então, Potter, – Draco disse, se aproximando ainda mais, seus rostos incrivelmente próximos – por que não faz como eu fiz e desencana de mim? Pare de ficar me observando e ficar especulando o que faço ou não quando não estou na sua frente.

— Como... como sabe disso? Quem te disse? – Harry perguntou, sem perceber que assumira sua curiosidade sobre o outro.

— Chikage me contou.

— Eu nunca contei isso a ele.

— Não precisou contar. Ele não é do tipo que precisa de palavras para perceber as coisas.

— Se ele é tão bom assim porque ainda anda com você? Já deveria ter percebido o doente mental que você é.

— Talvez ele não me ache um doente mental. Já pensou que ele pode gostar da minha companhia? Ou que eu posso gostar da dele?

— Você é um maldito bastardo, como ele poderia gostar de você? – Harry desdenhou, sem perceber como a pergunta feriu o loiro que, por um segundo, desviou o olhar, tentando se recompor logo em seguida, erguendo os outros e devolvendo a ofensa.

— Pelo menos eu sei que ele gosta de mim, Draco. Coisa que você nunca vai saber. Nunca saberá se gostam de você ou só do seu nome. Cuidado, Potter, seu amigo ruivo pode ser seu amigo, mas uma hora ele também pode cansar de só se ferrar por sua causa, ou de ser sempre a sua sombra, igual o amiguinho do seu pai se cansou.

— Cala a boca! – quase gritou, Harry, dando um puxão no suéter do loiro que ainda segurava.

— Vem calar. – Draco provocou, quase roçando os lábios no do outro. Por um segundo, a ideia de beijar o moreno novamente passou por sua cabeça e o loiro quase cedeu a ela. Já que ia apanhar, por que não dar um motivo? Por que não experimentar novamente aqueles lábios que tanto desejava. Por mais errado que isso fosse (e errado de várias formas!) era o que ele mais queria. Mas o medo de ver novamente a raiva nos olhos do outro o freou no último momento. Mantendo os dois lá, incrivelmente próximos, por segundos que pareceram minutos longos demais.

— Você quer isso, não é? – Harry disse, finalmente entendendo. E, antes que pudesse pensar, deixou as palavras saírem – Você beija ele também?

— Ele quem? – Draco perguntou, sem entender, mesmo que no fundo soubesse do que o outro falava.

— Chikage.

— Você sempre fala nele. Tudo isso é ciúmes? O grande-Potter está com ciúmes, é isso?

— Não seja idiota. É claro que não. – Harry respondeu, raivoso, sem nem perceber que sussurrava e que seus rostos ainda estavam absurdamente próximos.

— E se eu beijar? – Draco provocou. E ante a resposta muda do moreno, somada a proximidade entre eles, o loiro decidiu-se. Levou a mão esquerda ao pescoço do grifinório, brincando sutilmente com os fios mais cumpridos do cabelo negro e, quando nenhuma reação veio, encerrou a distância entre ambos e tocou seus lábios de novo. E como foi diferente! Dessa vez, ele não estava descontrolado, sem saber o que fazer ou o porquê fazia, se antes demonstrara como se sentia diante do outro da forma mais irracional e idiota possível, dessa vez sabia exatamente o que estava fazendo. Apesar de isso não deixar seu coração menos descontrolado.

Harry ficou parado, imóvel, demorando mais do que sentia ser aceitável para reagir, sem entender porque não empurrava o loiro e acabava com aquela loucura. Mas algo nele não se mexia, era como se quisesse ver até onde o outro podia iria. Ou até onde si mesmo iria.

Draco não tinha coragem de pedir passagem para sua língua, não enquanto o outro não se mexia, só que isso não significava que não estava aproveitando a oportunidade única com todas as suas forças. Seu coração parecia que ia sair do peito, tamanho a festa que fazia.

E tentava gravar a todo custo o sabor do outro, enquanto seus dedos brincavam com as pontas dos cabelos negros e a outra mão ia em direção a mão que ainda o segurava pelo suéter, tocando-o com a ponta dos dedos, com medo demais de quebrar aquele momento.

Nenhum dos dois saberia precisar o tempo que isso durou, com certeza fora pouco para o loiro, que ainda não acreditava estar, enfim, beijando Harry, quando um dos amassos miou, acordando os irmãos igualmente famintos, e despertando ambos de seu transe, que culminou num Harry nervoso e sem jeito empurrando Draco com toda a força, fazendo este quase cair para trás (o que só não aconteceu porque a cadeira do loiro estava próxima demais da parede).

— Ai! – Draco gemeu, quando sentiu o encosto da cadeira se chocar com a parede e sua cabeça, logo na sequência, fazendo seus olhos lacrimejarem de dor pela pancada.

— Nunca mais, nunca mais faça isso. – Harry disse, mas dessa vez sua voz não transmitia a raiva de antes, apesar de ele estar claramente chocado e zangado. Ele ainda passou as mãos nos lábios, limpando-os do contato com os lábios do loiro, num gesto mais automático do que raivoso.

Draco não respondeu e ficou sentado, massageando a cabeça enquanto via Harry pegar a mamadeira dos amassos e começar a alimentá-los, virando de costas para e o loiro, que deu graças a Merlim por isso, pois lhe permitiu se recompor sem o olhar do moreno sobre si.

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Hermione espreguiçou-se, esticando os braços acima da cabeça. Havia finalmente concluído seus resumos de História. Esperava que com isso os meninos conseguissem entender alguma coisa. Eles pareciam ter uma dificuldade natural com a matéria, principalmente Chikage. Às vezes, ela tinha a impressão que o oriental sequer ouvia as aulas! Ele conseguia a façanha de saber menos que Rony e olha que o ruivo nunca prestava atenção alguma nas aulas!

Massageou o pescoço e olhou no relógio. Já estava bem tarde, se demorasse mais para ir dormir, não dormiria praticamente nada aquela noite. Mas sabia que não adiantava ir para a cama agora, ainda estava muito desperta. E preocupada com Harry. Sempre que este tinha que ficar próximo a Malfoy, ele voltava muito mais nervoso e irritadiço que o normal. Sabia que algo estava acontecendo, só não sabia o que era, e isso a deixava muito incomodada. Odiava não saber as coisas, era como sentir-se perdida, e a sensação não era muito agradável.

Já que não ia dormir mesmo, resolveu descer até a cozinha e comer alguma. Já estava no meio do caminho quando lembrou da vez que encontrara Chikage ali, também procurando a cozinha. Fazia pouco tempo, mas parecia tanto! Naquela época ela não o suportava, além de sempre se sentir estranha na frente dele, e agora quase se via contando as horas para encontrá-lo no grupo de estudos.

Sorriu, lembrando da última vez que o vira e de como tinham se divertido estudando feitiços. Chikage achava que a enganava, porém fazia tempos ela percebera que ele sabia mais do que demonstrava, tanto nas aulas quanto nos encontros do grupo, assim como tinha uma memória absurda, tendo a mesma facilidade que ela para repetir as informações que lia. Estranhamente, isso não a incomodava mais, na verdade, lhe causava admiração.

E não era só a inteligência dele que ela admirava, já admitira que o que mais lhe encantava era o sorriso do outro, principalmente quando esse sorriso estava dirigido a ela. Também gostava muito da forma como ele tocava a mão dela para ensinar-lhe feitiços de DCAT ou quando aproximava-se para ler algum capítulo com ela. Sem perceber, isso tornara-se um hábito: ambos sentavam lado a lado e liam juntos longos capítulos sobre os mais diversos assuntos, soltando pequenos comentários aleatórios e inteligentes. Mas o que mais gostava mesmo era quando ela a interceptava nos corredores, geralmente aparecendo como se surgisse do nada, querendo conversar sobre assuntos aleatórios e bobos, fora nessas pequenas conversas que ela descobrira que ele era japonês, mas deixara seu país natal ainda criança e crescera na Etiópia, que era orfão e falava 5 idiomas diferentes! (Japonês, Inglês, Amárica, Árabe e Suahili) Ela gostava de ouvir sobre as cidades mágicas afro-asiáticas, dos livros que ele lera e dos feitiços que aprendera. Na verdade, ela gostaria de saber ainda mais coisas sobre ele, porém não tinha coragem de fazer perguntas tão pessoais e se limitava a questões culturais e linguísticas.

Estava tão distraída pensando nisso, que, por um segundo, não notou a luz que escapou por baixa da biblioteca fechada. Foi algo rápido e a garota estava mais preocupada em não encontrar com Filch no caminho. Se tivesse visto, teria descoberto que havia algo muito errado e estranho acontecendo. A começar pelo fato de terv alguém lá dentro, o que não era possível, pois as portas do recinto ainda estavam completamente fechadas. E pelo lado de fora.

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— É sério cara, estou com um mal pressentimento. – Erick disse, sentando-se na mesa que Maxxcy ocupava – E não gosto nada disso.

— Nihany te disse algo? – Maxxcy perguntou, recostando-se na cadeira e largando a caneta, prestando atenção no amigo, mesmo que não confiasse muito no sexto sentido dele, afinal estes eram como seus reflexos, quase inexistentes.

 – Não. Acha que devo falar com ela?

— Não sei. O que anda te preocupando?

— Lédi. Estou cismado com ela.

— Lédi? – Maxxcy perguntou, surpreso. Nunca tinham sido amigos dela, mas costumavam manter uma boa relação, baseada no "eu te ignoro, você me ignora". A garota nunca fora confiável, mas também nunca despertara suspeitas negativas. – Bom, Nihany anda ocupada, está vendo alguma coisa para Era. Mas vou ficar de olho em Lédi...

— Se ela estiver tramando algo, será difícil pegá-la. Ela é muito esperta.

— Ela é. Mas ainda não passa de uma criança se comparada a mim. – Maxxcy disse, sorrindo de forma cruel. Lédi gostava de pensar que era tão falsa e boa atriz como Maxxcy. Algo que, na opinião dele, era uma doce ilusão que chegava a beirar a burrice.

— Ninguém que te conheça seria burro a ponto de se comparar a você. – E pelo visto, Erick concordava com ele.

— Ainda bem que pouca gente me conhece de verdade, não é?

— Posso contar todos nos dedos de uma mão. – Erick brincou, abrindo uma das mãos – Eu, Nihany, Chikei, sua amiguinha libiana e sua irmã.

— Minha irmã. Ela realmente é uma pedra no meu sapato, mas não conta. Da minha família Brian era o único que sabia quem eu era. Já Maku só vive para tentar me desmascarar para a nossa família, acha que eu estou fingindo, pode? Se ela me conhecesse mesmo, não apenas acharia como teria certeza. – Maxxy zombou, dando de ombros. Como se ele não soubesse muito bem dos motivos dela.

— Você nunca vai tomar jeito. – Erick disse, rindo.

— E quem disse que eu quero tomar jeito? – Maxxcy retrucou, rescostando-se na cadeira e cruzando os braços e sorrindo. Aquele sorriso sádico e maldoso que era sua marca registrada.

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Depois de demorar quase o dobro do tempo necessário para alimentar os amassos, Harry voltou a sentar na cadeira que ocupava anteriormente, evitando a todo custo olhar na direção do loiro, que continuou sentado, sem se mover ou falar, tentando por a própria cabeça em ordem.

Ele tinha beijado Harry.

Ele tinha beijado Harry.

Ele realmente tinha beijado Harry!

E não fora um encostar de lábios roubado num momento de estresse e irracionalidade, não, não tinha sido algo impensado, inesperado e burro. Quer dizer, não que dessa vez tivesse sido esperado, pensado ou planejado. Nem em seus sonhos mais loucos teria pensado nisso. Bom, talvez nos mais loucos ela tenha pensado em agarrar Harry e beijar-lhe até perder o folego, mas não era como se sequer cogitasse transformar isso em realidade. E cá estavam eles, convivendo de forma civilizada (ou muito mais civilizada do que antes) depois de terem se beijado! Tudo bem, Harry não estava falando e nem olhando para ele, mas não estava gritando, xingando e nem querendo azará-lo. E isso era, no mínimo, um progresso. Mas progresso para o quê?

Passou a mão nos cabelos, tentando se recompor e raciocinar de forma lógica. Não era como se... se o quê? O que tudo aquilo significava? O que queria dizer? Não se atrevia a criar esperanças, não podia. Se nada resultasse daquilo... mas o que poderia resultar? Seria sonhar demais que assim que Harry pensasse em tudo isso, decidisse agarrá-lo?

Expirou fortemente, suprimindo um sorriso de zombaria. Como se isso fosse acontecer.

Percebeu que Harry lhe encarou pelo canto do olho, pelo visto seu bufar atraíra a atenção do outro. Não disse nada, não sabia o que dizer. Provocá-lo de novo não parecia uma boa opção. Sentar a sua frente e iniciar uma conversa sobre o ocorrido também não parecia uma opção muito inteligente...

Voltou a respirar fundo, tentando acalmar o próprio coração descontrolado. Por que era tão difícil? Por que não poderia simplesmente dizer “Ficar com essa cara de limão azedo não vai mudar o que aconteceu, Potter”, porém isso também entrava na categoria de provocação que não achava ser propicia para o momento.
Cruzou as pernas, tentando achar uma posição mais confortável na cadeira dura.

O que fazer?

O que ele queria fazer?

Passou os dedos nos lábios, lembrando. Aquilo era um sonho, não era?
Ele tinha mesmo...

— Pare de ficar se remexendo nessa cadeira, está me incomodando. – Harry disse, sem olhar para o loiro, os olhos ainda fixos em qualquer ponto que não fosse o outro ocupante da cabana.

Draco pensou em retrucar, falar algo, mas não sabia ainda o que dizer ou fazer. Sua mente estava uma confusão!

Olhou no relógio. Uma hora da manhã. Ambos ainda tinham pouco mais de cinco horas ficarem juntos. Não tinha porque iniciar uma briga agora, era melhor se acalmar primeiro, respirar fundo (de novo) e tentar colocar a cabeça em ordem.

Seja lá o que fosse resultar disso, tinha que se manter racional e lembrar que havia uma grande chance de Harry explodir com ele de novo, e gritar e feri-lo tão profundamente quanto da última vez. Que mais uma vez ele esmagasse qualquer esperança que tivesse sobrevivido (e renascido agora). Só essa perspectiva causou-lhe uma pontada no coração. Seria rejeitado de novo, sabia disso.

E era impressionante o quanto isso doía.

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Já passava da meia-noite e a Sala Comunal estava vazia há pelo menos duas horas, então, podia contar que a escola também estaria. Era a hora de sair.
Levantou-se e dobrou o cobertor que usava, talvez não voltasse essa noite.
Pouco depois, Chikage entrava cuidadosamente na Biblioteca. Fazia pouco barulho ao andar, pois mesmo que as portas da Biblioteca estivessem fechadas, não queria correr o risco de ativar algum feitiço de alerta. Tudo estava escuro, porém sabia estar na seção de Feitiços. Tirou a varinha do bolso e sussurrou Lumus, vendo esta acender-se levemente, apenas para que enxergasse o suficiente para ler.

Nunca tinha estado naquela ala da Biblioteca e achou que não tinha motivo para ficar perdendo tempo, assim, sussurrou a magia de invocação que Maxxcy lhe ensinara, pedindo por todos os livros que contivessem as palavras Deus e Nick, mas nada chegou a suas mãos. Ergueu uma sobrancelha enquanto refazia o feitiço pedindo por Era, mas nada veio novamente.

Chamou então pelo livro que Hermione lia, e este também não veio.
Então, alguém tinha feito um feitiço de proteção a feitiços de invocação. Alguém forte o suficiente para quebrar a magia dele.

“Tem que ser muito ingênuo para achar que isso vai me impedir” – pensou, realizando o contra-feitiço e facilmente liberando a Biblioteca para o seu feitiço. Voltou a realizar a magia de invocação e segundos depois um único livro disparou da seção de História, indo direto para suas mãos. Abriu-o, imaginando o que poderia ter atraído a grifinória a ler aquilo ou o porquê um livro como aquele. Não parecia o tipo de coisa que naturalmente a atrairia...

— Bom, vamos ver o que você é realmente. – sussurrou, equilibrando a varinha acesa na mesma mão que segurava o livro, agora fechado, e abriu a mão direita por cima da capa – O que foi feito, seja desfeito, volta a seu formato perfeito.

O livro brilhou levemente e Chikage sentiu uma fisgada em sua mão que lhe despertou uma leve careta enquanto sentia o feitiço de proteção tentando vencê-lo. Trincou os dentes ao sentir outra fisgava, mas manteve a batalha silenciosa que as magias travavam ao se chocar. Sabia que era uma questão de paciência, poucos possuíam magias superiores a sua, e por isso, inquebráveis a ele. Alguns minutos depois, um pequeno track se fez ouvir e a aparência da capa mudou, revelando um outro título. Não precisava ter lido o novo sumário para saber do que se tratava. Isso o fez bater o pé no chão, com raiva.

Agora, você passou mesmo dos limites. – disse, com raiva. Estava na hora dele cobrar algumas explicações. E não seria gentilmente.

Continua...
 Junho/2016


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Notas finais do capítulo

N/A: Alguém ainda lembra de mim e dessa fic?
Sei que minha demora foi monstro e sinto muito por isso. Meus últimos meses não foram nada fáceis, especialmente ano passado. Tive vários problemas pessoais e emocionais, fiquei doente, minha depressão voltou, enfrentei uma reforma de 7 meses em casa, meu pen-drive com todos os meus arquivos da fic quebrou e eu perdi quase tudo que já tinha escrito, mudei de emprego, perdi dois gatinhos que amava demais e tive que trabalhar muuuito nos últimos meses, enfim, foram vários os motivos. Perdi as contas de quantas vezes sentei na frente do computador, querendo escrever e não conseguindo. Na verdade, não fiz quase nada nos últimos meses por que a depressão minou com a minha vontade de fazer qualquer coisa além de dormir, espero que não tenha perdido a mão e o rumo da história e que gostem desse capítulo. Ele demorou, ficou curtinho, mas foi escrito com todo o empenho.
*
Agradecimentos: A todos vocês que veem acompanhando essa fic enrolada e não desistem mesmo com a minha enorme demora e, principalmente a Tai Bluerose, HenriqueCallil, Maatheus Lestrange, NinnhaPotter, sikt, MadameNutso, lunasolista e Diana que comentaram e me escreveram pedindo pelo retorno da fic. A todos vocês, só tenho agradecimentos!
E, aproveitando, queria desejar feliz aniversário a "amiga da Diana"! Não consegui postar no dia 3, mas fica aqui o meu presente para você! Espero que goste!



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