Maldito seja, Mine, pensou o moreno entrando na grande sala de aula, Devia ter dado mais que um simples soco no olho, fechou as mãos em punhos morrendo de raiva. Mas parou assim que sua mão direita começou latejar de dor.

Realmente se arrependia por ter dado só um soco, mas quando o sangue lhe subiu a cabeça ele fez a primeira coisa que pensou; que queria acabar com aquele frutinha.

Sentou na primeira cadeira vazia que viu perto da janela de vidro ampla e grande. Não tinha ninguém a sua frente ou atrás de si, o que ele agradecia. Como agora era aula teórica de fotografia a maioria do pessoal chegava atrasado sempre.

Ele olhou para sua mão direita, a qual tinha desferido o soco em Chay, ela estava um pouco vermelha e com um inchaço de nada, mas ele podia sentir sua articulação doendo e toda vez que tentava usar a mão direita ela começava a tremer. Talvez devesse ter tratado disso antes de vir para a aula, mas agora não tinha mais importância.

O sinal tocou alto e os alunos começaram a entrar aos poucos, junto com a professora. Que trajava mais um de seus kimonos da era medieval de seda pura, na cor vermelho com estampas de rosas negras, junto com seu cabelo preto em um lindo e impecável coque.

Kurenai-sensei, sempre chamando atenção, pensou, olhando para ela por alguns segundos, até porque a presença dela na sala não poderia ser ignorada, sua presença transmitia tranquilidade e vivacidade. Ela realmente parecia uma gueixa, e olha que a pele alva que ela mostrava era dela mesma, sem uma grama de pó de arroz, só seu habitual batom cereja nos lábios.

– Muito bem, vamos começar a aula de hoje - disse ela indo para sua mesa. Sua voz parecia o som de violinos sendo tocados, não tinha como não se sentir bem ali. - Parece que nem todos estão presentes na sala - deu uma rápida olhada volta. - Tudo bem, os acho depois. Mas hoje não teremos aula teórica, decidi fazer uma coisa diferente. Todos vocês vão sair pelo campus e tirar fotos da paisagem. Quero que vocês treinem o que eu ensinei aula passada. Luz e sombra. Nada melhor do que fazer na prática em um dia lindo como esse.

Kurenai tirou sua atenção da sala e voltou seus olhos castanho-avermelhados para uma folha que estava em cima da mesa, pegou-a em mãos e a analisou antes de voltar a falar.

- Vocês vão se dividir em duplas para essa tarefa. Para facilitar o trabalho de todos, já dividi a turma toda. Vou colar a lista no mural ao lado da porta, antes de sair dêem uma olhada, peguem seus parceiros e na próxima aula quero as fotos reveladas.

Assim que ela colocou a folha cor-de-rosa no painel, junto com fotos de monumentos do mundo todo, todos os alunos ficaram eufóricos e foram se amontoando em volta do painel para ver seus parceiros. Todos, menos Sasuke, que continuou sentado com uma carranca de muito poucos amigos.

Depois da maioria das pessoas se dissiparem, ele empurrou a cadeira para trás de si e se levantou, andando até o mural, sem vontade nenhuma. Provavelmente seu parceiro ou parceira não estava na sala, ao contrário estaria ali o esperando. Que maravilha, um atrasado, pensou.

Chegou perto da folha e procurou seu nome ali. Seus olhos negros varreram todos os nomes, até eles pararem em dois nomes, um era o dele o outro era...

- Puta merda! Só faltava mais essa! - praguejou de ódio. Não era possível que Kurenai saiba disso e tenha feito isso de propósito, certo? Mas ele não ligava realmente para isso. E sequer seu parceiro estava ali.

Voltou-se para a sua mesa e pegou sua mochila surrada preta com pequenas nuvens vermelhas.

Sasuke decidiu ir para o mais longe possível que fosse de tudo e todos. O que o levou até um riacho de água verde
cristalina. Ele se sentou em uma grande pedra perto da margem e olhou para toda aquela linda paisagem em volta; o riacho que corria baixinho, as árvores de cerejeira emoldurando tudo em volta e mais ao fundo as montanhas. Abriu a mochila e pegou sua máquina preferida, a mais antiga que tinha; uma daquelas que você tira a foto e ela revela na hora. E o melhor de tudo, aquela câmera fora herança de seu avô.

Começou a fotografar toda a paisagem, que não poderia ser mais perfeita que aquilo.

Mas depois de um tempo sentiu que não estava mais sozinho, que alguém estava o observando e não de muito longe. Tirou o olho do visor da câmera e olhou ao seu redor, até ver uma figura atrás de uma árvore a uns sessenta e cinco centímetros.

- Já te vi. Saia daí - falou um pouco alto para a pessoa ouvir, que no mesmo instante deu um pulo de susto.

Não se importando mais com a pessoa ele voltou sua atenção para seu trabalho, enquanto aquela figura marchava até ele. Sasuke continuou tirando uma foto atrás da outra, pegando a fotografia balançando e colocando-a de lado, vendo a melhor paisagem, a melhor posição, medindo a luz e sombra, tudo. Tentou ignorar quando sentiu que alguém se sentava ao seu lado, mas não conseguia fingir.

– Você se esconde muito mal. Nem sei por que fez isso. Posso não ser muito sociável, mas não mordo nem vou te matar. - Observou ele, tentando ser menos anti-social. Mas aquilo saiu mais como uma bronca e a pessoa se encolheu um pouco.

Ela não respondeu, mas encostou alguma coisa muito gelada na mão do moreno, que no mesmo segundo parou o que estava fazendo, meio surpreso, e olhou a primeira vez para ela.

- Vai se sentir melhor quando sua mão desinchar um pouco - colocou um saco de gelo em cima da mão que ele havia dado o soco. Virou o rosto, tentando evitar que ele visse suas bochechas corarem pouco a pouco.

- Hum. Obrigada - colocou a câmera de volta na mochila ainda aberta e pressionou o saco de gelo no inchaço. - Como você sabia que minha mão estava inchada? Você nem estava na sala. - Olhou diretamente para ela, que evitou contato direto com os olhos ônix do garoto.

– Por acaso Hinata estava andando com Karin, antes de ela esbarrar no garoto novo, que Hinata acha que se chama Chay alguma coisa. Ela começou a conversar com ele e esquece-se de Hinata um pouco mais atrás dela.
Às vezes Hinata sabe como ser invisível de vez em quando - deu um meio
sorriso, olhando para a sapatinha preta.

- Você viu tudo que aconteceu? - perguntou meio surpreso. Ela assentiu afirmadamente. - Então, o que aquele frutinha é da Karin? - perguntou, sem encobrir sua curiosidade.

- Pelo que Hinata ouviu, ele é amigo de infância dela e não parecia assim tão feliz em vê-la, depois de uma curta conversa, a Karin o abraçou meio que chorando ao mesmo tempo. Mas Hinata acha que o tal do Chay alguma coisa não gosta muito dela não.

Hinata colocou uma mecha de seu cabelo preto-azulado atrás da orelha, ao mesmo tempo em que tirava um fiapo de costura solta de seu uniforme.

- Hinata acha que Sasuke se precipitou no que fez. Hinata não sabe muito bem o motivo de você ter dado um soco no pobre, mas parece que ele não fez nada para isso. - ela olhou no rosto dele, que parecia meio contorcido de arrependimento. - M-mas Hinata não esta aqui para dar palpites na vida de ninguém, só para fazer o trabalho - disse sobressalta, voltando a encarar as mãos que ela mexia nervosamente.

Eles ficaram em silêncio; Sasuke ainda pressionado o gelo na mão, olhando-a ao mesmo tempo e pensando no que ela tinha dito, enquanto ela remexia nervosamente em sua bolsa roxa, que parecia caber um corpo lá dentro de tão grande, procurando sua máquina fotográfica.

Ele estudou-a mais um pouco. Hinata era linda de todo o jeito, com seus longos cabelos lisos preto-azulados que caiam pelas costas como cascata, os olhos perolados gentis e infantis, sua pele braça como porcelana e seu corpo muito bem desenhado, com curvas avantajadas que o uniforme azul e preto valorizava. Uma garota estranha que trata a si mesma na terceira pessoa e fica sem graça com facilidade.

Deixando de lado sua beleza, que ele tinha certeza que muitos rapazes se derretiam só para ver um sorriso naqueles lábios rosados e meio cheios dela. Ele sabia que ela tinha razão, ainda mais depois do que tinha falado. Chay era amigo de infância de Karin e ele não parecia gostar tanto assim dela. Será que me precipitei?, pensou ele sem ter certeza.

– Você não precisava ter trazido esse saco de gelo. Não somos amigos nem nada assim, mas se é por causa de domingo, esqueça - ele pegou a bolsa de gelo e inclinou-a para devolver para ela. Hinata parecia magoada pelas palavras do garoto, mas recusou pegar o saco de gelo.

- Nã-não tem nada a ver com domingo. Eu não esperava que o jovem Uchiha tratasse Hinata bem por causa daquilo, Hinata nunca esperou isso. Mas Hinata achou que tinham te avisado sobre, bem, sobre aquilo.

- Não. Ninguém me avisou de nada, só disseram que me queriam em casa. - Sasuke fechou a mão e colocou a bolsa de gelo novamente nela pressionando o gelo com mais força e soltou um suspiro de dor quando constatou que o gelo tinha adormecido por completo sua articulação. - Eu só... não queria, sabe, não é justo - ele olhou para a garota ao seu lado, que estava com um expressão de tristeza no olhar. - Quero dizer, não que você não seja bonita, você é. Mas eu só não... - desistiu de continuar a falar e deixou que seu olhar se perdesse entre a água do riacho.

– Hinata entende muito bem, jovem Uchiha. Não é como se ela quisesse isso também, mas por hora Hinata e o jovem Uchiha não podem fazer nada quanto a isso, só se dar bem. Como Hinata disse o jovem Uchiha não precisa tratar Hinata bem só por causa do que seu pai e o avô dela fizeram a nossa custa.

- Não posso tratar mal quem não fez nada para mim.

- Jura? - ela levantou uma sobrancelha que a franja reta desfiada cobriu por completo. - Então Hinata acha que você
deveria dizer isso para o tal de Chay alguma coisa. Ele pode ficar chateado pelo soco, que pelo que Hinata acha, é por causa da Karin.

Ele olhou-a meio surpreso. É claro que ela sabia o motivo da briga, ele mesmo tinha falado antes de dar o soco e qual outro motivo dois garotos brigariam depois da garota se agarrar como uma macaca no pescoço do outro? Mas isso não deixava de ser estranho, Hinata era, bem, suas famílias fizeram ser o que eles são agora, e mesmo assim ela parecia torcer para que ele ficasse com a amiga dela.

– Hinata vai te ajudar no que conseguir. Mas ela já avisa, Karin não é a pessoa que você pensa que é, mas isso o jovem Uchiha tem que descobrir sozinho - deu um sorriso meio envergonhado para o garoto, que não conseguiu não corar com o ato. Ela realmente é linda, a jovem Hyuuga, dona do legado de lutadores da sua academia de artes marciais, junto com seu primo.

Sasuke tirou o gelo da mão para verificar o inchaço, que agora já diminuirá por completo e sua pele estava meio azulada de tão congelada que estava. Não iria conseguir fazer movimentos com aquela mão, pelo menos não agora.

- Não se preocupe, pode descansar sua mão. Hinata tira o resto das fotos agora - ela pegou a máquina das mãos, que era muito mais moderna que a dele, uma máquina profissional.

Os dois estavam no pequeno quarto para revelar as fotos que Hinata tirou. A lâmpada meio avermelhada não ajudava a visualizar muita coisa um do outro, mas dava para ver perfeitamente as fotos, que ele tinha que admitir, ela tinha um senso de foco, luz e sombra muito perfeitos.

     Eles não falaram mais nada um com outro. Mesmo que tivesse assuntos para tratar, ele não queria falar, queria apagar aquilo, anular de alguma forma. Mas não podia, nada podia mudar o que estava feito.

     - O jovem Uchiha deve gostar muito da Karin, não é? - perguntou ela sem pensar.

     Sasuke olhou-a confuso, mas não respondeu de imediato.

     - D-desculpe. Estou pergunta coisas que não são do meu interesse novamente. - Mergulhou a foto no liquido da bacia e pendurou-a no varal acima da sua cabeça.

     - Você gosta de alguém, Hyuuga?

     Ela quase deixou a foto de mãos cair novamente na bacia de tão sem jeito que ficou. Ela podia ficar com vergonha às vezes do que perguntava, e dava graças pela luz do quarto ser vermelham assim disfarçava suas bochechas ruborizadas, mas parecia que nada deixava aquele rapaz sem graça.

    Sasuke ficou esperando, ao contrário dela, ele gostava de receber respostas claras e objetivas.

    - Nã-não é bem gostar, mas tenho uma pessoa que observo há um tempo. Ma-mas não é nada de mais - ficou mais corada ainda, para disfarçar virou o rosto para o outro lado.

    - Então você deve entender se outra pessoa viesse e tentasse tirar a pessoa que você gosta de você - foi só o que ele disse.

    Os dois continuaram seu trabalho, sem incomodar um ao outro. Sasuke se contentava com a resposta que ganhou, não iria mais perguntar nada a ela.

    - Essa foi à última - informou Hinata, colando a última foto no varal quase cheio. - Quando estiver prontas eu venho buscá-las e amanhã podemos mostrar a Kurenai-sensei.

O sinal tocou, informando o encerramento da aula. Eles tinham exatamente quinze minutos para a próxima começar. Assim arrumaram o pequeno quarto, se é que era possível, já que se fizessem muitos movimentos bruscos poderiam se bater e isso era tudo que Hinata queria evitar.

    - Pense no que Hinata disse sobre o Chay alguma coisa, jovem Uchiha. Sei que Hinata não é sua amiga nem nada, mas ela vai tentar fazer o que puder em relação à Karin.

    - Não precisa. Vou me resolver com o Chay - ele deu para ela o que pareceu um sorriso, mas ela não estava muito certa sobre aquilo. - Até, Hyuuga - ele acenou com a cabeça, meio que uma despedida sem jeito e deu as costas para a garota.

- Jovem Uchiha - chamou-o novamente, que a olhou sob os ombros largos. - Não precisa chamar Hinata pelo sobrenome, ela é sua amiga, se quiser. Não é porque que Hinata é sua, ah, noiva, que não pode ser sua amiga, certo?

    - Hum, se você fala.

    Foi só isso que ele falou e voltou a andar para sua aula de história da arte. Hinata não sabia se aquilo era um sim ou não, mas ficou feliz do mesmo jeito. Tinha falado com ele, tinha ajudado ele, e só aquilo já a deixava contente, tão contente que seu coração poderia sair pela boca de tão acelerado que estava.

    Sasuke prometeu que iria se resolver com Chay, ele sabia que agora eles tinham que conversar, por os pratos a limpo, mas o moreno nunca foi bom nisso. E se Chay não quisesse mais falar com ele por causa do soco? Se ele não o ajudasse com Karin? O que ele iria fazer agora?