Sonhos Distorcidos escrita por Marie Lolita


Capítulo 7
Capítulo 6 - Dando um ‘oi’ para o passado


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, estava travada e não consegia escrever o cap. Até recebi uma mensagem perguntando se tinha desistido da fic, claro que não. Mas obrigada pela msg



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/208758/chapter/7

Seu coração estava quase pulando pela boca. Tinha mesmo falado com ele como ela mesma. Estava tão feliz que não se importou em voltar para o quarto vestida como garota. Fechou a porta atrás de si, encostando as costas na madeira e respirando fundo.

- Isso aconteceu de verdade? – perguntou para si em êxtase.

Tirou as botas, largando-as no chão, jogou a mochila nos pés da cama, logo em seguida jogou-se na cama de bruços, dando um grito abafado pelo travesseiro.

Virou-se, encarando o teto. Meu Deus!, pensou, colocando um sorriso enorme nos lábios.

A porta do banheiro foi aberta, dali saiu um moreno usando somente uma calça jeans preta, uma toalha em volta do pescoço que secava o cabelo molhado.

- Quem é você? – perguntou corando, estava com vergonha de estar assim na frente da desconhecida, que assim que o viu, sentou-se na cama e parecia estudar o corpo dele com os olhos.

Ainda havia pequenas gotículas de água escorrendo pelo seu tórax e tanquinho muito bem definido. O vapor que saia pela porta do banheiro fazia a imagem ficar mais surreal e atraente. Sakura ficou com vontade de tocar naqueles músculos para saber se eram de verdade e se eram tão bem definidos como aparentavam.

- E-eu... - começou a gaguejar e perdendo seu olhar naqueles músculos. Só então seu olhar se encontrou com o do rapaz, que estava com o rosto com muita vergonha, mas parecia se vangloriar pela visão que proporcionava a ela. - Acho que errei de quarto – levantou-se da cama depois de alguns segundos. Seu rosto estava carmim. Estava mesmo vermelha por estar vendo-o sem camisa e um pouco molhado do banho recém tomado? Tarada!

Pegou a bolsa rapidamente e as botas com uma mão só.

- Desculpe pelo erro. Já estou indo – apressou-se para sair. Por Deus. Estava morrendo de vergonha dele. Da qual não tinha quando era Chay, pelo menos não tanto.

Bateu a porta com toda força que tinha.

Tinha se esquecido que ele voltava no domingo à noite. Tinha que achar um lugar para se trocar o mais rápido possível.

Sasuke ficou sem entender nada. Como ela havia errado de quarto na ala masculina? E a pergunta que não saia da sua cabeça... Como tinha entrado com a porta fechada? Garota estranha, com cor de cabelo estranha. Tinha alguém normal naquela academia?

Depois de vinte e cinco minutos vagando pelos cantos, sem saber onde poderia se trocar; achou o vestiário masculino vazio. Não pensou duas vezes, tratou de se trocar ali mesmo.


***


- Onde você estava? – perguntou Sasuke assim que a viu fechar a porta.

- Agora isso te importa? Que surpresa – deitou-se em sua cama, chutando a mochila para de baixo da cama.

Sasuke deixou o controle do videogame e ficou sentado no puff o observando.

- É. Realmente isso não me interessa, nem sei por que perguntei.

Levantou-se, pegando uma pequena bolsa cinza. Foi até Sakura e despejou o conteúdo em cima dela. Muitos envelopes de cartas, de todas as cores.

- O que é isso? – perguntou, tirando um monte de cartas do rosto.

- Não sei. Cheguei e isso estava na frente da porta.

- Mina. Cherry. Saya – olhou alguns remetentes nos envelopes. – Eu não conheço essas garotas. Por que mandariam cartas para mim? – olhou sem entender. Queria uma resposta, mas ele ainda estava sem camisa, mostrando os braços e o abdômen definido. Disfarçadamente, agora com a pele queimando, voltou seus olhos para os envelopes em cima dela.

- Não pergunte para mim. Não são para o Sasuke, e sim para você, frutinha com hemorragia nasal. – Voltou a se jogar nos puffs, pegando o controle e despausando o jogo, que parecia ser de luta, Stree Fight talvez. – Meu palpite é que seja por causa da sua repentina fama de garanhão romântico. Três ex de uma vez. Nossa.

Até ele já sabia. Talvez ele esteja certo. Poderia ser por causa disso. A maioria das garotas que tinha visto hoje a olhava com olhares derretidos, admiráveis ou algo bem próximo disso. Isso era de fato estranho. Ter garotas se jogando e disputando sua atenção. Talvez se fosse um garoto gostaria dessa atenção, mas não era, então, eca! Se bem que o Sasori não gostava disso...

“(...) Não sou muito de conversar com garotas.”

“(...) É ter uma conversa normal, sem a garota se jogar em cima de mim ou usar a palavra ‘príncipe’ para falar comigo. Ou seja, uma conversa normal.”

Era isso que ele tinha falado na ponte enquanto conversavam. Talvez ele não seja gay, mesmo ainda desconfiando – poderia ser bissexual?! –, o ruivo pode ser apenas tímido, o que é estranho para uma pessoa popular.

- Soube que deu o fora nas três de uma vez. E também que é um idiota, pois fiquei sabendo que as três eram muito gatas. Alias, achava que você já tinha uma namorada – disse sem olhá-la, continuou vidrado em derrotar seu oponente.

- Eu disse no primeiro dia, ela não é minha namorada e sim minha amiga. E isso não se trata de ser idiota ou não, ou delas serem gatas ou não. Apenas não posso ficar com nenhuma delas se gostou de outra pessoa – voltou sua atenção para as cartas, abrindo e lendo alguns parágrafos. Elas eram bem energéticas, tantas cartas, mas com o mesmo sentido; falando o quanto ele era bonito, gentil, romântico, e sempre no final, a declaração e um pedido de namoro ou encontro.

- Ainda acho você um frutinha, só que agora numa proporção menor. Mas não esqueci aquilo que você guarda no criado-mudo.

Droga! Ele não ira esquecer os absorvente? Maldito!

- Como sua namorada te aguenta com essas atitudes? – Perguntou sem muito interesse. Droga. Tinha tantas cartas para responder de uma vez. Adeus pulso.

Ele nada respondeu no primeiro momento. O único som que se ouvia era o da luta na TV e depois o narrador dizendo “Game Over”.

- Você não tem NAMORADA? – aquilo a chocou, e muito. Claro que ele é um idiota, tapado, grosso, um glosau (o que é isso mesmo? Sei lá, tanto faz. Ele é isso ai também). Mas ele é bonito, isso não poderia negar e com aquele abdômen, o tanquinho... Cala boca mente pervertida, se repreendeu.

- N-não seja tapado. Claro que tenho uma – continuou a olhar para a tevê, agora escolhendo um novo jogador para a próxima luta.

- Não. Você não tem. Quem diria, Uchiha Sasuke um encalhado – zombou, sentando-se na cama. – Até eu, um frutinha, como você diz, tenho declarações e pedidos de namoro – gabou-se mostrando as muitas cartas na cama. Dando logo depois a famosa risada maléfica de um vilão escroto. – Sou mais popular que você.

Ela sabia que parecia uma idiota total falando isso. E nunca foi de menosprezar ninguém ou jogar suas conquistas na cara de ninguém também. Mas com ele era diferente. Quando estava perto do moreno, parecia que ele despertava o pior dentro dela. Seu monstrinho interior, por assim dizer.

Sasuke jogou o console no chão, sem se dar o trabalho de pausar a luta. Foi apressadamente para o banheiro, onde se trancou.

Acho que exagerei, pensou. E a graça já tinha se esvaído. Como tinha sido má com ele. Ela não era assim, nunca foi. Sasuke não merecia. Também era um garoto, uma pessoa. Ela não gostava quando ele a chama de frutinha, ainda mais, frutinha com hemorragia nasal maluca, tanto que fez o que fez para mudar a visam de todos perante ela, então, com Sasuke não poderia ser diferente. Ele também se importava.

Sakura pensou e pensou em alguma forma de reverter àquela situação chata que ela mesma havia se colocado. É isso! Já tinha a resposta na cabeça.

Alguns minutos se passaram até ele sair do banheiro. Assim que saiu nem olhou para ela, voltou para seu jogo.

- Ei Sasuke – o chamou, com esperanças de chamar sua atenção, mas ele não se virou. Tudo bem. Continue. – Você deve gostar de alguém. Me conte. Posso te ajudar.

- Por que eu contaria isso para você e precisaria da ajuda de um frutinha?

Maldito! Vou arrancar sua cabeça do pescoço. Isso serve como ajuda? Entendi porque não tem uma namorada, porque ele é um panaca e nem com toda a beleza do mundo da pra mudar isso.

Queria muito voar no pescoço dele ou lhe aplicar um golpe de luta, até jogá-lo pela varanda estava servindo, mas tinha provocado toda essa situação, agora tinha de resolver. Forçou um sorriso, bem do falso.

- Só quero te ajudar. E acho que entendo melhor as mulheres do que você, não acha?

Ele ponderou com aquilo. O frutinha tinha razão. Ele parecia conhecer melhor as garotas, que para os homens são seres incompreensíveis. Talvez pudesse ajudar em alguma coisa. Pior que esta não poderia pior.

- Amanhã te mostro quem é. – Ela ficou mais tranquila. Ele parecia mais calmo. – Se não me ajudar, vou falar para todos, sua tara por aqueles tal de absorventes – falou com nojo.

- Não é tara. É por causa da minha hemorragia. Seu idiota!


***


O celular começou a tocar as três da madrugada. Sakura atendeu de má vontade. Colocou no ouvido, sem ao menos ver o número.

- Que merda frutinha. Desliga essa porra. Eu quero dormir – jogou um travesseiro no rosto dele, se virou para o outro lado e voltou a roncar.

- Alô? – falou ainda sonolenta, não esquecendo a voz masculina.

- Sakura? Por que essa voz?

Eita babo!, pensou acordando, deu um pulo da cama, correndo até o banheiro e se trancando. Sentou-se na beira da banheira, um pouco mais tranquila.

- Estou um pouco resfriada – voltou a sua voz normal, mas um pouco sussurrante. Não podia acordar o cão do Sasuke novamente.

- Por que demorou a responder?

- Estava na sala, subi para meu quarto para não acordar a mamãe. Por que esta ligando a essa hora? Por acaso sabe que horas são?

- Foi mal. Esqueci o fuso horário. Aqui ainda é de tarde.

Ele não havia mudado. É tão bom ouvi-lo, mesmo pelo telefone. Pode até soar melancólico, mas Chay é tudo que ela tem; ficar sem ele é doloroso.

- Como está ai em Tóquio?

- Tudo ótimo. A cidade é enorme. Nunca para. Foi difícil me acostumar com ela na primeira semana, mas agora me sinto parte da cidade.

- E o trabalho?

- Ótimo. Por enquanto vou ser assistente, mas estou feliz, eu gosto do mangá.

- Qual?

- Death Note

- AHHHH! MEU DEUS! DEATH NOTE! – Gritou. Esquecendo que tinha que fazer silêncio.

- CALA BOCA! – Gritou Sasuke, resmungando.

- Quem gritou?

- O vizinho. Sabe como é o senhor Nizumura, ele odeia gritaria.

Os dois riram juntos. Conversaram sobre mais algumas banalidades e, principalmente, do novo trabalho e a sua rotina.

- O que você fez com a academia? – ela não queria que ele fizesse essa pergunta, mas sabia que mais cedo ou tarde ele iria fazer. Inevitável, pensou.

- Dei meu jeito. Não se preocupe, quando você voltar ela estará esperando por você.

- Você é demais, sabia disso?

- Claro que sim – disse toda convencida.

- Convencida – brincou. – Já foi para a tal Academia de Miss? – disse imitando o jeito mesquinho de a mãe pronunciar as palavras.

- Não. Ainda falta um pouco para começar. “O inferno tarda a começar, mas é uma eternidade para acabar,” já dizia algum filosofo da vida.

- Mentirosa. Você acabou de inventar isso. Mas tem razão. Não se esqueça de me mandar à foto da primeira que você arrebentar.

- Com certeza. Ainda vou fazer um V de vitoria com os dedos e dar um sorriso de orelha a orelha.

Quando Sakura desligou o telefone já era quase cinco da manhã. Estava morrendo de sono, se sentia uma zumbi. Mesmo válido a pena, iria acordar as sete. Oh, desgraça!

Um zumbi atropelado. Era assim que ela se sentia e se via no espelho. Mas ainda tinha um dia longo para enfrentar pela frente. Colocou o uniforme rapidamente e tratou de fazer o que fazia todas as manhãs; transformar-se em Chay.

- Você acorda muito cedo – observou Sasuke, terminado de arrumar a cama.

Claro que tenho que acordar cedo. Tenho que usar o banheiro primeiro que você, idiota! Para que não me descubra.

– Gosto de acordar cedo. Me ajuda a planejar o dia – deu as costas indo arrumar sua própria cama.

- Esqueci de te falar – disse encaminhando-se para o banheiro, parando na soleira da porta – ontem entrou uma louca aqui. Você deu a chave para alguém ou fez uma festinha particular no sábado? – perguntou, gotejando malícia em cada palavra.

- N-não. Por quê? – ficou corada. Será que ele tinha percebido a semelhança da louca, digo, dela e de mim?

- Não sei como ela conseguiu entrar, com a porta fechada, e depois disse que tinha entrado no quarto errado. Acho que deve ser uma admiradora louca sua.

- É, deve ser isso.

- Garotas são malucas – falou por fim, entrando no banheiro.

E você é idiota, pensou mostrando a língua para a porta de madeira que se fechava.

Antes de sair deu uma conferida na mochila, para ver se todo o material para o primeiro tempo estava ali e se sua pasta com todos os desenhos também se encontrava lá dentro. Tudo certo.

Sasuke foi com ela até refeitório para tomar café, dizendo que iria mostrar a tal garota que ele está a fim. Pegaram as bandejas, ela decidiu pegar, suco de laranja, um pedaço de bolo de chocolate com cobertura extra de chocolate, uma tigela de frutas com chocolate com cobertura e quatro barras de cereal, de chocolate.

- Você como muito chocolate. Parece uma garota – disse o moreno.

- É carboidrato. Gosto. Não aceito que alguém que só pegue uma tigela de arroz e chá de ervas silvestre reclame do meu café – olhou para a bandeja dele, quase fazia.

Sentaram-se em uma mesa de concreto vazia, no pátio, mas com muitas pessoas nas outras mesas. Sakura não via Ino, muito menos Sai por ali, o que era estranho. Tudo bem, tinha que resolver isso de uma vez.

- Então, quem é? – perguntou de uma vez, com a boca cheia de bolo. Odiava fazer rodeios.

Os olhos ônix de Sasuke vagaram pelo recinto, procurando a garota.

Ele até que é bonito, pensou. No segundo seguinte reprimiu o pensamento. Credo Sakura! A gente esta falando do Sasuke. Lembra-se? O que chama de frutinha com hemorragia nasal?

Não sabia o que estava lhe dando. Talvez fosse muito tempo exposta com garotos. Sim, era isso. Estava mexendo com sua cabeça

- Achei – falou, dando um meio sorriso e ficando corado. – Ela está ali, junto com aquelas outras meninas – apontou.

Olhou para onde ele apontava. Ali, estava um grupo com cinco garotas; três loiras, uma com cabelo preto-azulado e a que mais se destacava das outras, uma ruiva.

- Qual delas? – perguntou, ainda encarando elas.

- A ruiva. Se chama Karin, estuda moda, junto com as outras três, menos a de cabelo preto, ela faz fotografia.

- Fez a lição de casa garoto. Parabéns. Vai levar um dez da professora – zombou, dando um sorriso divertido, depois voltou a olhar as cinco meninas.

Karin? Esse nome não lhe é estranho. Será que conhecia? Se conhecia as coisas ficavam mais fácies para ele. Meio caminho andado.

- Não consigo vê-la muito bem, está de costas para a gente. A gente deveria... – foi interrompida pelo movimento do moreno. – Aonde você vai? – perguntou, vendo-o se levantar, levando a bandeja junto.

- Seu amigo esta vindo. Não quero dividir a mesa com seus amigos esquisitos, já basta você. Na hora do almoço eu procuro você. – Dizendo isso, deu as costas, entrando para o refeitório.

Sai sentou-se, no lugar onde Sasuke estava há segundos atrás. Ele parecia bem alegre essa manhã, diferente de sexta-feira passada.

- Bom dia. Ao que devo toda essa alegria?

- Consegui fazer o trabalho. Achei minha inspiração.

- Que bom. Disse que se procurasse mais um pouco iria achar. O que é? Pessoa ou objeto? – perguntou compartilhando a mesma felicidade dele. Tinha ficado preocupada sem saber se ele tinha achado ou não.

- Pessoa. Sei que não iria usar, mas assim que a vi, tive que desenhar.

- Hum. Uma garota. Quem é?

- Não sei. Nunca a vi, nem conversei com ela.

- Então pare de enrolar. Mostre-me de uma vez.

Ele abriu a mochila. Pegando de lá um grosso bloco de folhas. Entregou a ela, que começou a ver, estudando todo o desenho.

Era uma garota, estava de noite, isso estava claro por causa do carvão bem escuro no céu, ela estava sentada no corrimão de uma ponte, desenhando ou olhando um caderno. Espera. Ela sou EU. Por Deus. Eu sou a modelo dele. Ele me viu ontem.

A felicidade tinha se evaporado, dando ar a medo e constrangimento.

- Não está bom? – perguntou Sai, com medo que estivesse tão ruim assim. O sorriso do rosto do amigo tinha sumido e agora a cara era de pânico.

- Não. Não é isso. Está muito lindo – entregou o bloco de folhas de volta para ele. – Quando você a viu?

- Ontem de noite, na ponte entre o bosque e o campo de flores. Você tinha que ver. Nunca vi uma garota tão linda como aquela. O cabelo dela é rosa, os olhos, se não me engano, eram verdes, parecido com os seus – apontou para ela, que congelou. – Não estava tão perto para vê-la, mas pude sentir que a conhecia de algum lugar.

- Sei como é. Até eu sinto que a conheço de algum lugar.

- Jura? Qual curso será que ela estuda? Aposto que um com desenho, deve ser moda, ou, não sei, música.

Ele estava muito empolgado com a estranha, mal sabia ou percebia que sua musa estava a sua frente.

- Eu quero encontrá-la mais uma vez, tenho que falar com ela e chamá-la para sair.

- Realmente gostou dela – observou, dando um sorriso amarelo.

Que complicado. As coisas estão piorando ao invés de molharem para mim. Oh, força maior, mande um raio na minha cabeça, eu imploro.

– Não só gostei. Mas acho que posso começar a gostar de verdade.

- Opa. Calma lá, garanhão. Você não a conhece, nem sabe o nome, não seja afobado com isso. Espere para vê-la mais uma vez e conversarem – Não acredito que estou dando conselhos para ele chegar em mim.

– Tem razão. Tenho que encontrá-la, e você vai me ajudar – olhou, com olhinhos brilhantes e pidões. – Por favor. – suplicou.

- Tudo bem – murmurou derrotada, dando um longo suspiro. Tinha que aprender a dizer não a olhos pidões e brilhantes.

Como posso ajudá-lo a me procurar? Complicado.

***

- Ino. O que você sabe sobre uma tal de Karin? – esse assunto não tinha saído da cabeça dela o primeiro período inteiro, Tsunade, professora de arte contemporânea e desenhos humanísticos, teve que jogar um pincel na cara dela para chamar a atenção.

A loira estreitou os olhos, parecendo uma gata furiosa.

- Karin? O que você quer com aquela ruiva de farmácia?

Eita. Fero. Ela deve ter uma richa com essa garota. Não vou conseguir nada falando com ela.

– Eu não quero nada. Uma pessoa me pediu ajuda para ficar com ela.

- Diz para essa pessoa que ela é uma tremenda vaca. Pronto. Acabou. – Começou a andar mais rápido, com passos pesados. Nunca cutuque a onça com a vara curta, era isso que pensava a respeito do assunto que tinha perguntado a ela.

- Não posso chegar à pessoa e dizer: “Olha, a garota que você gosta é uma vaca. Esquece ela”. Tá louca. Nunca irei falar isso para ele.

- Então diz quem é que eu mesma vou e falo.

- Não. Por que toda essa raiva?

- Por quê? Por que ela me pergunta – bufou de raiva, virando-se para ele, parando de andar. – Porque, querida, ela é minha rival desde a nona serie. Sempre tentando me superar. Tentando ser melhor que eu. Ela não é melhor que eu só porque o vestido dela tem mais tule ou brilho que o meu. Eu vou dizer para você, ela não passa de uma copia mal feita de mim e uma cobra. Tenha cuidado com ela Sakura, é só o que digo – saiu andando depois disso. Essa que é a famosa saída dramática? Bem, não importava se era ou não, ela foi embora furiosa e deixou-a sozinha.

- Povo louco dessa academia.

Começou a andar, distraidamente, voltando para a sala de aula, tinha que achar Sai, para irem para a próxima aula, a aula que tinham que mostrar e apresentar seus desenhos. Ainda não acreditava que ela era a musa dele.

Perdida em seus pensamentos, nem percebeu que outra pessoa vinha na mesma direção que ela, e também não prestava atenção, ela desenhava algumas roupas. As duas só se perceberam assim que trombaram.

- D-desculpe – disseram em uníssono. Depois riram.

A garota a sua frente lembrava muito a ruiva que vira só de costas de manhã.

- Estava tão distraído pensando que acabei não te vendo. Foi mal.

- Tudo bem. Eu também não estava prestando atenção. Estava desenhando – mostrou o caderno com alguns rabiscos e algumas roupas desenhadas. Belo traço. – Sou Karin – estendeu a mão livre para ela.

- Chay. Haruno Chay – apertou no mesmo instante.

A garota ruiva arregalou os olhos vermelhos – cor incomum –, da mesma cor do cabelo.

- Chay? Aquele que estudava na Kanon High School, em Konoha City e tinha o sonho de ser artista, esse Chay?

Ela ficou impressionada. A garota sabia muita coisa sobre o irmão da mesma. O que isso significa? Que eles eram amigos? Talvez respondesse o sentimento de familiaridade que sentia. Mas todo amigo de Chay era seu amigo também, não tinha como esquecer ela.

- Acho que não se lembra de mim. Também faz tanto tempo. Não me surpreenderia – deu um suspiro, desapertando as mãos. – Quando a gente era criança eu era sua vizinha. Brincávamos todos os dias. Eu adorava te vestir, principalmente de garota, você ficava tão fofinho naqueles vestidos rodados. Mas isso foi até a gente chegar à adolescência e eu me mudar. Lembra agora?

Claro que lembrava. Ela é a Karin bruxa. A vizinha deles quando crianças. Uma falsa, duas caras. Por causa dela brigou inúmeras vezes com Chay contando que ela a odiava e que sempre tentava excluí-la para ficar sozinha com ele. Para ficar com Chay todinho para ela.

Ela se lembrava que no aniversário de doze anos, quando iria apagar as velas, “misteriosamente” seu rosto foi de encontro ao bolo, e ela estava ao seu lado, com aquela cara de inocente falsa, mas no fundo estava dando um sorriso de escárnio. E teve a outra vez, quando tinha quase treze e era muito apaixonada pelo garoto mais bonito do fundamental todo, escrevia todos os dias no diário sobre ele, até seu diário sumir e no outro dia as páginas dele estarem por todas as paredes do colégio. Ninguém nunca acreditou que ela havia feito essas barbaridades, mas ela sabia, como todas as letras, Karin nunca gostou dela.

- Claro que lembro. Como poderia esquecer. Éramos melhores amigos.

Sorriu e deu um abraço apertado em Sakura, que com muita força interior aguentou e retribuiu. Não poderia deixar o sangue subir a cabeça. Chay gostava dela, mas Sakura não.

- Como anda sua irmã? Sinto tanta falta dela – mentiu, dando um sorriso falso, depois de se separar dela.

- Muito bem. Ela também fala bastante de você.

- A gente se divertia muito. Nós três.

- É. Muito.

Não acreditava que Sasuke gostava justamente dessa bruxa. Justamente ela entre tantas garotas. Ino tinha razão. Não poderia confiar nela, mas tinha prometido ajudar o moreno, mesmo sendo um castigo muito grande namorar a ruiva, até para o Sasuke.

- Desculpe pelo que eu disse antes de ir embora – disse corando e apertando o caderno contra o peito.

- O que você disse antes de ir embora? – Franziu a testa sem entender.

O que ela tinha dito a ele?

- Você não se lembra? Entendo – baixou os olhos, triste. – Eu prometi que iria esquecer, mas não consegui. Desculpe.

Agora estava preocupada, mas não poderia perguntar, ou ficaria muito na cara.

- Tudo bem. Eu também não esqueci.

- Não esqueceu? Jura? – os olhos dela começaram a brilhar.

Acho que fiz merda, pensou receosa.

- É.

Ela abraçou-a fortemente.

- Eu achei que tinha visto coisas no começo da semana passada. Achei que tinha visto a Sakura andando pelo bosque, até fiz a nossa brincadeira de antigamente – declarou com a cabeça no peito dela, algo começou a molhar a blusa do uniforme, ela estava chorando. – Senti tanto sua falta quando fui embora.

Eu não senti nem um pouco. Se morresse seria um a menos na Terra!, pensou com raiva. Queria que ela desgrudasse dela. Queria que nunca mais tivesse á visto na vida. Mas agora fazia sentido. Só uma pessoa muito ruim e baixa para fazer aquilo. Que brincadeira? Aquilo foi um atentado. Ela podia ser presa. Garanto que não iria fazer isso com o Chay. No primeiro dia eu estava ainda parecendo comigo, até de peruca? Não importa. Essa vaca vai ver só!

- Tudo bem. Agora estou aqui – passou a mão na cabeça dela. Quero morrer. Credo!

Demorou um pouco para conseguir tranquilizar e desgrudar a garota dela, já tinha molhado a blusa social e até a faixa que prendia seus seios.

Continuou a andar, agora nada tranquila. Tinha que achar logo a única pessoa que ela mais odiava?

Sasuke veio de encontro a ela, com uma cara de muitos poucos amigos e os punhos cerrados.

- Oi Sasuke. Tudo bem? Você parece zangado - observou ela.

- Eu pedi para você falar com ela e não se agarrar como um macacinho. O que pensa que está fazendo? – vociferou furioso, estava a ponto de dar um soco nele.

Mais uma coisa para complicar sua vida. Isso só estava piorando. Agora mais essa. Maldita Karin!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!