Changes escrita por Bruna Pattinson


Capítulo 5
Diary




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Acordei com o forte barulho da chuva, que havia se aquietado durante a noite, mas logo que amanheceu voltou a chocalhar no telhado. Fiquei vários minutos encarando o teto acima de mim, sem disposição para levantar. O dia anterior fora muito divertido, mas também muito cansativo. Olhei no relógio do meu celular que permanecia no mesmo lugar onde eu tinha deixado-o ontem, na pequena mesa de cabeceira. Ainda era cedo, e eu não conseguia dormir. Meu estômago se revirou só de lembrar de que hoje seria meu novo dia numa escola nova, tirando o pouco de sono que me restava. Suspirei, sentando-me.

Ser a novata estranha, o centro das atenções. A ideia era horrivelmente desagradável para mim. Desejei internamente que o dia passasse o mais rápido possível, mas é claro que isso não aconteceria. Com a minha sorte o dia passaria a ter 30 horas.

Eu sabia que se eu ficasse imóvel como eu estava, sem fazer nada por muito tempo, pensamentos desagradáveis tomariam conta de minha mente. Eu tinha que me distrair. Avistei meu exemplar de O morro dos ventos uivantes ao lado de meu celular. Não pude trazer todos os livros que eu gostaria, mas tudo bem. Eu estava feliz com meus clássicos e tenho certeza que por menor que seja essa cidade, deve ter uma livraria nos arredores.

Li por um bom tempo, e quando verifiquei o relógio pela primeira vez já estava na hora para levantar. Suspirei e caminhei em direção ao banheiro fazendo minha higiene pessoal matinal e rapidamente vestindo a primeira roupa que vi. Tio Taylor já havia providenciado meus materiais escolares, eu os recolhi e logo desci a escada, já meio nervosa.

Encontrei Sophie se olhando no espelho da sala, sua bolsa no sofá.

– Bom dia, Bella! – ela disse ao notar minha presença.

– Bom dia...

– Você está com fome? – ela perguntou, receosa.

– Er... Um pouco – falei, não querendo incomodar.

– Olhe... A mamãe está se sentindo mal, meu pai disse para não acordá-la então não tem nada pronto para o café, desculpe – ela disse, as bochechas vermelhas.

– Tudo bem – eu tentei esconder meu desapontamento, eu estava ansiando pela comida de Allexandra.

– A não ser que você saiba cozinhar, a gente poderia comer num restaurante perto do colégio antes de irmos, por que a minha comida é horrível – ela disse, ainda envergonhada.

– A minha comida também não é das melhores – menti, na verdade eu nunca havia cozinhado na vida. Que ridículo. Se eu lhe dissesse eu iria parecer uma daquelas filhinhas mimadas de filmes clássicos americanos.

– Então vamos.

Logo saímos da casa e é claro, estava chovendo. Estava mais frio que no dia anterior, e não havia nenhum vestígio do sol. Estremeci enquanto andávamos em direção ao carro, e suspirei de alívio quando ela ligou o aquecedor.

– Não gosta do frio? – ela perguntou sorridente.

– Se você me perguntasse um dia atrás eu diria que amo frio, mas agora não tenho mais certeza – ela riu.

Chegamos ao restaurante que aparentava estar vazio. Havia somente uma garota sentada na última mesa, lendo. Sentamos e enquanto estávamos comendo, a garota passou por nós e eu percebi o quanto ela era pálida. Também, morando nessa cidade que quase nunca tinha sol... Eu seria a próxima a ter pele de fantasma. Sophie me falava de sua rotina no colégio e quando viu a garota parou de falar imediatamente.

– Essa garota estuda com a gente – ela finalmente falou, após a saída da mesma.

– Ela é sua amiga? – perguntei, tentando ser sociável.

– Não... Ela não é amiga de ninguém, fora os irmãos – ela disse, voltando a comer.

– Por que você não fala com ela? – criei uma simpatia pela garota, afinal eu também nunca tive muitos amigos.

– Acredite, eu já tentei – ela falou na defensiva – Mas ela e a família não querem fazer amigos. Eles são muito isolados. Ninguém fala com eles por que além de estranhos eles são antipáticos.

– Ninguém fala com eles? Quer dizer, vocês os excluem por que são diferentes? – disse, eu sentia que devia defendê-los por que eu também já fui a excluída.

– Não, não! Você entendeu errado. Eles se auto-excluem. Quando chegaram aqui, as pessoas iam falar com eles e eles agiam com ignorância. Agora eles vivem numa bolha que ninguém ousa estourar por que, tipo, eles são meio estranhos.

– Como assim estranhos? – perguntei, sem estar mais na defensiva.

– Meio, sei lá, assustadores.

Um silêncio estranho se seguiu e eu estremeci.

– Eles são tipo uma gangue? – por alguma razão senti a necessidade de sussurrar.

Ela riu.

– Não, não é nada disso.

– Então por que assustadores?

– Não sei como te explicar. É como se algo lhe dissesse pra ficar longe deles mesmo eles sendo tipo, super lindos.

– Não entendi nada.

– Não precisa. Quando você os vê mais tarde vai entender. Agora temos que ir por que estamos quase atrasadas.

– Preciso ir ao banheiro, te encontro no carro – falei, me levantando.

Ela saiu e eu rapidamente usei o banheiro. No meu antigo colégio não tinha nada assim, estava ansiosa para ver esse grupo estranho. Não sei por que a maneira que a Sophie falou deles me assustou.

Quando saí do banheiro, avistei um livro em cima da última mesa. Devia ser daquela garota.

A solução simples era entregar a garçonete, pois provavelmente a dona iria vir procurar o livro, uma hora ou outra. Mas por alguma razão eu resolvi pegar o livro e guardar na mochila.

Não sei por que tomei a decisão de pegar o tal livro, mas a minha intenção não era entregá-lo a garota.


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Notas finais do capítulo

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