Capítulo XX

Quinn Fabray

–– Quer que eu te leve para casa, amor? – perguntei.

Rachel sorriu. Nós estávamos no estacionamento, e eu estava sentada no capô do meu carro, com Rachel parada na minha frente. A cena me lembrou a primeira vez que dei carona para ela, e que comecei a ser sua "professora particular" de matemática.

–– Não precisa, minha linda – disse Rach, acariciando meu rosto.

Fechei os olhos por alguns instantes, e senti os lábios de Rachel tocarem os meus. Conti o sorriso e a puxei para mais perto de mim, colando nossos corpos. Deus, como ela era maravilhosa! Passei a língua pelos seus lábios pedindo passagem, e logo em seguida aprofundei o beijo. Apertei a cintura de Rachel e ela colocou uma de suas mãos em minha nuca, levando meu rosto para mais perto do seu. Era incrível como nossas bocas se encaixavam perfeitamente bem, como se tivessem sido feitas para se complementar. Conti um sorriso. Rachel Berry era extremamente perfeita, e beijá-la era a melhor coisa do mundo. Eu não podia me sentir mais feliz. Tê-la nos meus braços era simplesmente a melhor sensação do mundo.

–– Quinn – sussurrou Rachel, quando nos separamos buscando ar.

–– Rachel – sussurrei de volta, sentindo meu corpo todo se arrepiar.

Abri os olhos e minha morena linda me encarava. Ela tinha um sorriso lindo no rosto. Suspirei. Será que havia alguma maneira de eternizar aquele momento? Porque eu queria ficar ali para sempre, com minha garota nos meus braços, vendo aquele sorriso maravilhoso em seu rosto. Mas o sorriso desapareceu, e Rachel se afastou. Franzi o cenho.

–– Precisamos conversar, Quinn.

–– Sobre o que?

–– Sobre... – ela suspirou. – Sobre sua irmã.

Fechei as mãos em forma de punho. Então Rachel e eu estávamos no meio de um amasso, e de uma hora para outra ela queria falar da vadia da Blair? Respirei fundo. Aquela desgraçada era como um fantasma. Eu não a via, mas ela sempre estava por perto me assombrando.

–– O que tem ela? – perguntei entredentes.

–– Você sabe que Blair e eu conversamos – disse Rachel, afastando-se um pouco. – E acho que você deveria dar uma chance...

–– Nem pensar – disse, cruzando os braços. – Pelo amor de Deus, Rachel, por que estamos falando dessa filha de uma mãe? Não percebe que ela parece sempre se meter no meio de nós duas?

–– Ora... Com ciúmes, Fabray? – perguntou Rachel, arqueando a sobrancelha.

–– Não – retruquei. – Apenas constatando um fato.

–– Então me deixe constatar outro – disse Rachel, descruzando os meus braços e me olhando nos olhos. – Eu amo você, Quinn Fabray. Eu poderia ter ficado confusa com a chegada de Blair, mas não fiquei. Eu poderia descontar tudo o que ela fez comigo em você, mas não descontei. Eu poderia pensar que você estava fazendo a mesma coisa que ela, mas não pensei. E sabe por quê? Porque eu sou louca por você! Porque eu te conheço, e porque eu sei quem você realmente é. Você é Quinn Fabray, a garota misteriosa que se esconde do mundo com medo de ser magoada. Mas Blair mudou, Quinn. Eu vi isso nos olhos dela. Caso contrário, você acha mesmo que eu estaria aqui pedindo para você dar uma chance a ela? Eu a odeio Quinn. O único motivo de eu ter aceitado uma relação pacífica com ela é porque ela é sua irmã, e irmãos brigam o tempo todo. Mas no final das contas, ela ainda é sua família.

–– Você... Você me ama?

Rachel bufou, revirando os olhos.

–– De tudo o que eu disse, isso foi só o que você ouviu?

Não pude deixar de corar. Rachel segurou minha mão e nosso olhar se encontrou novamente.

–– Sim, Quinn Fabray, eu te amo.

Suspirei. A verdade é que eu me sentia muito insegura em relação à Blair. E se Rachel se apaixonasse por ela de novo? Isso não vai acontecer, Fabray! Ela acabou de dizer que te ama. Não seja tão insegura, isso não é nada legal, e vai acabar criando problemas com sua namorada, e essa é a última coisa que você precisa: mais problemas.

–– Tudo bem Rach... Eu vou dar uma chance a ela – disse, soltando um pequeno suspiro. – Mas só porque você pediu!

Rachel abriu um pequeno sorriso triunfante e eu revirei os olhos.

–– Eu também te amo, minha linda – disse, abraçando-a. – Eu também te amo.

*-*

–– Isso é ridículo, Sam – disse, revirando os olhos.

Isso é para o seu bem, Quinn. Pare de ser tão reclamona!

–– Não sou reclamona – disse, cruzando os braços.

Sam revirou os olhos e me empurrou para dentro da sala de espera de Madame Wonder. Suspirei e sentei num sofá de dois lugares enquanto Sam foi conversar com a secretária. Dá para acreditar nisso? A charlatã tem uma secretária! Balancei a cabeça. Aquilo era uma perda de tempo e uma grande palhaçada, mas Sam estava tão empenhado em me ajudar que eu simplesmente não conseguia dizer não. Afinal de contas, ele só estava tentando resolver o meu problema, embora eu tivesse absoluta certeza de que ver uma velha que diz ler mentes, mãos, pés, cabelo, unhas, e se duvidar, até suas partes íntimas, não iria ajudar.

–– Tudo certo – disse Sam, sentando-se ao meu lado. – Ela está em uma consulta agora, mas depois vai nos atender.

Revirei os olhos novamente.

Esse garoto é bonito. Será que ele e a loira são um casal? Talvez sejam irmãos... Os dois são loiros, têm olhos claros, e o sorriso é até parecido. Qual deles será que precisa da consulta? Provavelmente a garota. Ela não parece nada satisfeita. Meu Deus!, como algumas pessoas têm a mente pequena! Mas depois de uma consersinha com a Madame Wonder essa daí tira o bico do rosto, com certeza. Ela tem uma cara de arrogante... Deve ser mimada. Essas garotinhas ricas que acham que o mundo devem beijar seus pés. Ela acha o que? Que só porque é bonita pode conseguir tudo o que quer? Vai sonhando, bebê.

Encarei a secretária irritada. Quem aquela vaca pensava que era para me julgar daquela maneira? Minha vontade foi de pular no pescoço dela e arrancar cada fio de cabelo da sua cabeça. A otária percebeu meu olhar e franziu a testa.

Ela está me encarando. Meu Deus!, e esse olhar de raiva no rosto dela? Parece que ela está prestes a me atacar, ou qualquer coisa assim. Será que... Não, não pode ser. Wonder é a única Reader que eu conheci até hoje. Não pode haver outra, pode? Muito bem, Jenny! Agora quem tem o pensamento pequeno? Vai ver ela lê mentes. Ou vai ver ela é só uma garotinha irritada porque o papai não lhe dá atenção ou porque levou um chute do namoradinho.

–– Então Sam – disse em voz alta, olhando na direção dele. – Isso vai demorar muito? Porque depois eu ainda quero encontrar a minha namorada. Você é lindo, e tudo, mas eu realmente não quero passar o dia todo conversando sobre Harry Potter.

–– Só porque meu personagem favorito é o Dumbledore – retrucou Sam. – Qual é o seu? O Snape? Combina bem com sua dupla personalidade.

–– Ei! – exclamei irritada. – Eu não tenho dupla personalidade!

–– "Oh Rachel, querida, eu te amo tanto! Você é maravilhosa! Posso lamber seus pés? Posso beijar o chão em que você anda? Oh Rachel, você veio da Grécia? Porque é uma verdadeira deusa!"... E então "Sam, seu idiota! Você não presta. É um inútil. Meu Deus, como eu quero te socar! Será que dá para calar essa boca enorme? É sério! Se você não parar de falar eu vou dar uma de Santana Lopez e baixar o Lima Heights em cima de você!"

–– Eu não sou assim! – exclamei, dando um soco no braço dele.

–– Está vendo? – disse ele, caindo na risada.

–– Você é um idiota, Evans.

–– "Você é um idiota, Evans... Mas o que seria de mim sem você?" – disse Sam, tentando imitar meu tom de voz. – "Oh Sam, você é tão maravilhoso. Se não fosse por você, Rachel e eu não estaríamos juntas. Se não fosse por você..."

–– Eu não teria ficado paranóica sobre pessoas que têm sonhos eróticos com a minha namorada.

Isso calou ele rapidinho.

Ela tem uma namorada? Interessante. Então ela não vai se importar se eu meio que der em cima do loirinho, não é?

Deixe-me dizer uma coisa: Quinn Fabray, você é completamente louca. De onde veio isso? Você está escutando os pensamentos da secretária, não é? Se sim, aperte minha mão.

Dei outro soco no braço de Sam. Ele me olhou irritado e eu dei um sorrisinho sarcástico. Sam bufou, e eu segurei o riso. Peguei meu celular e digitei uma mensagem.

Quinn: Você é muito dramático, Evans. E sim, eu estava lendo o pensamento dessa vaca.

Sam leu a mensagem de texto.

Você é cruel, Fabray. Será que pode parar de me bater? Agradecido. E então... Ela estava pensando alguma coisa sobre mim?

Abafei o riso e mandei outra mensagem.

Quinn: Só que você tem uma boca muito grande e uma carinha de bebê... Brincadeira! Ela acha você gostoso e está pensando em maneiras de dar em cima de você sem que eu surte.

Ele riu assim que terminou de ler a mensagem. Revirei os olhos.

Quinn: Nem pense nisso, Evans. Se eu tenho que ficar longe de uma boa sessão de amassos com a minha garota, então você não deve flertar na minha frente. Controle-se.

Como se eu fosse fazer alguma coisa –– pensou Sam, revirando os olhos.

Ficamos em silêncio por aproximadamente dez minutos. Sam mexia no celular, provavelmente atualizando seu Facebook, e eu me controlava para não cair no sono ou morrer de tédio. Finalmente a porta do consultório se abriu. Uma mulher de meia-idade saiu com um grande sorriso no rosto. Dei um olhar significativo na direção de Sam, mas ele apenas pensou:

Não julgue um livro pela capa.

Respirei fundo. Eu já estava ali, de qualquer jeito. A secretária indicou com a cabeça que nós já poderíamos entrar. Sam praticamente me empurrou porta adentro.

–– Ora, ora, ora, o que temos aqui?

–– Você é a Madame Wonder? – perguntou Sam, a boca entreaberta.

–– Sim, querido, eu sou.

Mas em momento algum ela olhou para ele. Seus olhos estavam fixos em mim, e eu mal pude esconder minha surpresa, porque 1) Ela não era uma mulher de meia-idade e 2) Eu também não conseguia ler sua mente.

E aquilo realmente me assustou.