O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol
Eu olho para o papel mais uma vez. Um hífen descansa no branco vazio e uma lágrima acaba caindo em cima dele, deformando-o inteiro. Agora ele se parece um til.
Meu coração se aperta e eu viro a folha de ponta cabeça. Reúno as forças que tenho e escrevo:
~ John Madison – Pai.
~ Marie Madison – Mãe.
~ Carly Wern – Tia.
~ Ben Wern – Tio.
~ Merly Lorner – Outro Tio.
~ Jessica Lorner – Outra Tia.
~ William Clin – Pai de Jason.
~ Melany Clin – Mãe de Jason.
Penso se devo ou não acrescentar pessoas pequenas, mas decido honrar as pessoas da lista e deixar apenas as especiais.
As lágrimas agora correm por meu rosto vermelho livremente. Adiciono mais um Til a lista.
~ Anna Madison – Eu. (?)
Amasso a folha com força e a jogo no chão com raiva. Nessa hora percebo que estou gritando com toda minha voz, porque um Avox bate na porta de meu quarto.
Estamos no trem em direção a Capital. Meu quarto me lembra dum cachão em cima de um carro, sendo levado até onde vai ser enterrado. Sou o último membro vivo da minha família biológica. De acordo com a Capital, todos da família que poderiam cuidar de mim morreram. Mas minha teoria é de que eles foram mortos. Então eu fui parar num abrigo para órfãos do Distrito Quatro de Panem: meu Distrito.
A porta se abre. Ela me olha com seus olhos verdes profundos e por um segundo penetra minha alma e me faz sentir de que tudo ficará bem novamente. Ela tem essa mania. Mas foi só um segundo e a realidade volta à tona: Pã!
Vou morrer.
Vocês com certeza já viram os Jogos Vorazes na TV. Todos são obrigados a ver, infelizmente. E, acho que ao ouvirem “Distrito Quatro” se lembraram de alguns dos vários carreiristas que já ganharam os jogos por nosso Distrito...
Muitos desses carreiristas treinavam perto do Abrigo, e digamos que eu aprendi bastante com eles. Sempre fiz questão de me manter longe - apenas observa-los treinando e imitar seus movimentos dentro de meu quarto, enquanto todas as outras crianças comiam e as tias de lá ainda não me achavam -, afinal, Carreiristas significavam Jogos, Jogos significam o Poder da Capital e o Poder da Capital significa Mortes. E eu estou cansada de Mortes. Porque mortes significam Perdas. E estou cheia de perder.
Não me dou o trabalho de secar as lágrimas e apenas viro rosto, enterrando-o nos joelhos e abraçando minhas canelas.
Ela coloca os braços ao meu redor. Nessa hora ela deveria falar algo que me reconfortasse, como sempre fazia. Sarah sempre sabia o que dizer.
Mas agora ela é um Avox.
Eu olho para ela, tentando não chorar, tentando ser forte. E ela sorri. As lágrimas voltam ao meu rosto, que ainda estava vermelho, enquanto eu a abraço com toda a força, como se pudesse escapar a qualquer momento.
Estou com raiva. Com raiva da Capital, que ameaça tirar de mim todos que eu amo... Novamente. Meu coração aperta e eu solto um gemido.
Ela se abaixa e pega a lista, desamassando-a e lendo.
Com calma ela apaga meu nome da lista. Eu apenas a observo fazer isso.
-Por quê? – Eu digo, depois de olhar bem em seus olhos, quando ela levanta de volta a cabeça. Uma lágrima solitária havia escapado de seus olhos, provavelmente por ler os nomes de seus pais nela.
Ela a amassa de volta e a joga com força no lixo. Vira-se em direção à porta. Mesmo se tivesse voz não me diria a resposta.
Sarah Clin. Ela me ensinou a cantar. Ensinou-me a achar músicas dos antepassados. Ela era uma boa cantora. Mas agora ele não tem voz.
-Senti sua falta. – Eu digo. Ela assente e me encara uma última vez.
Meu quarto não é seguro. Eles estão olhando.
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