A Grande Busca escrita por Rebeca Bembem


Capítulo 3
Acordo em um lugar nem tão estranho.


Notas iniciais do capítulo

Ooooooi ;) Sei que demorei pra escrever esse, e que talvez tenha ficado muito melancólico, ou muito viajado, sei lá. Espero que gostem, e POR FAVOR! se você ler, se gastar seus minutos com isso, de sua opinião ;) obg



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Já estava acordada a muito tempo, mas não abri os olhos. Estava tentando fazer com que as muitas imagens que passaram pela minha cabeça durante o sono fizessem algum sentido. Mas eu só conseguia me lembrar de uma imagem, claramente. A de um menino. Já estava bem surpresa por conseguir lembrar isso, já que geralmente esquecia o sonho todo nos primeiros cinco minutos depois de acordada. E eu tinha certeza de que estava acordada a mais de cinco minutos, deitada sobre as cobertas em algo que me pareceu um sofá. Respirando calma e lentamente, eu podia sentir o ar frio, e ele me fez lembrar alguma coisa...alguma coisa distante...me fazia lembrar de chuva...mas eu não sabia dizer que chuva era essa. Eu tinha muitas dúvidas em minha mente. Muitas. Mas eu simplesmente não conseguia colocar em ordem todos aqueles pensamentos com minha cabeça e todo o meu corpo latejando tanto, como se eu tivesse acabado de cair de bicicleta.

Eu queria entender, raciocinar, queria pela primeira vez saber realmente o que estava acontecendo na minha vida. Um buraco enorme no meu peito me dava a pista de que eu havia perdido alguém. Mas quem? Passei uns dois minutos repassando mentalmente os parentes mais próximos que uma garota normal deveria ter, até que me lembrei de quem havia partido. Meu avô. Mas havia mais alguém, tinha de haver... alguma coisa me dizia que havia. Vamos Alice, pense, não dê uma de retardada agora, você não precisa disso – sim eu falo comigo mesma, algum problema?

Ok... eu sentia algo molhado sobre mim mas não eram as cobertas...eram as roupas. Chuva. Era isso, eu tinha tomado chuva. Tudo bem, até aí tudo bem. Lembrava-me de mais algumas coisas, vagas lembranças. Alice, será que não consegue se lembrar aonde foi depois do velório? Era isso! Um velório! Depois de ter feito essa descoberta genial – parabéns Alice – eu me lembrei de onde tinha ido, e palavras nem tão vagas assim, agora zumbiam na minha mente. Velório... chuva... frio... casa bagunçada... Manoela... carro.... nada. Depois disso eu só enxergava o preto, o nada. E foi quando eu me dei conta do quanto a minha situação era triste. Sem meu avô, minha avó, meus pais... minha irmã. Onde ela estava? Quem a teria levado de mim? Diante disso eu comecei a chorar, antes que pudesse controlar. Chorei pelo meu avô, pela minha avó, pelos meus pais, pela minha irmã. Chorei todas as lágrimas que tinha segurado até ali. Por puro medo, abandono e tristeza. Passei um minuto ou mais chorando, mas ainda assim não queria abrir os olhos. Podia ser um sonho, não podia?

Até que senti um toque. O toque de uma mão, macia e quente, fazendo leves carinhos no meu braço esquerdo, como se estivesse tentando me consolar, mas ao mesmo tempo, tivesse medo de me machucar. Abri os olhos e tive uma surpresa. Perdi o fôlego por um segundo, e fiquei ali só encarando um lindo garoto sentado ao meu lado no sofá, feito uma bobona.

Ele era lindo. Realmente lindo, maravilhoso, perfeito, como um anjo. Não era o garoto dos meus sonhos – não estou dizendo que eu nunca sonhei com alguém assim, já devo ter sonhado, como disse eu esqueço meus sonhos rapidamente. O que quis dizer é que não foi ele quem invadiu meu sono na noite passada. Mas mesmo assim, chamou muito a minha atenção. Eu queria captar cada detalhe daquele lindo rosto, guardá-lo na memória para sempre, para nunca mais esquecer.

Ele tinha pele bronzeada; deve ter passado muito tempo na praia, pensei. Um surfista carioca devia ser muito, muito amado. Ah, Senhor, nunca terei chances com ele. As feições do rosto magras e perfeitas. Os cabelos negros eram tão bagunçados, que eu poderia jurar que ele tinha acabado de sair de uma enorme máquina de lavar roupa. E os olhos... ah, os olhos...pareciam atrair os meus por magnetismo. Eles me davam a impressão de que estavam lendo minha alma. Vendo cada detalhe de mim, me conhecendo. E ao mesmo tempo em que esse detalhe me deixava constrangida, me fazia sentir segura, confortada e eu simplesmente e literalmente não conseguia desviar o meu olhar daqueles lindos e calorosos olhos cinza. Ficamos alguns segundos nos encarando. Eu devia estar com o queixo nos pés, de tão admirada. Já não me importava se estava ou não parecendo uma retardada, eu sempre me conformei com o fato de ser estranha.

Até que ele deu um leve sorriso, e todos os meus poucos neurônios ainda conscientes derreteram. Acho que se eu estivesse vendo a cena de fora do meu corpo teria rido muito. Devia ser hilário, sinceramente.

– Não vai fazer nenhuma pergunta? Aquelas típicas perguntinhas chatas de quem acorda em um lugar diferente... Não vai fazer nenhuma? Onde estou? Como vim parar aqui? Sabe, assim é bem melhor, me dá tempo de explicar – ele sorriu de novo e eu não consegui fazer nada mais legal do que finalmente fechar a boca.

Alguma coisa naquela voz me fez lembrar algo. Mas eu não fazia a mínima ideia de onde poderia conhecê-lo. Não dei muita atenção à esse pensamento inquietante, porque logo que ele acabou de falar, eu enxerguei um brilho no canto da ampla sala de visitas, que finalmente me fez desviar os olhos dele. Ali, no canto de uma típica sala de visitas de uma família rica estava o que eu menos esperava encontrar naquele momento. Uma árvore de Natal. Isso mesmo pessoas, uma árvore de Natal! Estava tão surpresa com aquilo que me esqueci de que queria muito saber quem era aquele garoto e onde eu estava.

– É Natal? - perguntei, abismada - Hoje?

Ele deu um grande suspiro e disse com ar de saudade:

– Não, na verdade não. Hoje é dia 15 se não estou ficando louco. Fique tranquila, você não dormiu tanto assim. Só 2 dias - ele disse com ironia.

– Dois dias?!! - credo! Eu podia ter dormido tanto assim? Meu Deus! - É, dois dias - ele deu um sorrisinho ao ver minha boca escancarada pela terceira vez - Desculpe se estou sendo grosseiro ou qualquer coisa do tipo, mas, como pode pensar em Natal agora, Alice? Quero dizer, eu tinha certeza que você iria acordar me jogando milhares de perguntas na cara, e a única que você me fez até agora foi se é Natal - agora ele não estava mais rindo, e, irritantemente, colocou a mão na minha testa, em um gesto que dizia claramente que ele achava que eu estava louca.

Mas eu não estava. Registrei o uso do meu nome. Não estava tão abestalhada assim. Só um pouco, mas já havia me recuperado. Parcialmente. Se quer mesmo uma opinião sincera, acho que nunca irei ser totalmente normal. Eu sempre fui besta, e distraída. O que eu estou sendo exatamente agora, me desviando da história pra contar bobagens.

– Como sabe meu nome? - eu me sentei no sofá, ignorando as dores nas costas, tirando a mão dele da minha testa e tentando substituir minha cara de raiva por uma de pura incredulidade. Não gostava que me achassem louca.

– Pensei que se lembrasse de mim - ele disse, mais sério do que antes.

– Desculpe, mas eu não sei de onde te conheço ou mesmo se te conheço. Só sinto que te conheço de algum lugar... mas... não consigo me lembrar...

– Tudo bem, agora eu tenho certeza de que a pancada na sua cabeça foi muito forte - ele começou a rir, mas parou no ato, como que uma criancinha com vergonha do erro que cometeu - Não tem problema, meu nome e alguns dados pessoais podem fazer você se lembrar, se meu rosto não o fez. Sou Hugo, Alice. Hugo Garcia - agora eu tinha certeza de que o conhecia.

Só ainda não conseguia saber de onde. Mas aquele nome, até mesmo o sobrenome, era muito, muuuuuuuito familiar. Como se lesse meus pensamentos, Hugo-conheço-sei-lá-de-onde acrescentou:

– Sou seu vizinho desde que você e Manoela se mudaram pra cá - ele apontou com o polegar por trás do ombro, e eu tive um arrepio ao pensar que estava tão perto da casa onde alguém pegara minha irmã de mim - A gente costumava brincar às vezes, mas sempre na minha casa. Eu lembro que a Manoela dizia que sua avó não gostava de crianças correndo pela casa dela. Pelo jeito era verdade, porque eu nunca pisei os pés na sua casa, acho que só no quintal - ele riu um pouquinho, com saudades, mas eu estava chocada demais pra apreciar.

Então era ele. O menino pelo qual eu sempre fora apaixonada quando criança. E que sempre fora apaixonado pela Manoela. Meu melhor amigo, que brincou tanto comigo e com minha irmã. Era ele. Ali, diante de mim. Hugo, meu amigo tão querido, que brincou comigo até eu ter uns 8 anos, e a mãe dele, infelizmente morrer de um acidente de carro. Não podia acreditar naquilo. Eu ainda tinha alguém. Tinha ele. E a felicidade de saber daquilo era tão imensamente grande que eu simplesmente pulei do sofá e agarrei o pescoço de Hugo dando-o um enorme abraço, todo molhado de lágrimas de alegria e que quase o derrubou do sofá, se não fosse ele se segurar na mesinha de centro. Na hora, não quis pensar no amor que sentia por ele, nem pelo amor que ele sentia pela minha irmã. Queria apenas ter certeza de que Hugo era real, de que meu Hugo não fora embora, que ainda estava ali. Queria apenas abraçar meu amigo.E ele retribuiu de um jeito ótimo, acolhedor, e eu me senti infinitamente segura e protegida nos braços do meu lindo, amado, tão querido amigo, meu Hugo.

– Sabe, eu também senti sua falta Alice. Mas não fique assim tão feliz em me ver - ele disse finalmente se desvencilhando de mim, do meu abraço, e eu fiquei surpresa em ver vergonha em seu rosto.

– O que foi? É claro que fico feliz em te ver. Nossa! Quanto tempo, que saudades das vezes em que a gente brincava... - mas ele me interrompeu enquanto eu sentava de novo no sofá.

– Já deve saber que você foi atropelada, não é?

– O quê? Ah, claro, mas o que isso tem a ver com..

– Tem tudo a ver, infelizmente. Olha, eu não queria que você se machucasse, meu pai não pode frear o carro a tempo e... estava uma chuva dos diabos naquela noite, você sabe disso. Meu pai e eu estávamos... é... indo jantar, e passamos por aquela avenida. Sabe, não deu mesmo pra te ver até que o carro já estivesse em cima de você, e com aquela chuva desgraçada não deu pra frear a tempo. Desculpe-me, por favor, desculpe ao meu pai...

– Hugo falava de um jeito apressado, desesperado, quase implorando por perdão, tão visivelmente constrangido, envergonhado e triste ele estava.

– Calma, não, não precisa se culpar. Não me machuquei de verdade, não é? Tudo bem. Olha, ainda bem que foram vocês, eu poderia estar em um hospital agora, tendo que tomar soro - eu sorri, tentando animá-lo, e ele retribuiu - Você deve saber, eu sempre odiei hospitais.

E antes que qualquer um de nós pudesse falar, um homem entrou na sala de visitas com uma bandeja cheia com torradas e suco de laranja. Minha barriga roncou, eu estava realmente faminta. Mas queria prestar atenção no homem, que eu sabia ser Lúcio Garcia, o pai de Hugo. Ele era alto, forte, mas não muito musculoso. Mesmo tom de pele do filho. Cabelos nem tão negros. Efeitos da idade, talvez. Mas ele não aparentava ter mais de 45 anos, e mesmo assim tinha rugas e olheiras embaixo dos olhos cinza, tão frios e sem vida quanto os do filho eram acolhedores e calorosos. Pensei que devia ter sofrido muito na vida, quando lembrei que sua esposa havia morrido.

– Olá, Alice. Há quanto tempo não nos visita, não é? - Lúcio disse com uma voz grave intimidadora mas gentil, enquanto puxava uma cadeira, colocava a bandeja com comida na mesinha de centro e sorria pra mim - Vejo que Hugo já apresentou minhas desculpas à você. Peço que me perdoe querida, Graças a Deus você não se machucou.

– Olá Senhor Garcia - sentia que devia ser formal, aquele homem inspirava em mim ao mesmo tempo tranquilidade e intimidação - Claro que o perdoo, não foi realmente sua culpa. AH MEU DEUS! É CLARO QUE NÃO FOI SUA CULPA, EU QUE CORRI NO MEIO DA RUA, PRA TENTAR SALVAR MINHA IRMÃ, COMO PUDE SER TÃO LERDA, TEMOS QUE LIGAR PRA POLÍCIA, AGORA, AGORA! SENHOR GARCIA, HUGO, EU PRECISO ACHAR MINHA IRMÃ, FIQUEI AQUI ENROLANDO, ENQUANTO MANOELA PODE ESTAR SOFRENDO! DEUS...

Eu acabara de dar um enorme susto em Hugo, gritando de repente daquele jeito. Ele caiu do sofá e ficou me olhando do chão, com cara de assustado, e eu não podia culpá-lo. Tinha realmente gritado, falado tudo de uma vez, tão chocada com minha própria lerdeza, eu estava. Não era possível que eu estava lá, deitada naquele sofá conversando calmamente, enquanto minha irmã podia estar sofrendo, podia estar em perigo, como eu podia ser tão egoísta? Uma enorme onde de vergonha de mim mesma me invadiu, assim como o medo do que quem quer que fosse poderia estar fazendo com Manoela.

– Acalme-se, minha filha - Lúcio disse com tamanha calma que só em deixou mais nervosa - Não se culpe por ter se esquecido de sua irmã...

– EU JAMAIS A ESQUECERIA! - Eu entendo, eu entendo. Agora, acalme-se, e não se culpe...por esse...lapso de memória. A pancada na sua cabeça foi forte, realmente forte.

– Seu filhinho já disse isso - eu resmunguei, brava.

– Mas, não adianta ligar para a polícia agora, querida.

– POR QUÊ? - eu fiquei realmente assustada, temendo o pior, temendo que ela também tivesse partido, tivesse morri...

– Porque nesses casos, a polícia dos mortais não pode fazer nada.



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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Final emocionante, né? KKKK reviews ;)



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