03/12 - Segunda-Feira

E como se não pudesse se repetir novamente, eu me meti em outra confusão. Estou cada vez mais convencida que eu devia levar o prêmio de "burrice repetida" do ano.

Aconteceu que hoje de manhã tivemos uma aula antecipada na semana, e que segundo a diretora, era porque estavam ajustando os horários ainda.

Tinham adiantado a aula de Teatro, o que foi horrível. As aulas de teatro costumam ser na quarta-feira, e eu sempre me programava para faltar ela. Porém como foi tudo muito de surpresa, tive que faze-la na marra.

Dinna, a professora, reuniu toda minha turma no auditórios, e nos fez sentar no chão do palco. Íamos fazer um exercício psicológico em relação com temas atuais da divisão social.

─ Muito bem, todos olhando pra mim ─ pediu a professora, ficando de pé e olhando para todos ─ hoje em dia é comum as turmas escolares serem dividias em pequenos grupos de afinidade. Hoje quero que vocês se dividam em dois grupos, cada um indo para o lado que ache melhor e depois vamos formar uma cena de debate, em que cada um vai representar um papel relacionado ao seu lado.

Dinna pegou seu giz e escreveu de um lado "sociais" e do outro escreveu "perdedores". Depois que terminou de desenhar a linha de divisão ela pediu que todos escolhessem seu lado.

Rony ─ maldito seja ele que praticamente tem todas as mesmas aulas que a minha ─ liderou Bina, Khaled, Thomas, Will, Maurice, Eleanor, Sthepen, Michelle, Rick e Clive para o lado dos "sociais", enquanto eu liderava Val, Nina, Matt, Lauren, Conn, Kim, e George para o lado dos "perdedores".

─ Perfeito! ─ exclamou Dinna, colocando sua cadeira móvel entre os dois grupos. Ela pegou sua prancheta e a apoiou nos joelhos ─ bem, alguém tem um comentário a fazer sobre a divisão?

Por mais estranho que fosse soar, a única pessoa que se limitou a levantar a mão foi Rony. Ele parecia extremamente curioso.

─ Sim, Sr. Stark? ─ indagou Dinna, virando-se para ele, assim como os demais.

Ele deu um leve pigarro antes de falar:

─ Acho que fizemos uma divisão errada ─ comentou, apontando para mim ─ devíamos trazer a Antonelle para o nosso lado.

Lancei um olhar mortal a ele, enquanto sentia meu rosto corar rapidamente. Todos sabiam que os "sociais" eram as pessoas legais, as pessoas descoladas. Obviamente eu não me encaixava lá.

E pelo o que parecia, Bianca concordava comigo em virgula e ponto final:

─ Qual é o seu problema, Rony? Esqueceu a tarja preta em casa? ─ indagou ela, colocando as mãos na cintura ─ Aléxia está muito bem aonde ela está.

Os demais, exceto Thomas e Eleanor, dos "sociais" afirmaram energeticamente com a cabeça. Eles apoiavam Bina, e todos eles provavelmente achavam que eu era indigna de respirar o mesmo oxigênio que eles, comer do mesmo alimento e etc.

─ Não tenho nenhum problema, Bianca ─ respondeu ele, com o rosto iluminado ─ só acho que Alex devia vir pro nosso grupo.

Encarei Rony, um pouco desconcertada:

─ Rony, acho que não é uma boa ideia ─ discordei, aos sussurros ─ estou ótima aqui, sinceramente.

Bina parecia que ia matar alguém, os seus olhos verdes tinham uma luz assassina que brilhava em suas íris.

─ Deixe ela pra lá, Rony ─ murmurou ─ ela está no lugar a qual pertence.

Porém, Rony parecia convencido do contrário, e eu não sabia exatamente o porque. Era óbvio que os "perdedores" era o que mais tinha a ver comigo.

─ Alex não é uma mané como eles ─ explicou o loiro.

A gratidão que eu estava sentindo em relação aquele idiota passou no exato momento em que ele soltou aquela frase.

Eu achava um pouco, an, legal da parte dele me defender na frente de todo mundo, mas ele não iria ofender meus amigos na minha frente, não ia mesmo.

─ O que você disse? ─ indaguei, irritada.

─ Eu disse que você nã...

Bufei alto, dando um passo pra frente. Eu ia começar a dar um dos meus ataques.

─ Eu ouvi o que você disse, seu pamonha, não estava é acreditando no que ouvi! ─ gritei, batendo o pé.

Ambos os grupos viraram-se para nós, todos ansiosos para o que ia acontecer. É óbvio que eles esperavam uma discussão, porque era isso que acontecia quando eu conversava com Rony.

─ E qual o problema no que eu falei, Alex? ─ indagou ele, sem entender.

A Profª. Dinna pegou sua prancheta e começou a anotar rapidamente. Ela era a única que parecia não estar ligando para o circo que estava se formando.

─ Se você chama os meus amigos de manés, você está me chamando também ─ expliquei, com as sobrancelhas erguidas ao máximo ─ Porque os nossos amigos refletem o que somos, Ronald. Se eu ando com eles, eu sou como eles. E pelo visto você é muito arrogante, se levarmos em conta com quem você anda.

Clive, a amiga de Bina, estava com a boca entre-aberta. Atrás de mim eu pude ouvir Lauren soltar um assovio longo e zombador, como se o que eu tivesse respondido a Ronald fosse uma resposta boa.

E parecia ter sido.

─ Você é maluca, Aléxia ─ cuspiu ele ─ completamente doida.

Se fosse possível escorrer veneno dos meus olhos, isso com certeza teria acontecido. Ofender os meus amigos era completamente inaceitável, agora, me chamar de maluca? Era mil vezes pior.

Andei lentamente na direção dele, como quando alguém se aproxima para dar um bote, mas eu não faria isso (até porque eu não era uma cobra). Fiquei tão próxima a Rony, que eu poderia facilmente quebrar aquela cara de macarrão instantâneo sem muito esforço.

─ Nunca mais me chame de maluca ─ sussurrei.

Em um segundo, não mais que isso, eu já tinha fechado minha mão direita em punho e acertado a cara de Rony com um soco.

E no outro segundo eu já estava arrependida. Ao ver o sangue escorrer escorrer do nariz dele, a raiva toda se diluiu.

─ E-E-Eu sinto m-m-muito... ─ gaguejei, um pouco confusa.

Bina soltou um guincho de arrepiar a espinha e correu na direção de Rony, o amparando. Ela parecia extremamente furiosa comigo, mas ao mesmo tempo contente.

O grupos dos perdedores, atrás de mim, começaram a gargalhar e bater palmas.

─ Boa direita, Alex ─ parabenizou George, o nerd esquisito.

Dinna, que antes estava absorta, parecia completamente satisfeita.

─ Ótima representação garotos! ─ exclamou ela, logo em seguida se virando para Rony ─ Mas acho melhor você ir para a enfermaria, querido.

Eu não pudia acreditar que ela achara que minha discussão com Rony e o soco na cara haviam sido representação.

Fracamente, já que o auditório ficava longe da secretaria, o sinal tocou. Todos saíram ao mesmo tempo, de modo que eu fiquei perto de Rony e Bina, que andavam lentamente.

─ Desculpe, Rony, eu sinto muito ─ murmurei, o encarando penalizada.

─ Não, você não sente ─ retrucou ele ─ eu também não sinto por ter te chamado de louca. Isso é normal entre a gente.

Bina soltou uma risada maléfica, enquanto carregava o loiro a tira colo. Fiquei parada, em cima do palco, observando eles serem os últimos a saírem.

Para Rony, minha agressão havia sido normal, já que nos odiávamos muito. No entanto, para mim, aquilo havia ultrapassado alguns limites.

Aléxia.