19/12 - Quarta-Feira

E aconteceu exatamente isso que você leu. Tudinho. Eu fui expulsa de uma escola que eu estudo a séculos, tipo desde os meus quatro anos, porque joguei um balde de tinta em alguém (por sinal, no alguém errado). Realmente, se o Sr. Burr queria tanto que eu fosse embora de vez da East San Francisco ele poderia apenas me falar, não me humilhar na frente de todo mundo.

E, surpresa, quando meus pais ficaram sabendo é claro que quase me mataram com uma facada na cabeça (quase porque eu tirei a faca das mãos deles antes). Contei a eles que se Rony tirasse a acusação sobre mim eu poderia ficar na escola. Mas eles já até escolheram para aonde eu vou se eu estiver realmente expulsa: Para um internato na Suécia. Pois é! Pra que colocar sua filha em uma outra escola na mesma cidade se você PODE MANDA-LA PARA UMA ESPÉCIE DE EXÍLIO DO OUTRO LADO DO MUNDO?!

Isso foi realmente o que eu posso chamar de "começar as férias com o pé e a mão esquerda".

E como se a ameaça da Suécia não fosse o bastante, minha mãe decidiu roubar a minha tarefa de ligar pro psicólogo e decidiu marcar uma consulta com ele. Isso mesmo, eu tinha uma consulta marcada com o meu psicólogo, mas uma consulta de verdade.

Decidi canalizar todos os meus pensamentos bons, para que eu não ficasse com tanta raiva, e atravessei toda San Francisco na cara e na coragem para chegar no consultório do Dr. Nelson. Era umas três da tarde quando eu cheguei no consultório dele, e o infeliz estava se preparando pra ir (junto com a sua barriga desproporcional) pra academia dar suas aulas.

─ Dr. Nelson, preciso de uma consulta séria hoje ─ falei, jogando minha bolsa na mesa dele.

─ Uh, então não era mentira quando marcaram uma consulta pra você ─ murmurou ele, jogando sua enorme bolsa na mesa da secretária assim que eu entrei no consultório ─ Pode ir pro divã, mas já vou avisando que tenho que sair daqui a quinze minutos. O que aconteceu com o seu diário?

─ Está muito bem, obrigado, e a dona dele também ─ ironizei, indo pro divã. Me joguei nele, cruzando as pernas ─ Sei lá, acho que não está funcionando muito bem.

Nelson colocou seu jaleco branco por cima do colã preto da academia e se sentou na sua poltrona fofa. Acho que isso era um sinal claro de que estava começando a seção.

─ Como assim? ─ perguntou ele, pegando um bloquinho e uma caneta.

─ Perdi o controle, completamente. Fiz alguns escândalos, armei um plano diabólico que não deu certo, tenho um admirador secreto, que ao que parece é o menino de quem a minha ex-amiga que estava me traindo esse tempo todo gosta, virei amiga da irmã do cara que eu odeio, aliás o cara que me ajudou no tal plano diabólico mas que acabou se tornando vítima, e é claro, estou expulsa da minha escola. ─ desabafei, respirando fundo.

Apesar de que eu sempre reclamo com Nelson, ele é um bom psicólogo em geral. Sem que eu me desse conta, comecei a contar em todos os detalhes tudo o que havia acontecido e ele ia anotando logo. Ele me deu uma série de folhas que eu tinha que responder perguntas de múltipla escolha e logo fizemos um jogo de perguntas rápidas.

Ao final da seção, fomos para "A Mesa Do Juízo", que nada mais era que a mesa do Dr. Nelson, onde ele se sentava em sua poltrona de couro preto atrás da mesa e eu tinha que sentar em uma cadeira nada confortável na sua frente.

─ Parece que o seu diagnóstico piorou desde a última vez ─ murmurou ele, me entregando um envelope ─ Sinto muito Alex, mas se não se cuidar pode até ser internada.

─ Ah não, eu venho aqui em busca de apoio e o senhor ainda me joga mais problemas! ─ exclamei indignada ─ Qual é, a culpa não é minha se os seus alunos estão descontentes com as suas aulas.

─ Não estou jogando problemas, apenas mostrando a verdade. E os meus alunos gostam sim da minhas aulas ─ murmurou ele, todo ofendido.

Dei uma risada alta e estridente, porque toda aquela situação era no mínimo ridícula.

─ Não, absolutamente. Na verdade, todas elas tem medo de que você possa matá-las, mas a culpa disso obviamente é dessa sua cara de assassino ─ expliquei, dando uma risada mais contida.

Nelson suspirou e jogou o bloco em cima da mesa. Não havia nada escrito ali, nada sobre a minha consulta, apenas um maldito esboço da porcaria da academia onde ele dava aula!

─ O senhor gastou meu tempo fazendo isso! ─ gritei, arrancando a folha e praticamente esfregando na cara dele ─ Meu dinheiro não foi achada no lixo, não mesmo.

─ Isso porque não precisei escrever nada, Aléxia. Eu já falei ─ retrucou ele, tirando o seu jaleco e ficando apenas de colã. Era uma visão do inferno ─ Eu posso te ajudar, podemos até internar você em uma clínica, mas a solução para os seus problemas é você. Você mesma tem a resposta pra tudo isso que está acontecendo.

─ Estranhamente... eu não sei qual resposta! ─ gritei, o encarando ─ Eu não sei o que está acontecendo comigo.

─ Continue com o diário ─ disse ele, abrindo a porta de vidro e quase me empurrando pra que eu saísse. ─ Em breve você acha a saída.

Agora eu realmente tinha certeza de que eu não precisava de psicólogo nenhum, até porque eu não tinha problemas. E é claro, que as chances do diploma de medicina do Nelson ser falso eram muito maiores que ego dele.

Aléxia