Ressurreição escrita por Jaque de Marco


Capítulo 4
Capítulo 4 - A lenda


Notas iniciais do capítulo

“De onde você veio? Evolução? Criação? Será que nós não podemos ter nos desenvolvido da mesma forma que as outras espécies, predador e presa? Ou, se você não acredita que esse mundo inteiro surgiu do nada, como eu mesmo acho difícil de acreditar, será que não dá pra você acreditar que a mesma Força Maior que criou o peixe anjo e o tubarão, o golfinho e a baleia assassina, tenha também criado nossas duas espécies?"

(Edward Cullen – Crepúsculo – capítulo 14)



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Eu sentia o papel amassado em minhas mãos, mas não saberia definir a quanto tempo estava sentada na beira da cama, ainda de pijamas. Meu rosto não estava mais molhado, mas eu podia sentir o caminho por onde as lágrimas escorreram.

Não me odeie, precisei deixá-la”, ele havia escrito. Ele foi embora. De novo. Como ele podia fazer isso? E no dia do nosso casamento. A data sempre fora mais importante para ele do que para mim. Não podia deixar de me questionar o que eu fiz para que ele resolvesse partir. Eu o amava mais do que a qualquer outra pessoa. E ele? Ele me amava? Sim, sabia que ele me amava... ele escrevera na carta.

Desesperadamente recobrei a consciência e desamassei o papel pressionando-o e o alisando contra a minha perna.

Jamais poderia deixá-la partir, nem sequer poderia ir embora para sempre... um grande egoísmo da minha parte. Mas não consigo.”

Eu sabia que as palavras de Edward eram verdadeiras. Apesar de sua partida, eu sabia, eu sentia.

Eu lhe juro que este não é um adeus. Eu lhe juro que estaremos juntos novamente e, desta vez, será por inteiro”.

Não era como na primeira vez que ele havia partido, desta vez ele prometeu voltar. Eu me levantei rapidamente e corri para o meu guarda-roupa. Algo fizera Edward ir embora, havia um motivo, e desta vez não era por mim. Pelo menos não da maneira que meu coração mais temia.

Eu me arrumei rapidamente e desci com a chave da caminhonete em mãos. Precisava ir à casa dos Cullen. E se todos tivessem partido? Passei correndo pela cozinha para não ter que me explicar a Charlie, mas para meu alívio parecia que estava sozinha em casa. Provavelmente ele já havia ido buscar Renné e Phil no aeroporto.

Corri para a minha caminhonete, me jogando no banco e girando a chave antes mesmo de fechar a porta, mas nada aconteceu. O motor não fez nenhum barulho que indicasse algum tipo de funcionamento. Há meses a caminhonete apresentava problemas, mas ela tinha que parar de funcionar justo na hora que mais eu precisava dela?

Desci e segui para frente do veículo. Não entendia nada de mecânica, mas deveria haver algo que pudesse fazer. Não poderia ficar parada, chorando. Não dessa vez!

Levantei o capô e suspirei. Havia um emaranhado de fios e peças sujas de graxa das quais não fazia nem idéia do nome. Não daria certo, não sabia mexer com isso.

Então ouvi um carro se aproximando. O som era único. Senti meu coração disparar na mesma hora em que vi o volvo prata passar rapidamente por mim e estacionar a alguns metros. Abaixei o capô da caminhonete com mais violência do que pode ser agüentado por um veículo antigo como aquele, mas não me importei. Corri desesperadamente para o carro, para Edward. Ele havia se arrependido e eu o perdoava.

Assim que cheguei, ouvi o som do vidro elétrico funcionando, revelando que não era Edward no volante.

- Suba, Bella, precisamos conversar – Alice indicou o outro lado do carro com os olhos.

- O que você está fazendo com o carro do Edward?

- Bella, por favor, apenas suba. – o olhar de Alice me fez desmanchar. Ela também parecia preocupada.

Eu contornei o volvo olhando meus pés. Edward provavelmente partira sozinho. Mas por quê?

Assim, que cheguei à porta do passageiro, Rosalie estava parada lá, com um olhar claro de piedade, segurando a porta aberta. Ela me cumprimentou com um aceno de cabeça antes de me acomodar e voltar a se sentar no banco de couro do carro.

Alice deu a partida e seguiu sem falar nada. Ficamos as três em silêncio por alguns instantes. Eu tinha tanta coisa para perguntar que não sabia nem por onde começar. Assisti as árvores da floresta que contornava a estrada se transformarem em vultos verdes, conforme o volvo ganhava mais velocidade.

- Para onde Edward foi?

- Provavelmente algum lugar na América do Sul.

- Você sabia! – acusei Alice em um tom de voz mais alto do que o planejado. Senti o sangue pulsar no meu rosto.

- Acalme-se, Bella. – Rosalie virou-se.

A conversa me fez lembrar dos últimos acontecimentos na casa dos Cullen na noite anterior. Alice tivera uma visão. Ela tinha visto o que Edward estava planejando e ele me enganou dizendo que a visão de Alice era sobre o nosso casamento.

- Por que ele foi embora?

Esta era a principal questão em minha mente. Não havia motivos para partir. Eu e Edward nunca estivemos em melhor fase no nosso relacionamento.

- Bella, estamos te levando para casa. – Rosalie falava num tom quase implorativo - Ninguém melhor que Carlisle pode te explicar o que está acontecendo.

De alguma forma, sabia que era verdade. Encostei-me no banco, decidida a não chorar.

Seguimos o caminho em silêncio. Rosalie abriu novamente a porta do passageiro assim que paramos em frente à casa dos Cullen. Sem aviso, Alice passou seu braço pelo meu, me acompanhando com um passo humano até a porta.

- Bella. – Carlisle me cumprimentou assim que entrei.

Todos estavam presentes e assim que coloquei o pé na casa dos Cullen me senti mais calma. Parecia que tudo seria resolvido. Nunca saberia dizer se isso era um sentimento real ou efeito do poder de Jasper sobre mim.

- Onde está Edward?

- Venha comigo – Carlisle falava enquanto indicava as escadas – temos muitas coisas para conversar.

Soltei-me dos braços de Alice e segui Carlisle pelas escadas. Podia sentir os olhares de Esme, Rosalie, Emmett, Alice e Jasper sobre mim. Olhares de piedade. Senti um arrepio com a sensação.

- Por aqui, Bella. – Carlisle disse abrindo uma porta.

Segui-o até a sala cheia de livros que Edward tinha me indicado há alguns anos como o escritório de Carlisle. Sentei-me em frente a uma mesa de madeira maciça, muito antiga e cruzei minhas mãos. Podia sentir meus pés baterem de impaciência no piso de madeira enquanto assistia Carlisle contornar a mesa antes de sentar-se.

- Esta noite tive uma conversa muito séria com Edward antes dele partir.

- Você já sabia que ele ia embora? – perguntei indignada.

- Bella, isso tudo é muito mais complexo do que parece. Deixe-me falar por um instante, por favor.

Encarei minhas mãos no meu colo por um segundo e então meneei minha cabeça. Carlisle deu um meio sorriso e voltou a falar.

- Edward é o meu filho mais velho. Não sei se isso conta, mas ele é também o mais responsável e o que mais mantém pensamentos e convicções da época em que ainda era humano. Já conversei com você sobre isso uma vez, lembra-se?

Eu balancei levemente a cabeça. Edward tinha obsessão por tudo o que era correto, pelo puro. Ele tentava de todas as maneiras acreditar que ainda possuía uma alma... Enquanto eu tinha certeza disso.

- Pois bem. Eu sempre tratei a todos como meus filhos e, nestas tentativas, admito, cometi algumas falhas. A principal era querer protegê-los de todo o mal que eu mesmo já enfrentei. Eu não os ensinei a não tomar sangue humano, eu os induzi a isso. Eu não queria vê-los sofrendo a dor que eu sentia ao ver pessoas morrendo, ao ver o monstro, o animal que me transformara. – Carlisle falava muito concentrado em cada palavra que pronunciava – E não foi somente deste tipo de sofrimento que tentei mantê-los longe. Já passei por muitas coisas, Bella, que nem mesmo Esme, Edward, ou quem quer que seja sabe.

Senti-me estremecer involuntariamente às palavras de Carlisle. Podia sentir o tom frio, apreensivo nas palavras dele. Nem se quer pensei em questionar. Resolvi continuar sem mencionar uma única palavra.

- Como você sabe, meu pai era um pastor anglicano. Somente em 1534 a igreja anglicana se separou em definitivo da igreja católica romana, mas muitos de seus conhecimentos continuaram a ser passados de gerações em gerações. Meu pai, como muitos naquela época, acreditava em bruxaria, em diabos, em monstros... monstros como eu sou hoje. Mas como esse conhecimento, que hoje pode parecer fantasia e lenda para a maioria, era passado como verdade para o clero? – sabia que a pergunta dele era retórica – Eu não sei como surgiu o primeiro da minha espécie, mas quem foi o primeiro a lidar com um. E é a partir desta parte da história que nunca tinha contato a nenhum dos meus filhos. Pelo menos não até o dia de seu noivado, Bella.

Tive um sobressalto ao ouvir a palavra noivado. Não tinha pensado em nenhuma ligação entre meu casamento com a história de Carlisle. Na verdade, até o momento, não via ligação alguma na história.

- Sei da capacidade do poder dos meus filhos, em especial de Edward. Se quisesse guardar algum segredo de Edward, eu precisava, primeiramente, nunca deixá-lo desconfiado e depois jamais pensar no assunto perto dele. E foi isso que fiz por mais de um século. Edward nunca soube sobre a minha viagem a Espanha, antes de minha estadia em Volterra.

- Espanha? – minha voz saiu rouca por ter ficado muito tempo sem falar nada.

- Sim. Mas, Bella, para continuar eu terei que retroceder um pouco na história se não se incomodar. Prometo que você entenderá tudo no final.

Eu meneei com a cabeça antes dele continuar.

- Cerca de um século antes do meu nascimento, existiu um padre espanhol chamado Vicente de Valverde. Ele partiu com a força expedicionária espanhola para a america central. O exército espanhol visava à promessa de infinito ouro do império Inca enquanto as pretensões de Valverde eram estritamente religiosas. Ele queria converter todo o povo à religião cristã. Hoje, isso até pode parecer errado querer impor um pensamento desta maneira, mas na época era isso o considerado correto. Bella, você já ouviu falar sobre o Império Inca, não?

Concordei com a cabeça novamente, mas sem muita certeza. Já ouvira falar, mas lembrava-me somente de ter lido um rápido capítulo sobre isso em um livro do colegial. O tema não tinha nem sequer caído nas provas daquele bimestre.

- Pois bem – Carlisle continuou – Eles acreditavam em um deus maior, mas não o mesmo dos cristãos. Apesar disso, eles acreditavam na divindade de seu rei, o qual eles chamavam de Inca. Houve um rei que teve dois filhos, Huáscar e Atahualpa, este último seu filho ilegítimo. Com a morte do imperador, todo o povo estava divido entre os dois príncipes e dois reinos, que cresceram em constante rivalidade. O povo inca sempre foi conhecedor de ciências e saberes ocultos; coisas que se perderam com o fim de sua civilização. E há lendas que falavam que Atahualpa, o filho ilegítimo do rei, fizera um pacto, estava sob o domínio de um poder maléfico muito maior do que qualquer outra coisa já conhecida e derrotou seu irmão Huáscar em uma sangrenta batalha.

Soltei um suspiro após movimentar involuntariamente meus músculos enrijecidos. A história estava seguindo caminhos que jamais imaginara. Carlisle parou de falar e me encarou por um breve momento. Provavelmente estava pensando se a história estava me assustando.

- Pode continuar. – eu o encorajei. Ele pigarreou por um momento e prosseguiu.

- Atahualpa era então imperador, era o Inca no poder. O que ele não se atentou foi para as notícias da chegada de homens brancos naquelas terras. Os espanhóis. De algum modo, Atahualpa foi aprisionado, mas não morto. Há quem diga que os exploradores tinham planos maiores para ele, mas há quem afirme que Atahualpa não podia ser morto. É aí que entra o padre Valverde na história. Ele tinha a missão de converter o povo ao cristianismo e dizem que ele encontrou um grande desafio ao conhecer Atahualpa, o filho do sol, o novo Inca; aquele que para muitos era imortal.

- O que aconteceu com o rei? – não conseguia mais esperar.

- Atahualpa concordou em ser batizado e foi morto por estrangulamento em 1533, levando a civilização Inca ao seu fim. – Carlisle falou rapidamente, dando ênfase a palavra “morto” – Então temos um imperador feroz, conhecido como filho sol, considerado imortal, que foi morto um dia após se converter ao cristianismo. Entende onde quero chegar, Bella?

Sabia que havia algo perdido nas palavras de Carlisle que pareciam procurar as margens dos meus pensamentos. Eu tinha fatos soltos que precisavam ser amarrados. Uma história que precisava ter uma conexão com o que estava acontecendo com Edward, porque Carlisle não teria falado tudo aquilo em vão. E então algumas coisas pareceram clarear em minha mente. O domínio maláfico sobre o imperador, a sua imortalidade.

- Atahualpa era um vampiro.

- Acredito que ele tenha sido um dos primeiros.

- Mas você disse que ele havia morrido. – pensei alto.

- Existem duas possibilidades para isso. Ele forjou sua própria morte para fugir, o que não seria problema considerando o fato dele não precisar respirar mais. Ou, de alguma forma, padre Vicente Valverde conhecia uma maneira de trazê-lo novamente a vida. E foi me baseando nesta segunda opção que segui para a Espanha após a minha transformação, em 1666.

As palavras pareciam passear em minha cabeça. Então existia uma possibilidade, mesmo que remota, de um vampiro voltar a ser humano. Isso parecia completamente loucura aos meus ouvidos.

- Eu tomei o lugar de meu pai nas caçadas a seres malignos pouco antes da minha transformação. E foi nesta época que ouvi falar desta história, que ouvi falar em Vicente de Valverde. Nunca tinha dado real importancia a essa lenda até me transformar em um vampiro. Foi então que parti numa viagem desesperada por uma maneira de acabar com aquela maldição. Segui para Segovia, na Espanha, procurando informações sobre o passado de Valverde, mas consegui recolher poucos dados. Ele morreu em 1543, no Peru, e pelo que parece seus conhecimentos morreram com ele também.

- E então você desistiu de tentar voltar a ser humano?

- A medicina, os meus filhos, tudo isso hoje me dá forças para seguir a cada dia. É preferível não conhecer uma lenda se for ficar obcecado por ela. E é por este exato motivo que sempre tomei um cuidado extremo para não tocar no assunto nesta casa, especialmente perto de Edward.

Eu tinha certeza que Edward teria feito de tudo para provar esta hisótia. Ele tentaria de todas as maneiras conseguir fazer como Atahualpa e se transformar em humano novamente.

- O que isso tem a ver com o dia do meu noivado?

- No momento em que ouvi você e Edward conversando sobre a impossibilidade de estarem juntos, você humana e ele vampiro, eu cometi o maior erro de todos estes anos. O que eu sempre lutei para esconder, simplesmente saiu dos meus pensamentos, como numa conversa involuntária e silenciosa com Edward.

- Ele acredita nisso. – eu conclui.

- Ele me questionou hoje sobre a minha credibilidade nesta história e, Bella, peço perdão por não ter conseguido mentir. Eu acredito. Sinceramente acredito que exista essa possibilidade, mesmo que muito remota. O Deus que criou a sua raça e a minha não teria nos feito sem a chance do livre arbitrio. Eu acredito na compaixão Dele. E, infelizmente, é nisso que Edward acredita também.

- Então Edward está indo atrás de pistas sobre o padre espanhol para tentar provar essa história toda? – eu perguntei incrédula.

- Ele tem pesquisado muito sobre o assunto nos últimos meses, mas não tinha se dedidido sobre o que faria até a nossa conversa.

- Por isso Alice teve a visão somente ontem à noite.

Agora tudo fazia sentido. Ninguém, nem mesmo Alice, sabia dos planos de Edward, já que ele mesmo ainda não tinha decidido o que faria.

- Alice só consegue ver o que decidimos fazer. Ontem, ela viu Edward partindo, mas, pelo que ela me contou, o que mais a assustou foi ver Edward se transformando.

- Ele vai conseguir voltar a vida? – perguntei de sobressalto.

- Não temos como saber. Foi isso que ele decidiu fazer, então é isso que ela vê.

Entendia cada dia mais o poder de Alice. A visão dela sobre Edward se assemelhava muito a visão que ela tivera da minha transformação. Eu decidira que queria me transformar em vampira e foi isso que ela viu, mesmo que até hoje a visão não tenha se concretizado.

- Edward pediu para não lhe contar nada, Bella, mas não achei justo te deixar na escuridão como na última vez que ele partiu.

- Eu agradeço, Carlisle. Eu realmente precisava saber. – falava com uma onda de confiança crescendo no peito – Mas desta vez será completamente diferente daquela em que Edward partiu. Desta vez não esperarei. Eu vou atrás dele.

Assim que terminei de falar, ouvi um barulho às minhas costas de porta batendo. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, vi que todos os Cullen estavam presentes e falavam ao mesmo tempo. Não conseguia entender o que estavam dizendo.

- Esperem, um de cada vez. – Carlisle falou num tom mais alto que os demais, o que organizou o barulho. Ele voltou a se sentar e apontou para a vampira mais baixa – Alice?

- Estávamos lá embaixo e há uns instantes vi o que Bella ia decidir. Eu quero ir com ela atrás de Edward.

- Alice, como pode encorajar Bella a ir atrás de Edward? – Esme comentou.

- Ela ficará pior aqui longe dele. – Jasper indicou.

- Mas é muito perigoso envolvê-la nisso.

- Nós podemos protegê-la, Esme – Alice falou quase cantando.

- Você não pode ir. – Rosalie falou atrás do encosto de minha cadeira, me fazendo virar para encará-la – Todos sabem que você está organizando o casamento. Como explicará que os noivos fugiram e a organizadora do casamento também? Eu vou com Bella.

- Um momento, todos. – Carlisle chamou a atenção para si novamente – Não acho que Bella ir atrás de Edward seja a melhor opção, mas isto depende exclusivamente da decisão dela. Quanto a alguém ir com ela, me parece claro que isso é o que deve ser feito. – e olhando para Alice ele continuou – Rosalie tem razão, você está muito visada. Se vamos mentir para justificar a fuga de Edward e Bella, precisamos parecer surpresos.

- E o que diremos a todos? – Esme comentou.

- Diremos que Bella e Edward não aguentaram toda a cobrança e o rumo que o casamento grandioso estava os levando e fugiram para se casar.

Ouvi Alice pigarrear ao meu lado. Ela provavelmente estava detestando mais a idéia de atrasar o casamento do que de não poder me seguir atrás de Edward.

- Todos da cidade acham que Rosalie e Emmett estavam chegando hoje da Africa para o casamento. Ninguém notará a ausência deles nesta confusão toda. Eles são as melhores pessoas para acompanhar Bella.

Emmett soltou uma gargalhada animada que mais me pareceu um grunido.

- Bella, agora, você faz idéia da jornada que você estará seguindo se decidir ir atrás de Edward? – eu concordei com a cabeça e Carlisle continuou – Então que assim seja. Vamos preparar tudo para que vocês partam o mais rápido possível.


A respiração dela já estava compassada. Ela caíra no sono. O cabelo dela estava jogado sobre a lateral de seu rosto. As mãos dela descançavam sobre o travesseiro, bem ao lado de seu rosto. O anel de noivado brilhava na penumbra do quarto. Em breve, ela seria a minha esposa.

Como poderia deixá-la? Como poderia ficar sem isso... Sem esse cheiro floral, adocicado, único que emanava de suas veias. Sem essa pele quente, sensível ao meu toque. Sem ouvir as batidas do coração dela acelerarem ao me aproximar. Sem os lábios úmidos e macios tocando os meus.

Eu precisava partir. Eu partiria logo pela manhã, mas deixaria meu coração. Nunca poderia me perdoar pela dor que causaria a ela... novamente. Prometera a mim mesmo nunca mais deixá-la, mas sabia que desta vez seria diferente. Desta vez não seria para sempre. Desta vez, se tudo desse certo, voltaria melhor. Seria melhor para ela.

Eu prometi tantas coisas para Bella. E tudo foi e será cumprido. Mas me lembro de uma promessa específica que nunca pensei que poderia ser realizada. Pelo menos não até alguns meses atrás. “Se houvesse uma forma de me transformar em humano para você, não importa qual fosse o preço, eu pagaria”, eu disse a ela uma vez.

Ser humano. Viver novamente. Falava para mim mesmo todo dia que isso não passava de uma lenda, o que provavelmente era verdade, mas não consiguia me convencer. Precisava tentar. Devia isso a Bella. Ela merecia muito mais do que sou no momento.

Alisei delicadamente o rosto dela enquanto dormia. Ela não parecia estar sonhando. Estava tão tranquila. Um anjo que veio ao mundo para me salvar. Para me dar forças para continuar tentando. Jamais desistiria, não enquanto ainda tivesse Bella.

Levantei-me e segui até a escrivaninha ao lado da cama dela. Arranquei uma folha do caderno de escola dela e comecei a escrever a carta mais difícil de toda a minha existência.

Não me odeie, precisei deixá-la”. Por favor. Por favor, não me odeie. Era tudo o que pedia aos céus. Não saberia viver sem Bella.

Terminei a carta sentindo o desespero começar a tomar meu corpo. A partida estava próxima. Teria que deixá-la e todo o meu ser lutava contra isso. Caminhei até a cama onde Bella dormia. Agora ela parecia estar mais agitada. Ela estava sonhando. Era como se, mesmo inconscientemente, ela pressentisse o que eu estava para fazer. Será que era assim que funcionavam as almas gêmeas? Será que existia uma alma em mim? Sabia que este era um dos motivos que me motivavam a partir.

Sentei na beira da cama e passei meus dedos pelo rosto dela. Bella era tão linda. Tão frágil. Como eu a amava! Inclinei-me sobre o corpo dela e toquei de leve seus lábios. Uma parte de mim desejava desesperadamente que ela acordasse e me implorasse para ficar, mas a parte mais racional de mim sabia que isso só tornaria o inevitável mais difícil.

Coloquei uma mecha do cabelo dela atrás de sua orelha e sussurrei antes de partir a promessa: “Eu vou voltar”. E eu sabia que era verdade. Só esperava que fosse com sangue correndo nas minhas veias e com um coração batendo no meu peito.


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