Chegamos ao McDonald’s e logo sentamos em uma mesa perto das enormes janelas que davam visão a rua. Caitlin, Ryan e o Chaz foram fazer os pedidos, enquanto eu, o Chris e o Justin ficamos na mesa esperando. Peguei o meu celular e fiquei jogando um joguinho qualquer, deixando o Justin e o Chris conversando. Depois de algum tempo os três chegaram com bandejas na mão e os lanches em cima delas. Caitlin se sentou ao meu lado de dando um dos refrigerantes e um dos hamburguês.

Todos ali presentes conversavam e brincavam, enquanto eu me sentia ali, sozinha e deslocada. Aquele não era o meu lugar. Eles se conhecem a anos e cada um sabe tudo sobre o outro e eu não sei nada, e nem eles sabem nada sobre mim. E eu nem quero, pois se realmente souberem da verdadeira Mellanie que eu escondo no fundo da minha alma, sentiriam pena. Todos eles parecem não ter nenhum problema, parecem viver uma vida sem tristezas, tragédias, sofrimento, dor, inseguranças, solidão... Eles vivem em um mundo completamente diferente do meu. Um mundo do qual eu não faço parte. Eu sou apenas uma intrusa ali naquele lugar. Eles não... merecem alguém como eu na vida deles. Sei que só trarei problemas. Eu sempre atraio essas coisas, parece que elas me perseguem aonde eu vou. É inevitável. Por isso eu tento ao máximo me afastar de todas as pessoas, para que no futuro eu não sofra e nem as faça sofrer. Eles ali, aquele grupo de adolescentes que possuem uma vida gloriosa pela frente, são pessoas boas demais para terem que lidar com alguém como eu.

– Ei Mellanie, você está ouvindo o que estou falando? – Perguntou a Caitlin me tirando dos meus pensamentos.

– Ah, desculpa... Viajei aqui. – Falei sorrindo amarelo, fazendo a mesma rir e voltar a falar algo que eu apenas fingia prestar atenção. Apesar de a Caitlin ser uma pessoa um tanto quanto desligada e tagarela, ela era uma boa pessoa e por mais que eu já tenha dado alguns fora nela, na esperança dela se afastar, ela continua lá me ajudando.

– Vamos? – Perguntou a Caitlin.

– Sim... – Murmuramos em uníssono se levantando.

Saímos do McDonald’s e começamos a caminhar sem um rumo específico. Já estava no finalzinho de tarde. O sol ao fundo estava quase começando a se por, deveriam ser uma quatro ou cinco horas. Mais a frente estavam os meninos que faziam gracinhas e brincavam uns com os outros, e mais atrás estava eu e a Cait que por incrível que pareça, estava quieta.

– Agora nós vamos fazer o que? – Perguntei quebrando o silêncio.

– Ah... Não sei. – Falou pensativa. – Que tal vermos um filme?

– Por mim tudo bem. – Sorri fraco.

– Mas aonde? – Questionou ela olhando para a minha cara e piscando os olhinhos freneticamente.

– Tudo bem, pode ser no meu apartamento. – Falei rindo fraco.

– Ah! Obrigada! – Disse quase que dando pulinhos.

– Ei gente! – Falou a Caitlin chamando a atenção dos meninos. – Vamos ver um filme na casa da Mellanie?

– Pode ser. – Respondeu o Ryan voltando a conversar com os meninos que apenas deram de ombros.

– É, acho que isso foi um sim. – Disse brincando com a barra da minha blusa.

– Também acho! Vou ver se o Ryan vai alugar os filmes comigo. – Comentou apressando o passo e parando ao lado do Ryan, começando a falar com o mesmo.

No final acabou indo eu, o Chris, o Chaz e o Justin para o meu apartamento, e a Caitlin e o Ryan foram alugar os filmes. Tivemos que subir os seis andares de escada, pois o Bieber tem claustrofobia. Logo chegamos em frente ao meu apartamento. Peguei as chaves no bolso do short e destranquei a porta entrando seguida dos meninos que logo se jogaram no sofá. Fechei a porta colocando a chave e o meu celular em cima da mesma.

– Acho que vou pegar umas bebidas lá no meu apartamento. – Murmurou o Justin se ajeitando no sofá.

– Não precisa, eu tenho aqui. – Comentei tirando os meu sapatos e os jogando em qualquer lugar.

– Sério? – Perguntou.

– Uhum. – Afirmei. – Estão na geladeira. – Mal terminei a frase e o Justin e o Chaz se levantaram indo pegá-las na geladeira.

– Não sabia que bebia. – Comentou o Chaz colocando as garrafas na mesa.

– Há muitas coisas sobre mim que vocês não sabem. – Sorri divertida abrindo uma das garrafas de vodka e sentindo o líquido amargo descer pela minha garganta, já estava acostumada com o gosto.

– Isso soou meio sinistro. – Disse o Chris que era o único que estava bebendo uma latinha de coca cola, afinal ele era de menor. Na verdade todos nós somos de menor. Só temos 17 anos, mas quem se importa? Eu que não.

– Você mora aqui sozinha? – Perguntou o Chaz.

– Moro. – Respondi dando de ombros.

– Sério? – Insistiu.

– Uhum. Meus pais morreram quando eu tinha 15 anos, e minha avó morreu no final do ano passado, logo quando completei 17 anos. E bom, minha guarda ficou com o meu tio, que por ser muito ocupado e nem ligar tanto assim pra mim me deixou morar sozinha, porém na mesma cidade e prédio que a filha dele de 22 anos, acho que o nome é Lizziane, ou algo parecido. Ah, o bom é que ele que comprou o apartamento, mobiliou, e agora vai passar a pagar todas as despesas sem contar o cartão de credito que ele me deu. – Resumi praticamente a minha vida toda a aqueles garotos que apenas me encaravam um tanto quanto chocados.

– Ah... Meus pêsames. – Murmurou o Chris. Apenas dei de ombros mostrando indiferença, o que não era ao todo verdade. É lógico que eu me importo. Mais isso eu guardo para mim, ninguém precisa saber, se não sentirão pena de mim, e isso é o que menos quero.

– Tudo bem. Já faz muito tempo. – Disse tomando mais um longo gole da garrafa em minhas mãos. Ficou um silêncio um tanto quanto desconfortável entre nós que logo foi quebrado pelo barulho da porta se abrindo, de onde entrou o Ryan e Caitlin.

– E então alugaram que filmes? – Perguntou o Chaz.

– Arg. – Resmungou a Caitlin se sentando no chão.

– Dois de terror e três de ação. – Respondeu o Ryan a pergunta do Chaz. Sorri quando ele terminou a frase. Adoro filmes de terror.

– É! Ele não alugou nenhum filme que preste! – Exclamou a Caitlin que ainda resmungava.

– Que não presta? Prefiro mil vezes ver esses filmes do que aqueles filmes melosos que você gosta de assistir, que por sinal são um tédio. – Revidou o Ryan irritado.

– Arg! Não são um tédio coisa nenhuma! São apenas românticos e bonitos, ao contrário dessas porcarias cheias de violência e morte! – Gritou a Caitlin apontando o dedo na cara dele. Sério que eles estão discutindo por causa de gostos diferentes pra filmes?

– Eles são sempre assim? – Perguntei aos meninos que assistiam a cena normalmente.

– Não, às vezes são por motivos mais bobos ainda. – Respondeu o Justin. – Daqui a pouco eles se resolvem e ficam de bem.

– Hum... Quem vem fazer pipoca comigo? – Perguntei piscando os olhinhos.

– Eu vou. – Disse o Justin se levantando. Olhei meio torto para ele, mas não disse nada. Apenas levantei e segui para a cozinha, com ele logo atrás.

– Pega a pipoca no armário pra mim, por favor. – Pedi a ele que logo me entregou o pacote. A coloquei no microondas e o liguei. Me sentei na bancada da cozinha ao lado do Justin esperando a pipoca ficar pronta. – Pega as tigelas ali no armário. – Pedi novamente a ele que colocou as tigelas em cima da bancada.

Ouvimos o microondas apitar avisando que a pipoca já estava pronta. Me levantei e peguei o saco de pipocas o abrindo e despejando tudo em uma das tigelas. Peguei o outro pacote de pipoca e o coloquei no microondas, em seguida pegando uma garrafa de coca cola na geladeira e copos para quem quisesse.

– Hum... Você realmente passou por tudo aquilo sozinha? – Perguntou o Justin do nada.

– Sim... Por quê? – Respondi em dúvida franzindo o cenho.

– É que como uma menina conseguiu passar por tudo isso sozinha? Sem ninguém para ajudá-la ou confortá-la e dizer que tudo vai ficar bem? Eu só queria, sei lá, entender como você conseguiu suportar tudo. – Falou tudo de uma vez só, me fazendo respirar fundo antes de responder.

– Quanto mais as pessoas sofrem, mas elas aprendem a esconder e suportar a dor, até que ela se torne insignificante. Como uma velha e dolorosa amiga. – Respondi olhando os meus pulsos cobertos pelas pulseiras. – Eu apenas aprendi a conviver com a saudade a ignorando quando doía. Afinal, tudo no final passa. Nada dura para sempre.

Ele apenas me encarou com seus olhos que mais pareciam duas avelãs hipnotizantes. Ouvi o apito do microondas me fazendo desviar o olhar do dele. Me apressei em pegar a pipoca e despejá-la na outra tigela. Peguei uma das tigelas e alguns copos voltando para a sala seguida do Justin que carregava a outra tigela e a coca cola. Colocamos tudo em cima da mesa e nos sentamos no chão ao lado do Chaz, já que o sofá estava cheio. O Ryan logo tratou de colocar o filme fazendo a Caitlin reclamar outra vez. Peguei novamente a minha garrafa de vodka em cima da mesinha e virei outro longo gole na minha garganta seca.

[...]

– AAAH!!! RYAAAN, PARAAAA O FILME! EU TO COM MEDO!!! – Gritou a Caitlin pela quinta vez durante o filme.

– Caitlin já está no final, deixa a gente terminar de ver. – Resmungou o Ryan com os olhos vidrados na cena que passava na televisão. O filme até que era bom.

– É sério, por favor. – Pediu a Cait com a voz chorosa. Fazendo todos nós bufarmos impaciente.

– Se não quer ver sai daqui. – Falou o Justin também com os olhos vidrados na TV.

– Nem morta que eu vou saiu daqui sozinha! Vai que aparece um desses bichos ai do filme! – Exclamou ela fazendo todos nós soltarmos risos fracos ainda vidrados no filme.

– AAAAAAAAHHHHH!!! – Ta, dessa vez não foi a Caitlin e sim o Chris que gritou que nem uma menininha no final do filme.

– Meu deus! – Disse o Justin.

– Esse filme foi...

– Demais! – Terminou o Chaz interrompendo o Ryan.

Apenas ri fraco me levantando com outra garrafa de vodka nas mãos. Já perdi até a conta de quantas eu tomei, só sei que estava vendo tudo rodando. Dei nem dois passos e me desequilibrei quase caindo no chão. Os meninos não estavam tão diferentes de mim. Os únicos que não beberam foram a Caitlin e o Chris. O resto nem se fala.

– Eu que estou tonto ou a Mellanie tem uma irmã gêmea? – Perguntou o Chaz com a voz um pouco embolada.

– Não... Realmente tem duas Mellanies. – Respondeu o Ryan.

– Não tem duas Mellanies coisa nenhuma! Vocês que beberam demais! – Disse a Caitlin revirando os olhos.

Peguei o meu celular em cima da mesa vendo as horas. Já eram 22:00hrs. Ficamos vendo filme a tarde toda. Vimos mais de três filmes e acabamos com quase todo o meu estoque de bebidas.

– Eu acho que já está na hora da gente ir. – Disse o Justin meio embolado.

– Como assim ir? Vocês estão completamente bêbados! – Falou o Chris revirando os olhos. Tomei outro gole da minha garrafa me sentando no chão mesmo. Já não estava mais aguentando ficar em pé.

– Ah, mas eu moro aqui no prédio mesmo. – Insistiu o Justin tentando se levantar e caindo de volta no sofá. – Pensando bem aqui está bem confortável.

– Mellanie podemos dormir aqui hoje? – Perguntou a Caitlin se referindo a ela e os meninos.

– Uh... Tudo bem. – Respondi meio embolado tentando me levantar sem sucesso.

– Nossa o Chaz já está até dormindo. – Comentou o Chris apontando para o Chaz que dormia de boca aberta no sofá.

– Onde nós podemos dormir? – Perguntou novamente a Caitlin.

– Ah, sei lá. Acho que tem um quarto de hospedes em algum lugar... – Respondi conseguindo me levantar apoiada na mesa.

– Tudo bem. Chris vai dormir no quarto de hospedes com o Ryan e o Justin. – Disse a Caitlin ao Chris.

– Eu não vou dormir na mesma cama que eles. – Falou o Chris apontando para o Ryan e o Justin que estavam jogados no chão da sala. Bufei soltando a mesa e andei quase caindo até o sofá, onde o Chaz estava dormindo.

– Vamos dormir? – Perguntei ao Ryan e ao Justin que logo se levantaram. Deixamos o Chris e a Caitlin discutindo lá na sala e fomos dormir no meu quarto.

Me joguei na cama e liguei o ar condicionado enquanto os meninos tiravam a blusa. Me virei para o outro lado e logo senti o espaço da cama ao meu lado afundar. Fechei os meus olhos e bocejei cansada. Só quando eu bebo que consigo dormir sem ter que tomar remédios. Suspirei e rapidamente senti o sono me levar.