Deixei o telefone cair no chão e levei minhas mãos à boca. Lágrimas salgadas já caiam livremente dos meus olhos passando pelo contorno do meu rosto até pingarem no chão. Encostei-me a parede e escorreguei até estar sentada no piso gélido. A essa hora eu já soluçava alto, meu choro era incontrolável. Lágrimas e mais lágrimas caiam sem parar. Funguei e passei a mão pelo rosto tentando secar as lágrimas, o que foi inútil. Dobrei meus joelhos e afundei minha cabeça nos mesmos. Naquele momento eu só queria ficar sozinha. Sozinha comigo mesma e minhas lágrimas. Eu só queria poder sumir e nunca mais voltar. Poder esquecer todos os problemas e todas as mágoas que guardo em meu coração.

Joguei a cabeça para trás e me lembrei de tudo pelo que já passei. Por que minha vida tinha que ser tão complicada? Por que todo mundo que eu amo sempre se vai? Por que sempre que encontro um pouquinho de felicidade, alguém sente prazer em tirá-la de mim? Por que não posso viver em paz? Por que logo agora que eu já estava me acostumando com essa cidade chata e a vida aqui sem graça? Por que logo agora ela tinha que morrer? Por que ela tinha que me deixar? Ela era a única coisa que eu tinha. A única pessoa que se importava comigo. Sem ela eu não tenho nada, não tenho ninguém. Sem ela eu ficarei perdida. Foi ela que me ajudou quando eu precisei. É por causa dela que agora estou aqui, se não fosse por ela, a essa hora eu poderia estar morta, ou em uma clínica de reabilitação. É... Depois que meus pais morreram eu me envolvi com drogas e bebidas. Também cheguei a me mutilar, mas não foi só esse o motivo. Antes de meus pais morrerem eu namorei um cara que se drogava, mas eu só fui descobrir isso quando ele começou a me bater e a me obrigar a cheirar as drogas que ele fumava. Porém eu nunca contei isso a ninguém com medo de que ele fizesse algo contra os meus pais. E, bom, eu só fui me livrar dele quando meus pais morreram e eu fui morar com minha avó em outra cidade. Mas mesmo assim eu continuei bebendo e me drogando, como uma forma de afugentar a dor que eu sentia pela perda. Como uma forma de me refugiar do mundo e do sofrimento. Porém minha avó me ajudou a parar e hoje eu estou aqui sem ela. Ela se foi e me deixou sozinha e desamparada. Ela morreu e foi para o que muitos dizem ser um lugar melhor.

Abri os olhos e funguei fortemente. Passei minhas mãos geladas sobre o meu rosto quente das lágrimas. Me levantei lentamente e me olhei no espelho vendo que meus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar. Peguei o telefone do qual acabo de receber uma das piores notícias da minha vida, e o coloquei na mesinha que ali tinha. Olhei-me novamente no espelho vendo o meu estado deplorável. Fechei os olhos fortemente e disse a mim mesma que eu não era assim. Eu não podia ser assim. Eu tenho que ser forte. Não posse ser fraca e me render a essa tentação. Eu sei que se ela estivesse aqui hoje iria querer que eu fosse feliz e seguisse em frente. Mas feliz é algo que eu sei que nunca serei. Não com esses problemas. Esses problemas que me tornam frágil. Mas ninguém pode saber disso. Ninguém pode saber da garota fraca que eu realmente sou. Ninguém. Pra eles eu sou aquela garota forte que não se importa com ninguém. Sou aquela garota fria e calculista. Aquela garota que muitos julgam sem realmente saber o que a fez ser assim. Mas eu não me importo. Já faz um tempo que eu decidi não ser mais a menininha na qual todos pisam. Eu decidi ser a garota que pisa. Eu sou a garota que devido as coisas pela qual passou na vida foi obrigada a ser assim. Foi obrigada a colocar uma máscara e fingir não se importar com nada. A fingir que está bem do jeito que está. Sozinha...