Dean respirou mais aliviado quando viu a criatura correr para o lado oposto que se encontrava e saiu em disparada de onde havia ouvido o irmão gritar seu nome. Galhos das árvores lhe cortavam os braços e o rosto, mas não se dava ao luxo de parar ele cuidaria de suas feridas mais tarde em um lugar quente, seguro e confortável. Sem ver quase nada a sua frente acabou trombando de frente com Sam. Ambos quase caíram ao solo.

                - Cara que susto! – Dean colocava as mãos sobre os joelhos tentando ganhar um pouco de ar.

                - Dean, onde ela está? Você está bem? – Sam olhava o irmão mas pouco conseguia enxergar.

                - Tô...tô ótimo! – o loiro dizia sarcasticamente. – vamos tentar chegar até o carro e fugir deste labirinto verde.

                - Mas temos que acabar com a Lâmia! – Sam dizia, porém já seguia o irmão.

                - Tá brincando? Quase fomos mortos por essa criatura mitológica ressuscitada não sei da onde! Descarreguei as balas naquelas escamas de ferro e ainda por cima perdi a espada que o Bobby nos deu. Então sugiro uma rápida retirada desses nossos belos traseiros enquanto se movimentam.

                Sam e Dean pararam subitamente, a sua frente havia um precipício coberto por um nevoeiro e um vento tão frio que podia congelar seus ossos. As nuvens deram lugar para uma lua cheia que emanou claridade sobre os irmãos e ambos visualizaram aqueles pares de olhos de fogo correndo ao encontro deles.

                - Estamos perdidos! – foi a ultima palavra de Sam antes de olhar para Dean e concordar com a maluquice que estava estampada em seus olhos.

                Não houve tempo para cálculos, ou para medirem a profundidade daquele abismo a sua frente, apenas jogaram-se e seus gritos diminuíam à medida que caíam. Sam sentiu o impacto das águas congelantes em seus ossos, a dificuldade na respiração turvava seu raciocínio de direção. Sua única chance de sobreviver era encontrar algo que pudesse sustentá-lo na superfície, lutou contra as dores que queimavam sua pele e para sua surpresa agarrou-se em um tronco enorme de uma árvore deixando-se ganhar um pouco de fôlego. Sentia uma vontade enorme de fechar os olhos, estava beirando a inconsciência. Ele sabia disso. Seus dedos começaram a deslizar do tronco, suas unhas estavam cravadas em busca de apoio e segurança. Lutou tudo que seu corpo agüentava, tentou nadar. Sentiu que a dor intensificou-se ainda mais e não conseguiu ficar submerso, seu corpo começou a afundar. Sam sentiu a morte envolvendo-o naquelas águas gélidas e escuras. A imagem do irmão lhe veio à mente, abriu os olhos não se importando com a dor. E em meio à escuridão conseguia vislumbrar a luz que a figura do irmão lhe projetava e com aquela visão que aquecia sua lembrança deixou-se levar.

                Dean lutava desesperadamente para emergir junto com o irmão que estava inconsciente. O loiro estava agarrado ao irmão se esforçando ao máximo para poder voltar a respirar novamente, estava esgotado pelo esforço sobre-humano. Seria fácil para ele nadar se ao menos Sam estivesse consciente. Morreriam os dois, mas ele não largaria seu irmão por nada nesse mundo, nasceu protegendo-o, morreria por isso. E em um último impulso sua cabeça emergiu e o ar entrou como uma bomba em seus pulmões. Manteve a cabeça de Sam para fora da água e nadou até a superfície encontrando em fim terra firme. Dean queria ficar ali descansando um pouco, mas tinha que reanimar o moreno. Ele aplicou os primeiros socorros e suspirou aliviado quando um gemido seguido de água escapou dos lábios de Sam. Vendo que a respiração do irmão estava quase normal, a adrenalina do corpo do loiro esvaiu-se e mergulhou na escuridão que teimara em aparecer ferozmente diante de seus olhos.

                Horas se passaram o dia já havia amanhecido. Sam abriu os olhos, estava completamente perdido em seus devaneios entre estar vivo ou morto. Olhou ao redor e viu uma fogueira acesa, sentiu um agradável calor que emanava dela. Tentou levantar-se ao lembrar-se do irmão, porém caiu antes que percebesse. E uma voz tão querida se fez presente, nunca seu nome foi tão bom ser ouvido antes como neste momento.

                - O que está fazendo, Sammy? – Dean chegava com o peito nu segurando um punhado de lenha.

                - Dean...cara como estou feliz em te ver! – Sam sorria feito uma criança diante de seu doce preferido.

                - Tá, mas não tente se levantar. Você está com um corte feio na perna. Perdeu muito sangue, tentei fazer o máximo neste curativo, então não vá colocar minha obra prima no lixo, ok? – dizia o loiro colocando os gravetos no solo e colocando sua mão na testa do irmão. – Felizmente a febre cedeu, tive medo de ter perder.

                - O que aconteceu? – Sam olhava para o curativo em sua perna.

                - Pulamos aquele penhasco e por sorte ainda estamos vivos, fomos arrastados e quase morremos afogados. – o loiro limpou o próprio suor.

                - Dean obrigado por ter me salvado, tentei ao máximo manter o foco mas... eu sinto muito.

                - Deixa disso, sua perna machucada contribuiu para sua perda de consciência.

                Sam observava o irmão colocando os gravetos no fogo, logo uma mancha escura no abdômen do loiro chamou-lhe a atenção.

                - Você está ferido? – Sam fez sinal para o tórax de Dean.

                - Ah, é. Pensei que tivesse quebrado uma costela, mas me enganei ainda bem. – Sam fez sinal para que Dean chegasse mais perto.

                - Deixe-me ver ou levanto daqui e acabo com sua “obra de arte” na minha perna.

                - Você é um porre sabia? – o jovem aproximou-se do irmão e soltou um palavrão quando o mais moço pressionou o local com a ponta de seus dedos.

                - Não seja uma menininha Dean! – Sam tentava descontrair o mais velho.

                - Não enche minha paciência Sammy, essa merda dói! – Dean afastou-se e recolocou sua camisa que havia colocado para secar.

                Sam olhou ao redor, era um lugar muito lindo e ao mesmo tempo assustador. Dean também admirava o lugar, enquanto seu irmão estava desacordado ele havia percorrido os arredores em busca de casas, pessoas. Nada encontrou, além de uma imensidão de mar verde e uma ponte distante.

                - Dean, que lugar é esse? – Sam o olhava com nítida preocupação.

                - Sei tanto quanto você irmão. Na queda perdemos nossos celulares, este aqui foi o único que sobrou. – Dean colocou a mão no bolso e estendeu novamente com um celular na palma de sua mão.

                - Está ensopado me dê ele, irei desmontá-lo e deixar secar. Acho difícil voltar a funcionar, mas não temos alternativa. – disse Sam recebendo o aparelho das mãos de Dean.

                - Bobby sabe onde fomos e certamente irá a nossa procura, só espero que ele não dê de frente com aquela criatura bizarra. Logo irá anoitecer temos que achar algum local coberto e seguro para passarmos a noite. Odeio acampar! – disse o loiro chutando uma pedrinha que estava a sua frente.

                - É eu sei disso, só espero não encontrar nenhum wendigo perdido por aqui. – Sam tentava ajeitar-se melhor.

                Os dois irmãos permaneceram calados olhando o fogo que crepitava cada um deles sabia os perigos que poderiam encontrar em uma floresta inóspita. Dean ajeitou o máximo que pôde para passarem a noite, de cipós cercou o local onde ficariam, se algum animal aproximasse de onde estavam esbarrariam no cipó com latas presas neles o que ocasionaria um “alarme” de perigo aos Winchester.

                - Eu fico com o primeiro turno da noite, depois acordo você. – Dean falou segurando uma lança.

                - Certo, mas onde você encontrou isso. – Sam olhou para a lança pontiaguda.

                - Ao que tudo indica não fomos os únicos perdidos neste lugar. Encontrei várias coisas e dentre elas essa belezinha. –Dean sorria para o irmão com a lança em guarda.