Meet Athena escrita por Nunah


Capítulo 9
capítulo 8 - usado e abusado


Notas iniciais do capítulo

Foi mal pela demora, sério.



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Some of them want to use you,

Some of them want to get used by you,

Some of them want to abuse you,

Some of them want to be abused.

- Sweet Dreams (Are Made of This)

Athena

Foi até legal sair com Hera, ela é uma pessoa com quem você sempre fica bem, ela te passa uma paz de espírito muito boa. Acho que está bem animada com o bebê, ainda mais por meu pai ter aceitado.

Depois de muito rodar por aí, nós decidimos que uma mulher grávida não devia ficar de um lado para o outro o dia todo, por isso finalmente entramos no carro. Meus pés já estavam doendo!

Fiquei imaginando como ela não sentia nada, principalmente naquele estado. Ela ainda fez questão de dirigir e estava com um sorriso bobo estampado na cara como se fosse o dia mais feliz de sua vida, do que eu não duvidava.

Sorri com aquilo. Era bom ver como as coisas estavam indo bem. Parecia que naquele momento nada podia estragar a felicidade em que nossa família se encontrava. Era um alívio tão grande ver que as coisas estavam se acertando pouco a pouco em nossas vidas, um tipo de paz que não dá pra colocar em palavras. Como se você olhasse as coisas acontecendo ao seu redor e não ficasse nem um pouco preocupado, porque você sabia que tudo daria certo. A sensação é mais ou menos assim.

Quando chegamos em casa não foi surpresa alguma acendermos as luzes e todos estarem sorrindo, a casa estar inteirinha decorada como nas festas de fim de ano, ter besteiras para comer por todos os lados e muito mais....

Acho que Deméter estava nos dando uma folga de seus cereais. Devíamos ter mais bebês, assim não precisaríamos comer aquelas coisas com gosto de isopor todos os dias.

O que é que eu estou falando, meu Deus?... Acho que é consequência de um dia inteiro de compras... Ah, cale essa boca Athena. Sh.

Poseidon

Passei o dia ajudando as pessoas daqui de casa a fazerem essa comemoração “surpresa” para Hera e o bebê (acho que para Zeus também), mas eu tinha certeza de que ela sabe a família que tem.

Fiquei pensando no que meu pai dissera. Quero que venha aqui hoje à noite. Eu não deveria obedecê-lo. Eu deveria era frustrá-lo, mostrá-lo que eu não era sua propriedade, como ele sempre pensara. Eu sou maior de idade, que merda. Sou um cara maior de idade que cursa Biologia Marinha e está morando na casa da amiga que ele beijou e com a família louca dela.

Isso. Eu não vou. Aff, para quê? Para ele ficar me infernizando mais? Falando que eu ainda era seu escravo e faria tudo o que ele dissesse? Isso não é um pedido. Estou falando Poseidon, quero você aqui hoje à noite. E venha sozinho.

Mas é muita cara de pau mesmo, não? Se sentir no direito de exigir uma coisa, quando nem meu pai ele foi. Eu não sou um escravo, que inferno. Por que estou pensando nisso ainda? Como a possibilidade de ir até lá sequer passou pela minha cabeça? Eu não devo estar pensando direito.

Você vai vir.

É. Eu poderia dizer que não, discutir com minha própria consciência, gritar e me socar, mas no final eu iria, porque a curiosidade era maior do que qualquer outra coisa. O que ele poderia fazer? Me amarrar na perna da mesa pra eu não fugir? Ah, faça-me o favor. Como eu disse, ele odeia escândalos, e o que aconteceu naquela noite foi demais para sua imagem.

Hera e Athena tinham acabado de chegar. As duas foram tomar banho, mas Athena já estava de volta. Acho que Hera estava fazendo as coisas o mais devagar possível, com medo de acontecer algo. Tanto faz.

Athena estava impressionantemente mais linda ainda. Com um vestido azul que fazia seus olhos brilharem mais do que o normal. Ela estava de azul no dia em que a conheci de fato. Mas agora era diferente, muitas coisas tinham mudado. E quando seus olhos encontraram os meus, não consegui não sorrir. A cada dia que passava, ela tomava mais de meu ser, tudo o que eu fazia e pensava tinha a ver um pouco com ela.

Athena tinha virado minha vida de cabeça para baixo. Eu passara a precisar dela perto de mim para viver. Não sei se é algo normal com amigos.

Eu estava chegando à porta, para pegar o carro e encontrar Cronos. Mas ela veio até mim com uma naturalidade tão grande que me fez pensar duas vezes.

- Espero que ninguém tenha abusado muito de sua boa vontade. – disse ela, sorrindo.

Não pude conter o impulso de brincar com seu cabelo, era tão macio.

- Não, não se preocupe com isso, mi luna.

Seus olhos brilharam mais, se isso é possível. Ela abriu a boca, mas a fechou em seguida. Acho que não esperava algo assim. Era simples, “minha lua”. Só achei que cairia bem por causa da cor de seu vestido, de seus olhos, o brilho de seu cabelo.

- Posso saber aonde pensa que vai, señor?

- Tenho alguns problemas para resolver, mas volto logo. – seu semblante assumiu o tom preocupado que eu tentava evitar. – Hasta la vista.

Aquilo a fez revirar os olhos. Falar Espanhol não era o meu forte, mas talvez servisse para descontrair de vez em quando.

- Esses pressentimentos... – eu a ouvi murmurando enquanto saía. Que pressentimentos, afinal?

Procurei não pensar muito a respeito enquanto dirigia, não queria causar nenhum acidente por falta de atenção e nem ficar me torturando com especulações sobre o que estaria por vir.

Quando cheguei, fui recebido por meu irmão, Hades, o que até me fez sorrir. Mas esse sorriso desapareceu logo que percebi seu estado acabado.

Ele estava mais abatido que o normal, com os olhos sem brilho e seu sorriso, apesar de reconfortante, era triste. Meu irmão me recebeu bem, me abraçou e eu realmente acreditei que estava feliz por me ver. Eu sabia que viver e suportar sozinho meus pais não era algo fácil de fazer.

E Hades... bem, ele não era do tipo que gosta de desafios. Preferiu sempre ficar em seu canto, sozinho, com seus pensamentos. E agora ele tinha de tomar meu lugar na família e aguentar toda a pressão e a atenção em excesso.

- Você não parece bem, irmão. Estão pressionando demais? – perguntei.

Ele engoliu em seco, abaixando a cabeça.

- Acho que não pode ficar pior. – disse ele, sorrindo de escárnio. – Só preciso suportar por mais um tempo antes de me formar e ir embora.

- Não diga isso, tudo pode piorar. E parece que quanto mais você duvida, mais essas coisas te provam que você está errado.

Fechei a porta atrás de mim. Minha mãe, Réia, apareceu de sei lá onde com uma expressão severa.

- Hades! Eu disse que não era pra ficar conversando, seu pai está perdendo preciosos minutos enquanto você coloca a conversa em dia, garoto! – seu cenho estava franzido e os olhos eram duros.

Ela me encarou, engoliu em seco e me puxou pelo braço até o armário de casacos no corredor, sempre atenta a algum movimento nos outros cômodos, como se não quisesse que nos vissem.

Eu fui apertado, puxado e praticamente espancado enquanto minha querida mãe me vestia com “roupas decentes”, que ela julgava serem muito melhores e mais adequadas do que meus “trapos”.

Eu não entendia o sentido de tudo aquilo. A visita, ou melhor, a convocação que me fizeram, era pra ser rápida. Eu só estava ali pra saber que merda meu pai queria, mas nããão, dona Réia tinha que me arrastar e me vestir com uma camisa de botões, calças e sapatos sociais.

Cara, que porra é essa? Eu não vou à ópera.

Mas ok. Eu podia aguentar aquilo por exatos cinco minutos e depois cataria meus trapos e correria de volta para Athena.

- Poseidon... – disse meu pai, sorrindo e de braços abertos, como se fosse a coisa mais normal do mundo me expulsar da família e depois me tratar como se nada tivesse acontecido. – Venha, meu filho... Temos visitas hoje.

Ele estava no fim do corredor, bem onde se abria a sala de jantar, depois a sala e ao lado a cozinha, antes das escadas.

Eu semicerrei os olhos, como não poderia desconfiar daquilo depois de tudo?

Quando cheguei mais perto, nossos olhos se encontraram e a tensão aumentou. Minha mãe cutucou minhas costas e me fez andar mais um pouco, enquanto eu ainda encarava meu pai.

Então, eu olhei para o lado e todo aquele mistério se desfez. Por que eu não pensei naquilo antes? Eu sou tão burro assim mesmo? Não pude conter o impulso de sorrir por ironia.

- Olá querido – disse Anfitrite, com os olhos brilhando. –, pensei que não viria.

Fiz uma careta.

- É tocante sua preocupação.

- Tudo bem então, podemos? – meu pai se sentou primeiro, à ponta. Minha mãe se acomodou ao seu lado. Tive de sentar no meio dela e de Hades, ficando de frente para Anfitrite e seus pais.

Não tem a mínima necessidade de narrar o resto do jantar. A conversa se concentrou nos negócios das duas famílias, pois eles estavam pensando o quanto seria vantajoso uma aliança. Hades parecia estar nervoso por nós dois, porque eu realmente não sentia nada. As mulheres ficaram apenas conversando coisas fúteis que eu sabia que Athena nunca se interessaria. Ou seja, tortura.

Eu não estava prestando muita atenção até que levantaram uma questão estranha.

- Poderíamos fazer um casamento, meu caro Cronos – disse o pai de Anfitrite, um homem grisalho e sorridente, que parecia não ter noção da filha que tinha. –, como na antiguidade! Precisamos de uma aliança, o que é melhor e mais forte que um casamento entre duas famílias poderosas? Poseidon, você é o genro que pedi a Deus.

Naquele momento, meu mundo pareceu congelar.

- O quê? – olhei para Anfitrite. Aquela cobra. – Olhe, senhor, eu sei que seria vantajoso, mas eu não estou querendo me casar tão cedo, está bem? – eu poderia ter sido grosso, mas ele parecia ser um cara realmente legal. – O senhor precisará ficar sem genro por enquanto.

- Mas filho – minha mãe deu um sorriso forçado. –, é uma ótima oportunidade. Qual é a garota mais educada e de melhor família do que Anfitrite? Nos dê essa alegria, querido. Case-se com ela, por favor. Será bom para todos.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Casar? Com Anfitrite? Só nos sonhos deles!

- Poseidon – agora a voz de meu pai era severa, como eu me lembrava. -, faça a coisa certa ao menos uma vez na vida. Você cometeu erros que envergonham nosso nome, mas essa é uma chance de salvar o seu futuro. Pode não entender agora, mas mais tarde irá agradecer o dia em que tivemos a ideia de fazer esse jantar.

Eu estava com os cotovelos na mesa, os dedos entrelaçados e a cabeça apoiada nas mãos, encarando a toalha branca. Era impossível acreditar no nível de cinismo daquela casa.

- Vou me retirar agora.

Joguei o guardanapo na mesa e nem sequer olhei para os outros, apenas toquei de leve o ombro de Hades, para avisá-lo de que não tinha culpa de nada.

Eu voltei ao armário e coloquei minha roupa. Bem melhor assim. Meu pai estava esperando no corredor.

- Seu idiota, o que foi que você fez?! Estamos na lama, precisamos de dinheiro e a mídia está no nosso pé! Essa era a nossa única chance de salvação e você simplesmente a jogou pela janela! – eu sabia que os outros podiam ouvir, porque Cronos não media o tom de sua voz. Nunca.

- Nossa, não. Sua. Eu não faço mais parte da família, lembra? Só faça o favor de não jogar tudo nas costas de Hades, ele não merece.

- Vai se arrepender por isso, Poseidon. Guarde minhas palavras.

Eu já estava com a mão na maçaneta.

- Sabe qual é o seu problema? Você fala muito e faz pouco. Talvez quando aprenda a agir, e agir com dignidade e caráter, você consiga levantar seu nome, sua empresa e sua fama. Até lá, adeus pai.


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Notas finais do capítulo

Não ficou como eu queria, mas foi o melhor que consegui.