Serviteur Tentation escrita por Willian Picorelli


Capítulo 3
Capítulo 3 - Memórias Fragmentadas




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8 Anos Atrás - Londres - Inglaterra

As nuvens brancas como a neve, todas elas, só podiam parecer algodão aos olhos de Keiichi, vislumbrado com a beleza do céu nessa altitude, o garoto, ao lado de seu pai em um dos acentos da primeira classe de um dos vôos de Tóquio para Inglaterra, sorria euforicamente ao poder apreciar essa paisagem única. Era a primeira vez que o jovem havia viajado de avião, e também, a primeira vez que viajava com seu pai. Era raro o senhor Otanawa levar seu filho em viagens de negócio, mas dessa vez, não tinha muito escolha, já que fora um pedido do próprio garoto como um presente de aniversário. Horas depois de uma longa viagem, pai e filho chegaram até a Europa, desembarcaram no aeroporto de Londres, que era um fervilhão de pessoas, Keiichi ficara reprimido ao ver um amontoado de gente desconhecida falando em vários tipos de idiomas, com medo, se acolhera á seu pai.

- Pai, isso aqui é bem diferente do aeroporto lá de ‘casa’. – Com um sorriso ingênuo, o homem em uma atitude tentando reconfortar o rapaz, coloca uma das mãos em sua cabeça enquanto lhe dizia com chamegos:

- Você vê agora por que o papai não te trás sempre pras minhas viagens? Acho que você iria preferir ficar brincando com os Kazekawa. – Segurando a mão de seu filho, o rapaz, acompanhado de dois seguranças, se dirigia até uma limosine na saída do aeroporto, e de lá, rumavam até um hotel.

Era um dos mais luxuosos hotéis de Londres, tanto que Otanawa precisou reservar seu quarto com 2 meses de antecedência, claro que, comparado á mansão onde viviam, era apenas uma suíte simples, mas de primeira vista, algo novo para Keiichi, que estava sempre acostumado a ficar somente em sua casa.

- Ah, pai, onde a gente vai depois disso? – O garoto parecia não saber o porquê da viagem do seu pai, apenas o estava acompanhando por esporte, mas o homem tinha uma grande tarefa a cumprir no dia seguinte.

- Então eu não cheguei a lhe dizer? Bom, estamos aqui para escolher uma nova empregada para nossa casa, dizem que as inglesas são as melhores no quesito educação, e como a partir de agora o papai vai ficar um pouco ausente, alguém vai ter que ser apto a cuidar de você e da Sasami, certo? – Desabotoando seu terno, o rapaz se sentava na cama explicando tudo ao seu filho, que fazia certa expressão de desgosto por ser tratado como criança.

- Não preciso que alguém cuide de mim, já basta o velho Lenon me dar bronca por correr na casa. – O jovem, demonstrando sua insatisfação com o tratamento do seu pai, se dirigia em sua cama.

- Hahaha, entendi filho entendi, prometo que ela não vai pegar muito no seu pé, só quero alguém que saiba cozinhar bem, não gostaria de comer um bom soufler de morango depois do jantar todos os dias? – Os olhos do garoto voltavam a ficar brilhantes ao imaginar vários tipos de doces que vinham em sua mente, mas pelo cansaço da viagem, logo depois que se deitava na cama, instantaneamente, acabara dormindo sem mesmo trocar suas roupas. Seu pai então, com todo cuidado, o trocava e em seguida o cobria, pois no dia seguinte, tinha mais um longo caminho a percorrer.

Por volta das 07:00 da manhã, Keiichi fora acordado por seu pai, pedindo para ele se trocar rapidamente:

- Ei dorminhoco, vamos acordando, você precisa me ajudar a escolher a empregada nova, ou vai querer que eu pegue uma velha severa que não te deixa jogar vídeo-game depois da escola? – Com certa ironia e maldade em seu tom de voz, Otanawa tentava manipular seu filho para o mesmo se trocar em um piscar de olhos, e o pobre garoto, sem escolhas, em menos de 3 minutos já estava pronto para partir. Acompanhado dos seguranças e do motorista, os dois se dirigiam até o Complex Servant, uma das mais conceituadas casas de Londres, e até mesmo da Europa, no segmento de empregadas. Desde pequenas, garotas de famílias de empregadas seguiam um rigoroso treinamento para se tornarem as melhores serventes possíveis, para mais tarde, trabalharem em famílias burguesas e de alta classe.

Otanawa junto de seu filho chegavam até o local, que parecia mais como um castelo. Adentrando o mesmo, até o homem ficara admirado com o tamanho e elegância do ambiente, era sua primeira vez ali também, recomendado por Lenon, sabia que iria encontrar algo bom por ali.

- Boa tarde, senhores, pelo visto, são Otanawa-San e seu filho adorável, é um prazer tê-los em nosso complexo, por favor, me acompanhem por um instante, vos levarei até o local onde apresentarei as candidatas. – Uma mulher muito bem vestida, por volta de 40 anos de idade, trajando uma roupa social, usando um óculos prateado e saltos que entravam em realce com suas roupas, guiava Otanawa e seu filho até uma sala onde eles conheceriam as empregadas com os requisitos pedidos pelo homem.

Após se acomodarem em uma confortável poltrona de couro, os dois esperavam a chegada da primeira candidata, submetida a uma entrevista por Otanawa, os dois, sentados em uma mesa, apenas conversavam enquanto a empregada respondia todo um questionário elaborado. Isso era um saco para Keiichi, pensou que a escolha seria mais divertida, e sem conter seu tédio, resolvera dar uma volta pelo lugar sem avisar seu pai que estava ocupado demais avaliando as candidatas.

No caminho, se deparava com várias empregadas, todas com aspectos diferentes, haviam asiáticas, sul-americanas, era um complexo incrível, mas não esperava encontrar algo divertido por lá, até que depois de encostar em  uma parede, o garoto era chamado atenção por uma voz que o chamava distante, uma voz que lhe prendia atenção:

- Você é filho do senhor que veio escolher uma empregada para sua casa? Hehe. – Virando seu olhar para a suave voz, Keiichi podia ver uma menina que parecia ter mais ou menos a sua idade, um pouco mais velha, mas com uma aparência angelical, cabelos ruivos e uma pele clara e delicada, era a primeira garota da ‘sua idade’ que via por ali. Um pouco envergonhado, o garoto tentava se aproximar da menina, com o olhar baixo, não costumava falar com outras garotas que não fossem sua irmã, mas a simpatia da menina o fazia deixar sua timidez de lado e lhe dar coragem para um futuro diálogo:

- S-sim! Eu sou Keiichi Otanawa, estava lá com meu pai mas... é muito chato essas entrevistas, você não acha? – O garoto tentava demonstrar seu tédio perante á jovem, que apenas retribuía as palavras com um sorriso doce.

- Eu me chamo Anna, não gosto muito do meu sobrenome, então por favor, me chame apenas de Anna!  - Ela se aproximava mais ainda de Keiichi, que ficara um pouco corado, e tentando quebrar o silêncio, perguntava qualquer coisa:

- Quantos anos você tem? Ouvi do meu pai que as garotas daqui são treinadas desde pequenas para se tornarem boas empregadas, isso deve ser duro...- Um pouco triste pela menina, Keiichi não sabia ao certo o que dizer, mas a resposta de Anna o deixara um pouco reconfortado:

- Pelo contrário, eu amo isso aqui! Pretendo me tornar uma ótima empregada e algum dia ser igual a minha mãe, sabe, quero só poder ter uma vida normal e... bem, deixa pra lá, isso não é importante, mas você quer ir para algum lugar que não seja tedioso? Eu conheço esse complexo por inteiro, tem um lugar bem especial que você iria gostar de conhecer. – Sem esperar a resposta do rapaz, Anna segurava sua mão, e o levava correndo até a parte de cima do complexo. Era uma fachada enorme, um lugar mágico. Várias árvores e folhagens diferentes tomavam conta da paisagem, bancos pintados de branco, trilhos de madeira e um lago ornamental completavam o local, era um tipo de jardim, lugar onde as empregadas descansavam e tomavam chá, como tradição na Inglaterra.

- Uau, nem na minha casa temos um lugar assim, é realmente incrível, você costuma vir sempre aqui com sua mãe? – Keiichi continuava olhando todos os pontos do jardim, mas Anna, depois da pergunta do garoto, parecia um tanto cabisbaixa.

- Na verdade... não é bem minha mãe. Venha comigo. – A menina levava o jovem até um banco que ficara no fim do jardim. De lá, podia-se ver toda a cidade através de uma grande, o céu azul clareava o tapete de grama deixando-a mais verde. Os dois se sentavam, Keiichi ficara nervoso por estar sentado bem próximo de uma menina tão bonita como ela.

- Minha mãe... bem, ela morreu a alguns anos já. Nós morávamos em uma humilde casa de Tóquio depois que meu pai...digo, aquele homem nos abandonou, minha mãe era muito doente mas ela sempre cuidava de mim, ela trabalhava duro para tentar me sustentar, mas um dia ela não aguentou e...acabou se matando. Eu nunca entendi porque ela fez isso, mas acho que estava farta de tomar conta de alguém como eu, depois disso, sem ter como me sustentar, eu saí pelas ruas procurando comida e um lugar para ficar, passei muito frio e fome, foram vários dias sobrevivendo do sub-mundo, mas até que uma luz apareceu no fim do túnel, a senhorita Ruth Storveward apareceu me estendendo a mão e me fazendo um convite. Depois disso, fui trazida para cá, e fiquei aos cuidados de Ruth mas...ela foi escolhida para trabalhar para uma mansão no Canadá a alguns meses, e desde então, eu sempre fiquei sozinha aqui. Já estou acostumada a ser deixada pra ser sincera, tudo que eu mais queria, era poder ter um lugar pra ficar e alguém pra confiar. Minha mãe e Ruth, as duas...sei que elas me amaram, mas elas não puderam ficar comigo até o fim, mas veja só, eu sou apenas uma garotinha mimada com um sonho idiota, né? Eu na verdade odeio isso, eu queria ter uma vida normal longe da burguesia, eu... – Interrompida pelo choro, a garota não podia mais dizer nenhuma palavra, Keiichi, emocionado com toda história de Anna, ficara por alguns segundos sem ter o que dizer, mas sentindo a dor da ruiva, ele a abraçara em um ato repentino, e com palavras verdadeiras, fazia uma promessa:

- Então se esforce bastante, algum dia, juro que vamos pra algum lugar longe de toda essa burguesia. Trabalhe para ser uma boa maid e poder ir pra minha casa, juntos, podemos fugir eu garanto, que nunca vou te abandonar. – Depois de perceber tudo que tinha falado, Keiichi tinha sua pele totalmente corada por vergonha, mas mesmo assim, mostrava sinceridade ao dizer tudo isso para a garota, ele nunca teve se quer pode ter amigos verdadeiros, sempre foi julgado de maneira rude por ser de uma das famílias mais ricas da cidade, odiado por muitos, só queria algum dia poder viver uma vida longe de riquezas e poder, e encontrou em Anna, sentimentos parecidos, alguém para compartilhar seus sonhos.

Anna, olhando nos olhos de Keiichi, conseguia parar de chorar. Sua dor parecia amenizada com as palavras do jovem, por mais que ainda fossem crianças, ela não iria abandonar essas esperanças, levava a sério o que o garoto havia dito.

- Obrigada, Keiichi-Kun, você é bem ousado pra um garoto da sua idade! – Tentando quebrar o clima dramático, Anna jogava uma certa piada no ar.

- Mas você nem me disse sua idade e já vem me julgando!? – Keiichi parecia nervoso com o julgamento preciptado da menina, odiava ser tratado como criança, mas com a resposta da garota, teria que ficar calado:

- Eu tenho 12, e você? – Ele apenas ficara em silêncio, não queria dizer que tinha 2 anos a menos que ela. Olhando atentamente para Anna, Keiichi via em seu pescoço um lindo colar, e isso o chamara atenção.

- Ah, isso? É uma lembrança da minha falecida mãe, a única coisa que tenho dela... eu nunca tiro do meu pescoço. – Interrompendo a conversa dos dois, a senhora que guiou Keiichi e seu pai até a sala de entrevistas, aparecia no jardim chamando o rapaizinho:

- Por onde andou, Keiichi-Sama? Seu pai está preocupado com você. Venha comigo por favor, ele já terminou a entrevista.

Keiichi olhava para Anna, e o olhar dos dois eram preenchidos por tristeza, mas lembrando de sua promessa, Keiichi estampava um sorriso em sua face, e segurando a mão de Anna, voltava a dizer:

- Não se esqueça ok? Vou cumprir o que eu disse, definitivamente. – Antes que o rapaz pudesse ir, Anna segurava suas duas mãos e lhe dava um longo beijo, era o primeiro do rapaz, e também de Anna.

- M-m-mas vocês dois! Que atitude foi essa Anna Storvenward-Dono!!! Teremos uma conversinha mais tarde entendeu? – A mulher ficara transtornada com tal cena, mas Keiichi, apenas se sentia feliz, e esse beijo, era como um selo para sua promessa.

Dias atuais

Keiichi, ainda sentado em sua cama, se lembrava de tudo, ou quase tudo. Se culpava por ser lerdo demais, pensava agora se Anna o odiasse por ter esquecido, tinha medo de encará-la, mas com a presença da garota novamente em seu quarto, sorrindo do canto da porta, ele se surpreendia.

- Vejo que agora você se lembra, Keiichi-Kun. – Vendo a expressão da jovem, o rapaz ficara mais aliviado, mas depois de tudo, ainda se sentia constrangido.

- Acho que temos muito o que conversar, né? – Com um simples sorriso, ele admirava a beleza da garota, e agora, a olhava como a menina da promessa de 8 anos atrás.

- Ei, que tal darmos um passeio hein? Ainda tenho muitas coisas pra te mostrar, e você vai ter que me compensar por ter se esquecido de mim. – A ruiva parecia provocar o rapaz com as palavras, e o mesmo, já ficara novamente excitado com o convite.

- É, vou dar o meu melhor.


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