A linha de chegada. O último desejo. Anna corria desesperadamente até onde Keiichi estava, seus olhos ardiam com suas lágrimas, não sabia se podia mudar este trágico destino interminável, se em nenhum mundo os dois poderiam ficar juntos, então porque neste seria diferente? Mas Anna não se importava com as regras do mundo, ela queria viver de acordo com seus desejos e não entregaria sua vida tão facilmente, seu amor por Keiichi era insuperável, ela começava a se lembrar de todas as coisas que fez, de todos os caminhos que percorreu para chegar até o rapaz, algo dizia que ela não devia desistir, dedicou sua vida toda para estar junto do garoto que poderia lhe fazer feliz, era com ele que seu mundo se completava, seu único sonho era viver para sempre na companhia de seu mestre, do seu amado, do homem que conseguia fazê-la sorrir como nenhum outro. Antes, de empregada assassina e fria, para uma garotinha sonhadora que almejava algo, tinha chegado até esse ponto e não foi por acaso, ela junto de Lenon em um moto ultrapassavam todos os carros em sua frente, o vento forte lhe trazia as últimas esperanças, rezava para que Deus, ao menos uma vez, concedesse seu desejo, ela sabia que apenas um deles poderia viver, e estava disposta a arriscar sua vida pelo garoto.

No hospital, Sasami, que não sofrerá quase nenhum arranhão, chorava diante da porta de onde Keiichi estava internado, querendo entrar de todo jeito:

- Por favor eu sou o irmão dele eu quero estar ao seu lado, me deixem...entrar eu imploro eu vou cuidar do nii-chan...eu prometi! – A garota se esforçava para dizer quaisquer palavras, mas seu choro e rouquidão a impediam, uma das enfermeiras a segurava e ameaçava chamar um dos seguranças, o estado de Keiichi era grave, não havia salvação em seu estado de coma.

No quarto de Haruna, a garota sentia uma forte pontada em seu peito,  sabia que algo estava errado, ela tentava ligar para Keiichi mas seu celular estava desligado, de imediato, pegava suas coisas e partia para sua mansão, ainda tendo um mal pressentimento:

- Esteja bem meu anjo...

O destino bagunçado se despedaçava mais uma vez sem pena das pessoas. O mundo sempre foi assim, as coisa nunca são como todos esperam, o que pode ser feito é aceitar tudo que lhe é dado sem tentar lutar contra essa força brutal.

- NEM PENSAR! – Uma voz atormentava Anna que subia as escadas do prédio do hospital de maneira rápida e quase perdendo seu fôlego, ela ignorava os seguranças em sua cola e gritava pelo nome de seu amado correndo contra o tempo:

- KEIICHI-SAMA, KEIICHI-SAMA! – Estava quase surtando, passava pelas pessoas no corredor se debatendo e chorando quase desistindo, até que encontrava Sasami ajoelhada em uma porta, seus joelhos tremiam e seu coração disparava, era ela que lhe daria a notícia mais importante da sua vida. Se aproximando da garota, com os olhos inchados, ela perguntava também se ajoelhando:

- O Keiichi... ele... – Antes que terminasse sua frase, Sasami a abraçava fortemente e despencava em choro:

- Eu não consigo viver sem o nii-chan, Anna, o que eu faço? É culpa minha, se eu não pegasse aquele táxi... – Anna se afastava da menina, pois sabia que a culpa era exclusivamente sua, ela deveria morrer a 8 anos atrás e Keiichi ser feliz com Haruna. Era isso que deveria acontecer. Se culpada a cada segundo, e agora o seu último desejo se transformava em querer ver seu mestre bem, com uma vida longa ao lado de alguém que possa amá-lo com todas as forças. Empurrando fortemente a enfermeira contra a parede, ela entrava no quarto do garoto enquanto os seguranças já se aproximavam, indo em direção á sua cama, ela olhava quase desmaiando para o garoto respirando através de aparelhos em estado crítico:

- Vou mudar esse destino, meu mestre, eu...vou te salvar. – Quando os seguranças entravam no quarto, Anna se virava e os golpeava, fazendo-os desmaiar no chão. Em passos curtos, a mulher ia até a sacada do hospital, olhava para o céu estrelado, e rapidamente todos os momentos que passou com Keiichi se tornavam rápidos flashs em sua mente, ela chorava ao lembrar o primeiro beijo com o rapaz, ao pensar mais uma vez no futuro que imaginou para os dois, um futuro morando juntos, sozinhos, em um lugar calmo, sem burguesia, sem ter que matar ninguém, sem nada para lhes interromper. Era uma utopia agradável mas ela no final, era só uma utopia. Anna se dirigia até a beirada do prédio, e se equilibrando em sua ponta, rezava pela última vez para que Keiichi fosse salvo, era tudo que queria:

- Por favor Deus, sei que nunca acreditei no senhor mas, eu estou colocando o mundo de volta á seus eixos, então por favor, volte tudo ao normal, Hibiki cometeu um erro ao tentar mudar o destino, há coisas que nunca devem acontecer, então eu te imploro, traga todos os dias um sorriso para ele, pois você deve saber que seu brilho ilumina a vida de muitas pessoas, Keiichi me fez feliz por esse pouco tempo que passamos juntos, ele me deu um motivo para viver, um sonho, já me sinto realizada por poder me encontrar com ele, algo que seria impossível, mas que por um milagre aconteceu, acho que foi o senhor que me proporcionou isso, para uma órfão como eu que nunca teve nada, nessa vida, eu já tive tudo...eu te amo Keiichi, e obrigada. – Mesmo sabendo que seu real desejo era ficar para sempre ao lado do garoto, Anna tomava coragem e pulava. O hospital possuía quatro andares, uma queda era fatal. Ela apenas se despedia desse mundo artificial e esperava algum dia, encontrar Keiichi em um novo lugar.

Talvez o mundo pudesse ser artificial, mas os sonhos ainda eram reais. Talvez o ser humano possa desistir facilmente, mas ainda assim há algo que os prende em uma linha reta, há algo que move as esperanças e o 0,00001% se torna 100 na medida em que seus sonhos se tornam desejos e esses desejos conseguem alcançar as estrelas. Talvez seja mesmo uma força maior que consiga reger esse mundo, quem possuísse a vontade de vencer, era merecedor de poder sonhar.

Anna acordava lentamente, sua visão era turva e apenas enxergava um teto branco com uma luz forte em seu rosto. Tentava se lembrar do que havia acontecido, e aos poucos, enquanto ia recobrando sua consciência, se lembrava de Keiichi, de sua queda, da promessa. Provavelmente, ela estava em outro mundo, um mundo em que Keiichi havia morrido, se ela estava viva, então era certeza de que ele estava morto. Ela estava hospitalizada mas seu corpo parecia inteiro, rapidamente, uma enfermeira que entrava no quarto chamava outras enfermeiras e Anna com a voz baixa perguntava:

- O-o que...é tudo isso? Por que eu estou viva? Por quê!? Por quê!? Por quê!? – Ela começava a chorar novamente, agora, com ódio, com desprezo a seu Deus que estava brincando com ela, como não havia morrido daquela distância? Por quê Deus não trouxe as coisas de volta para o normal? Anna tentava se levantar mas era impedida por uma das enfermeiras que enquanto sorria, tentava acalmar a mulher:

- Se acalme por favor, foi um milagre o que aconteceu...os médicos disseram que você jamais poderia sobreviver a uma queda de quatro andares, na melhor das hipóteses ficariam paraplégica, mas... agora você está acordada e supostamente muito bem, eu não sei o que aconteceu nesse hospital mas hoje presenciamos um verdadeiro milagre. – Anna não sabia se ria ou se chorava. Milagre? Para ela, isso era uma piada de mal gosto de Deus, tudo havia sido em vão, por que ela estava ali?

- Mas um dos médicos disse que seu corpo é bem especial, ele possui uma musculatura fora do comum, você não é uma simples mulher, é? Falamos com Sasami Otanawa e ela nos contou que você foi uma empregada treinada na Inglaterra... – Anna socava a cama, sabia que por todo treinando que havia passado com Maria, não iria morrer tão facilmente, era culpa exclusivamente do destino.

- Nada mais importa...nada. Eu queria apenas uma vez ter sido útil para o Keiichi-Sama em minha vida. – Uma das enfermeiras, ao ouvir Anna se lamentando, logo respondera:

- Você disse...Keiichi-Sama? Espere, eu tenho que te contar uma coisa... – Anna sabia de tudo e não queria ouvir de ninguém o que havia acontecido:

- Não, NÃO DIGA! – Ela começava a chorar baixinho ao se deitar novamente na cama.

- Só que... nós achamos que você não tinha mais volta, e por lei...pegamos sua medula óssea para transplante. Eu sinto muito mas, bom, se anime você salvou uma vida! – Anna não se importava em salvar vida, podia ser quantas vidas fossem, nenhuma era de Keiichi.

- Podem pegar todos os meus órgãos, peguem minha vida, porque nada agora importa! – A enfermeira então a interrompia novamente, e em um tom animador a dizia:

- Bom mas, você estava chamando por um Keiichi...não? Ele era um paciente em um estado terminal e bem...ele só precisava de um transplante de medula óssea para viver, era sua única chance, e com o que aconteceu...foi possível dar uma nova vida á ele. Eu diria que vocês dois acabaram de renascer. – Emocionada, Anna olhava para a enfermeira chorando impulsivamente, as lágrimas caíam de seus olhos sem se conter, ela tremia, não sabia se aquilo era mais um sonho, se era uma mentira, mas sentia um pingo de esperança cair em seu coração mais uma vez. Querendo conferir tudo isso, ela se levantava, mesmo fraca corria em direção ao quarto onde estava Keiichi, Sasami dormia no banco do lado de fora, abrindo a porta, e respirando fundo, ela olhava para a cama onde o rapaz estava e...ele ainda estava vivo, desacordado, mas respirando sem a ajuda de aparelhos. Os médicos gritavam com Anna mas ela não estava nem aí, naquele momento, havia presenciado um verdadeiro milagre, se ajoelhava em frente ao rapaz que lhe trouxe de volta a vida, que lhe deu a alegria de querer viver mais, ela segurava sua mão fortemente e agradecia a Deus por mais essa chance de estar ao lado se seu amado, então, ela se lembrava de uma das palavras de Keiichi naquela noite do parque, onde o rapaz disse que você escolhe o destino que quer, mesmo que Deus ou forças maiores sejam contra sua vontade, não há nada que possa impedir os sonhos de um homem, a coragem e a perseverança quebravam as barreiras do inimaginável, se você tentasse, até Deus iria sucumbir diante dos seus sentimentos.

- OBRIGADO KEIICHI, OBRIGADO POR ESTAR AQUI COMIGO! – Anna chorava fortemente encostando sua cabeça na barriga de Keiichi, nunca estivera tão feliz. Os médicos também se emocionavam com a cena que viam ali, várias equipes de televisão estavam na porta do hospital logo após saberem o ‘suposto’ milagre que havia acontecido, onde, uma mulher que pulou do quarto andar e um garoto em um estado crítico de coma conseguiram sobreviver, com ajuda do destino e o laço forte que há entre os dois.

- A...Anna-Chan? – Ao ouvir a voz de Keiichi, Anna arregalava seus olhos e de imediato, olhava para seu rosto. O garoto estava acordado, sorrindo segurando a mão da empregada bem apertada.

- Você esteve ao meu lado...então por que ta me agradecendo, quando na verdade, eu que deveria agradecer por ter mudado minha maneira de pensar e me feito lutar para viver? – Os dois se abraçavam na cama do hospital, Sasami e Haruna, da porta do quarto enxergavam tudo isso se rendendo por completo, ambas sabiam que nada que fizessem iria quebrar esse destino, essa promessa. Elas sorriam, e Sasami, arrependida pelas coisas más que fez a Anna, perguntava á Haruna:

- Por quê você veio? – A menina, tirando uma carta de seu bolso, respondia virando suas costas e deixando lágrimas caírem por seu rosto:

- Porque eu sabia que ele estaria  aqui, eu encontrei algo que me fez ver a vida com outra perspectiva, Keiichi sempre cuidou de mim e...agora é minha vez de deixá-lo ser feliz. Eu vou me tornar uma médica e seguir os meus passos, enquanto eu souber que ele também estará seguindo os dele. – A carta que Haruna havia achado na mansão, era para ela. Fora entregue por Minami, quando ela chegou na mansão dos Otanawa um dia atrás, nela, estava escrito que por mais que a vida pudesse parecer injusta, as coisas sempre iriam se encaixar em seu devido lugar algum dia, se deixássemos o egoísmo de lado, as coisas poderiam dar certo. Foi Haruna que encontrou Anna jogada no chão e que a carregou para dentro do hospital. Na carta, também dizia que ela devia seguir seus sonhos independente de tudo, e agora, ela estava mais certa do que nunca. Era uma carta de Keiichi, que no final, dizia que a amava e sempre estaria ao seu lado a apoiando, e assim como ele, ela também o apoiaria. Sasami se conformava em apenas ter seu irmão como somente um irmão, contanto que ele ainda a protegesse, estaria feliz, e agradecida por Anna ter aparecido em sua vida.

2 Meses Depois

Tudo já estava em seu devido lugar. Depois de uma forte tempestade, o sol brilhava ofuscado com o começo do inverno. Sasami se tornava membro do conselho estudantil, ela estava determinada a ajudar todos que estavam sendo oprimidos e judiados em seu colégio, se espelhava em seu irmão como exemplo, seu orgulho fora deixado de lado e ela agora tratava todos de maneira igual, respirando fundo, ela sorria ao saber que estava sendo útil para muitas pessoas, dois garotinhos do primário a agradeciam por ela ter espantado dois delinqüentes que os estavam perturbando:

- Onee-chan eu...quando for mais velho também quero ser assim como você! Quero ser mais forte e ajudar aqueles que precisam, muito obrigado! – Os dois garotinhos corriam se sentindo vitoriosos, e Sasami, graças a seu irmão, agora era uma garota forte, determinada e com novas metas.

- Onii-san...volte logo pra escola.

Haruna já fazia planos para se tornar uma grande pesquisadora, sua mãe tinha câncer e ela não podia apenas ficar observando ela morrer, com as palavras de Keiichi, ela conseguia  curar seus ferimentos mais profundos, estava triste por não tê-lo como namorado, mas feliz ao mesmo tempo por tê-lo como um grande amigo e acreditava em sua promessa de estar sempre ao seu lado.

- Você vai ver Keiichi, farei você se orgulhar de mim!

O som das ondas que se chocavam contra as rochas era a única melodia que se ecoava por aquele oceano vasto e azul. O dia só estava no começo, mas o frio chegava com todas as forças, sentados na areia, Keiichi e Anna, abraçados se esquentando um ao outro, esperavam o tempo passar  e não se importavam com mais nada a não ser estarem juntos, sempre juntos.

- É tão quente...com você aqui sabia? Acho que não há mesmo tempo para escolher, eu vivi a minha vida pensando em sair daqui mas, no final, foi aqui que encontrei o meu futuro...Ao seu lado, Anna, foi você que eu sempre esperei, agora eu não tenho mais dúvidas, é claro, preciso trabalhar duro pra conquistar tudo que meu pai conquistou e ser um bom chefe da família... vai ser difícil...

- Mas eu estarei ao seu lado, seu bobo. Então não diga que nada será difícil pois eu sempre estarei aqui pra te ajudar, foi uma promessa, lembra? Uma promessa com o brilho das estrelas, depois de tudo que passei eu fui recompensada, acho que é assim que tem que ser.

- Anna...se você realmente está preparada para viver ao meu lado eu... – Keiichi se levantava, e tirando uma caixa de seu bolso, abrindo-a, mostrava duas alianças para Anna, e pegando uma delas, se ajoelhava e com total certeza, dizia:

- Você quer fazer a história dos Otanawa ao meu lado? Bem, vamos enfrentar muitas coisas a partir de agora mas, podemos passar por cima de tudo, né? – Anna sorria e se jogando em cima do garoto, após lhe dar um breve selinho, se jogava ao seu lado, e olhando para o céu distante, respondia:

- Nós já fizemos história amor, e vamos fazer muito mais daqui pra frente. Eu sou sua, nós somos um.

Por mais que o vento sopre ao contrário da correnteza, uma leve brisa pode se transformar em uma tempestade quando se tem força o suficiente para lutar contra as adversidades desse mundo. Nada fica fora do seu devido lugar, que é o lugar que você realmente deseja com amor.

Fim