Serviteur Tentation escrita por Willian Picorelli


Capítulo 16
Capítulo 16 - De Volta ao Sonho




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Não havia mais nada. Apenas memórias. Memórias de um passado que antes, fora doloroso, ao ser lembrado depois de uma partida, se tornava caloroso, o mais profundo arrependimento tomava conta dos irmãos Otanawa. No passado, apesar da distância entre eles e seu pai, Hibiki Otanawa sempre se esforçava para protegê-los, o que os irmãos não sabiam eram que estavam correndo risco de vida desde seu nascimento. Uma organização chamada Kokiyama, outra rival dos Otanawa e parceira da yakuza, tinham como alvo Otanawa, e era costume acontecer ataques constantes para com o homem, por isso, sempre andava com uma horda de seguranças ao seu redor, sempre brincava com a morte, a vida do rapaz girava em torno de fugir de seus rivais e conseguir manter sua família entre as mais ricas do Japão. Não tinha tempo para amizades, diversão ou para seus filhos, tudo que fazia, suas viagens, era pra mantê-los em segurança. Apesar de toda brutalidade, seus rivais nunca pensaram em atacar diretamente seus filhos, eles não importavam nas negociações do Japão, o alvo era somente ele, portanto, longe dos dois, sabia que seus amados filhos estariam bem mais seguros. Só  no dia de sua morte, é que eles tomaram conhecimento. Komasato contou tudo para Keiichi e Sasami, que trajados de ternos pretos, comovidos e abatidos, estavam na frente do caixão de seu pai apenas relembrando todos os momentos que viveram juntos, e depois da explicação do empregado, Sasami caíra em profundo choro, ambos não imaginavam a tamanha personalidade de seu pai, na verdade, Keiichi já tinha uma idéia, desde sua viagem para Inglaterra, desde a ajuda de seu pai para salvar Anna, o jovem sabia que seu pai era a pessoa mais incrível que tinha conhecido, e sempre se lembraria dele com total afeto. Otanawa havia morrido em um acidente de avião enquanto voltara para o Japão, foi uma notícia bem repercutida pelos jornais, uma tragédia sem igual.

- Eu não entendo...depois de ser perseguido pela polícia, pela yakuza, por seus rivais, ele foi acabar morto por uma tragédia dessas? A vida quer se bancar de troll. – Keiichi, juntamente de Sasami, minutos depois do doloroso enterro, estavam sentados em um banco de uma praça nas províncias da cidade onde o avião havia caído. Se passaram dois dias desde que os irmãos receberam a notícia, até que o corpo fora encontrado, ainda estavam com esperança, mas depois a verdade cruel veio lhes atacar. Agora estavam hospedados em um hotel, juntamente de Lenon, tentando curar essa profunda ferida.

- Nii-chan, sei que é algo repentino, mas, por quê Anna não veio? Digo, ela deve muito ao papai, se não fosse por ele... – O rapaz olhava cabisbaixo para sua irmã, e logo a respondia enquanto gotas de chuva caíam do céu acinzentado.

- Eu pedi para que ela ficasse. Anna já passou por muitas coisas, queria poupá-la de mais tristeza. Devemos seguir em frente nee, agora só restaram nós dois, e eu... como líder da família, prometo dar o melhor pra tomar conta de você. – As palavras do garoto faziam com que Sasami se emocionasse, sua tristeza era preenchida pelo conforto e agrado de seu irmão, irmão que tanto amava e que não podia mais conter tais sentimentos que a sufocavam, sabia que a partir de agora, seu irmão, ao receber o título de líder dos Otanawa, estaria correndo grande perigo, por isso, deveria sempre estar ao seu lado:

- Eu nunca vou sair de perto de você nii-chan, diferente do papai, mesmo que você corra perigo eu vou estar ao seu lado, eu não me importo, sei que estou seguro com você, tudo que quero é que continue me protegendo como no passado, também quero ser útil pra você, porque eu... EU TE AMO NII-CHAN! – Sasami dizia essas repentinas palavras enquanto dava um forte abraço no garoto, que sem reação, retribuía calado, ouvindo o choro de Sasami com o cair forte da chuva. Seus corpos molhados continuavam imóveis naquele banco:

- Agora eu sei, meu destino foi sempre tomar conta da família, de você, eu não posso mais fugir, quero ser como papai, e mesmo que eu tente, nunca vou conseguir ser o homem que ele foi, mas prometo me esforçar pra te dar tudo Sasami-nee, eu também amo você e quero fazê-la sorrir, agora vamos para o hotel, não quero que pegue um resfriado. – Sasami sorria, conformada, apesar de suas palavras serem mais que de um afeto ao irmão, ela entendia que ele amava Anna, e que nunca poderia ganhar, mas se sentira realizada por ter um irmão como ele, que também a amava.

- Ei Nii, me diga...você gosta de alguém? – Com suas últimas forças, Sasami tentava ouvir a triste verdade:

- Eu acho que sim, na verdade, gosto de muitas pessoas, de Lenon, de você, da Haruna, da...Anna. – Assim que pronunciara o nome de Anna, Sasami percebia que ele mudava o tom de sua voz, era óbvio. – Ah seu idiota, eu  não perguntei sobre isso! – Sasami lhe dava um tapa e os dois caminhavam sorrindo sobre a chuva esquecendo os arrependimentos do passado e seguindo novos caminhos de um novo começo da família Otanawa. Os dois estavam se dando muito bem, ficaram jogando vídeo-game no hotel enquanto esperavam a hora de seu vôo para o Japão.

Enquanto isso, na mansão dos Otanawa, Anna olhava para o relógio o tempo todo, estava triste por Hibiki, mas também preocupada com seu amado estar sozinho com Sasami. Tentava confiar nele, mas ao lembrar da noite em que eles estiveram juntos começavam a se remexer na cama, virava de um lado para o outro, nas duas noites, mal conseguiu pregar o olho, e outra coisa a incomodava. A notícia que havia lido na internet, a queda do vôo onde Keiichi deveria estar. Coincidentemente, seu pai havia morrido em um vôo de avião, o que deveria ter acontecido também a anos atrás. Ela estava com medo, assustada tentando esquecer isso, podia ser só uma bobagem, se não fosse uma lembrança sua.

- Então você se lembrou, Anna?  - Uma voz surgia de trás da porta do quarto de Anna. Estava escuro, apenas a luz do abajour iluminava o lugar, a chuva do lado de fora trazia um vento gélido para o local com uma pequena abertura da janela, Anna, jogada na cama, tinha seu corpo todo arrepiado e seu coração pulsara fortemente ao ouvir essa voz. Ela se lembrava de um sonho que teve a algum tempo atrás, um sonho onde ela ainda estava no Complexo das Empregadas, tinha a idade de quando conheceu Keiichi, só que, horas antes de encontrar com o garoto, ela havia morrido pelas mãos de Maria. Talvez seja um trauma, mas parecia tão real. A voz no seu quarto era de sua falecida mãe, ela fechava os olhos acreditando ser só sua imaginação, mas ao ouvir a voz novamente a chamando, ela se levantava rapidamente, se sentava na cama tremendo, e acolhida com seu travesseiro, tentava enxergar quem era:

- M-mãe? Não... não pode ser. Quem está aí!? Minami? – A presença por trás da porta não podia ser vista, mas ela respondia:

- Você entende, não é Anna? Isso não vai durar muito, esse sonho, eu só quero lhe dizer algo importante, não acorde ainda. Há algo que você não sabe. Foi a 8 anos atrás, antes de você conhecer Keiichi, em outr lugar, bem distante daqui. Anna, o Keiichi que você conhece... ele não existe. – Anna começava a gritar, chorando, ela tinha medo, mas ainda assim continuava sentada, esperando com que a voz terminasse de lhe dizer.

- Não tema Anna, nada vai te machucar. Eu disse que ele não existe, de fato, ele não é desse lugar, ou ao menos nunca deveria ter sido. O Keiichi que está com você é um milagre, um raro milagre. Havia outro mundo, bem semelhante á esse, onde vocês dois jamais deveriam se conhecer. Nesse mundo, Keiichi deveria ter morrido em um acidente de avião, de fato, ele morreu. No vôo que ele e seu pai pegaram para Inglaterra, o avião caiu, mas por sorte, alguns passageiros ficaram vivos em uma ilha, dentre eles, Keiichi e seu pai. Keiichi estava na beira da morte, já seu pai, não tinha nenhum arranhão. Durante dias, Hibiki ficou cuidando de seu filho com todas as forças esperando um resgate, mas isso não aconteceu. Keiichi era tudo de mais precioso para ele, jurou por tudo quando sua esposa se foi que iria proteger o garoto e fazer dele o próximo herdeiro Otanawa, mas estava vendo sua vida chegar ao fim. Ele rezava, era sua única escolha. Rezava para que um milagre acontecesse, nunca foi um homem de fé, mas sua vontade por salvar seu filho fez algo incrível acontecer. Depois de 10 dias na ilha, Keiichi morreu. Otanawa pensou em se matar, mas não conseguia. Era o único sobrevivente por lá, estava morrendo de fome, não tinha mais forças nem para andar, então ele adormeceu,  e nesse sonho, acordou em um aeroporto, o mesmo que estava antes de pegar o vôo para Inglaterra. De longe, ele se via junto de seu filho, comprando uma maça do amor em uma das lojas do aeroporto. Enquanto sua outra versão pagava, o garoto esperava sentado, despreocupado, comendo seu doce. Ele não sabia se era só um sonho, mas via ali a oportunidade de salvar sua vida e a de seu filho, mas não podia ser visto. Ele então, sorrateiramente, acaba roubando de um homem que dormia em um banco uma blusa de frio, e com ele, se encapuzava, para não ser reconhecido pelo filho. Ele se aproximou do garoto, com todo cuidado, se sentou do seu lado e disse a ele para fugir dali, para correr o mais longe possível até ser 9:30, depois ele podia parar. Sabia que dificilmente o garoto faria isso, mas era sua única alternativa, dado que havia vários seguranças no local. Para sua surpresa, aquele garoto, já havia entendido. Ele se separava de seu pai e corria para qualquer lugar do aeroporto. Durante uma hora, ele ficou se escondendo de Otanawa, que com seus vários seguranças, tentavam procurar o garoto. Dado 9:31, sua missão estava cumprida. Ele já sabia que havia salvo seu querido filho, mesmo que fosse um sonho, mesmo que ali não fosse seu lugar, poderia ficar tranqüilo ao saber que seu filho iria crescer e se tornar um bom rapaz. Ele agradeceu, e se viu desaparecendo. Quando acordou, estava na calçada de uma estranha rua. Era Inglaterra, e ele teria agora uma nova missão, impedir com que sua morte acontecesse, Anna. O destino dizia para você e Keiichi  nunca se conhecerem, no mundo de Hibiki onde o avião caiu, você seria uma assassina de primeira controlada por uma enorme facção do Japão, se tornaria uma grande revolucionária e venceria uma guerra que culminaria em uma estabilidade econômica e na felicidade de muitas pessoas. Por isso você nunca devia ter conhecido Keiichi. Isso aconteceu nessa linha do tempo, e em linhas do tempo onde Keiichi estava vivo, você devia ser o alvo. Keiichi ao nunca te conhecer, iria ficar com Haruna no futuro, com isso, a garota, motivada, se tornaria uma cientista e com seus 40 anos iria descobrir junto de sua equipe a cura do câncer. Um dos maiores eventos da humanidade, a vida de muitas pessoas, em troca de um amor arriscado. Otanawa não sabia de nada disso, ele nem sabia onde estava, mas sabia o que deveria fazer. Nas linhas do tempo em que Keiichi permanecia vivo, antes de chegar ao complexo das empregadas, Maria, por pura inveja, acabaria te matando e em seguida se suicidando. Nesse mesmo dia, Otanawa encontrou Maria na rua, ela estava olhando para o céu, se preparando para alguma coisa. Otanawa se aproximou e começou a conversar com a menina. Os dois passaram minutos conversando sobre coisas da vida, Hibiki conseguiu ver nela uma ótima futura empregada, e com essas palavras, com esses sentimentos transmitidos, Maria havia perdido sua vontade de matar, apesar de ainda odiar Anna. Sem saber ele havia salvo mais uma vida que acabaria no resultado de um encontro inesperado pelo destino, um encontro que acabaria em uma crise no Japão e em um adiamento para cura do câncer. Ele quebrou os paradigmas do tempo, nessa linha do tempo, onde você está agora, um verdadeiro milagre aconteceu, Otanawa salvou duas vidas, e logo depois, desapareceu. Dentre mais de 1000 mundos, esse é o único no qual nem Deus sabe o que irá acontecer, mas o destino sempre da um jeito de voltar para o seu devido lugar, Anna... você entende, não é? Você sabe porque Otanawa morreu, depois de 8 anos, o destino está voltando a seu lugar, ele não devia estar aqui, e nem Keiichi. – A voz finalmente se calava, Anna, chorando, ainda com medo, havia compreendido e acreditado em tudo, Keiichi estava correndo risco de vida, e para mudar esse destino, ela devia fazer um novo milagre acontecer. A voz então, dizia suas últimas palavras:

- Anna...minha filha, como você cresceu. Fico feliz por você estar feliz, eu diria que um milagre não acontece duas vezes, mas se ele pode acontecer... então, e você quem deve fazê-lo, se esforce por sua felicidade, estarei sempre ao seu lado...sempre. – Anna com um pulo da cama acordava. Tudo aquilo era um sonho, um longo e real sonho. Se apressando, ela corria para salvar Keiichi. Mas o relógio do destino tendia a ser mais rápido que as ações humanas, enquanto iam em um taxi até o aeroporto, Keiichi e Sasami foram atingidos por um caminhão, e arremessados para longe. Podia Anna acabar com esse ciclo trágico inevitável? O que restava eram apenas as palavras de sua mãe e sua forte esperança.


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Notas finais do capítulo

No próximo e último capítulo mais extendido, o rumo das vidas de Anna e Keiichi, o desfecho de um amor que não deveria existir.



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