Esse desgraçado deve estar de brincadeira, na boa.

  Mordi seu lábio, fazendo-o se afastar e gemer de dor.

-SUA DOENTE! POR QUE FEZ ISSO?

-POR QUE VOCÊ ME BEIJOU! ARGHT, QUE NOJO, GOSTO DE ALCOOL!

  Falei, passando a mão na boca, fazendo uma careta, tentando tirar de verdade o gosto de alguma bebida alcoólica da minha boca. Brian ainda me fuzilava com os olhos, com os dedos no lábio inferior, como se eu fosse uma psicopata que fugiu de um manicômio.

-Você precisa parar de fazer isso, Brian, é sério.

-Você gostava quando eu te pegava de surpresa.

-Gostava. Pretérito.

  Disse, completamente séria, tentando passar a ele um pouco da minha maturidade. Brian revirou os olhos, dizendo:

-Você sabe que comigo aqui, na casa de frente a sua, vamos voltar a ser “nós”.

  Foi repentino.

  Eu não tinha parado para pensar nisso, meu cérebro ainda estava assimilando o fato de que teria que agüentar Brian todo dia, morando a minha frente. Vê-lo sempre que colocar o lixo para fora, sempre que ir pra faculdade, sempre que ficar na varanda de casa...

  Brian na minha vida novamente?

  Era algo que eu não conseguia pensar se era bom ou não.

  Mas isso que ele falou... De voltarmos a ser “nós”... Não sei, algo me dizia que não. Porém, algo também me dizia que era possível.

  NÃO. NÃO É POSSÍVEL, SARAH, CALE ESSE PENSAMENTO, MANDE-O ARDER NO MARMORE DO INFERNO.

-Sarah? Está aí?

-Que é?

  Respondi de mal jeito, cruzando os braços.

-Você sabe.

-Não vamos voltar, Brian, para de ser idiota. Vai correr atrás de alguma loira de corpo sarado, vai.

  Sai do carro, do meu modo destrambelhado, e peguei a mochila, atravessando a rua. Me lembrei de uma coisa e parei de andar, dando meia volta e passando por ele novamente.

-Aonde você vai?

-Buscar minha amiga desajuizada.

  Entrei dentro da casa com passos longos e pesados.

  Vale constar que, MINHA NOSSA, a casa dele era enorme.

  Quando passava da sala e ia para um corredor estreito e longo, senti a mão de Brian puxar meu pulso. Revirei os olhos, levantando os olhos ate os dele.

-Me solta, Haner.

  Ele remexeu em um cordão que estava pendurado em seu pescoço, com o pingente por dentro da roupa.

  Ergueu o cordão.

  Meu deus.

-Isso prova que eu não ou tão insensível assim? Que eu não ignorei o tempo que passamos juntos?

  Lá estava.

  Na corrente, um anel de prata pendurado, com o meu nome por dentro. Meio atônita, fiquei encarando o anel, sem saber o que falar.

   Brian de repente enfiou a mão em meu bolso da calça, puxando uma corrente de lá.

  Ergueu na minha frente, falando:

-Você também não.

  Revirei os olhos, sentindo algo enrolar no meu estomago.

  Ficar tão próxima dele me dava arrepios, bons ou ruins, ainda sim eram arrepios.

-Eu achei em meio a umas caixas.

  Ele revirou os olhos.

-Fiz tão mal assim a você para mentir pra mim?

  Assenti com a cabeça, mexendo os braços bruscamente, tentando me soltar. Brian me segurou com ainda mais força, olhando em meus olhos, sem os desviar uma só vez.

-Me deixa ir.

  Pedi, tentando parecer confiante, mas saiu mais como um apelo.

-Brian, é sério, me solta.

  Trinquei os dentes, com raiva de minha entonação fraca e apelativa. Ele continuava sério, as feições rígidas, assustador, até.

-Brian? Sarah?

  Amy apareceu com Johnny e Matt de seu lado, que lançaram um olhar confuso a nós dois.

  Brian me soltou, dando um passo para trás, respirando fundo. Pigarreei, olhando para ela.

-Sim?

-Estão bem?

-Sim.

  Brian respondeu, sorrindo simpático.

-Ok, hm... Nós vamos sair, você vão vir?

  Johnny perguntou, colocando o braço nos ombros de Amy. Encarei bem a cena; nossa, que amiga atirada.

  Neguei com a cabeça.

-Não, vou pra casa.

  Dei logo meia volta, abanando a mão no ar pra Johnny, Matt e Amy, ignorando a posição de Brian ali.

  Atravessei a rua, correndo pra dentro de casa, enfiando a chave na maçaneta e abrindo a porta; lancei uma olhada para trás. Vi os meninos entrando no carro, rindo, alheios a mim na porta de casa.

  Ele estava plantado na porta, com as mãos nos bolsos, me encarando com um olhar amedrontador.

                        ***

  Já estudava a quase cinco horas seguidas. Tentava manter minha mente ocupada; além de uma mãe doente, tinha um ex que preferia que ardesse no inferno. Sem contar que Amy não dava noticias.

  Decidi tomar um ar fresco. Toda essa volta de Brian mexeu com meu bem estar.

  Abri a porta, olhando de um lado ao outro. O carro de Johnny não estava estacionado, então se conclui que ninguém estava em casa, alem do magrelo alto e Brian.

  Sentei na porta, sentindo a brisa fresca bater em meu rosto.

  Alguns poucos minutos se passaram até começar a trovejar.

  Mas não foi isso que me fez levantar praticamente correndo.

  A porta do vizinho da frente abriu, revelando Brian com a mesma roupa de mais cedo, fechando a porta e atravessando a rua. Senti pingos de chuva baterem em minhas costas, conforme me levantava.

  Me xinguei por ter as mãos tremendo e já molhadas pela chuva, tentando abri a porta de maçaneta redonda.

-Merda, merda, merda...

  A chuva engrossou.

  Logo em seguida senti as mãos de Brian em minha cintura, encostando-me bruscamente contra a porta, fuzilando meus olhos. Pressionei minhas mãos contra seu peito, tentando afastá-lo.

-Brian, volte pra casa, agora... Ahhn, é sério, Brian...

  Falei, tentando ignorar o fato de seu corpo estar junto demais do meu. Brian ergueu meu rosto com uma mão, olhando todos os meus traços com atenção. Em seguida deslizou a mão até meus cabelos da nuca, segurando-os firme e inclinando minha cabeça bem pouco para trás, falando, calmo e pacifico:

-Eu vou. Se você responder que não sente a minha falta...

  Ele tirou meus cabelos de perto de meu pescoço, enquanto continuava:

-Que não sente falta de mim toda noite...

  Beijou meu pescoço até chegar a minha orelha, lentamente. Nessa altura eu já tinha perdido todo o meu senso de decência, deixando-o me agarrar em plena porta de casa. Não conseguia nem me mover, apenas escutava sua voz em meu ouvido, sussurrando:

-Perto de você.

  Terminou, olhando em meus olhos novamente.

  Permaneci quieta, atônita olhando para ele.

  Brian, sem mudar de expressão, selou nossos lábios, movendo suas mãos para minhas costas e me puxando para si.

  Sem jeito, segurei a barra de sua camisa, retribuindo o beijo.

  Brian desceu suas mãos, uma delas agora segurando minha cintura, enquanto a outra abria a porta, e me empurrava para dentro de casa.