Senti meu coração disparar. Aquela voz, aquele timbre grave, charmoso e sedutor... Senti correr um choque gelado pela minha espinha, fechando os olhos por breves segundos. Havia tempo demais que não escutava essa voz no pé de seu ouvido.

  Se desvencilhou dos braços de Brian.

-O que você está fazendo aqui, Haner?

  Ele ergueu uma sobrancelha.

-Haner? Cadê o amor, cadê o ‘Syn’? Cadê o ‘humm, Syyyyyyn...’?

  Ele fez um barulho parecido com um gemido no meu ouvido.

  Ai, que nojento.

  Empurrei-o e me virei de costas, andando e resmungando. Olhei para o lado e lá estava ele, andando de costas, me encarando.

-Sabia que eu já ganhei um premio por conseguir andar assim?

-VOCÊ NUNCA VAI CRESCER HEIM?

  Ele revirou os olhos.

-Creio que não. Gente grande é muito chata.

  Ele fez uma careta, como se fosse obvio.

  Parei de andar, apertando os dedos nas palmas da mão, encarando os olhos tranqüilos de Brian com raiva.

  Queria arrancar todos aqueles fios de cabelo bem tratados em 2/4 do tempo dele em salão de beleza com uma pinça. Bem dolorosamente.

-Brian. Vai embora, é sério.

-Eu não, aqui parece que vai render boas historias para contarmos aos nossos netos.

  Enterrei a cara nas mãos, grunhindo.

  Que menino doente, meu Deus.

-Que netos o que, Brian! Você bebeu? Volte para a Inglaterra e largue Huntington Beach, seu demônio!

  Brian ergueu uma sobrancelha.

-Desculpa aí se eu não sabia que você era a dona de Huntington Beach.

  Disse irônico, cruzando os braços. Sarah não pode conter seus olhos, que rolaram para os enormes braços tatuados do rapaz. Brian, percebendo isso, fez uma outra careta de vitória.

-Vai ficar encarando, é?

  Olhei para ele, vermelha.

-Dá licença, já estou atrasada para a faculdade. AMY!

  Berrei o nome de minha amiga, mas infelizmente pude ver que ela estava bem introsada conversando com Johnny, o baixinho que me dava medo. Brian pareceu ter percebido também, já que comentou:

-Se está tão atrasada, posso levá-la.

-Não preciso da sua carona. Amy vai me levar. AMY!

  Gritei novamente, mas ela apenas ergueu o dedo do meio pra mim, no ar.

  Brian riu.

-Qual é, é só uma carona, bonitinha.

-Não, não é só uma carona. Se você pensa que vai voltar pra Huntington Beach como se nada tivesse acontecido durante esses anos, e tentar voltar a ser algo além de um conhecido por mim está redondamente enganado.

  Brian revirou os olhos.

  Chegou para perto de mim e segurou minhas pernas, me jogando para suas costas, andando em direção do carro.

-BRIAN ELWIN HANER JR., SE NÃO ME SOLTAR, JURO QUE VOU ARRANCAR O SEU CABELO DE SONIC!

-Relaxa aí, Sarah.

-COMO RELAXAR? BRIAN, ME PONHA NO CHÃO!

  Vi minha presilha cair, soltando meus fios pra baixo, em minha cara.

  O que ele tinha na cabeça? Não via que estava sendo totalmente idiota de infantil?

  Ele chegou perto de onde os meninos estavam e mexeu no bolso, pegando chaves. Entregou-as na mão de algum dos meninos e disse:

-Vão entrando, vou precisar do carro.

  Eles assentiram, virando-se para uma casa amarela onde estavam parados.

  Peraí.

-O que significa isso?

  O sorriso na cara de Brian era quase tangível.

-Sou seu novo visinho, Sarah Green.

  Arregalei os olhos, mexendo as pernas e batendo nas costas dele.

-Não! NÃO NÃO NÃO! DEVO TER FEITO STRIP TEASE NA SANTA CEIA, NÃO NÃO NÃO! AMY ME AJUDA AQUI SUA VADIA!

  Brian chegou perto do seu carro conversível e me tacou no banco traseiro, dando a volta no carro para entrar. Quando eu estava prestes a sair, apontou em minha direção e disse:

-Nem pense nisso, Green.

-Você é um doente! Psicótico! Infantil!

  Resmunguei, tentando sair do carro. Brian me deu um puxão para dentro novamente, passando para o banco de trás e me pretendo no cinto. Olhou fixamente nos olhos e disse, ameaçador:

-Se sair daqui novamente, eu te dou um beijo que você vai sentir até o eco.

  Arregalei os olhos, unindo as sobrancelhas.

-HAHA, NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ, HANER!

-É bom ter.

-Mas eu não tenho.

-Amy, pode pegar a mochila dela, por favor?

  Amy nem estava mais lá, com quem diabos estava falando?

-Amy?

-Ela entrou, seu tosco.

  Resmunguei novamente, de braços cruzados, de cara amarrada. Brian ergueu uma sobrancelha, dizendo:
-Vai ficar com essa cara de velório mesmo?

-Você está me seqüestrando, o que quer que eu faça?

-Para de drama, só vou te levar pra faculdade!

  Olhei para o relógio.

-Os portões já fecharam, eles não deixam entrar depois de 12:50. posso ir?

  Brian fez uma cara de quem pensa.

-Não. Agente pode sair.

-QUE SAIR O QUE, MEU FILHO, TENHO MAIS O QUE FAZER!

  Brian revirou os olhos.

  Ele merecia um belo de um soco na cara. Que ficasse a marca do meu anel, bem no centro da bochecha.

-Que mais o que fazer o que, você não faz nada alem de comer doce e dormir que eu sei!

-Isso é mentira!

-Tá, sei. Você não mudou nada, Green. Com certeza ainda deve dormir com bichinho de pelúcia.

  Como ele sabia disso?

-E com certeza é aquele elefante cor de rosa tão gordo quanto o Zacky que eu te dei no dia...

-NÃO, eu não preciso ficar aqui discutindo minha vida com você, Haner. Passar bem.

  Disse, tentando tirar o cinto.

  Ok.

  Acho que está emperrado.

  Por que essa merda não sai?

-Quer ajuda aí?

  Perguntou, rindo.

-NÃO PRECISA.

  Continuei tentando. Estava quase pegando o cabelo cheio de laquê do Brian e batendo ali pra ver se abria quando ele saiu do banco da frente e se sentou do meu lado, pegando e tirando o cinto.

-Viu? Larga de ser cabeça dura, as vezes é bom.

-Quem é você pra dar conselhos, senhor Eu-Sou-O-Melhor-Em-Tudo?

-Mas eu sou. Você não.

  Disse, dando de ombros.

-Olha, você ainda tem aquele sinal na boca...

  Brian encarava meus lábios, sua mão segurando meu queixo.

-Que sinal na boca? De onde você tirou...

  Brian encostou seus lábios nos meus, fechando os olhos.