Aline’s P.O.V.

Mais um dia de trabalho, sem nenhuma aventura, apenas tédio. E para aumentar a minha “alegria”, Amanda aprontou.

– Onde ela está? – cheguei ao apartamento, Ana e Brad estavam no sofá.

– Quem? – Brad perguntou.

– Amanda – respondi.

– Está dormindo – Ana respondeu.

Não disse nada, apenas fui até o quarto de Amanda, batendo a porta e a trancando.

– Acorde! – gritei.

Amanda acordou assustada, encarando-me sem entender.

– Que merda! O que aconteceu? – ela perguntou.

– O que tinha na cabeça para estragar nosso disfarce? – perguntei, raivosa.

– Não estou entendendo... – ela ficou confusa.

– Não se faça de idiota! – rosnei, arremessando um travesseiro nela. – Éramos para ficar anônimas! Sabe o significado dessa palavra?

– É claro que sei! – ela respondeu no mesmo tom.

– Mas não parece! – gritei. – Você pode ter estragado tudo agora! Vamos ter que repensar cada passo, refazer os planos, tudo por sua culpa!

– Não foi tão grave assim! – ela gritou.

– Você não foi profissional! – acusei.

– Nós devemos nos aproximar deles, foi o que eu fiz! – Amanda retrucou.

Antes que eu pudesse responder – ou voar no pescoço dela – ouve outro grito, este vinha do lado de fora da porta.

– Hey, deixem-me entrar! – era Luana, ela socou a porta com força.

– Eu falo com você depois! – gritei, ela também ouviria muito de mim.

– Por favor! Deixe eu entrar e resolveremos isso! – ela parecia mais calma.

Pensei por alguns instantes, talvez eu devesse poupar meu tempo e ter essa conversa com as duas de uma vez só.

Abri a porta, ainda um pouco contrariada. Luana ainda estava um pouco molhada, me olhava séria, encarei-a do mesmo jeito. Assim que ela entrou tranquei a porta novamente.

– Não aconteceu nada de mais, Aline – Luana disse, calma. – Que tal esquecermos tudo isso?

– Ela estragou tudo – respondi.

– Não foi tão ruim – Luana retrucou. – Acabamos descobrindo mais coisas sobre eles...

– Por exemplo? – incitei, teria que ser algo muito bom para me convencer.

– Bem... – ela pensou. – Gerard tem algo errado – ela disse.

– Ray disse que foi uma decepção com o último baterista da banda – Amanda completou.

– Podemos usar isso ao nosso favor – Luana sorriu, vitoriosa.

Semicerrei os olhos, pensando... Elas mereciam uma surra, mas eu daria esse voto de confiança – pela milésima vez.

– Okay – suspirei. – Mas tratem de se comportar das próximas vezes! – adverti, principalmente Amanda.

Luana sorriu.

– Abraço em grupo? – Amanda disse, inocente.

– Isso é ridículo – revirei os olhos.

– Abraço em grupo! – Amanda pulou para cima de nós, puxando-nos para um abraço. – Estou muito feliz por não ter apanhado – ela sorriu por fim, jogando-se na cama de novo. – Agora saiam que eu quero dormir.

– Ela está se achando – comentei com Luana.

– Deixa... Na próxima vez eu não salvo ela – Luana riu.

Saímos do quarto de Amanda, indo até a sala.

– O que fizeram com o cadáver dela? – Brad perguntou, irônico.

– Jogamos pela janela – Luana respondeu.

– O problema agora não é mais nosso – entrei na brincadeira.

– Vocês são malucas – Brad riu.

***

Ana’s P.O.V.

Fiquei feliz por ter acabado tudo bem, não gostava de brigas entre nós, o clima já era muito pesado durante nosso dia a dia, ficava ainda pior quando havia alguma discussão ou desentendimento.

Além disso, cada uma tinha alguma história pessoal que às vezes fazia com que ficássemos depressivas, piorando ainda mais o clima entre nós. Algumas histórias eram leves, levadas normalmente por nós, mas também havia as histórias pesadas... Guardadas a sete chaves e que apenas nós quatro sabíamos, nem se quer Brad tinha conhecimento do conteúdo desses segredos. Algumas diziam respeito ao nosso passado, outras a o que vivíamos agora.

Sem falar nas circunstâncias com que acabamos fazendo o que fazemos hoje. Tudo começara no último ano do colegial, no baile de formatura... Mas não vinha ao caso agora. O fato é, eu odiava brigas.

Depois de conversarmos um pouco resolvemos todos irmos dormir, o dia seria novamente longo amanhã.

– Boa noite – falei enquanto cada um entrava em seus respectivos quartos.

Tomei um banho rápido e quente, apenas para relaxar. Deitei em minha cama e liguei a televisão, deixando-a no mudo, apenas para que o quarto não ficasse em completa escuridão.

Assim que fechei meus olhos, Mikey veio-me à cabeça.

– Que merda é essa? – questionei a mim mesma sobre isso.

Não havia motivos para aquele cara estar em minha mente antes de dormir.

Coloquei os fones de ouvido, tentando, com sucesso, afastar os pensamentos alheios e dormir.

***

Luana’s P.O.V.

Luana’s Dream – On

Eu estava no meio daquele gramado extenso atrás do ginásio da escola, onde acontecia a festa de formatura, tão esperada por todos. Eu esperava alguém... Ele marcara comigo ali à duas semanas atrás.

Eu não era idiota, não fora até ali sozinha, minhas amigas estavam-me esperando há alguns metros, atrás de uma árvore, mas também por que eram curiosas e queriam saber o que ele queria comigo.

– Desculpe a demora – ele disse-me, aparecendo em meio à escuridão.

– Tudo bem – sorri.

Ele estava lindo, usava uma roupa formal preta, que contrastava com sua pele clara e seus olhos negros.

Eu usava um vestido longo e vermelho, estilo tomara-que-caia.

– Está muito bonita – ele sorriu, pegando minha mão e passando um braço entre minha cintura.

– Obrigada – agradeci, tentando libertar-me de seu abraço forte de mais. – O que quer?

Ele não respondeu, apenas uniu nossos lábios com extrema urgência.

Pude sentir o gosto de álcool em sua boca, ele havia bebido.

– Você está bêbado novamente – contestei, separando nossos lábios.

Ele sempre tivera fama de mal-encarado, sempre metia-se em confusões em festas e outros lugares que freqüentava com seus amigos, mas eu gostava dele, não podia fazer nada...

– Você já devia ter se acostumado – ele riu debochado, levando seus lábios ao meu pescoço.

– Me solta! – reclamei, empurrando-o.

Como ele estava bêbado, acabou caindo por falta de equilíbrio.

– Desculpe – disse, após ver que ele não gostara muito disso.

– Vadia – ele rosnou, levantando-se e partindo para cima de mim.

Ele apertou meu pescoço com força, estava atordoado. Eu tentava gritar para que ele parasse, mas não conseguia, já faltava ar em meus pulmões e eu sentia minha cabeça doer, restava-me apenas tentar socá-lo de alguma maneira.

Consegui dar um soco em seu rosto, ele soltou-me rapidamente e eu tive a oportunidade de correr, fui em direção às árvores, onde minhas amigas – Aline, Amanda e Ana – estariam esperando-me, mas logo senti mãos dele puxando-me para trás novamente, arremessando-me contra o chão.

Ele pulou para cima de mim e logo pude perceber o que ele tentava fazer.

Ele começou a rasgar meu vestido enquanto eu gritava por socorro e tentava socá-lo novamente.

– Alguém me ajuda! – gritei com toda a força que pude.

Nada, nenhum sinal de que alguém ouvira-me. Fechei meus olhos e continuei lutando, tentando defender-me de alguma maneira.

Luana’s Dream – Off

*

Abri meus olhos, ofegante. Odiava quando sonhava com aquilo, fazia tempo que não acontecia, mal lembrava-me da sensação de desespero que eu sentia sempre que acordava depois desse pesadelo, que era mais uma lembrança de um passado distante que tive.

Lembrava-me claramente daquela noite, onde tudo começou, e isso atormentava meus sonhos de vez em quando.

Na verdade, o que dera início à nossa atual vida fora o final daquele terrível pesadelo real, mas eu não gostava de lembrar do que acontecera no final de tudo, já era terrível demais pensar que por pouco não fora abusada por aquele desgraçado, graças à... Bem, não vinha ao caso.

Virei-me para o outro lado e voltei a dormir, o dia seria longo...