Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 19
Between You and Me


Notas iniciais do capítulo

Férias e Hokuto-chan aqui em crise de "sou-uma-ficwriter-medíocre-não-posso-mais-escrever-mimimi D: Vira e mexe tenho dessas e não consigo mais escrever/quero deletar tudo. A última crise me empacou por mais de dois anos, então essa até que passou rápido! (estaria morta a cabeçadas de carneiro-beta, se não tivesse passado). De qualquer forma, me desculpem a demora, vocês não tem culpa disso. Eu sou "meio" paranoica... oo

Orphelin, meu fofo carneirinho-beta *alisa com medo* obrigada pela revisão e por não ter me matado ainda 8D



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Capítulo XIX

Quem pode dizer o que isso significa?
Quem pode dizer o que você vê
E o que começa entre você e eu?
Between You and Me - Marillion

Os olhos de Mu piscaram consecutivas vezes. Sentia-se perdido. O frio que surgiu em seu estômago dificultava, ainda mais, o raciocínio e seu rosto só não enrubesceu porque sua mente estava vazia – graças aos bons deuses!, ele pensaria mais tarde, pois corar teria feito com que parecesse admitir que a acusação era verídica.

Enquanto ele sofria internamente, o rosto acusador de Aiolia aproximou-se tanto que seria possível ver perfeitamente as linhas azuis e verdes em suas íris claras, caso Mu não estivesse tão confuso. O garoto ainda apoiava-se com a mão no batente, o nariz quase se encostando ao nariz do outro, evidenciando, mais do que nunca, o quanto ele havia crescido.

Crescido e ficado ainda mais abusado!

Um pervertido?, pensou Mu, por quê? Considerar alguém atraente não significava, necessariamente, sentir atração pela pessoa, certo? Droga! Não conseguia pensar direito com aqueles olhos do leonino sobre si, que o mantinham preso por meio da intensidade com que o fitavam.

Sem falar na sombra de um sorriso enviesado inquietante. Assim, meio libertino, meio perigoso...

A eternidade pareceu suspensa no tempo até que o garoto pestanejou, libertando o outro daquela quase hipnose, para, imediatamente, voltar a atordoá-lo com o som de sua risada atrevida.

– Você tinha que ver sua cara, Mu! Tão sério. É incrível como você e o Shaka não sabem brincar...

O ariano abriu e fechou a boca seca, vagamente consciente de que era uma sorte estar apoiado na porta, pois suas pernas, de repente, ficaram fracas demais para sustentá-lo.

Uma brincadeira?! Claro, só podia ser. Era o que as crianças faziam, afinal. Foi uma brincadeirinha de mau gosto – chamá-lo de pervertido fingido! –, mas... tudo bem, tudo bem! Era melhor do que...

– Não ficou bravo, né? – o grego quis saber, soando mais esperançoso do que preocupado, inclinando-se para cima do outro com curiosidade.

Bravo, não! Muito indignado, sim! Devagar, Mu balançou a cabeça negativamente.

E Aiolia sorriu. Um sorriso magnífico, porque alcançava seus olhos, fazendo-os brilhar em alegria genuína; e, ao mesmo tempo, perturbador, porque também fazia com que ele parecesse ainda mais novo do que era.

Um lindo garoto, só isso. Qual era o problema de admirar aquela beleza? Mu umedeceu o lábio inferior, atraindo, instantaneamente, o olhar felino de Aiolia para sua boca. Um lindo garoto com um olhar felino, que maravilha!

O sorriso do grego morreu enquanto ele mordia o próprio lábio. A tensão de momentos antes pareceu pequena perto da inexplicável expectativa que se apoderou de Mu.

Por quê?

– Vou indo então, Mu! – exclamou, dando dois tapinhas no ombro do mais velho de um jeito distraído.

Restou ao tibetano soltar um longo suspiro, depois que Aiolia saiu com seu típico ar insolente... e sem a menor consideração pelo estranho momento que acabara de causar e quebrar com tanta facilidade.

***

Estranho era o comportamento de seu irmão, Shun diria.

Ikki poderia ser considerado um adolescente distante, impetuoso e, até mesmo, hostil. Não era muito de longas conversas, não demonstrava afeto e, sem dúvidas, ficava incomodado quando alguém era carinhoso demais consigo. Principalmente em público. Seu jeito de demonstrar cuidado e preocupação era tão peculiar que, não só para a maioria das pessoas como para o próprio irmão, era difícil de entender.

Ah, como Shun era diferente! Gentil e pacífico, sua afabilidade e solidariedade aproximavam pessoas o tempo todo. Apesar disso, naquela época – e ainda por muito tempo depois – qualquer amigo mais próximo diria que o mundo do pequeno garoto girava somente em torno do seu irmão mais velho.

Desde a infância, Shun sempre levantava os olhos cheios de admiração para Ikki. Tudo, porque sabia que o irmão era forte e sempre estaria lá por ele, fosse para ajudá-lo ou simplesmente fazer companhia. Ele era incrível, embora fosse péssimo em confortar pessoas – sendo quase rude de tão direto, o que nem sempre soava adequado frente à sensibilidade alheia.

Mesmo assim, Shun o admirava. Justamente por estar sempre tão atento, não tardou a reparar no comportamento diferente do irmão, naqueles últimos dias. A mudança era muito sutil, na verdade. Excesso de mau humor, falta de concentração, desinteresse diante de atividades que normalmente o interessariam... Até mesmo Seiya, que era desatento, percebeu que fazia tempo que Ikki não aparecia no futebol, por exemplo.

– Ando ocupado, estudando pro vestibular – o leonino resmungava, olhando para Seiya de um jeito que parecia sugerir ao rapaz que fizesse o mesmo.

Nessas ocasiões, Seiya fazia uma careta ofendida e Shun lançava um olhar curioso para o mais velho. Estudar? Na maioria das vezes, Ikki apenas ficava encarando os livros com um olhar vago, até que, do nada, abandonava-os e saía andando pelos corredores do colégio, espreitando-se pelos cantos como se perseguisse alguém. Suspeito, para dizer o mínimo, mas, ainda assim, discreto o bastante para que não fosse possível imaginar qual era o problema.

Naquela tarde, os irmãos estavam aproveitando o dia ameno para estudarem sob a sombra de uma árvore, numa praça próxima a casa deles. O silêncio agradável durou só até Ikki se mover sobre o banco, já com impaciência, soltando um resmungo incomodado.

Shun automaticamente o encarou com ansiedade, já imaginando que o irmão, a qualquer momento, sumiria de novo. Entretanto, o mais velho apenas cruzou os braços e ficou olhando para frente com uma expressão dura.

– Oi, Shaka! – Shun cumprimentou com um sorriso, após se virar para ver o que o irmão tanto encarava.

Aproximando-se, o indiano meneou a cabeça de forma quase distraída, parando na frente do mais velho.

– Ora, resolveu se lembrar dos amigos, loiro? – perguntou Ikki com sarcasmo.

– Eu nunca vou entender – Shaka replicou com altivez – como e quando nos tornamos amigos.

– Hmm... Eu diria que o grande marco foi quando te salvei de vomitar em si mesmo...

Diante do irritante sorriso enviesado e da provocação indiscreta, o virginiano franziu levemente o cenho, dispensando-os com desdém ao dizer que não estava ali para discussões infantis.

Shun observou o irmão se levantar, ficando de frente para o outro rapaz. Shaka era uma pessoa interessante, pelo menos aos olhos de Shun, que percebia a forma como o loiro era infinitamente mais imponente do que as pessoas da mesma idade que ele.

O fato foi que Shun se sentiu deslocado de várias formas diante da troca de olhares que se seguiu entre Ikki e Shaka, pois os dois pareciam estar conversando em um nível superior, no qual as palavras eram desnecessárias para a compreensão.

Os olhares do leonino eram questionadores e acusadores. Em resposta, os olhos azuis muito claros do indiano fitavam o rapaz parado à sua frente num misto de confusão e descaso.

Um longo momento se passou até o loiro fechar os olhos, balançar levemente a cabeça e suspirar pesadamente – como alguém que, habituado a discutir com uma pessoa teimosa, convence a si mesmo de que está perdendo tempo em vão.

Ikki apertou os punhos, trincando os dentes para não dizer algo terrivelmente hostil e, por fim, resmungou qualquer coisa ininteligível. Não chegou sequer a perguntar o motivo da presença do virginiano ali, mesmo porque este logo se virou e foi embora.

Na tentativa de compreender a situação, Shun lentamente começou a analisar tudo o que tinha se passado naquele ligeiro encontro. Mais tarde chegaria a conclusões equivocadas.

***

Por sua vez, Milo andava vivenciando momentos bastante estranhos, o que não deixava de surpreendê-lo, visto suas concepções e histórico de vida. A tarde estava agradável e ele tinha uma linda namorada em potencial...

Então, por que diabos estava enfiado na biblioteca?!

Para se sentir constrangido e desconfortável, pelo jeito. Afinal, aquele negócio de fazer biquinho para pronunciar alguma palavra em francês era tenso. Milo simplesmente não conseguia agir e, muito menos, soar com naturalidade. Ficava sem graça ao pensar que parecia estar se oferecendo para um beijo e, por isso, acabava não fazendo biquinho nenhum.

– Isso é impossível, Camus! – ele exclamou de repente, desviando a atenção do outro de seus lábios e cruzando os braços com um ar emburrado.

Você é impossível – o ruivo replicou com indiferença à indignação do outro.

Com cinismo, Milo arqueou uma das sobrancelhas e, sem refletir, esboçou seu já famoso sorriso sexy. No entanto, quando o francês o encarou com os olhos semicerrados, tal sorriso feneceu. Ora essa... Não estava flertando para ficar sorrindo daquele jeito.

– Vamos, basta dizer salut direito – o aquariano continuou, imperturbável, gesticulando para que o outro repetisse.

Salut – repetiu com má vontade, sem olhar para o francês e mal movendo os lábios.

Camus entreabriu os lábios numa espécie de suspiro inconformado. Não pensou duas vezes antes de se inclinar na direção do escorpiano, levantando o rosto do mesmo com uma das mãos e apertando um pouco as suas bochechas, de forma que o forçasse a fazer o bendito biquinho.

O gesto inesperado e a proximidade fizeram o grego arregalar os olhos azuis, suprimindo um ofego.

Salut – o aquariano insistiu com firmeza e, obviamente, com toda a naturalidade do mundo em seu biquinho.

Desajeitadamente, Milo repetiu o cumprimento uma, duas, três vezes. A cada repetição insatisfatória, sentia-se mais consciente do fato de que aquela cena devia parecer bastante comprometedora – os dois sentados, um de frente para o outro, com Camus um pouco inclinado sobre a mesa, a mão fria segurando o seu rosto... e ele ali, fazendo biquinhos ridículos!

O pior foi quando olhar para os lábios avermelhados do ruivo fez com que relembrasse dos beijos que haviam trocado naquela fatídica noite no Meikai. Beijos entusiasmados com gosto de álcool e...

Não, não, melhor esquecer isso! Foram beijos com outro cara! Beijos que só atrapalharam a amizade entre eles! E, mesmo assim... lá estava ele, começando a pensar que seria bem legal beijar Camus de novo porque...

– Hey! – Milo exclamou, espantado consigo mesmo, desviando o pescoço para escapar do toque em seu rosto. – Ahn... Preciso, hm, ir ao banheiro! É! Já volto!

O aquariano apenas deu de ombros, observando o loiro se afastar todo agitado.

No que é que estava pensando? Milo se repreendeu mentalmente. Só podia ser tudo culpa de Shina e suas bizarrices yaoi. A garota estava lhe influenciando negativamente. Esse fato, somado às brincadeirinhas de Aiolia e multiplicado pelo seu breve histórico com Camus, era o que estava lhe causando tamanha confusão. É claro!

Mesmo assim, foram necessários uns bons dez minutos e várias batidas de cabeça na parede para que Milo resolvesse voltar para sua aula de francês.

Qual não foi sua surpresa ao encontrar o leonino sentado em seu lugar, de frente para Camus, com Shina ao lado de ambos? Pior, rindo de alguma coisa que Milo nem queria imaginar o que era.

– E aí, Flor do Campo? – Aiolia cumprimentou alegremente, assim que o amigo se aproximou.

– Cala essa boca e sai do meu lugar – o escorpiano redarguiu, olhando feio para o outro.

Todavia, Aiolia esboçou um sorriso sacana e deu tapinhas na própria coxa, sugerindo que Milo se sentasse em seu colo. O loiro replicou com um gesto muito rude. Nesse instante, Shina levantou-se abruptamente e foi até o escorpiano. Ela carregava uma expressão animadíssima – causada, é claro, pela brincadeirinha do leonino – e deu-lhe um abraço apertado.

Antes que Milo pudesse falar qualquer coisa, ela o arrastou um pouco para longe da mesa onde estavam, parando num corredor repleto de prateleiras. A italiana apertou um pouco mais o abraço e declarou, num murmúrio apressado, o quão desapontada estava com o grego:

– Eu esperava mais de você, Milo, muito mais! Francamente... Por que ainda não tá se agarrando com o Camus entre esses livros?

– Eh? – ele balbuciou sem processar direito a pergunta, mas logo voltou a encarar a garota como se ela tivesse graves problemas mentais.

– Fazendo limonada, sabe...

– ...

Em vez de responder, Milo fez uma careta e olhou por cima do ombro da ariana, para certificar-se de que Aiolia e Camus não estavam prestando atenção. Não estavam. Na verdade, os dois pareciam estar se entretendo com seja lá o que fosse que estavam conversando. O escorpiano sentiu-se um tanto enciumado diante daquela cena. Mentira! Só um pouquinho incomodado...

Shina soltou um suspiro exasperado, como se considerasse que era ele quem tinha problemas mentais, e não ela. Era bonitinho e fofo, ela explicou, vê-los naquela brincadeirinha de professor e aluno, mas faltava ação. Muita ação! Dava até para sentir a tensão sex-...

Quê?! – Milo exclamou alto o bastante para chamar a atenção da bibliotecária distraída, mas não da dupla de amigos, que estavam muito mais perto. – Primeiro, não é brincadeirinha nenhuma – explicou, baixando drasticamente o tom de voz. – Segundo, você anda nos vigian-...?

De repente, Aiolia soltou uma breve risada, interrompendo a discussão entre Milo e Shina e atraindo a atenção de ambos. O francês balançava levemente a cabeça com um ar grave enquanto o leonino apenas sorria de lado e fitava seu interlocutor de um jeito que Milo só podia chamar de indecente.

Naturalmente, a italiana ficou alerta para um possível momento yaoi. Seus olhos começaram a brilhar esperançosos conforme Aiolia ajeitou-se na cadeira, assentindo com a cabeça, antes de começar a falar alguma coisa que o fazia franzir as sobrancelhas e sorrir com estranheza.

A mais pura indignação começou a crescer em Milo, quando este percebeu o que acontecia: Aiolia estava pronunciando alguma coisa em francês, ou seja, tentando fazer o famigerado biquinho!

A cada repetição, o leonino propositalmente se inclinava mais na direção do francês, causando ondas de empolgação em Shina. A cena era absurda e inconcebível. Milo queria rir, discutir e ir embora ao mesmo tempo, extremamente incomodado, apesar de não saber direito o motivo. Aiolia só estava brincando com aquela tara doida da ariana – isso ficou óbvio quando ele lançou uma piscadela cúmplice para ela. Camus era ingênuo em estar se dando ao trabalho de tentar ensinar aquele tonto, mas... Poxa, era sua aula de francês!

Foi aí que Shina abafou um gritinho extasiado, corando de prazer, e Milo saiu de seus pensamentos bruscamente, contemplando a bizarra realidade que se formava a alguns metros de onde estava: Camus estava inclinado sobre a mesa e segurava o rosto de Aiolia, apertando-o de leve, exatamente do jeito que fizera consigo momentos antes. Como o leonino também estava inclinado, a situação ficou bastante comprometedora.

Hey! – Milo protestou, incapaz de se impedir de externar a indignação que sentia ao ver seu pior melhor amigo morder o lábio inferior e olhar, com aqueles olhos semicerrados e vidrados que tão bem conhecia, para os lábios do ruivo. Avançou até a mesa e bateu as mãos sobre ela com força: – Que diabos vocês estão fazendo?

A única garota do grupo aproximou-se também, interessadíssima, mas apenas o suficiente para ver e ouvir a cena sem participar efetivamente dela.

– Ele tá tentando me ensinar a fazer aquele biquinho francês – Aiolia respondeu com sinceridade, assim que foi solto pelo aquariano, dando de ombros com descaso. – Só o Camus pra fazer isso ser sexy, né? – e piscou para o francês.

Uma sobrancelha ruiva arqueou-se, mas o ar enfastiado do rapaz parecia dizer que os dois gregos eram igualmente péssimos em aprender uma coisa que considerava tão simples.

A indignação de Milo ainda era grande demais para que conseguisse fazer algo além de encarar Aiolia e Camus com um brilho enfurecido nos olhos claros. As únicas coisas que passavam por sua cabeça eram palavrões terríveis, mas tudo o que conseguiu vocalizar foi:

Você! – apontou para Aiolia rudemente. – E você! – apontou para Camus da mesma forma. Uma expressão perplexa passou por seu rosto aborrecido. Virou-se com brusquidão para ir embora e deu de cara com Shina a contemplá-los: – E você também! – depois, saiu tão rápido que seus cachos dourados balançaram revoltosos em suas costas.

Os três adolescentes se entreolharam – Shina com empolgação, Aiolia com desconfiança e Camus vagamente interessado nas reações do escorpiano –, balançaram a cabeça e nada comentaram, embora pensassem a mesma coisa.

Milo era tão complicado!

***

Na noite de sábado, Mu ficou surpreso ao abrir a porta de sua casa e dar de cara com Kanon, que estava todo arrumado e perfumado e ainda lhe sorriu de um jeito muito satisfeito – daquela forma que Saga reconhecia de longe como estou tramando alguma coisa.

Infelizmente, para Mu, ele fazia parte dos planos daquela vez. Assim, sem nem ao menos cumprimentá-lo direito, o grego declarou num tom que não admitia contestações:

– Vamos ao Meikai, Muffin. Faz tempo que você não aparece por lá.

Tenho más lembranças, o ariano pensou, mas apenas relembrou o grego de que aquele não era o seu tipo de ambiente favorito. Muito barulho, muita gente – bêbada, diga-se de passagem –, muita confusão...

O geminiano dispensou as explicações, já conhecidas, com um gesto desdenhoso. Mu tinha que ir. Imagina, seria terrível aguentar os dramas de um Aiolos embriagado sem o ariano por perto para controlá-lo. A única pessoa, além do tibetano, que ainda era capaz de controlar os ataques do sagitariano, chamava-se Shura, mas este andava ocupado e talvez nem fosse.

– E eu preciso ficar de olho no meu irmãozinho, sabe como ele fica, né? – Kanon perguntou retoricamente, já empurrando o outro em direção ao quarto, que ele já conhecia pelo fato da casa dos tibetanos, ou talvez apenas Shion, atrair pessoas o tempo todo. – E ainda tem a pirralhada que só apronta! Sem dizer que o Shakito disse que só vai se você for... e ele precisa ir.

– Por que ele precisa? – Mu balbuciou atordoado, tentando acompanhar os argumentos e a movimentação que o grego fazia por seu quarto, arrancando algumas peças de dentro do seu guarda-roupa.

Não estava com ânimo para contestá-lo. Sabia muito bem que Kanon acabaria por persuadi-lo de um jeito ou de outro. Só Saga conseguia contrariar o irmão... às vezes.

– Porque ele é um adolescente cheio de hormônios ainda virgem! – o gêmeo mais novo exclamou distraído e, sem dar tempo para que o outro questionasse como possuía tal informação, perguntou: – Já tomou banho? – observou o ariano acenar positivamente. – Que ótimo! Então veste isso aí – e jogou as roupas escolhidas nos braços dele. – Saga-boy e os irmãos Ai-Ai já devem estar lá.

À menção do leonino, Mu sentou-se na cama experimentando uma sensação de constrangimento. Desde aquela absurda brincadeira, ele procurava evitar o mais novo da forma mais educada que podia. Tinha um vago receio de que talvez houvesse um fundo de verdade naquelas palavras. De que realmente sentisse alguma atração indevida pelo garoto e, pior, ele estivesse ciente disso.

– Vocês são tão amigos... – murmurou sem pensar, olhando para as roupas. Uma imensa curiosidade despertando dentro de si. Se alguém podia entender, ao menos um pouco, o leonino, esse alguém era Kanon. Aquela parecia ser uma boa oportunidade para falar sobre o garoto. – Digo, apesar da diferença de idade, você e o Aiolia se dão muito bem, certo?

Kanon apoiou as costas na porta, cruzando os braços atrás da cabeça e olhando para o ariano de forma analítica. Lentamente, um sorriso enviesado começou a se formar em seus lábios. O sorriso meio libertino, meio perigoso, que Pandora tantas vezes contemplara e que Mu tinha visto recentemente no rosto juvenil de Aiolia.

Dessa vez, o tibetano não conseguiu evitar uma expressão surpresa, especialmente quando o geminiano aproximou-se da cama, deitando-se nela de barriga para cima.

– Que tal um acordo? – o grego propôs com ares conspiratórios, enrolando suavemente uma mecha comprida dos cabelos do outro entre os dedos.

Confusão desenhou-se no rosto pálido do ariano. Impressionante! Até a forma de mudar bruscamente de assunto lembrava Aiolia. Ou seria o contrário? Porém, Kanon não mudara o assunto:

– Você me fala sobre seu estranho interesse nele... e eu te conto aquilo que você quer saber.

Estranho interesse? – Mu ecoou apreensivo. Não era bem assim. Só achava o garoto complicado demais. Incompreensível. – Você o entende?

Kanon levantou-se e colocou o dedo indicador sob o queixo, olhando para cima teatralmente.

– Não é isso que você realmente quer saber, Muffin. De qualquer forma, você não cumpriu sua parte. Enfim! Não tem problema! – exclamou, antes que o outro pudesse dizer algo mais, dando-lhe tapinhas nas costas. – Teremos a noite toda pela frente...

***

Uma longa noite, sem dúvidas. Afrodite andava tranquilamente pelo Meikai, com as ondas brilhantes dos cabelos balançando nas costas e nenhuma emoção nos olhos claros. Exuberante como apenas ele era capaz de ser, seus admiradores afirmariam. Ele, por sua vez, mal notava os olhares enlevados que atraía a cada passo.

Girava entre os dedos um isqueiro prateado – com as iniciais M. M. gravadas –, contemplando pensamentos que não tinham nada a ver consigo. Preferia observar os amigos com um vago interesse.

Marin estava linda aquela noite e prestes a aproveitar tudo o que podia, como o próprio Afrodite lhe sugerira. Contudo, talvez perdesse suas esperanças de vez. Aiolia envolvia a cintura fina da garota, deslumbrado, mas nem de longe apaixonado. De vez em quando, ele olhava por cima do ombro dela e lançava uma piscadela ou um beijo no ar para Milo, com o intuito de atazaná-lo.

O escorpiano parecia irritadiço com tudo. Fazia gestos rudes para Aiolia e reclamava com Shina o tempo todo. Além do mais, evitava Camus sempre que este passava por perto acompanhado de Shaka.

E o indiano, por sua vez...

– Então, ficou com você – disse Máscara da Morte, aparecendo atrás do pisciano e apontando para o objeto nas mãos deste, interrompendo as observações que o garoto fazia.

Distraído como estava, Afrodite mal pôde disfarçar o sobressalto diante da aparição repentina. O italiano não deu atenção a isso e tomou-lhe o isqueiro, usando-o para acender o cigarro que acabara de colocar entre os lábios.

O mais novo fez um muxoxo. Nunca deixaria de ficar incomodado com o cheiro da fumaça impregnando-se em seus cabelos, por mais que achasse atraente ver os movimentos do outro ao fumar. Mesmo assim, andava aborrecido demais para reparar na ação do mais velho naquele momento.

Afrodite gostava de ser admirado, elogiado e ser o centro das atenções. Gostava da ideia de se envolver com alguém que considerava tão atraente, sem maiores complexidades. Por outro lado, não gostava da ideia de não ser exclusivo. Afinal, quem poderia ser melhor ou mais belo do que ele?

– E aquele rabo de saia que você estava olhando? – perguntou com desinteresse, como se fosse uma formalidade dispensável, referindo-se a uma mulher qualquer.

Máscara da Morte afastou o cigarro e inclinou a cabeça para trás, gargalhando.

– Não era um rabo tão bonito quanto o seu.

– Naturalmente – Afrodite sentenciou, revirando os olhos azuis. Levou uma das mãos ao cigarro do mais alto e o tomou para si, mas teve o pulso segurado com força pelo mesmo, antes que pudesse dar uma tragada.

O italiano ainda sorriu sarcasticamente quando pegou o cigarro de volta. Ora, o fedelho não ia querer arriscar a beleza que possuía à toa, certo?

– Nunca! Por que você fuma, Máscara da Morte?

– Direi um dia, junto com meu nome – respondeu cínico, puxando o mais novo para si com um aperto nos cabelos compridos.

A imagem descrente de Afrodite poderia ter ficado opaca após ser tão intensamente observada pelo italiano. O pisciano apenas esboçou seu sorriso falsamente doce, para perder-se depois, um pouco mais, nos braços do ex-soldado.

***

Entre as árvores mais afastadas, Aiolia já estava meio perdido por causa de todas as bebidas alcoólicas que ganhara de Kanon e Aldebaran, embora tivesse compartilhado boa parte delas com Marin. Ela se revelara bem resistente ao álcool, mas, pelo próprio bem, parou de beber assim que começou a rir demais à toa.

– Sabe? Eu gosto mesmo de você – ela declarou, ficando nas pontas dos pés para pendurar-se nos ombros dele.

– Eu sei... – o leonino replicou, puxando-a ainda mais de encontro a si pelos quadris. – Infelizmente, meu coração é todinho do Milo, haha! E você sabe como ele é ciumento! – olhou ao redor, procurando pelo escorpiano em vão.

– Você e a Shina ainda vão fazer o coitado pirar com essas brincadeiras, sabia?

– Vai valer a pena, garanto... – sussurrou, parecendo falar de outra coisa, enquanto mordiscava o pescoço claro da garota.

Marin estremeceu, sentindo toda a empolgação dele pressionada contra seu quadril.

– Detesto interromper – um Shaka mal-humorado comentou, claramente não se importando nem um pouco –, mas eu preciso falar com você, Aiolia.

– Agora?! – perguntou o grego, incrédulo. – Nem ferrando, cai fora!

O loiro o encarou de uma forma bastante opressora e irredutível. Sim, imediatamente.

– Não se apresse por minha causa, nos vemos depois – disse Marin, de repente tímida e nervosa, afastando-se rapidamente deles.

– Hey! Não me deixe com esse nerd tirano! – Aiolia protestou tarde demais. Sua expressão era sombria quando se voltou para Shaka. – É melhor que seja importante. Farei você sofrer eternamente se a Marin desistir de...

– Cale-se – o virginiano interrompeu com azedume, sem esperar por explicações desnecessárias acerca do que a garota poderia desistir.

Aiolia, é óbvio, continuou soltando imprecações por um tempo. Até perceber que o outro estava quieto e ainda não tinha começado a falar, de uma vez, o que queria. O loiro tinha que perder aquela mania, sério mesmo!

– Imbecil... – Shaka acusou, desviando o olhar para o lado, com um tom rosado suspeito nas faces, e fazendo um gesto vago na direção do leonino.

– Qual é o-...? Ah! – o grego percebeu, olhando para o próprio baixo-ventre. – Ué, nunca viu alguém excitado? – provocou com um risinho embriagado, colocando as mãos nos bolsos da calça para ver se disfarçava.

Aquele era o problema, o indiano explicou. Aquelas perguntas embaraçosas e sem sentido aparente que Aiolia lhe fazia toda vez que estavam juntos, ao invés de lhe ajudar efetivamente como Mu esperava que ele pudesse fazer.

– Ahh! – o leonino exclamou, balançando o indicador na direção do outro. – Já tinha até esquecido que a culpa é toda do Mu. Tudo sempre é culpa dele, é incrível...

Os olhos felinos de Aiolia cintilavam como se ele tivesse feito uma descoberta fascinante. Shaka logo compreendeu que o outro tinha bebido muito. Era melhor deixar o assunto para outra hora.

– Sim, é hora de mudar de estratégia... Mas não tema, Shaka-chan! Vai dar tuuudo certo...

Em um segundo, Aiolia encostou uma das mãos no tórax do virginiano, empurrando-o para trás, indo de encontro a uma árvore. Então, sem a menor consideração ou cuidado, pressionou os lábios sobre os do outro...

E mais de uma exclamação soou no ar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Hmm, talvez vocês tenham pensado na primeira cena: "como assim o capítulo 18 acabou daquele jeito e não rolou pegação nesse?". Sabem como é, Aiolia gosta de atentar os outros, haha -q ele nuuunca facilita pro Mu, sempre perturba... u.u'

Muito obrigada aos queridos que mandaram reviews: Mel Dark, ddkcarolina, Aiolia de Leão, Taia, hinatailove, Isa Angelus, Suzuki_Yoi, Leo Saint Girl, KassiaKarolayne, Poison Ivy, Orphelin, Azarella, Guardian, mangalove, Arza, yukari_shii, Flying Cupcakes e Sango! S2

Agradecimento especial para mangalove que foi muito amor e recomendou a fic! S2