Change Of Heart escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 18
The More I See


Notas iniciais do capítulo

AE AE AE VOLTEI /todascomemora -sqn Agora sim, livre do artigo científico com louvor o/ Mas vamos ao capítulo primeiro, no final falo melhor com vocês S2

Orphelin, meu caro carneiro-beta, obrigada por tudo nesse capítulo, as always *-*

Fanart por 東雲



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Capítulo XVIII

Quanto mais eu vejo, quanto mais eu vejo
Menos, menos eu acredito
The More I See - Metallica

Tão logo fez aquele pedido inusitado, Milo arrependeu-se de sua impulsividade. Ficou olhando para o ruivo com uma expressão surpresa e à espera de uma resposta. Sem dúvidas o francês consideraria a ideia tão despropositada quanto ele mesmo achava, ou seja, responderia que não, óbvio!

Só que Camus, por sua vez, meramente arqueou uma sobrancelha diante do pedido feito. Por longos segundos, seu rosto permaneceu inclinado para o lado e seus olhos inexpressivos analisaram o escorpiano.

É claro que Milo estava morrendo ali, na expectativa, esperando por uma negação ou alguma pergunta do tipo pra que diabos você quer aprender logo francês?, ou algo assim.

Oui – o aquariano murmurou por fim; seus lábios quase, quase formando um sorriso muito sutil, embora o grego não tenha percebido por ter sido deixado para trás sozinho, ainda boquiaberto pela situação.

E foi assim que Milo soube que não sabia de mais nada.

No entanto, talvez essa ideia absurda servisse para alguma coisa. Era, afinal, um jeito de passar algum tempo com Camus. Quem sabe, a amizade deles voltasse a ser como antes.

O fato é que foi meio complicado encaixar as aulas entre as atividades extracurriculares de ambos. Porém, o escorpiano ficou muito satisfeito quando o ruivo acabou cancelando um dos dias em que dava aula para o tal Hyoga, de forma que pudesse ensiná-lo duas vezes por semana.

No dia marcado para a primeira aula, então, Milo chegou à biblioteca antes do horário combinado, visto a ansiedade que estava. Escolheu uma mesa qualquer e sentou-se de forma desleixada, lançando olhares furtivos para todos os lados, como se suspeitasse de alguma coisa.

Bem, pela forma como Shina ficara empolgadíssima com aquela ideia de francês – sim, ele havia contado a ela – ninguém podia culpá-lo por temer que a garota resolvesse vigiá-lo à espera de algum improvável momento yaoi, não? Ela era surtada! Mal soube da novidade e já se pôs a imaginar como eles se agarrariam loucamente sobre os livros e...

– Que pontual – disse Camus, cortando-lhe os pensamentos. Estava sinceramente surpreso, por mais que seu tom de voz não demonstrasse nada.

Milo imediatamente endireitou-se na cadeira, ficando com uma postura correta e tensa. Tentou dar de ombros frente à observação do outro, mas parou estarrecido ao ver a quantidade de livros que este carregava.

– Pra que tudo isso, cara? – quis saber, abismado, observando o outro colocar os livros sobre a mesa e sentar-se com uma expressão indiferente.

– A aquisição de uma língua vai além do domínio das regras de formação das sentenças – Camus explicou com ar professoral, empurrando alguns livros sobre cultura e outros da literatura francesa para cima do loiro.

– Oui! – assentiu com ironia enquanto tentava inutilmente imitar a forma como Camus fazia biquinho ao pronunciar aquela sentença. Por aquilo ele não esperava. E o ruivo estava falando sério! Ia ser mais complicado do que imaginara...

Naturalmente, os livros não eram para serem lidos naquele momento e as duas horas da aula se passaram de um jeito bem difícil para o grego. Até então, as únicas coisas que ele sabia dizer em francês eram: sim, não, por favor e obrigado. Isto é, Camus teve que começar bem do básico, explicando o que queria com sua voz calma e monocórdia. Também permaneceu atento às expressões confusas do grego, sem nunca permitir qualquer interferência que não fosse estritamente relacionada ao que estava ensinando.

Não demorou e a frustração tomou conta do escorpiano, que, embora tentasse prestar atenção ao que lhe era ensinado, estava mais interessado em debater sobre a amizade entre eles. Por qual razão ela não podia voltar a ser como antes? As coisas ficam meio estranhas quando você dá uns pegas no seu amigo, beleza! Você pode até começar a duvidar de si mesmo, mas...

– Preste atenção, Milo – Camus exigiu, cruzando as mãos sobre a mesa e encarando-o com o dobro de severidade.

O grego se remexeu, ajeitando-se na cadeira, e suas pernas acabaram esbarrando-se nas do aquariano levemente. Camus pareceu não notar, ou, como de hábito, apenas ignorou aquele singelo contato. Porém, Milo recuou quase que por puro reflexo, desviando os olhos azuis de modo desconcertado.

Ótimo, ele se repreendeu contendo o impulso de rolar os olhos. Estava parecendo uma garotinha tímida no primeiro encontro. Naquele ritmo, logo estaria corando à toa.

***

Quem não andava muito tranquilo era Aiolos, principalmente depois que Saga o interceptou numa das cantinas da universidade e o intimou a contar qual era o bendito problema que estava a deixá-lo mais distraído do que o normal.

O geminiano possuía uma expressão austera e seus olhos claros, muito diretos, nunca permitiam uma esquiva qualquer. Sem falar em sua tendência a dar ordens e influenciar os outros, mas isso era outra história...

– Demorou mais do que eu imaginava até o Shura perceber que gosta de você... – Saga sentenciou, pousando sua xícara de café no pires com uma atenção desnecessária.

Incrédulo, Aiolos arqueou as sobrancelhas. Como assim?

– Ora, acho que os únicos que não desconfiavam da admiração exagerada dele eram... bem, você e ele mesmo – o geminiano deu de ombros, olhando de viés para o amigo. – O que pretende fazer?

– Não sei... Até porque – comentou, lembrando-se de algo – ele diz que gosta de mim e tal, mas anda naquela de amizade colorida com o Mu! Isso não faz sentido, sabe? – e soltou um suspiro dramático, apoiando o rosto entre as mãos. – O normal não seria dedicar todos os pensamentos e sonhos a mim? Suspirar meu nome pelos cantos? Concentrar as energias em estratégias para me conquistar?

Saga teve que reprimir uma risada diante daquela indignação, no mínimo, sem cabimento, por mais que fosse do feitio do amigo. O sagitariano ainda nem tinha respondido para Shura se este tinha alguma chance!

– O fato de ele gostar de você não significa que vai ficar na seca até que você se decida, não acha? Faltam alguns meses pra começar o campeonato nacional. Você ainda está enroscado na Pandora, aliás...

– Mesmo assim! – Aiolos teimou, fazendo beicinho. – Eu gostaria de saber o que ele vê em mim...

Saga inclinou-se para frente e esticou o braço até tocar a face do sagitariano com os dedos, deslizando-os da maçã do rosto até o queixo deste com apreciação.

– Não sei, mas posso imaginar... – murmurou distraído, sorrindo meio de lado, antes de dar um tapinha sob o queixo do amigo e soltá-lo.

Aiolos olhou longamente para o outro.

– Ihh, não me diga que você está a fim de mim também, Saga? – quis saber, lançando uma piscadinha de brincadeira. – Eu sei que sou fascinante e irresistível, mas ainda sou um só pra tanta gente me querendo...

Ambos começaram a rir, mas foram interrompidos por Kanon, que, além de simplesmente se materializar do nada ali, quis saber sobre o que conversavam.

– Shura admitiu ao Aiolos que gosta dele – Saga explicou em poucas palavras, ganhando um olhar emburrado do sagitariano. Devolveu o olhar de uma forma complacente. Aiolos sabia muito bem que o gêmeo mais novo acabaria descobrindo de qualquer maneira mesmo.

– Até que enfim! – Kanon exclamou, sentando-se bem perto do grego de cabelos curtos para, em seguida, perguntar diretamente: – E você... gosta dele?

Aiolos semicerrou os olhos, como se a resposta fosse óbvia.

– É claro que sim, é um grande amigo. Só que nunca olhei pra ele de outra for-...

– Pois então olhe – Kanon interrompeu alegremente. – Que perda de tempo, ele é todo bonitão e sexy, sabia?

– Ehrm...

Saga lançou um olhar de censura para o comentário indiscreto do irmão, mas este apenas encolheu os ombros como se dissesse você sabe que é verdade.

– Sério, Ai-kun – o gêmeo mais novo continuou, despreocupado. – Da próxima vez que encontrar o Shuralicious, dê uma boa reparada nele. Comece pelos olhos atraentes, passe pela boca sensual e vá descendo pelo corpo bem definido. Principalmente o-...

Kanon!

– Já parei, irmãozinho... – replicou, abanando uma das mãos com descaso, alheio à expressão desconcertada do amigo.

Aiolos balançou a cabeça, sem saber o que pensar.

Não foi surpresa, algum tempo depois, ver que praticamente todos os seus amigos estavam a par da situação. Inclusive seu irmão. O sagitariano não entendeu como o caçula descobriu, mas tinha uma grande suspeita de que a culpa era de Kanon.

O leonino não ficou nem um pouquinho feliz com aquela história. Seu irmão sendo alvo de interesse de outro cara? Como assim? Por um cara que vinha a ser seu instrutor de esgrima, ainda por cima...

– Não admito isso, Aiolos! – exclamou na primeira oportunidade que teve, depois que soube da novidade, encarando o mais velho com um ar sério. – Você não pode se deixar conquistar pelo Shura! São os ukes que devem ser conquistados e você tem que ser um seme! – e colocou as mãos na cabeça, balançando-a com inconformismo enquanto falava para o nada: – Meu irmão não pode ser um uke!

O sagitariano franziu o cenho em confusão. Do que diabos o caçula estava falando?

Aiolia explicou para ele, bem resumidamente, deixando muito claro que só sabia aquelas coisas yaoi porque Shina tinha lhe explicado – contra o seu interesse, óbvio.

– O que eu quero dizer é: se pretende trocar a bela Pandora por um macho, o que é um desperdício em minha opinião, é você quem deve conquistar ele! Como um bom seme e tal...

Aiolos afastou a franja dos olhos e riu com gosto. Não poderia conquistar o espanhol nem se quisesse. Afinal, Shura já estava devidamente conquistado, certo? E sem que tivesse precisado fazer nenhum esforço para isso.

– Bem... – o mais novo ponderou, coçando o queixo distraidamente. – Mesmo assim! Não quero saber de você todo envergonhado e suspirante por causa dele, hein?

Ahaaam! – Aiolos assentiu com sarcasmo, sem se preocupar, de fato, com as ideias absurdas do irmão.

***

Mu gostaria de não se preocupar com as ideias de Aiolia também. Impossível! Ele andava intrigado com aquela repentina sugestão sobre serem amigos. Conhecia o garoto há tanto tempo... mais do que o suficiente para saber que ele devia estar aprontando alguma coisa. E das grandes, provavelmente.

Anos depois, Mu chegaria à conclusão de que as coisas começaram a realmente desandar naquele momento. Sim, aquele em que começou a prestar mais atenção do que o necessário no leonino, observando-o silenciosamente em busca de uma pista qualquer que justificasse a tal vontade de serem amigos.

Certo, tinha que admitir que as mudanças bruscas de atitude – da revolta ao deboche sem nenhum motivo aparente – tinham diminuído muito. Ao menos, ele logo notou que o leonino parecia refrear-se, mordendo o lábio inferior com força, antes de dizer algo rude. Aiolia meramente limitava-se a bufar com um olhar contrariado, especialmente no que envolvia Shaka.

Sobre a tal amizade em si, o grego apenas estava conversando um pouco mais do que o normal com Mu, o mais surpreendente e incrível, de forma agradável. Porém, não passava disso. Era como se ele não soubesse direito como, ou não estivesse muito disposto a se tornar um amigo lá muito dedicado.

O problema foi que de tanto observar o comportamento do mais novo, em busca de explicações silenciosas, Mu começou a perceber coisas que não gostaria, ou que só o deixariam ainda mais confuso.

Ele via Aiolia correndo pela própria casa, sempre atrasado para alguma coisa, os cabelos cor de mel agitando-se displicentemente sobre os olhos claros. Ou, então, o via tirar a camisa encharcada de suor, depois que voltava de algum treino, exibindo os contornos dos músculos levemente definidos do corpo – sem preocupar-se com pudores.

Ah sim, sem dúvidas foi uma péssima ideia prestar tanta atenção em alguém que ele admitia para si mesmo – com muita contrariedade, já que Aiolia era muito novo e irmão de seu melhor amigo – que achava atraente.

Mesmo que nunca o procurasse, Mu sempre acabava encontrando-se com o leonino por aí, aéreo e insolente, parecendo brilhar sob a luz do sol. Entretanto, Aiolia era apenas um garoto de traços bastante bonitos e atraentes. Admirá-lo, ainda mais com segundas intenções, seria algo inaceitável para Mu.

Principalmente porque, às vezes, o leonino parecia sentir que era observado. Nessas horas, ele parava o que estava dizendo para alguém ou, ainda, deixava morrer o sorriso que carregava nos lábios. Tudo isso para retribuir o olhar do mais velho com uma sobrancelha arqueada e um enviesado sorriso enigmático, levantando ligeiramente o queixo como se o desafiasse a alguma coisa.

E, invariavelmente, Mu desviava o olhar no mesmo instante, balançando a cabeça com um ar forçosamente tranquilo, como se tudo fosse uma coincidência. O olhar de Aiolia era intenso, quase maldoso, e lhe dava a estranha impressão de passar através de si, desvendando-o por completo. Nunca soube o que realmente se passava na cabeça do mais novo, durante aqueles momentos. Nunca.

Tinha algo a mais, alguma coisa... Algo que parecia permanecer no ar que contornava o grego. Uma espécie de nuvem de fascínio que o envolvia e tinha um vago toque devasso, parecendo afetar outras pessoas também. Mu não sabia o que era aquilo e sua vida, provavelmente, teria sido mais fácil se ele nunca tivesse descoberto.

Essa culpa, ele concluiria um dia, era toda de Máscara da Morte.

Foi num dia em que o colégio de Aiolia e Milo organizou um jogo de basquete contra outro colégio da cidade. Os dois gregos participavam do time e o jogo era aberto ao público. Aiolos conseguiu arrastar quase todos os amigos disponíveis, na ocasião, para assistir com ele, o que incluía Mu.

E lá estava Aiolia, correndo pela quadra enquanto manipulava habilmente a bola laranja de basquete. O garoto conseguia ofuscar todos os outros jogadores com seus talentos esportivos elevados e, claramente, divertia-se para valer por fazer algo que gostava tanto. Nem mesmo os longos cachos dourados de Milo, que balançavam num rabo de cavalo charmoso, conseguiam chamar mais atenção do que o leonino e suas pernas definidas sob a bermuda azul...

Aí, Mu se lembrou daquelas mesmas pernas pousadas displicentemente sobre seu colo num passado próximo e achou melhor dar um volta para espairecer um pouco. Ia acabar obcecado daquele jeito, que horror!

Ouviu gritos animados assim que deixou as arquibancadas e, por um momento, parou para dar uma última olhada na quadra. Milo tinha acabado de abraçar o leonino, comemorando algum arremesso particularmente espetacular que este fizera. Aiolia exibia seu sorriso mais radiante e aquele mesmo estranho ar devasso – em especial ao acenar para as empolgadíssimas líderes de torcida.

– Hormônios – Máscara da Morte disse de repente, aparecendo atrás do tibetano e dando um tremendo de um susto neste.

– Ahn? – replicou sem entender, os olhos muito abertos diante daquela aparição repentina.

O italiano aproximou-se mais, continuando a olhar atentamente para a quadra. Depois, apenas riu e deu de ombros, com descaso.

– Aquele garoto que você estava olhando... Aiolia, não é? – comentou parecendo interessado. – Tá com os hormônios em ebulição. Dá pra perceber de longe... no ar. Não acha?

– Bem... – o ariano titubeou, também olhando para o grego. Então, era isso?

– Ele tá precisando é de uma boa foda... – Máscara da Morte sorriu maliciosamente, sem a menor discrição.

Mu arregalou os olhos e engasgou com a própria saliva, incapaz de não corar diante da naturalidade com que o outro falava sobre determinadas coisas.

– Eu resolveria isso em dois tempos... – o ex-soldado continuou, alheio às tossidas ainda mais fortes do ariano, admirando o grego com um olhar absurdamente obsceno.

Você o quê? – Mu perguntou estarrecido, sem acreditar no que ouvira direito.

– Pegava fácil, fácil – respondeu bem tranquilo. – Muito masculino pro meu gosto... Prefiro os mais delicados como você... Mas como ele é novo ainda, eu dou um desconto...

– Máscara da Morte! – exclamou, cada vez mais abismado. – Ele só tem quinze anos!

Ah é, Afrodite também, Mu se lembrou logo em seguida. Não seria a idade que atrapalharia o italiano.

– E tá mais do que pronto, como você pode notar...

O tibetano suspirou desolado. Não tinha como discordar.

Definitivamente, teria sido melhor se Máscara da Morte não tivesse lhe esclarecido o que era aquilo.

***

Marin era uma das pessoas que percebia a atmosfera diferente em torno do leonino, embora achasse que era coisa da sua cabeça. Ela estava lá no dia do jogo de basquete, usando um uniforme de líder de torcida azul, por mais que não gostasse muito de ficar pulando de um lado para o outro naqueles trajes curtos. No entanto, como Aiolia adorava vê-la no tal uniforme, fazendo as coreografias, ela fazia um esforço.

Tudo bem, tinha perdido o sentido usar aquilo, já que eles não tinham como dar certo. Marin ainda estava muito chateada. Ela gostava tanto dele e ele só a via como uma grande amiga. Hah, pelo menos ele tinha consideração, né? Muito admirável da parte dele não querer magoá-la.

Aiolia era um bobo mesmo. Tal atitude só fez com que ela gostasse ainda mais dele. Droga!

O pior era que, desde que concluíra que não poderia se envolver mais intimamente com ela, Aiolia começara a flertar com outras garotas. Não que ele fizesse essas coisas na frente dela, mas, às vezes, Marin acabava vendo mesmo assim. Sem falar nas que davam em cima dele na maior cara de pau.

Quando o jogo acabou, por exemplo, as líderes de torcida se jogaram sobre os rapazes do time, comemorando a vitória. Uma garota que ela sabia ser do terceiro colegial, com um longo cabelo loiro de pontas cacheadas, fez questão de dependurar-se no pescoço de Aiolia, pestanejando toda sorridente. E o infeliz sorriu de volta, obviamente interessado.

Ah, que raiva!

Marin deixou a quadra, rumo ao vestiário, sentindo-se deprimida. Nessas horas, sentia falta de ter alguma amiga para lhe dizer palavras de consolo, do tipo você vai encontrar um cara legal que te mereça e vai se esquecer desse grego bobo, mesmo que de nada lhe adiantasse.

Bem, paciência, não tinha uma amiga assim. Shina não servia para dizer essas coisas, não tinha muita sensibilidade, e seus demais amigos próximos eram todos homens.

Afrodite até que tentou ajudá-la, mas ele também não era nenhum poço de sensibilidade. Disse que era ela, e não o grego, a pessoa boba naquela história.

– Marin, de qualquer forma você acaba triste, não é? – indagou o sueco na ocasião, enrolando uma mecha cor de cobre dela em seus dedos. – Triste por não estar com ele como gostaria... Triste se ele só ficar com você pra curtição e depois te dispensar...

– O que você faria no meu lugar? – ela perguntou, já desconfiando da resposta.

– Aproveitaria tudo o que pudesse, é lógico! – Afrodite sorriu maliciosamente, piscando para a ruiva. – Melhor ficar triste por dar uns pegas nervosos nele, pra não falar outras coisas, mesmo sabendo que isso seria o máximo entre nós... Do que ficar triste e me arrepender de não ter curtido nem isso.

Por algum motivo, ela teve a ligeira impressão que ele falava para si mesmo, com certo orgulho próprio. Marin não pôde evitar de se perguntar se o relacionamento do amigo com o tal Máscara da Morte era baseado naqueles termos também. Enfim, era bem o tipo de coisa que ela esperava ouvir do pisciano. E até que ele tinha um pouco de razão...

Não muito tempo depois, percebendo que Aiolia partira de flertes suaves para investidas mais incisivas para cima de outras garotas – todas estranhamente do terceiro colegial, ou seja, mais velhas do que ele –, Marin começou a achar que Afrodite tinha bastante razão mesmo.

– Hey, Marin! – o leonino chamou, tirando-a dos pensamentos, quando ela já estava chegando ao vestiário. – Por que não ficou pra comemorar com a gente na quadra?

– Você também não está lá... – ela observou em voz baixa.

Aiolia mordeu o lábio inferior, muito orgulhoso para demonstrar que andava preocupado e se sentindo culpado pela evidente consternação da garota. O que podia fazer? Era como se tivesse encontrado a garota certa na hora errada, por mais clichê que isso pudesse soar.

Se eles fossem mais velhos, ele a escolheria para um compromisso sem sequer pensar duas vezes, mas tão novos como eram não dava. Tinha uma lista de garotas que ele gostaria de pegar, sem falar nas que ele ainda iria conhecer, né?

Uma mudança sutil aconteceu na expressão de Marin, tornando-a decidida em vez de chateada. Ela aproximou-se dele lentamente, abraçando-o pela cintura e fazendo-lhe um carinho tímido nas costas.

– Aiolia... Vai ao Meikai sábado?

– Hm, sim... – replicou, franzindo o cenho diante da atitude dela. – Como quase todo sábado...

– Vou com você então, ok? – a ruiva esticou-se para cima e deu um suave selinho nos lábios dele, afastando-se depois.

O grego assentiu, estreitando os olhos com um pouco de desconfiança. Por essa ele não esperava!

***

No dia seguinte ao jogo dos adolescentes, Mu chegou à sua casa depois da universidade e encontrou o alvo de suas observações por lá, jogando Pokémon com Dohko, para variar. O ariano não costumava observá-lo muito, não quando estava em sua casa. Sabe-se lá o motivo... O fato era que não ficava por perto nessas ocasiões, preferindo permanecer no próprio quarto mesmo.

Às vezes, Aiolia subia até o quarto do ariano, para despedir-se, tentando ser amigável e tal. Simplesmente aparecia na porta, que costumava estar aberta, e dava um tchau para o mais velho.

Naquele dia não foi diferente, exceto pelo fato de que Mu o deteve por um momento, para parabenizá-lo pelo jogo do dia anterior.

– Nem deu pra dizer ontem... – começou gentilmente, apoiando-se no batente – mas parabéns pela vitória do time. Você é ótimo!

Aiolia piscou devagar, dando de ombros e sorrindo daquele jeito debochado:

– Eu não estaria na equipe se não fosse, concorda?

– Tem razão... – o mais velho aquiesceu, boquiaberto por um instante, sem saber por qual motivo ainda se surpreendia com a modéstia do outro. – Foi um elogio desnecessário...

– Eu gosto de elogios, mas nesse caso... – Aiolia murmurou, esticando um braço e deslizando a mão pelo cabelo comprido do ariano, da altura do pescoço até as pontas, com a maior simplicidade – Seria o mesmo se eu dissesse que seus cabelos são muito bonitos. Seria constatar o óbvio.

Mu entreabriu os lábios, confuso entre agradecer ou não pelo elogio indireto.

– Enfim, tenho que ir – o grego continuou, antes que o outro pudesse replicar. – Kanon deve estar me esperando.

– Falando nele – Mu resolveu aproveitar a oportunidade para comentar algo que queria há algum tempo –, você sabe que seu irmão surta quando você e o Kanon ficam confabulando demais por aí, não sabe?

O leonino o encarou com curiosidade genuína. Sério? Por quê?

Encolhendo os ombros e desviando o olhar, o tibetano começou a se arrepender de ter tocado no assunto. Quer dizer, ele só queria ajudar Aiolos, que sempre tinha uma crise dramática por causa da amizade do caçula com o geminiano. Achava que este corromperia o irmãozinho ou algo do tipo. Só que falar isso para Aiolia, de repente, soou constrangedor. O garoto ia achar que estava tentando se meter na vida dele.

– Bem, é que o Kanon tem aquele jeito meio... Hmm...

– Pervertido? – o grego ajudou, alegremente. – Não há motivo pra preocupação. O Kanon é assim, mas pelo menos sempre deixou isso claro, saca? Ele nunca fingiu que não era desse jeito, eu sei com quem estou lidando, digamos assim...

Mu inclinou a cabeça para o lado, sem saber o que pensar.

De súbito, Aiolia apoiou a mão no batente logo atrás do ariano, aproximando o rosto ao do outro com uma expressão inocente:

– Você, por outro lado, é um pervertido fingido...

Eu?! – Mu retorquiu, atônito. Seus olhos verdes parecendo maiores do que nunca. Como assim era um pervertido? – Por que diz isso?

– Porque, na verdade... – Aiolia declarou num tom ferino e arrastado. – Você sente atração pelo irmão mais novo do seu melhor amigo...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gente... '-'

Ain, que inveja do Milo com um professor desses... minha professora de francês, além de ser mulher, parecia uma personagem de desenho estilo "Padrinhos Mágicos" ._.'

Enfim, queridos, espero que o capítulo tenha valido a demora... Ele focou mais no Mu e no Aiolia que enfim estão se "movimentando", aaahh esse leonino é tão insolente! xD

Obrigada pelas reviews: Mel Dark, Kiba-Ino, Leo Saint Girl, Taia, Hanajima, Kaorux3, Isa Angelus, chuva gótica, Orphelin, ddkcarolina, euzinho x, Svanhild, Faith e Suzuki_Yoi S2

Agradecimentos especiais aos que me desejaram boa sorte na apresentação do meu artigo científico! S2 Tudo ocorreu muito bem, nervosismo à parte na hora da apresentação 8D

Que tal esse capítulo?