Spirit Bound Por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Continuando...
Segue mais um cap..



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Eu senti minha mente vagar por alguns segundos. Eu sabia que Rose poderia estar por ali, mas olhar para ela era algo que sempre me impactava. Meu interrogador, no entanto, pareceu não notar aquela minha breve distração e continuou com as perguntas.

“Você já notou seus olhos, ocasionalmente, ficando vermelhos?”

“Eu...” forcei minha mente a se concentrar no que estava acontecendo comigo e não em Rose que me observava. “Eu não estive perto de muitos espelhos. Mas acho que meus guardas teriam notado, e nenhum deles disse nada.”

Um dos guardiões que fazia minha escolta fez um baixo barulho de incômodo. Por um instante eu tive a impressão que ele iria sorrir. Vários guardiões demonstravam que eles acreditavam na minha restauração, embora fossem discretos e não verbalizassem isso.

“Você consegue pisar em solo sagrado?” Reece continuou. “Tem algum problema em entrar na Igreja?”

“Eu posso ir agora mesmo,” respondi simplesmente. “Eu vou à missa amanhã se você quiser.”

Quando eu era um Strigoi não podia sequer pensar em algo assim. Era como ser um  instinto de sobrevivência alertasse contra isso. Eu não conseguia pisar em solo sagrado, ainda se eu pudesse, a ideia de ir à igreja, assistir a uma missa, era estapafúrdia. Eu tinha convicção de que era tudo inútil e que estava completamente acima de qualquer forma de religião.

Reece pareceu perceber que aquele interrogatório estava sendo uma grande besteira, então resolveu passar para o lado mais útil. Ele se voltou para Lissa e rabiscou o papel que estava preso na prancheta que ele segurava.

“Princesa Dragomir. Já que você se dispôs a participar deste momento, você poderia nos dar a sua versão do ocorrido naquele armazém? O quê exatamente aconteceu naquele galpão?”

Lissa o olhou com firmeza e começou a narrar tudo, porém sua voz saiu mansa e delicada. Sempre era incrível ouvir aquela história. Desde quando ela conseguiu encantar uma estaca, até sua determinação em me trazer de volta. Eu me perguntava o que tinha feito para merecer aquilo. Ela tinha arriscado a própria vida a meu favor. Mesmo que eu vivesse mil anos a servindo, jamais conseguiria compensar tudo aquilo. Ela contava os sentimentos e sensações que o espírito lhe causavam. Confesso que era algo complexo de ser acompanhado, até mesmo para mim.

Reece demonstrou uma certa compreensão e depois de mais algumas perguntas, passou para Hans, que observava a tudo de forma imparcial.

Hans, como todo guardião era uma incógnita. Por suas expressões e atitudes era impossível dizer se ele acreditava em mim ou não. Seu rosto era limpo de qualquer sentimento. Ele não tinha sequer um papel com roteiro de perguntas. Tinha somente uma estaca, que ele passava de uma mão para outra, casualmente.

“Você consegue tocar em uma estaca?” Ele perguntou tranquilamente. Essa era uma pergunta inteligente, mas que girava sempre em torno do mesmo assunto. Uma estaca não era somente um objeto de prata. Ela era encantada com os quatro elementos. Strigois não suportavam a magia Moroi, de nenhuma forma. Eu podia responder que sim, mas preferi a demonstração. Então, me estiquei um pouco na cadeira e toque na ponta da estaca por uns instantes. Nada aconteceu. Eu sabia que nada aconteceria, apensar de não ter testado antes. Mas quando era um Strigoi um instinto me mantinha distante de qualquer coisa que me machucasse. Eu simplesmente sabia que não podia me aproximar. Agora, aquele extinto não tinha mais. Magia, luz do sol, solo sagrado. Nada disso me causava mais repulsa e necessidade de manter distância.

Hans não parecia surpreso ou satisfeito com aquele meu gesto, então, para evitar mais uma pergunta deste tipo, puxei um pouco a manga da minha camisa, e lhe ofereci meu braço.

“Me corte com a estaca.” Falei.

“Um corte vai doer, não importa quem você seja.” Hans disse, arqueando as sobrancelhas.

“Seria insuportável se eu fosse um Strigoi, faça. Não seja bondoso comigo.”  Era uma maneira prática de demonstrar não somente a ele, mas a todos que estavam ali que eu era uma dhampir novamente. Por um instante, eu pensei que Hans recuaria e não iria fazer o que eu lhe pedia. Mas depois de uma breve hesitação, ele estendeu a estaca na direção do meu braço.

Lentamente, ele passou a ponta afiada pela pele, fazendo o sangue escorrer. Senti a dor se espalhar pelo meu braço. Nem de longe parecia a dor que eu senti quando era um Strigoi e Rose me atingiu com uma estaca encantada com os quatro elementos. É mais do que uma dor de corte. Era uma queimação viva e interminável. Quase insuportável. Mas agora não. Apenas o natural.

Ao mesmo tempo em que eu sentia o sangue escorrer e a dor crescer, sentia também um orgulho por ter tido a ideia de fazer aquilo. Era uma demonstração prática de que tudo que eu dizia era verdade. Eu podia ver a apreensão nas pessoas que nos cercavam. E com sinceridade, eu evitava olhar para o lado onde Rose estava. Percebi uma movimentação de Lissa ao meu lado, era como se ela quisesse fazer algo pelo corte. Como se ela quisesse me curar daquilo também.

“Espere,” disse Hans. “Um Strigoi poderia se curar disso em minutos.”

Aquela afirmação dele fez com que todos parassem e observassem atentos. Um grande silêncio se deu e eu pude perceber que todos olhavam para meu corte, esperando para ver se ele cicatrizaria. Nada aconteceu. O sangue continuou saindo por um longo tempo. Todos pareciam ainda sob um transe. Eu realmente acredito que esperavam que o corte se fechasse. A multidão parecia maravilhada, como se estivesse diante de um milagre. E estava.

“Alguém tem alguma pergunta para acrescentar?” Reece falou, interrompendo o silêncio, mas ninguém se manifestou. Quer dizer. Alguém tinha mesmo que falar. Alguém que se chamava Rose Hathaway.

“Eu tenho.”

Eu a olhei me sentindo desagradável com ela. Eu a conhecia, mas não conseguia dizer que caminho aquele depoimento tomaria com a intervenção dela. Sempre que Rose entrava em cena eu me sentia assim, com a situação fora de controle. Em qualquer aspecto, sempre sentia a mesma coisa.

Várias pessoas a olharam, como se não concordassem que ela falasse, mas Rose não se sentiu intimidada. Ela nunca se intimidava. Ela andou até mim, me encarando nos olhos. A imagem dela sempre me impactava. Sempre me fazia tremer.

“Quando você era um Strigoi, você tinha boas conexões. Você conhecia o paradeiro de muitos Strigoi na Rússia e nos EUA, não é?”

Eu a estudei com cuidado. Não consegui descobrir de imediato onde ela queria chegar, mas sabia que havia algum propósito.

“Sim.” Respondi cautelosamente.

“Você ainda sabe onde eles estão?”

Eu forcei a minha mente tentando entender a lógica de Rose por trás daquele questionamento. Eu não conseguia mesmo dizer ao certo o que ela pretendia e onde ela queria chegar, mas eu confiava nela. Estranhamente, algumas coisas não tinham mudado.


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