Spirit Bound Por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Gente
Desculpas pela demora em postar, mas tive um pequeno acidente e estava com o punho imobilizado, sem poder digitar :P
Mas agora, tudo resolvido, segue mais um cap. Essa parte não tem no livro, portanto é minha criação, é mais como se fosse uma ponte na história para o diálogo dos dois que vai ser no próximo cap.



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As horas se passavam lentamente, de forma que eu tinha a impressão de que estava ali naquela cela há muito, muito tempo. As memórias me atormentavam, meus sentimentos me atormentavam. Não tinha forma para que eu me sentisse melhor. Nada me fazia sentir melhor. Tinha somente pensamentos amargos.

Novamente, um grupo de guardiões entrou na cela e colocaram em mim correntes e algemas. Era um sinal de que eu iria sair.

“Você irá fazer alguns exames no hospital.” Um deles avisou curtamente. Eu apenas obedecia comandos. Não encarava ninguém, não me dirigia a ninguém. Eu sentia uma tristeza grande dentro de mim, mas também sentia vergonha e humilhação.

Uma bateria de exames foi feita e não pude deixar de ouvir as conversas das pessoas. Pude reconhecer, pela tatuagem, dois alquimistas entre os médicos Morois.

“Ele é um dhampir, não há nada de Strigoi nele. Ao menos, fisiologicamente.” Um dos médicos falou baixo para o grupo, enquanto apontava alguns papéis. Provavelmente, deviam ser os resultados dos exames que eu tinha acabado de fazer. Mais e mais, não tinham como negar que eu havia sido realmente trazido de volta do estado Strigoi, mesmo assim, ainda me tratavam com cautela e desconfiança.

Eu, fisicamente, não me sentia como um Strigoi. Não sentia aquela força descomunal em mim, e nem meus sentidos estavam tão apurados. Minha visão e audição eram anormais para qualquer humano, mas dentro dos padrões para um dhampir. Eu não podia sentir mais o cheiro tão forte das coisas e nem a claridade doía em meus olhos. Meus reflexos voltaram a ser como antes. Muito bons, mas nada excepcional. E o mais importante: eu não sentia mais sede de sangue e nem desejo de matar, de destruir, de possuir. Eu sentia cansaço, sono e fome. Sentia meu corpo doer, sentia tensão em meus músculos. Era estranho sentir fadiga. Ao mesmo tempo, não conseguia dormir ou comer direito.

Foi isso tudo que narrei para a grande equipe de médicos, cientistas e guardiões que me assistia. Eles anotavam tudo. Alguns com olhos impressionados, outros, imparciais. Outros, com medo.

“Você acha que pode pisar em solo sagrado?” Um homem perguntou.

“Eu tenho certeza que posso. Se permitirem, gostaria de ir à missa, no próximo domingo. Sinto falta e necessidade disso.” Respondi simplesmente.

Eles se entreolharam e, em uma das poucas vezes que encarei o grupo, eu pude perceber uma figura conhecida entre tantas pessoas. Era Alberta. Ela me observava com o rosto neutro. Mesmo assim, pude encontrar, no fundo dos olhos dela, um resquício de compaixão e compreensão. Naquele momento, eu tive certeza que ela acreditava que eu estava de volta. Senti minha confiança voltar, ainda que brevemente.

“Vocês não precisam me manter acorrentado. Eu não farei mal nenhum a vocês.” Falei, tentando controlar o meu tom de voz, que saiu extremamente calmo. “Eu passei pelas wards, caminhei ao sol. Não sou mais um Strigoi. De alguma maneira, não sou mais. Sei que é estranho para vocês. É para mim também.”

Um rápido burburinho surgiu, enquanto alguns apenas me olhavam fixamente. Realmente, muitas pessoas pareciam acreditar em mim.

“Já chega com tudo isso.” A voz de Hans fez o silêncio retornar para a sala onde estávamos. “Acho que tiveram o bastante por hoje. Ele deverá voltar para sua cela.” Então, Hans me olhou com uma breve hesitação e continuou. “Não precisa destas correntes. Vamos ver como ele se sai sem elas.”

Voltei para minha cela, escoltado, mas sem usar nada que me prendessem. Aquilo era um progresso, mas entrar ali novamente, e era como mergulhar novamente em um buraco negro. Sozinho, as memórias me atormentavam e a culpa era angustiante. Algum tempo depois, breves batidas nas grades da cela tomaram minha atenção. Virei para o lado da porta e vi um guardião que eu conhecia bem. Um guardião que era meu amigo, antes de tudo isso acontecer. Ele havia estado na mesma academia que eu. Seu nome era Jamie.

“Olá Belikov.”

Eu apenas o olhei, sentindo um pouco de apreensão. Realmente, não sabia o que esperar das pessoas.

“É impressionante o que a vida fez com você.” Ele prosseguiu, parecendo escolher as palavras. “Um grande guardião que foi transformado em Strigoi. Coisa normal, todos estamos sujeitos a isso. É como morrer. Muitos grandes guardiões tiveram esse trágico fim. Mas isso... nunca tive notícias de que isso podia ser mudado. Nunca vi um Strigoi ser restaurado. Você sabe que isso poderá mudar tudo?”

Eu me mantive em silêncio, ainda tentando descobrir qual até onde aquela conversa iria. Eu tinha endireitado minha postura, e o olhava como igual.

“Sabe, você pode se tornar um herói, sabe disso?”  Ele falou, baixo, como se fosse um segredo. Senti um grande incômodo em mim. Eu não podia ser visto assim. Eu não tinha nada de heróico em mim. Apenas mortes e destruições. Eu era culpado e não um mártir.

“Não fale isso!” Exclamei. “Você tem alguma noção das atrocidades que eu cometi?” Minha voz saiu agressiva.

“Acalme-se, Belikov. Você está indo bem, não estrague tudo. Além do mais, você não fez nada além do que qualquer um de nós faria , se fosse um Strigoi. Era a sua natureza.”

“Você não sabe o que diz. Você não pode imaginar o que é ter que conviver com o sangue da tantas pessoas inocentes derramando por suas mãos. Não tem nada de natural nisso.”

“Essa consciência é mais uma prova que você saiu daquele estado maligno. Você não é mais um monstro assassino.”

Eu sentia a agitação tomar conta de mim, e fiz um grande esforço para reprimir aqueles sentimentos que começavam a querer sair. Eu estava realmente me sentindo humilhado e culpado, mas jamais esperava que podia atrair a admiração de qualquer pessoa.

“Nada vai mudar meu passado. Vou carregar isso em mim, para sempre.” Falei baixo, segurando minhas duas mãos contra a parede.

Ele não argumentou mais. Apenas me olhou por um longo tempo. Eu já estava ficando acostumado com isso. As pessoas paravam diante de mim e apenas olhavam. Era como se eu fosse uma aberração, uma anomalia. Depois ele se afastou e tudo foi silêncio de novo.

Mas não por muito tempo.

Ouvi uma agitação no corredor, mas continuei onde estava. Sentado na minha cama, abraçando minhas pernas. Eu me sentia cansado de tudo aquilo. Eu realmente queria ficar sozinho, por isso, não me mexi, mesmo sabendo que alguém tinha chegado à porta da cela.

“Dimitri.” Uma doce e ao mesmo tempo dolorosa voz, ressoou embargada.

Senti meu coração disparar. Não era possível, eu não estava ouvindo aquilo.

Era a voz de Rose.


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