O Clone escrita por Luana Rocha


Capítulo 2
Uma nova chance


Notas iniciais do capítulo

*Agradeço aos reviews e as sugestões, olhei a todas com carinho.
*Assim como na novela, a fic terá duas fases.
*Espero que gostem do capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/201365/chapter/2

O brilho forte e radiante do sol naquela manhã fria de fevereiro. O tempo era quase uma ofensa aos sentimentos da família Larson e aos amigos próximos de Dominique.

Antony e Marise permaneceram de mãos dadas durante todo o discurso do reverendo Sherman , enquanto sua mãe livre repousava sobre o ombro direito de Albert. O homem já não chorava mais, e as palavras não eram mais ouvidas dele. Nos últimos dias ele se calara, evitando qualquer forma de contato com as outras pessoas, porque sabia que por mais que elas tentassem e usassem toda a sua empatia, jamais conseguiriam entender o que ele estava sentindo, ou amenizar seu desespero.

“Deus fez o mundo com árvores altas,
Majestosas montanhas e mares agitados.
Então fez uma pausa e disse: "É preciso mais uma coisa...”
Alguém para rir, dançar e cantar.
Para andar na floresta e colher flores...
Para comungar com a natureza, em horas de silêncio.”

“Então Deus fez as meninas
Com os olhos sorridentes e saltando ondas,
Com os corações alegres e sorrisos infecciosos.
Maneiras encantadoras e artimanhas femininas.
E quando Ele completou a tarefa que tinha começado.
Ele estava feliz e orgulhoso do trabalho que tinha feito.
Pois o mundo, quando visto através dos olhos de menina
Era muito parecido com o Paraíso.”

E com essas palavras o reverendo finalizou o enterro da jovem bailarina. No momento em que o caixão começou a ser abaixado naquele buraco na terra, o choro de Elizabeth se intensificou, e para não se recordar daquele momento, que era o mais triste de sua vida, ela encostou a cabeça no ombro de seu marido. Não queria em suas lembranças nenhuma imagem daquele caixão negro, onde o corpo de sua filha permaneceria para sempre.

Antony notou quando as lágrimas surgiram no rosto de Albert, que fechou os olhos e crispou os lábios, sacudindo a cabeça em descrença, uma minúscula chama de esperança ainda queimada em seu peito, uma esperança inútil de que aquilo tudo não passasse de um terrível de pesadelo, que ele acordaria e sua filha estaria lá, como ela sempre fizera durante toda a infância, esperando-o na porta de seu quarto nos fins de semana para irem juntos andar à cavalo, ou para lhe mostrar os passos que aprendera na aula de balé daquela semana, já que a maior parte de seu tempo eram gastos em seu consultório.

“Com o tempo Deus ajuda a superar.” Judy Fabray, a outra grande amiga de Dominique disse para o homem, entre pequenos soluços. Ela era uma linda jovem, de cabelos loiros e olhos esverdeados.

“Eu não acredito nisso.” O homem respondeu com enorme amargura. “Eu preferia morrer a ter de enterrar Dominique, esse não é o ciclo natural da vida.” Ao ouvir isso ela olhou para a direção em que seu marido, Russel, estava segurando a pequena Francine, sua filha de um ano e meio.

Judith Smith, Marise Jones e Dominique Larson eram melhores amigas desde a infância, e estudaram juntas em uma escola católica com um ensino rigoroso, onde somente as famílias mais afortunadas podiam enviar seus filhos, e mesmo tendo personalidades e pensamentos completamente diferentes elas se tornaram inseparáveis.

Judy, como era chamada por seus amigos, prezava muito a sua beleza e sua religiosidade, e desde muito nova já fazia grandes planos para a sua vida, e ela conseguira alcançá-los. Fora rainha do baile de seu ano sênior, junto de seu namorado, Russel Fabray, outro jovem ambicioso, e um dos melhores ‘partidos’ de toda a escola, e fora a primeira se casar e a única mãe até o momento.

Marise por sua vez era a capitã das líderes de torcida, e fora o interesse de muitos rapazes, mas não se envolvera seriamente com nenhum deles até conhecer Antony.

Já Dominique parecia muitas vezes viver em um mundo paralelo, um mundo que só existia dentro de sua cabeça. Ela não se preocupava com popularidade ou garotos, apesar de ter os dois, ela só tinha pensamentos para o balé, e seus animais de estimação, pelos quais ela nutria grande afeição. Ela também adorava passar seu tempo lendo, e mesmo depois de crescida não tinha vergonha nenhuma em admitir que seus livros favoritos eram Peter Pan e Alice no País das Maravilhas.

/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/

DOIS DIAS DEPOIS

Após dois dias trancado em casa, em companhia de sua esposa, o jovem Antony que era hora de procurar por Albert, que após o enterro de Dominique não ligara, nem dera nem um sinal de como estava. Ele tentara fazer alguma comunicação, mas todas as suas ligações não foram atendidas ou retornadas, e aquilo o deixara bastante preocupado.

Assim que ele tocou a campainha foi atendido pela governanta Selina Jefferson.

“Boa tarde Sra. Jefferson.” Ele a cumprimentou, e a tristonha mulher até esboçou um sorrisinho que durou por apenas poucos segundos. “O professor Larson se encontra?”

“Dr. Lopez eu sei que o senhor veio aqui com a melhor das intenções, mas tanto o senhor como a Sra. Larson querem ficar sozinhos, pelo menos por agora.” A mulher respondeu da forma mais simpática possível.

“Eu imagino Sra. Jefferson, mas eu tenho certeza que o professor não vai se importar se a senhora me deixar entrar para falar com ele.” O jovem médico insistiu. “Por favor, é importante...” Com o conhecimento que ela tinha sobre como Albert respeitava e estimava Antony, que seu patrão o tratava quase igualitariamente Dominique, o que lhe fazia pensar que o latino estivesse certo.

“Tudo bem, mas se o Dr. Larson te pedir para ir embora, vá no mesmo instante, certo?” Ela o alertou antes de abrir espaço para deixá-lo entrar.

“Certo Sra. Jefferson.” Ele concordou e logo que pisou dentro da casa, ele virou-se para a mulher de meia idade. “Muito obrigado.”

“Não há de quê, Dr. Lopez.” Ela respondeu, antes de deixá-lo sozinho ali para cuidar de seus afazeres diários.

Antony ficou parado por algum tempo, admirando como aquela casa que sempre lhe dera uma sensação de paz, agora estava com um ar pesado e sombrio. Um ar massivamente de luto e não que ele estivesse esperando alguma coisa diante daquelas circunstâncias, mas era realmente de cortar o coração uma situação como aquela.

O rapaz caminhou lentamente até o escritório de seu professor, observando com mais atenção que o normal os quadros pelas paredes. Era quase como um livro da vida de Dominique. Todas as etapas pelas quais a garota passara estavam registradas naqueles retratos, desde seu nascimento até a sua formatura, mas a maioria era de suas apresentações de balé. Tudo era tão adorável, e ao mesmo tempo tão dolorido, que deixava a pessoa que as visse com um gosto amargo, mas ao mesmo tempo sentindo prazer ao ver que Dominique vivera pouco tempo, mas cada ano de sua vida fora bem aproveitado, e ela enchera seus pais de alegria e orgulho.

Finalmente ele chegara em frente ao escritório do professor, ele suspirou e ficou ali, por alguns minutos, encarando a porta, em uma batalha interna consigo mesmo se deveria ou não entrar ali, mas ele optou pela segunda opção.

Ele lentamente abriu a porta, e logo pôde ouvir uma música bem baixa vinda de dentro dela, e lá estava o Dr. Larson, bem diferente do que ele imaginou. Antony esperava encontrar Albert em sua poltrona, com um copo de bebida em mãos, cabisbaixo e chorando baixinho, mas o que ele encontrou foi o homem sentado no chão, de roupas casuais, olhando para uma porção de fotos de sua filha.

“P-Professor Larson.” o rapaz sussurrou com certo temor, atraindo a atenção dos olhos azulados de Albert.

“Eu quero ficar sozinho, Antony, vá embora daqui!” Ao dizer isso ele voltou a olhar para as fotos, mas o jovem latino não se moveu. “Você não me ouviu, garoto?”

“Eu sinto muito professor, de verdade, eu só vim aqui para saber se há algo que eu possa fazer para lhe ajudar.” Ele falou de forma bastante tímida, mas Albert sacudiu a cabeça.

“Ah filho, eu sei que você quer ajudar, quer fazer algo para mudar, você é jovem, enxerga a vida de outra maneira, mas a menos que você encontre uma forma de trazer a minha filha de volta não há nada que possa ser feito para preencher esse buraco que se abriu no meu peito, nada.” Ele frisou a última palavra, fazendo Antony recuar de seu plano principal, que era de contar sobre a sua idéia de ‘reviver’ Dominique, lhe dando uma nova chance, logo ele imaginou que o professor iria lhe dar todo o apoio do mundo e lhe ajudar, mas agora ele se sentiu um pouco ameaçado por isso, porque ficou claro para ele que Albert ainda não estava preparado para aquilo.

“Eu posso apenas reabrir a clínica professor, eu sei que é tudo muito difícil, professor, mas os negócios não podem parar.” Ele falou, tentando não parecer desrespeitoso.

“Faça como quiser, eu não sei quando, ou se um dia irei voltar...” Aquilo realmente assustou o jovem médico.

“Como assim, professor?” Ele deixou escapar. “A medicina é a sua vida.”

“Dominique era a minha vida, e agora que ela se foi, eu... Eu não sei como as coisas vão ser daqui para frente.” Ela respondeu com um conformismo que deixou Antony tão aflito, porque aquilo não era algo comum de se ver em Albert. “Mas eu sei que você vai fazer um bom trabalho filho, você é talentoso, tem um futuro brilhante pela frente, está destinado a fazer grandes coisas, eu sei disso.” Antony não pôde evitar o choro diante daquelas palavras.

/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/

Naquela noite Antony aproveitou que a esposa fora visitar Judy Fabray e passou a maior parte de seu tempo relendo seus livros de clonagem reprodutiva. Era algo tão interessante e complicado que tomaria tanto o seu tempo, e é claro, implicaria em algumas leis e questões morais, mas o professor lhe tinha tanta estima e confiança, que ele não poderia perder a chance praticamente única de lhe devolver sua tão amada filha, a razão de sua vida.

“Tony...” Ele assustou-se ao ouvir a voz da esposa, então rapidamente fechou o livro que estava em suas mãos. “Tony, o que você está fazendo?” Ela perguntou demonstrando chateação. “Eu te liguei várias vezes por que não me atendeu?” Ele nem ouvira o telefone de tão absorto em sua leitura que estava.

“Desculpe querida, é que... Eu estava um pouco distraído.” Ele se defendeu. Marise sacudiu a cabeça que aquela era a desculpa dele. “Então, como foi na casa da Judy?”

“Foi triste, nós ficamos falando olhando para nossas fotos e o vídeo da Dominique dançando Lago dos Cisnes nos show de talentos de nosso último ano na escola, mas apesar de tudo, nós decidimos que é hora de seguirmos em frente, nunca vamos esquecer Dominique, ela uma irmã para nós, mas ela agora pertence ao passado.” Marise respondeu, sentando-se em outro sofá.

“Você tem razão querida.” Antony comentou, mas ele não concordava com aquilo, porque sabia exatamente o que fazer.

/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/=/

E os dias seguiram, durante exatamente sete dias das oito da manhã até altas horas da noite Antony se trancou no laboratório da clínica que somente ele e o professor Larson tinham a chave de acesso, e lá ficou tentando transformar uma das células de Dominique em um embrião que viraria uma criança.

Levou muito tempo para que ele conseguisse eliminar todos os cromossomos de uma célula, para que somente os genes de Dominique fossem preservados ao introduzir uma das células somáticas da bailarina nela, tornando-a o embrião que daria origem ao bebê clone, e isso fora um trabalho duro, que durara muito tempo, feito a base de microscópio.

Após o cansativo trabalho, ele guardou o ‘experimento’ pois levaria mais algum tempo para que as duas células se fundissem e se tronassem o embrião, e se isso desse certo, ele estaria pronto para ser inseminado em Suzan Pierce, que não seria sua verdadeira mãe, mas sim uma barriga de aluguel, afinal, o bebê não teria o seu ‘sangue’ ou nenhuma outra característica sua.

Mas algum tempo se passou, até que finalmente as duas células se fundiram. Antony sentiu o seu coração bater tão forte, e uma ansiedade imensa lhe invadir.

“CONSEGUI!” Ele exclamou eufórico. “Eu sabia que ia conseguir Dominique, eu prometi a mim mesmo que te daria uma nova chance, uma nova vida! Eu venci a morte!” O rapaz falou emocionado para a proveta em sua mão. Ele conseguira algo inédito em toda a ciência. Ele criara uma vida dentro de um laboratório.

É claro que ele tinha plena consciência que ainda havia grandes chances da experiência falhar, tanto agora, como durante a gravidez, ou mesmo depois do nascimento do bebê, mas depois do que ele conseguira fazer, nada mais era impossível para ele, ele revertera algo que todos consideravam impossível, a morte.

Já se passava das onze da noite quando ele chegou em casa, e foi até a cozinha porque estava faminto, onde encontrou sua esposa, sentada de braços cruzados, no rosto a expressão de quem havia chorado bastante, e em cima da mesa um envelope.

“Querida, qual o problema?” Ele perguntou com certa preocupação, depois do que acontecera com Dominique, ele ficara ainda mais cauteloso em relação a possíveis doenças, e aquele envelope branco tinha cara de resultado de exame, mas talvez ele estivesse enganado, principalmente porque sua esposa evitou o seu toque colocando a mão na frente. “Marise, o que foi?”

“Qual é o seu problema Antony?” Ela falou com um misto de ressentimento e agressividade. “Esqueceu do que eu te falei hoje pela manhã?” Ele mordeu o lábio inferior. Se esquecera completamente, para ser sincero, nem sequer ouvira.

“Eu passei o dia todo muito atarefado...” Ele começou a se explicar, mas Marise não queria mais saber de desculpas para a sua freqüente ausência, e eles nem tinham um ano  casados.

“Claro, como sempre você passou o dia todo ocupado com o seu glorioso trabalho, a única coisa que importa para você, e nem sequer se lembrou do que a idiota aqui falou hoje de manhã!” Ela se levantou da cadeira, e olhou fixamente nos olhos do jovem. “Claro, eu sempre fui o prêmio de consolação.” Os olhos de Antony se arregalaram com a sentença.

“Eu não faço idéia do que você está falando, Marise.” Ele se defendeu, meio que imaginando o que a esposa estava insinuando com aquilo.

“Dominique, você sempre foi apaixonado por ela, eu sei disso, não adianta negar.” O choro começou a se intensificar.

“Sinceramente, você está fazendo papel de boba Marise, ainda mais falando de uma pessoa que nem está mais aqui.” Antony respondeu impaciente. “Além do mais, ela era sua amiga, não é nada elegante você ficar insinuando coisas sobre ela.”

“Eu não estou insinuando nada sobre ela, estou falando de você!” Ela se defendeu apontando para ele. “Você se acha muito importante, porque foi tutorado por um médico famoso na faculdade, e porque agora trabalha na clínica dele, mas não se esqueça Antony Juan Lopez, que você pode estar se tornando o melhor médico do mundo e ajudando a vida de muitas pessoas, mas está estragando a vida de sua esposa, que só queria jantar com você para dividir algo tão bonito e marcante como o nascimento de nosso primeiro filho.” O queixo de Antony caiu ao ouvir aquilo, sua esposa estava... “Eu estou grávida!” Ela pegou o envelope de cima da mesa e o jogou no marido, que ficou atordoado por alguns instantes, mas assim que Marise deixou a cozinha, ele começou a sorrir muito feliz, afinal, agora ele seria pai, e por mais que não parecesse, esse era um dos grandes sonhos de sua vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Poema: Tradução de 'Why God made little girls' Autor desconhecido.
*No próximo capítulo teremos um pouco mais de Suzan Pierce, sua vida e a perspectiva de ser mãe.