Deu o nó na gravata vermelha, fechou alguns botões do paletó, bagunçou um pouco o cabelo e pronto. Era aquele Gerard Way que todos conheciam. Parecia o mesmo por fora, mas não se sentia o mesmo por dentro.

Tudo começou há alguns dias antes, quando resolveu que ia parar de beber. Foi um pedido de sua nova namorada, Lindsey Ballato, baixista de uma das bandas do festival em que estavam tocando. A princípio estava tudo bem, mas com o tempo começou a sentir falta das noites, das festas e dos amigos que enchiam a cara junto com ele, pessoas em que esbarrava de vez em quando e voltava a ver pelos corredores dos camarins. Mesmo assim não tinha cedido ainda, nem pretendia.

Aquele seria o primeiro show que ia fazer sóbrio e por isso estava nervoso, se sentindo estranho. Seus colegas de banda o apoiaram bastante quando tomou aquela decisão. Seu irmão, Mikey, também resolveu parar. Nunca fora tão viciado quanto Gerard, mas viu naquele ato uma inspiração.

Ray, Frank e Mikey foram andando para os bastidores enquanto Gerard demorou ainda um pouco no camarim. Olhou para seu reflexo no espelho e começou a pensar. Afinal, o que havia de errado? Pelo contrário, as coisas estavam começando a se acertar. Finalmente largara seu vício, tinha o total apoio de seus amigos, tinha o apoio da namorada, tinha um show para fazer agora, tinha fãs que o amavam e aparentemente nenhum problema hoje.

Saiu do camarim em direção aos bastidores, quando esbarrou com Bert McCracken, o problema em pessoa. Desde que se conheceram em uma noite dessas, viraram grandes amigos, mas se viam muito pouco. Quando sóbrio, Bert era uma ótima pessoa, mas bastava tomar umas doses e virava um completo idiota. Ficou até feliz em encontrá-lo no corredor e não em uma festa, mas no fundo não fazia diferença, pois estava bêbado do mesmo jeito.

– Gerard! Faz muito tempo que eu não te vejo! Não tem ido mais nas nossas festas depois de shows...

– Pois é, Bert, eu achei que seria melhor evitar por um tempo. Suas festas são cheias de bebidas e...

– Espera! Não acredito! Então é verdade? – falava já meio alterado, rindo por entre as frases devido ao efeito do álcool – Você parou mesmo de beber?

– Sim, parei. – disse com uma pitada de orgulho e incerteza na voz

– Nunca pensei que você fosse ceder aos pedidos daquela sua namorada. Essa mulher está te controlando, hein...

– Não foi só por causa dela, foi por minha causa também!

– Sei. – e deu mais um gole na garrafa que trazia em mãos

– Sabe, você deveria parar também.

– Ha. Ha. Faz me rir... Mas Gerard, se esse lance é sério mesmo, por que você não se despede da cerveja hoje?

– Eh, eu tenho um show pra fazer agora, já estou até atrasado e...

– Tem certeza, Gerard? Só um copo, vai. Em nome dos velhos tempos.

– Não sei não, Bert... A Lindsey vai estar na plateia também.

– Eu sabia que era só por causa dela! Vamos Gerard, é só um copo, você está muito nervoso...

– Bem, isso eu não posso negar, né. – olhou para baixo e voltou a encarar Bert. Sabia que iria se arrepender depois, mas... – Ah, merda, passa esse copo pra cá...

O show já era para ter começado há vinte minutos e os meninos do My Chemical Romance estavam aflitos. Onde estaria Gerard? Decidiram procurar bastidores e camarins a dentro.

Quando finalmente o encontraram, não poderia ser pior. Gerard estava rindo como uma hiena com Bert ao seu lado já dormindo, no camarim do The Used. Haviam dezenas de garrafas sobre a mesa que denunciavam o que tinha acontecido.

– EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO, GERARD!

– Calma, Mikey, foi só um copo.

– SÓ UM? Faça-me o favor. Poxa, eu estava acreditando em você.

– Foi mal.

– Acha que um “foi mal” só adianta? Olha só, tem milhares de fãs putos por você não ter aparecido e sua namorada na plateia também, achando que ia te ver tocar. Você não pensa nisso, Gerard?

– Ah, me deixa, Mikey. Não precisa ficar jogando na cara.

– Vamos, Gerard! Tem gente esperando lá! – disse Frank

– Gente? Quem se importa comigo, Frank? Ninguém. Vocês só querem mandar em mim, me obrigar a parar de beber e...

Gerard desmaiou.

Com muita dificuldade, foi abrindo os olhos bem lentamente. Sua cabeça doía um pouco como o esperado. Foi levantando e finalmente abriu os olhos por inteiro.

Não sabia onde estava. Era uma espécie de deserto. Não havia nada nem ninguém em volta. Nenhum Bert, nenhum Mikey, nenhum Frank... Nenhum show, nenhum camarim, nenhuma garrafa... Estava completamente sozinho.

Coçou a cabeça e questionou para o nada:

– Onde eu estou? Será que eu morri?

– Não exatamente, Gerard.

– O que? Quem? – virou e deparou-se com a curiosa figura as suas costas