Crônicas De Uma Deusa escrita por jujuicer


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Melanie acorda no Olimpo, é apresentada aos deuses, tem uma conversa com Athena e descobre características dos deuses nela.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/200811/chapter/3

– Melanie, acorde. Você deve ser apresentada aos outros deuses ainda hoje, de preferência agora, no café-da-manhã.

Eu estava num quarto muito claro, com uma cama muito grande e estava sentindo meu rosto inchado e meu corpo dolorido. Relembrei da noite anterior, e a vontade de chorar veio com tudo pra cima de mim. Eu quero meus pais! Isso só pode ser um pesadelo!

– Sinto muito Melanie, mas não é.

Abri os olhos e vi aquela belíssima mulher loira de ontem à noite. Athena, minha mãe. Oh meu Deus. Ou meus deuses, não sei ainda.

– Tanto faz meu bem. No final das contas, os poderes serão sempre os mesmos. Bom-dia.

– Bom-dia senhora. Você pode ler minha mente, pelo visto.

– Ler não seria a expressão correta. Eu posso entender seus pensamentos enquanto eles correm sua mente, mas quando seus poderes de deusa forem despertados, você poderá bloquear isso sem problemas. Mas nós veremos isso depois. O banheiro é a primeira porta à esquerda. Fique a vontade e volte aqui para se trocar, sua roupa já estará separada.

Assenti com a cabeça e fui em direção a única porta do quarto, que deu em um corredor. Primeira porta a esquerda, ela disse.Entrei já hiperativa, reparando que tudo naquele lugar parecia ser do branco mais puro. Absurdo gostarem tanto assim de claridade, argh!Terminei minha higiene matinal e voltei ao quarto, onde Athena ainda estava, mexendo em minhas roupas, o que me deixava incomodada. Nunca gostei que ninguém mexesse em minhas coisas.

– Oh, sinto muito. Eu apenas fiquei curiosa com o seu estilo. Parece que você é uma pessoa bem básica.

– Na maioria dos dias. Vejo que você ainda não decidiu por uma roupa. Posso pegar qualquer uma?

– Vamos ver o que você escolhe, depois eu digo se está apropriado ou não.

Olhei em meu guarda-roupa e vi meu vestido preto com prata, desses bem básicos. Não muito justo decote 'v' pequeno, ia até um palmo acima do joelho. Depois peguei uma sandália preta, fechada, com um salto de três centímetros, e mostrei a Athena.

– Aprovado. Deixe-me modificar um pouco a sua aparência. Ninguém além de mim e seu pai precisam ficar sabendo que você chorou a noite inteira.

Agradeci mentalmente, já que tinha certeza que ela entenderia. Athena apenas sorriu levemente, e estalou os dedos, então meu cabelo antes solto e desarrumado estava preso em um rabo-de-cavalo alto da maneira que eu mais gostava. Minha maquiagem era básica, sem blush, com os olhos bem escuros e a boca bem vermelha.

– Não ter passado esses últimos dezesseis anos com você não significa que eu não tenha te acompanhado lá do palácio de seu pai.

– Er, obrigada. Nós podemos ir?

– Claro, claro.

Athena saiu na minha frente para ir indicando o caminho e andando bem devagar, para que eu pudesse apreciar cada detalhe. Eles tinham na decoração obras de Picasso, Da Vinci, Van Gogh... Havia muitas portas. Os quartos davam para saber de quem era quem pelos símbolos nas portas. Um sol, Apolo. Meia-lua, Ártemis. Duas espadas, Ares. Um coração cheio de glitter, Afrodite. Enfim, tudo bem óbvio. E então eu trombei em alguém.

– Ops, desculpe senhora Palas. Não foi por querer.

– Sem problemas. Mas nós chegamos.

Ótima impressão, sua estabanada. Você conseguiu trombar na deusa mais inteligente do Olimpo na frente de todos os outros deuses. A única coisa boa nisso é que foi uma excelente forma de quebrar o gelo! E lembre-se que neste exato momento eles sabem o que você está pensando, para melhorar tudo.

Todos os deuses estavam rindo, até mesmo Zeus. Aproveitei o barulho e perguntei bem baixinho, para Athena.

– Eu devo me curvar ou alguma coisa do gênero?

– Faça o que você achar melhor. Você é minha cria, saberá o que fazer - e então ela simplesmente foi sentar, me deixando ali, parada, feito um dois de paus.

Pior do que ta não pode ficar, então, apresente-se.Disse uma voz na minha cabeça que eu não sabia ser existente até agora. Pigarreei, fazendo com que o barulho cessasse.

– Bom-dia senhores, senhoras. Meu nome é Melanie e eu sou a filha legítima e herdeira de Palas e Poseidon. - E assim que terminei de falar, curvei-me perante aqueles deuses que poderiam me pulverizar apenas com um querer, mas mantive minha cabeça erguida. Endireitei-me, andei até os pés de Palas, e me ajoelhei perante ela.

– Sua benção, Palas.

– Eu te abençôo, minha cria.

Levantei-me e fui em direção ao meu pai.

– Sua benção, Poseidon.

– Eu te abençôo, Melanie.

Quando eu levantei novamente, todos os deuses estavam meio embasbacados. Zeus deve estar pensando por que ninguém nunca fez isso com ele. Há, bitch.

– Você é muito impertinente garota. Quem te garante que ninguém nunca fez isso comigo?

Eu apenas arqueei uma sobrancelha, vir-me-ei para Palas e perguntei onde poderia me sentar, no que ela fez aparecer uma cadeira para mim ao seu lado direito. Olhei para Poseidon, que tinha um sorriso de lado no rosto, e percebi de onde eu conhecia aquele sorriso. Aquele sorriso era meu!

~*~

Estava na biblioteca com Palas, mas surpreendentemente nós não estávamos lendo, estávamos conversando. Eu fazia perguntas sobre deuses, tarefas, obrigações e reuniões.

–... E provavelmente você vai ter algo a ver com a cura de mágoas, já que você é a escolhida da profecia.

– Interessante. Quando meus poderes serão despertados?

– Hoje à noite. Amanhã nós começaremos um treinamento com você. Primeiro aqui no Olimpo, depois no palácio.

– Palas, você e Poseidon moram lá no palácio?

– Sim, nós moramos. Tritão, o outro filho de seu pai, não mora dentro do palácio, mas mora na cidade ao nosso redor. Não, não é ele o filho legítimo de Poseidon, porque Tritão nunca nos foi apresentado devidamente. Ele nunca quis ser o herdeiro do Deus dos Mares.

– Não é que eu tenha tido muita escolha, não é mesmo? - Murmurei, e Palas apenas riu.

– Acho que é isso que falta nos deuses Melanie, senso de humor. Tirando Apolo, Hermes e seu pai, quase nenhum dos outros deuses é bem humorado.

– Palas, não me chame de Melanie. Quando as pessoas me chamam assim, parece que eu vou levar uma bronca do tamanho do mundo, e eu espero que esse não seja o caso. Você pode me chamar de Mel.

– Mel... É como todos te chamavam?

– Nem todos. Tinha uma pessoa que me chamava de Nie, mas eu prefiro Mel.

– É mesmo, e quem te chamava de Nie?

Uma tempestade de lembranças passou pela minha mente, e fiquei constrangida que Palas pudesse ver todas elas.

– Um amigo. Nós fizemos o Ensino Fundamental II juntos, mas durante esse ano nós nos separamos. Víamo-nos de vez em quando, mas não era a mesma coisa.

– Não precisa esconder nada de mim, cria. Eu vi as suas lembranças agora, e acompanhei sua história durante os anos. Eu sei quem é Alceu, e o que ele representa pra você.

– Isso é constrangedor Palas. Você não pode evitar?

– Infelizmente não. Se fosse com qualquer outro mortal, eu poderia, mas a sua mente reconhece a minha e meu Icor reconhecerá o seu hoje à noite. Então eu não poderei ler a sua mente, mas nosso entendimento como mãe e filha será outro. Não há como explicar com palavras. Afrodite não conseguiu explicar para mim e eu não conseguirei explicar a ti. E por sinal, nós já deveríamos estar nos arrumando.

Então Palas pegou em minha mão e nos transportou diretamente ao seu quarto.

– Afrodite determinou as roupas de cada um de nós hoje. Sempre que existe uma festa ela faz isso.

Então ela me mostrou dois vestidos. Um o de Palas era branco com dourado, de um tecido bem leve, e ia até o tornozelo, frente única, lindíssimo. Já o meu era de um verde exército, com um decote 'v' bem profundo, e ia até os joelhos. Enquanto Palas usaria uma rasteirinha dourada, eu usaria uma sandália preta simples. Com um estalo de dedos Palas estava pronta. Eu preferi trocar de roupa normalmente, para tentar me acalmar.

– Não é grande coisa Mel, te garanto. Provavelmente em cinco minutos você já será uma deusa, e então poderá usar seus poderes. Acho que nós nunca tivemos uma deusa que nasceu com seus poderes, foi destituída dos mesmos e agora pôde reavê-los.

– Nossa isso me deixa muito mais tranqüila Palas. - E revirei os olhos.

Ela apenas riu.

– Venha, seu pai nos espera. - E me puxou pela mão, naqueles corredores que poderiam me deixar perdida.

~*~

– Vocês estão lindas! - Foi a primeira coisa que Poseidon nos disse, assim que ele parou de admirar Palas com um olhar tão bobo que me deu vergonha alheia. Palas está linda, eu estou normal. Não sei nem pra que nós nos arrumamos se Afrodite estará lá.

– Você é a filha do deus mais sexy do Olimpo Mel, não deve se preocupar com Afrodite. - Poseidon disse, enquanto piscava o olho e dava aquele sorriso de lado, e Palas apenas revirava os olhos.

– Pare de falar asneiras Poseidon. E vamos Mel, os deuses já estão esperando.

Poseidon e Palas entraram de braços dados e me deixaram entrar depois. Foi tipo aquelas cenas de filme, em que todo mundo para de conversar pra te olhar. Se eu não fosse tão cara de pau, até teria ficado vermelha. Dei um pequeno sorriso e me curvei.

– Boa noite senhoras, senhores.

– Melanie, você está aqui para ser restituída de seus poderes para que possas cumprir a profecia. Você é a filha legítima de Poseidon, Senhor dos Terremotos, Portador das Tempestades, Pai dos Cavalos, Deus do Mar e um dos Três Grandes, com Palas Athena, Deusa da Guerra, da Civilização, da Sabedoria, da Estratégia, das Artes, da Justiça e da Habilidade. Ambos são Olimpianos, portanto você automaticamente ganharia um trono em nosso Conselho. Você aceita essa responsabilidade?

– Aceito.

– Então receba a graça de uma deusa, e que seus dons e habilidades determinem suas bênçãos.

Uma dor forte começou em meu coração, passou para comprimir meus pulmões e se espalhou por todo o corpo. Eu caí no chão, me contorcendo. Palas e Apolo imobilizaram minha cabeça e meu pescoço, para que eu não precisasse de néctar e ambrosia tão cedo. E tão de repente como a dor começou, ela parou, e eu pude finalmente sentir. Meu cérebro trabalhava a mil por hora. Desvencilhei-me de Palas e de Apolo, levantei, aprumei-me e anunciei da maneira mais forte que pude:

– Eu sou Melanie, Deusa da Tecnologia, dos Aventureiros, dos Desbravadores e da Reconciliação, aquela cuja profecia está destinada e uma Olimpiana por direito.

~*~

Eu estava com todas as Olimpianas no meu quarto, cada uma me contando um aspecto de sua imortalidade.

– Ser esposa de um dos Três Grandes não é fácil, mas o que nós podemos fazer se amamos aqueles deuses? - Palas apenas assentiu para Hera, e eu soube que minha mãe não achava tão difícil assim ser esposa de Poseidon.

– A melhor parte de ser uma deusa é poder mudar de aparência à vontade. - Ganha um doce quem adivinhar quem disse isso. Quem disse Afrodite acertou claro.

– Eu discordo Afro. Acho que o melhor de ser uma deusa é acompanhar as civilizações, como eles aprendem uns com os outros e como tem esperanças de que um dia tudo vai mudar. - Surpreendentemente quem disse isso foi Ártemis.

– Mas um dia muda Ártemis. Tudo um dia muda, e vai ser sempre assim.

As deusas começaram a rir. A rir não, a gargalhar. Com exceção de Héstia.

– Sinto muito querida, mas não é assim que funciona. Os deuses, os mortais, semideuses, criaturas e monstros não se modificam.

– Devo te contradizer Ártemis. Você é igual desde o momento em que você nasceu, como mortal, até agora? - Um silêncio tão profundo que me incomodou. - Imaginei que não. Cada pessoa que passa por nós modifica-nos um pouco, tanto para melhor quanto para pior. O ponto é que nem tudo se modifica da maneira que nós esperamos, então, para nós, não há mudança.

Héstia caminhou até mim e me abraçou, surpreendendo-nos.

– Obrigada querida. Durante milênios eu venho tentando colocar isso na cabeça dessas deusas, mas nenhuma delas me ouve. Estou impressionada. Saiba que poderás contar comigo para ajudar a cumprir sua profecia.

Murmurei um 'Obrigada' um tanto quanto constrangida. Palas aproveitou a oportunidade e expulsou a todas dali, afinal, em meia hora nós teríamos uma festa para comemorar a restituição de meus poderes e a definição de minhas bênçãos.

– Héstia não é a única que está impressionada, devo dizer. Acho que agora eu entendo porque a profecia é destinada a você.

– Palas, todos já comentaram dessa profecia, mas ninguém ainda me disse o conteúdo dela. Você pode me contar?

Palas suspirou e me encarou profundamente, me analisando. Mantive o contato visual, não me intimidando.

– Já que você quer. Os dizeres da profecia são "Concebida do amor e ódio entre a justiça e as águas/Seu cônjuge será aquele cujo amor não declarado não foi conquistado/Entre os Olimpianos curará as mágoas/Ela será um erro que não pode ser reparado".

Analisei a profecia. Primeiro verso, óbvio. Segundo verso, potencialmente problemático. Terceiro verso, cristalino e bem problemático. O quarto verso serviria apenas pra eles entenderem que eu tinha que vir ao mundo.

Não fiz nenhum movimento, nem de felicidade nem de tristeza. Pedi para que ela me ensinasse a usar os poderes.

– É só você se concentrar e querer. Tente, já que nós teremos de fazer isso mesmo, arrumar seu cabelo.

Pensei em um coque desarrumado com alguns fios caindo e fiz um aceno com a mão. Quando me olhei no espelho, então caiu a minha ficha de que aquilo era real. Eu sou uma deusa, meus pais são Palas Athena e Poseidon. Eu realmente tenho poderes que metade do mundo mataria para ter.

– Eu sei que é assustador, mas você vai se acostumar. E se você é linda por ser a filha do deus mais sexy de todo o Olimpo, você vai saber lidar com tudo isso e muito mais por ser filha da deusa mais inteligente e sábia de todo o mundo.

– Eu realmente espero que você esteja certa Palas. De todo o coração.

~*~

– Eu estaria soando repetitivo se dissesse que vocês estão lindas?

– Claro que sim Poseidon, encontre outro adjetivo. - Isso porque meus pais tinham se resolvido né?

– Vocês estão magníficas.

– Sou obrigada a concordar titio! - Afrodite apareceu, sabe-se-lá-de-onde, com um micro-vestido vermelho e um salto agulha quinze centímetros que só ela saberia andar. - Você, Athena, deve entrar agora. Melanie deve entrar com Poseidon.

Imagine uma festa de quinze anos. Triplique-a e adicione muitas coisas em preto e prata (minha festa, minhas cores favoritas!). Então, era isso que eu iria enfrentar.

– Hm, Poseidon.

– Sim?

– Sinto em lhe informar, mas eu não sei dançar.

– Relaxe e apenas me siga. Você irá apenas me acompanhar.

Apesar de toda a festa ser em preto e prata, eu estava de branco. Um vestido típico de deusas, mas com uma sandália dourada altíssima, que eu mal sabia andar.

– Melanie, até eu que não sou um exemplo de esperteza entendi que você está bem nervosa. Você é uma deusa, então não se comporte como uma mortal qualquer. Você é, acima de tudo, minha herdeira. Deixe o Icor que está em você fluir.

E então eu respirei bem fundo, contei até quinze e relaxei todos os músculos. Percebi que meu cenho estava franzido, minhas bochechas estavam para dentro e... Bem, eu estava com uma carranca.

– Aceita minha companhia Lady Melanie? - meu pai perguntou todo cheio de pompa.

– Com muita honra Lorde Poseidon. - E dei o nosso sorriso.

Alguns segundos antes de entrar no salão ele perguntou se eu estava pronta.

– Uma lady está sempre pronta papai. Sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Repostado em 06/01/2013



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas De Uma Deusa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.