Crônicas De Uma Deusa escrita por jujuicer


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essencial para o entendimento do resto da história. Depois desse capítulo, sintam-se livres.



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Depois de longos cinco anos eu estava de volta à praia, de volta ao lugar onde eu me sentia bem de verdade. Com um livro na mão, óculos escuros de grau e debaixo do guarda-sol, eu estava muito satisfeita. Ao meu redor estava minha irmã e meu cunhado, ambos dormindo. Meus pais estavam no mar, e eu pude observar que eles estavam falando com outro homem, que era bem mais alto que meu pai, e gesticulava como se explicasse algo. Esqueci-os e comecei a ler em paz.

Alguns momentos depois, eu ouvir a voz de meu pai falando meu nome e, instintivamente levantei a cabeça para procurar de onde vinha a voz dele. A minha esquerda encontrei meus pais e aquele homem conversando, e, dessa vez, prestei atenção. Minha mãe estava um pouco chorosa, meu pai um tanto indignado e triste ao mesmo tempo e aquele homem estava tentando convencê-los a algo. Exasperada, levantei-me e andei até eles, sem que nenhum dos três me notasse.

–... Ela pertence aquele lugar. Adaptou-se surpreendentemente bem a vida de vocês. O que há dentro dela não pode ser negado. Arrogância, prepotência, egoísmo e narcisismo são características dela, não são? - Meus pais apenas assentiram. - Essas características são nossas também, embora nela sejam menos acentuadas.

E então eu pigarreei.

– Algum problema senhor? - Eu perguntei, encarando o desconhecido a minha frente. Analisei seu rosto por algum tempo: olhos verdes da cor do mar atrás de mim, nariz de um tamanho grande se fosse em qualquer outro rosto, mas no dela caia bem, lábios grandes e carnudos, agora puxados num sorrisinho de lado que eu conhecia de algum lugar.

– Problema nenhum senhorita.

– É mesmo? Não parece! - E enquanto dizia isso na voz mais fria que eu tinha, olhei para meus pais, que encaravam aquele homem com os rostos apreensivos.

– Está tudo bem mocinha. Eu volto mais tarde com minha acompanhante, para que ela possa elucidar-los melhor dos fatos. Foi um prazer revê-los.

– Igualmente - meus pais murmuraram juntos, enquanto ele dava-nos as costas e saia andando.

~*~

Voltamos para nossa casa de praia, no meio de olhares apreensivos dos meus pais, desconfiados meus e de minha irmã. Meu cunhado estava desligado como sempre. Arrumamos tudo, tomamos banho e fomos aprontar a janta, eu e meus pais sabendo que poderíamos ter convidados. Mamãe fez panquecas de queijo, o que ela sabe ser meu prato favorito. Assim que terminamos de por a mesa, a campainha tocou, e eu fui atender. Novamente aquele homem, mas dessa vez ele estava acompanhado de uma mulher mais alta que eu, com cabelos loiros cacheados até a cintura e olhos cinza como o céu num dia de tempestade. Ela era simplesmente linda.

– Boa noite, entrem, por favor - disse, abrindo espaço.

Minha família toda estava ali, olhando para nós três. Minha mãe ficou com os olhos marejados novamente e eu me senti impotente, pois não sabia o que estava acontecendo. Minha irmã encarava aquele homem com o cenho franzido, como se tentasse se lembrar de algo muito distante.

– Vamos jantar. Minha mãe fez panquecas com queijo, senhores.

– É seu prato favorito! - A mulher exclamou percebendo logo em seguida que havia falado demais. Eu fiquei me perguntando como ela poderia saber daquilo.

Sentamo-nos todos, aquele silêncio me incomodando muito. Geralmente as refeições da minha família são muito barulhentas. Depois da minha primeira panqueca, mamãe me disse docemente:

– Filha, você está cantarolando - e eu vi que ela estava repreendendo meu hábito irritante.

– Desculpe, é inevitável - pedi as visitas. - Afinal, qual o nome de vocês?

– Acho que está faltando vinho. Meu jovem - o homem disse, se virando para meu cunhado - você não poderia ir comprar um vinho para nós?

Meu cunhado se levantou, com os, olhos vidrados e murmurou um "Está bem". Assim que ele saiu da casa o homem falou:

– Meu nome é Poseidon e o dela é Athena.

Minha mãe recomeçou a chorar, meu pai apenas a abraçou e minha irmã deixou escapar um "Ah!" bem baixinho.

– Os deuses gregos do mar e da justiça, respectivamente. Você - e eu olhei para Poseidon - é um dos Três Grandes, o mais velho deles. E você - me virei para Athena - é filha de Métis e Zeus, a única com poder suficiente para destronar seu pai. Mas duas coisas me intrigam: 1- por que vocês estão aqui e 2- como vocês ainda não se mataram? Vocês se odeiam certo?

Poseidon disse algo como "Puxou a você, Atheninha querida" e Athena pôs-se a falar.

– Bem como a mitologia grega é algo de alguns milhares de anos atrás ela não é freqüentemente atualizada. Eu e Poseidon nós... Resolvemo-nos, por assim dizer. - Ela enrubescia mais e mais e eu arquei a sobrancelha, com um sorriso de lado. - E quanto ao que nós estamos fazendo aqui, bem, apesar de ter jurado castidade perante o Estige, apenas um dos Três Grandes poderia quebrar esse juramento, Zeus é fora de cogitação, por ser meu pai. Hades ama Perséfone e nunca largaria dela, Deméter não pode fazer nada quanto a isso. E então sobrou Poseidon. Com o passar da eternidade, Poseidon e eu, eventualmente, nos apaixonamos. Ficamos juntos e, há quase dezesseis anos, tivemos uma filha, Melanie. Graças a uma profecia que poderia despertar a ira dos deuses que querem a discórdia do Olimpo, então nós escondemos nossa filha entre os mortais. Então... - Athena ia recomeçar, mas eu a impedi.

– Vocês estão aqui para, calmamente sentados, dizerem que eu sou essa deusa? Filha de Palas Athena e Poseidon. Que vocês são meus verdadeiros pais?

– Basicamente é isso. Sua hora de cumprir a profecia chegou Melanie - Poseidon disse, seriamente.

Repassei todo meu conhecimento sobre mitologia grega na minha cabeça. Analisei os dois deuses, encontrando semelhanças e diferenças. Eu era bem mais parecida com Poseidon que com Palas. E pelo que contam as lendas, meu gênio era uma boa mistura dos dois juntos. Interessante.

– Mas e meus pais, hm, mortais? E minha irmã? Eu os amo, e nem Afrodite e Zeus, juntos, podem mudar isso.

– Você pode sempre mandar e-mails e observá-los do Olimpo, abençoando suas vidas. Nada além disse seria permitido.

"Ah é? Vamos ver. O Conselho Olimpiano terá um requerimento assim que eles entenderem meu amor pela minha família."

– Nós precisamos ir agora Melanie, e você deve ir conosco. Despeça-se de sua família mortal.

Abracei meu pai, muito devagar. Disse que o amava que seria sempre sua princesa. Pedi para que ele cuidasse bem de mamãe e de minha irmã, e para que fosse mais paciente. Na seqüência veio minha irmã. Mandei que ela deixasse de ser babaca e entendesse que nossos pais a amavam, brinquei dizendo que ela finalmente seria filha única. Pedi que, em meu lugar como madrinha de seu primeiro filho (que não estava a caminho) ela chamasse nossa prima mais nova, que ela era a melhor substituta. Por fim, disse que a amava e pedi desculpas por ser tão irritante. E então abracei minha mãe, e chorei desesperadamente, apertando-a o máximo para que eu nunca mais esquecesse seus braços. Mal sabia que ela também estava fazendo isso. Disse-lhe que a amava mais do que o espaço da eternidade a minha frente e lhe pedi desculpas por não ser uma filha tão boa quanto deveria. Ela mandou que eu fingisse que ela havia me educado, disse que, apesar de ser imortal, era pra eu não esquecer o que ela havia me ensinado e que eu deveria sempre seguir meu coração.

Dei meu último adeus aos três e, correndo, fui para junto de Poseidon e Athena, que me levaram diretamente ao Olimpo, onde eu me pus a chorar desesperadamente, sem ter condições nem de andar, no que Poseidon me pegou no colo como um pai faz com um recém-nascido e me levou para dentro, com Athena em seu encalço. Os dois me deitaram em uma cama e ficaram lá, me consolando durante toda a noite, me embalando como se eu fosse um bebê que precisava de proteção. E naquela hora, eu era tudo isso.


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Notas finais do capítulo

Repostado em 06/01/2013



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