Corações Perdidos escrita por Kuchiki


Capítulo 2
II - Fogo e Gelo


Notas iniciais do capítulo

É, eu mudei o título. Achei esse melhor, combina mais com a fic.
O título do capítulo tem a ver com o sonho da Mô. (sem mais spoilers)
Eu queria agradecer todos os comentários e poder dizer que todos, sem exceção foram muito importantes para mim, me trouxeram inspiração.
Espero não perder nenhum leitor que conquistei, seria muito triste.
Fiz com carinho, de coração!



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Segundo capítulo.


ENTREI em passos lentos na casa, não havia ninguém na sala. Na cozinha, a empregada trabalhava com a comida, o almoço de hoje, tudo enquanto cantava ritos religiosos. - Sorri e a cumprimentei. Acho que não percebeu, mas tudo bem.


Subi as escadas calmamente rumo ao meu quarto quando me deparei com uma porta entreaberta, era o quarto de Cebola. Ele estava deitado na cama, com os olhos fechados, sem camisa, apenas de cueca. Com o caderno sobre o peitoral.

Andei até ele e me sentei na cama, que era bem macia por sinal.

Quando dei por mim, estava acariciando seus cabelos, ele sorria, parecia estar sonhando. Peguei o livro e pus em cima de sua cômoda sem fazer barulho.


Algo me prendia naquele quarto, eu queria olhá-lo, admirá-lo o quanto pudesse, não podia negar que era um homem atraente. Bonito.

Sua respiração era branda, o que o deixava como um anjo, tão perfeito quanto.


– Como você mudou Cebolinha... Ficou ainda mais lindo que quando éramos crianças. - Sussurrei me sentando do outro lado, voltando a acariciá-lo. - Ele se mexeu, virou-se para o lado.


– Bons sonhos, Cebolinha... - Levantei-me, não queria atrapalhar seu sono, fui embora, deixando a porta entreaberta.


Quando estava prestes a entrar, dei de cara com Magali.


– Me conta o que aconteceu para você não vir com a gente. - Fiquei sem palavras, me arrepiei toda.


– Eu fiz um amigo na biblioteca da escola, eu precisava estudar algumas coisas já que estou com dificuldade.- Olhei para baixo, ela sorriu de canto.


– Então é homem? Amigo? Me explica essa história, senhorita. - Me sentei ao seu lado.


– Não tem o que explicar. Nós nos conhecemos por acaso e nos demos bem. Só isso. Nem sei se vamos nos encontrar amanhã. E o Cebola? Por que ele voltou estranho para casa? Parecia revoltado. - Tentei fugir do assunto.


– Eu não sei. O Cebola é o tipo de pessoa enigmática, que você nunca sabe como vai agir ou reagir. Que esconde o sentimento no fundo da alma. E guarda de tudo e todos. A menos que confie nessa pessoa. Ele conversa bastante com o Cascão. Minha melhor amiga sempre foi a Marina... E você quando estava aqui. Visitava-me raras vezes já que seus pais trabalhavam muito, eram grandes empresários. Mônica, eu não entendo por que você quer trabalhar, foge da faculdade. Você é herdeira Mônica, tudo aquilo que eles construíram em anos é seu. E você deve administrar isso tudo, continuar com isso na nossa família. - Nós já estávamos fugindo do assunto.


– Magali, você não entende que eu quero ganhar o meu dinheiro? Eu quero merecer isso, quero mostrar que sou capaz, que sou forte. - Disse me lembrando de Do Contra falando que não conseguimos nada nesse mundo sem esforço. E isso é verdade, não fico nem meia hora com o cara e já penso igual a ele.


– Está bem, está bem, se você gosta de complicar tudo, não sou eu quem vai impedi-la.


– Eu não quer mais falar disso, está bem? Não gosto de me lembrar dos fantasmas do passado. - Uma lágrima escorreu de meu rosto, lembrei-me da trágica morte de meus pais mais uma vez. Será que é impossível nós deixarmos de lembrar dos fatos dolorosos em algum momento? Me pergunto quando vou me curar, se é que vou. - O Cebola sempre foi assim, desde criança?


– Sim, ele sempre escondeu o que realmente sente dos outros. Mas com o tempo, as razões para ele ficar de um jeito estão se modificando. Ele poderia ser um ótimo artista, acredite. Cá entre nós, ele morre de ciúme de mim, e com você deve ser a mesma coisa. Toda vez que o Quim está perto demais, mete logo um sacode nele. Ele não costuma ficar assim para baixo como ficou com você, fica extremamente irritado. É tipo uma TPM masculina. - Me respondeu.


– Há algo errado então. - Falei me levantando e a encarando nos olhos. - É algum problema comigo?


– Mô, eu te falo que o Cebola morre de ciúme das parentes, e você acha que o problema é com você? Claro que não. - Fiquei pensativa.


– Mas comigo é diferente, ele ficou diferente. - Cruzei os braços.


– Não encana com isso não amiga, é besteira de garoto. Todos são iguais, nós amadurecemos mesmo antes. Bom, só estava admirando o jardim de casa pela sua janela, a vista daqui é mais bonita e verde. Do meu quarto, vejo prédios ao longe. Vou para lá, estou cansada. Farei o mesmo, vou dormir até a hora do almoço. Me chama lá que a gente desce juntas, ok? - Me dei um beijinho no rosto e falou já entre a divisão do corredor e do meu quarto.


– Ok! - Respondi serena. Ela foi embora e eu fiquei na janela, observando toda aquela beleza. A região era encantadora, parecia uma roça. O cheiro do campo era tão bom. Não entendo como é que minha família, de classe média-alta veio para cá. Acho que o ar é menos poluído, somente por isso. E para evitar assaltos também.


Montanhas eram vistas distantes, árvores de todos os tipos embelezavam o ambiente. Deixei a janela aberta, a claridade mantinha meus olhos abertos, até que não aguentei e os fechei, mesmo sentindo alguns fachos.


__x_x__


Magali segurava minhas mãos enquanto descíamos a enorme escadaria.


Na sala de jantar, estavam todos. Tio, tia e Cebola. Apenas Maria não estava lá, já que era criança e estudava à tarde. Ela era a irmã mais nova deles.


A mesa estava cheia de diversas comidas, podíamos escolher qual saborear. Os homens da casa comiam carne enquanto as mulheres verduras.

Não tinha vergonha de falar que odiava carne, bife mal passado, carne vermelha, tudo isso. Só comia frango. Mesmo assim quis dar um tempo de carne.


Todos comiam em silêncio, é claro que podíamos conversar sobre vários assuntos, mas ninguém falava nada. A refeição chegou a ficar chata depois da quata ou quinta garfada. Todos se olhavam, mas quando iam falar, o outro o olhava. Aquilo estava sendo perturbador, não sei se isso nervoso por causa do primeiro dia de aula, nervoso porque eu tenho um histórico de família que sofre disso. Comecei a comer rapidamente, tentei empurrar a comida para dentro, mas minha garganta não se mexia, parecia que algo rompia a passagem da comida.

Perceberam o meu estado e enfim, tia Marcela falou:


– Está tudo bem querida? Enasgou/ Tome um gole d'água, respire bem. Não tente empurrar a comida para dentro, isso faz muito mal para a nossa saúde. - Concordei com a cabeça e tossi uma vez.


– Bom, a comida estava ótima mas depois disso acho que perdi a fome, me desculpem. Vou me retirar da mesa. - Tia Marcela aceitou, me deixou ir. Cebola não esboçava nada em seu rosto, continuava apenas olhando para seu prato, ele estava estranho desde que eu olhara para Toni.

Fui andando em passos lentos até a rede pendurada na varandinha de casa. Tirei meus sapatos e me deitei lá, balançando, balançando, dormi novamente.


O sonho que tive era surpreendente, o garoto de hoje mais cedo me olhava nos olhos, me dizia o quanto eu era importante para ele, o quanto me amava e nunca deixaria de amar. Seus olhos negros cheios de dor choravam por mim, que não acordava, meu corpo estava tomado de água. Minha pele chegava a ter um tom marmóreo, de tão branco e tão gelado que estava.

Nossos corpos, ambos molhados tremiam. Lábios arroxeados pelo frio que fazia. Eu não repspirava direito, mas tremia e muito.

Estava em um tipo de estado de choque, mesmo estando molhada, sentia todo o meu ser pegando fogo. Acho que explicava o choque. O sonho era tão real que eu sentia dor enquanto dormia.

Tive a visão dos meus pais quase desaparecendo me mandando continuar aqui, não ir embora, que minha história, a minha missão não havia acabado. Que eu teria de continuar a menina forte e decidida que sempre fui. Que teria que superar isso de uma vez. Que me amavam também.


O resto eu não me lembro, isso é o curioso. Acordei com os olhos cheios de lágrimas, aquilo parecia real. Vi meus pais novamente. Aqueles que nunca deveriam ter partido.


Seus corações ficaram vivos comigo, e só morrerão quando eu morrer.


__x_x__


A noite chegou branda. Com inúmeras estrelas brilhando no céu. A lua minguante se encaixava perfeitamente. Noite para mim é uma das melhores horas do dia, a mais bela talvez.


Dormíamos todos na mesma hora. Os adultos, adolescentes e a única criança. Vinte e uma horas. Pra estar de pé cinco e meia da manhã. Sei que não há necessidade da Maria ir dormir nesse horário, mas ela gosta. Diz que faz bem para o seu corpo.


Estava sem sono, atormentada pelo sonho da hora do almoço, foi terrível, considerei pesadelo.


Estava prestes a cair em um cochilo quando percebi que alguém também estava lá, no quarto. Seria um bandido?


Ele deu um leve toque no meu ombro.


– "Mônica?" - Sussurrou. Era um homem, então eu tinha que deixá-lo vulnerável, chutei na parte que mais podia doer no corpo dele. Estranhei que não gritou, apenas segurava o local afetado enquanto gargalhava. - Adorei. Faz de novo? - Não acredito, não podia ser quem eu estava pensando.


– Como descobriu onde era minha casa, seu maluco? - Perguntei ascendendo meu abajur.


– Te seguindo ora essa... - Respondeu cruzando os braços.


– Então por que não veio mais cedo? - Perguntei impaciente.


– E qual seria o sentido de eu fazer isso? Todos fazem isso. Então, à noite é diferente, a gene também não entra pela porta, e sim pela janela. - Se deitou na minha cama de sapatos.


– Não vai tirar? - Me sentei na cadeira da minha mesa de estudos.


– Não se tira o sapato para dormir. De onde tirou essa ideia? - Dei um tapa em meu próprio rosto.


– Vai sujar minha colcha nova. - Ele deu de ombros.


– Bom, se vai ficar aqui, dorme na parte de baixo da cama. - Eu dormia em um tipo de sofá cama, onde podíamos puxar a parte de baixo. - Ele negou.


– Eu só durmo durante o dia, fico acordado à noite. - Respondeu.


– Ah, mas eu durmo e se me der licença, estou cansada. Vai para sua casa. - Disse já de olhos fechados.


– Acho que vou dormir, não vou para casa. - Se deitou também. Eu pensei: "Ninguém merece..."

Logo adormeci.


__x_x__


(Dia seguinte, 5:30h.)


– Acorda DC, agente vai se atrasar. Levanta dessa cama e vai tomar banho, eu já tomei. - Falei já vestida, sacudindo a cabeça dele.


– Mais tarde eu vou. - Respondeu sonado.


– Não, agora! Sai dessa cama e joga uma água no rosto. - Dei um leve tapa em sua testa.


– Eu vou no segundo tempo. - Eu tinha que apelar, fui ao banheiro, molhei as mãos e joguei a água na cara dele.


– ACORDA, PELO AMOR DE DEUS! A GENTE VAI SE ATRASAR! - Gritei no seu ouvido, ele acordou na hora.


– Quer me deixar surdo? Depois o doido sou eu. - Respondeu com as mãos nos ouvidos.


– Veste seu uniforme. Agora! É para ontem. - Mandei.


– Se é para ontem eu não preciso fazer. - Se deitou na cama e puxou lençol mesmo estando calor.


– Quer saber? Desisto! Vou embora sozinha. - Peguei minha mochila e quando ia virar a maçaneta da porta, o mesmo correu para o banheiro e gritou:


– Agora eu vou! - "Se eu soubesse que era fácil assim..." Pensei e saí.


É claro que ele não desceu para o café, fugiu pela janela. O que eu iria dizer para os meus tios? Que um garoto que eu conheci no dia anterior tinha dormido no meu quarto?

“Ele é uma figura...”

Pensei. Mesmo sendo meio despirocado das ideias, ele é legal. É diferente, é o único garoto com quem estive que não tentou mudar meu jeito. Ele me trata como uma pessoa, que tem mais defeitos que qualidades, mas mesmo assim sabe que sou humana, que isso não é novidade até para um “Do Contra” qualquer. Tomei meu café com Magali e Cebola, que continuava não falando comigo.

Quando estava saindo, Marina estava com um garoto de franja ao seu lado.


– Marina? – Perguntei.


– É, eu sempre vou para a escola com a Magali quando posso. Meu namorado Franja nos leva de carro, já que é maior de idade e ele vai para o trabalho daqui a pouco.


– Muito prazer, sou Mônica. – O cumprimentei.


– O prazer é todo meu. – Respondeu. Percebi o quanto era gentil, cavalheiro e o quanto merecia ter uma namorada maravilhosa como a Máh.


Corremos todos para o carro, rumo à escola. Meu segundo dia, que no que acredito, poderia ser ainda melhor que o de ontem. Ou não...


Continua...





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Notas finais do capítulo

Se tiver bastante gente gostando e comentando, talvez eu demore menos a postar o próximo. É CARNAVAL! EBA! Espero que todos aproveitem bastante!
Beijos e até a próxima...



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