Nameless escrita por Guardian


Capítulo 7
Fatídico dia


Notas iniciais do capítulo

Eu ia mesmo postar ontem, mas acabou chegando uma visita... Desagradável não, porque eu adoro minha sobrinha, mas... Inesperada.



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Ainda sem fazer ideia do que estava acontecendo, e sem a menor chance de fazer qualquer pergunta, Mihael foi puxado pelo irmão até onde a mãe puxava com urgência a cortina vermelha no lado oposto de onde ele estava. Ele sabia do que era aquela cortina, claro. Aquela sala possuía uma pequena sala interna, onde não havia nada além de uma ou duas pequenas caixas no chão e um quadro antigo na parede. Era um ótimo esconderijo para brincar quando ele era menor.

 Normalmente, já estaria fazendo perguntas e exigindo respostas, mas agora não conseguia. Porque era a primeira vez que via o irmão assim tão sério e preocupado. Porque era a primeira vez que a mãe desfazia sua postura quase inatingível, se ocupando unicamente de puxar a bendita cortina até seu limite e gesitculando para eles entrarem lá.

 Porque era a primeira vez que via o pai portar uma arma.

 Sim, uma arma. Enquanto tinha seu fino braço puxado pelo mais velho, Mihael olhou para o lado apenas por um instante, a tempo de ver seu pai tirar uma arma sabe-se lá da onde, com o olhar mais ameaçador que ele já o tinha visto dar, desde que conseguia se lembrar.

 Ele não conseguia encontrar sua voz para perguntar qualquer coisa.

 Foi levado pelo irmão, e viu a mãe tirar o pesado quadro do lugar, revelando um pequeno botão escondido ali, despercebido se olhasse com pressa. O apertou, e para total supresa do pequeno Mihael, a parede do fundo da salinha deslizou para o lado, revelando uma porta. Acizentada, completamente lisa, de aparência dura e resistente e com um pequeno painel digital acoplado. Um quarto do pânico.

 Sempre tinha achado estranho o jeito como aquele espaço parecia pequeno em relação ao resto da sala. Mas aquilo??

 Christopher, ainda segurando fortemente o irmão mais novo, digitou a senha no painel apressadamente e a porta se abriu, para dentro. E sem qualquer aviso, nem se preocupando em ser cuidadoso ou delicado, jogou Mihael lá dentro. Apenas ele. A parede deslizou novamente para o lado, escondendo mais uma vez a porta secreta mais rápido do que o garoto foi capaz de agir.

 - Chris! – gritou esmurrando a porta, mas já era tarde demais. Estava sozinho lá dentro.

 E a última coisa que tinha visto havia sido a preocupação nos olhos azuis de Christopher. Um azul tão similar ao seu próprio.

 O que é que estava acontecendo?! Por que o tinham deixado sozinho ali? Por que ninguém mais tinha entrado? Não era pra isso que os quartos do pânico serviam? Para se abrigarem quando houvesse perigo? E que perigo era esse? 

 Ele não aguentava essa ansiedade toda, então começou a olhar em volta, procurando o que queria. Não era preciso ser um gênio nem estar com a mão doendo para saber que socar a porta nem de longe era a melhor alternativa.

 Havia um bom estoque de comida e água pelo que podia perceber, TV, livros, um notebook, telas das câmeras que haviam na casa (que não serviam de nada no momento, já que além de querer descobrir ao vivo o que estava acontecendo, parecia que todas elas tinham sido desativadas), banheiro, e... O painel para abrir a porta, bem na parede!

 Tinha que digitar a senha para poder sair, mas... Ele não sabia qual era. Tinha visto o irmão digitar apenas os quatro primeiros dígitos, ainda faltavam três... Teria que ser na base da tentativa. Com dedos rápidos, e com o medo pelo desconhecido ameaçando começar a embolar em sua garganta, ele foi tentando todas as combinações que considerava possíveis e prováveis. Foram precisas várias tentativas para enfim acertar.

 A porta se abriu sem fazer nenhum barulho, como da primeira vez, e Mihael espreitou-se para fora, cauteloso. Mas não a fechou. Por detrás das cortinas, que supunha que a mãe houvesse puxado de volta, ficou escondido, fora das vistas dos homens que ali se encontravam. Não foi visto por eles, mas ele os viu.

 Viu.

 Sentiu.

 Ouviu.

 Viu os corpos de seus pais jogados no chão, de qualquer jeito, tortos. Percebeu que eram eles apenas pelas roupas, porque de resto... A parte de cima não mais estava ali.

 Os olhos azuis se arregalaram ao procurar uma, duas, três vezes com o olhar, o que estava faltando. Mas tudo que conseguiu encontrar foi alguém mascarado caído um pouco mais ao lado... O primeiro pensamento que veio à sua mente chocada foi que a arma de seu pai devia ter feito seu trabalho antes de quem a usava cair.

 O forte cheiro de sangue inpregnava-lhe as narinas, fazendo seu estômago embrulhar violentamente.

 Ouvia o grupo de homens rir da cena, do cenário macabro que estavam construindo. Como se sentissem prazer em conseguir subjugar os outros daquela maneira.

 Mihael, com o choque, o medo, a repulsa e a surpresa forçando-o, deu um passo quase incosciente para trás, mas acabou não chegando a se afastar da abertura da cortina. Porque naquela exata hora ele viu aquilo que mais o perturbou, que o feriu mais do que tudo.

 Ele viu um dos homens erguer seu irmão pelos cabelos loiros, mais claros e curtos do que os do menor, e outro se aproximar com uma lâmina já consideravelmente manchada. Christopher pendia inerte sob o toque do outro, parecendo um boneco, e logo o segundo homem fez um movimento único e rápido com sua lâmina, e a cabeça do jovem se separou do resto.

 Igual aos seus pais.

 Algumas gotas vermelhas alcançaram o esconderijo do único sobrevivente, com o movimento. Atingiram seu rosto. Mancharam a pele.

 Mihael assistia tudo sem reação. Pavor. Ódio. Uma tristeza profunda. Algo se quebrando dentro de si. Tudo o invadiu de uma vez, cada qual brigando pela preferência em seu interior conturbado, querendo dominá-lo completamente.

 Via sua família inteira morta.

 Ouvia os culpados se divertindo com isso.

 Sentia o cheiro nauseante, o sangue de seu querido irmão em sua própria face.

 Todos...

 Ninguém mais...


 - AH!

 Acordei ofegante, ainda com aquelas imagens relampejando em frente aos meus olhos, tão vívidas que fazia meu estômago se revoltar contra o jantar de mais cedo. Pisquei algumas vezes, mas não adiantava de nada. Abertos ou fechados, aquela maldita cena não sumia. 

 Merda, eu odiava quando as lembranças voltavam assim...

 ...

 Por que eu tinha que lembrar daquele dia justo hoje? A única coisa de diferente que tinha acontecido hoje era...

 ...

 Seria... Seria por causa daquele ruivo?

 Droga, já estou me arrependendo de não tê-lo matado...

 Levantei da cama, percebendo de repente como a minha garganta estava seca, e caminhei em direção à cozinha. Obviamente tive que passar pela sala no trajeto. E lá encontrei o ruivo dormindo de maneira pacífica no sofá. Bom, com certeza mais pacífica do que eu, pelo menos.

 Parei por um instante, e antes que eu percebesse  estava tocando com a ponta dos dedos gelados, minha bochecha esquerda. Parecia que eu ainda podia sentir...

 Olhei para o ruivo.

 Será que ele também tinha uma história? Para ter aqueles olhos...


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Notas finais do capítulo

Please, não me matem pelo que fiz ó_ò O resto, explicações sobre Klaus, como esse trabalho começou e o porque das mortes, sóóóóó mais pra frente ~
So?