Nameless escrita por Guardian


Capítulo 4
Você quer morrer?




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 Fui descuidado.

 ...

 Mas o tiro que eu pensei que viria, não veio. O momento perfeito para aquele ruivo o dar, aproveitando minha surpresa e minha posição totalmente desfavorável, passou. E nenhum tiro foi dado.

 Não da parte dele, pelo menos.

 - U-Urgh! – o ruivo deixou escapar quando a bala que saiu velozmente da minha arma acertou seu braço direito. Ele caiu de joelhos no chão, e largou o revólver para ocupar a mão que o segurava na tarefa de pressionar o local atingido, que não demorou a ensopar-se de sangue.

 Droga, errei.

 Fazer o quê? Do jeito que eu torci o braço para atirar, se eu realmente desse um certeiro, ficaria impressionado comigo mesmo.

 Chutei a arma dele para longe e o deixei ali, agarrado sobre si mesmo em dor. Podia deixá-lo por último, sem problemas. Minha prioridade era outra...

 - Agora, onde estávamos? – tornei a virar para O’Hare, que ofegava e tossia ruidosamente, tentando se recuperar do chute que eu lhe dera. É, minhas botas têm um efeito e tanto, eu sei – Ah, é mesmo.

 Um tiro. Serviço concluído.

 Olhei o ruivo, que não havia se movido nem um centímetro do lugar, pelo canto do olho. Só faltava um agora.

 Cobri o pouco espaço que nos separava, em passos propositalmente lentos, e parei diante dele com o revólver já erguido. Mais um pouco e encostaria o cano no topo da sua cabeça. Estava prestes a apertar o gatilho, não havia nada que me impedisse, entretanto... Nessa mesma hora ele ergueu o rosto, e por algum motivo meu dedo congelou no ato. Não atirei.

 ...

 Mentira, eu sabia sim o motivo.

 Seus olhos.

 Olhos verdes, o verde mais escuro que eu já tinha visto em alguém, me encarando quase sem piscar. Mas não foi a cor que me deteu, obviamente. Seu rosto – mais jovem do que eu esperava, talvez ele fosse até mais novo do que eu – mostrava a dor que sentia pelo tiro (que não devia ser pouca), mas seus olhos não possuíam nenhuma amostra de receio ou medo. Tentei até procurar qualquer indício de hesitação ali, mas não encontrei. Porque não havia. Era como se disesse “Por que não faz isso logo? Não está com pressa?”, com total desinteresse. Como se ele não ligasse de estar prestes a morrer.

 - Você quer morrer? – a pergunta saiu de minha boca antes que eu pudesse impedir.

 - Faz diferença? – tive a impressão de que ele daria de ombros se pudesse, pela maneira como a resposta veio. Não pude deixar de perceber o esforço que parecia empregar em não deixar a voz sair falha pela dor.

 Não gostava disso. Ele me lembrava...

 Eu preciso matá-lo, ele é uma testemunha. Para este serviço estar verdadeiramente encerrado, ele precisa ser morto; isso é mais do que óbvio e não é como se eu fosse um maldito amador para não saber disso.

 Eu sabia, mas ainda assim, meu dedo não se movia. Porque ele me lembrava tanto...

 - Qual o seu nome? – o jeito que minha voz saía através daquela máscara estava me dando nos nervos já.

 - Mail Jeevas.

 Nome estranho... Mas enfim.

 Contrariando tudo o que Klaus havia me ensinado, muito lentamente, eu fui abaixando a arma, e consequentemente, tirando aquele rapaz à minha frente de mira. Guardei de volta no cinto e peguei meu celular, mandando uma mensagem para Klaus. “Serviço concluído”.

 Idiotice. Irresponsabilidade. Perigoso.

 Sabia disso tudo. Mas ainda assim não consegui atirar.

 - Não vai me matar? – perguntou surpreso.

 - Por que eu faria algo que você quer? – a total indiferença que ele demonstrou dava margem para pensar por esse lado. Não tinha certeza se era isso mesmo, mas também dane-se.

 O motivo, o que o levou a ter um olhar desses, não me importa. Não estou interessado. O motivo de eu não ter conseguido apertar o gatilho foi apenas um, e não foi curiosidade, nem compaixão, tampouco.

 Foi porque ele, aquele olhar, me lembrava muito alguém de muitos anos atrás.

 Foi porque ele me lembrava de mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

Estou amando tanto escrever essa fic *¬*